DIÁRIOS DE CAMPANHA
|
Apesar de algum sol no dia 6 de Março foi impossível ir para o campo devido ao mau tempo. Quando se fala em mau tempo falamos em temperaturas de cerca de -40ºC e ventos da ordem da ordem dos 80km/h. Embora o dia 6 tenha sido mais ou menos o dia 7 foi muito pior. O sol desapareceu, o vento piorou e passámos a ter blizzard e blowing snow o que diminuiu consideravelmente a visibilidade e tornou impossível mesmo o sair de casa.
No entanto como o laboratório ficava relativamente perto aproveitámos para por as amostras em dia e preparar os próximos dias. Foram dois dias muito aborrecidos e começávamos a ficar preocupados pois só teríamos um dia para fazer o resto do trabalho de campo.
0 Comentários
No dia 27 de Fevereiro iniciou-se mais uma jornada na nossa equipa para o circulo polar ártico. Neste caso, foi para Tromsø na Noruega. O Programa Polar Português permitiu-me chegar à University of Tromsø – The Arctic University of Norway e ao centro de investigação Akvaplan-niva para analisar amostras de sedimentos da região polar do noroeste da Rússia contaminados com petróleo (amostras recolhidas previamente pela equipa Norueguesa) que serão usados nas experiências de remediação. A remediação de locais contaminados consiste na aplicação de tecnologias que permitam reduzir (ou até eliminar) a contaminação existente tendo em vista a reabilitação do local permitindo o seu uso futuro em condições ambientalmente favoráveis. Durante esta semana em Tromsø procedeu-se à caracterização dos sedimentos (textura, matéria orgânica, etc.), assim como à análise do tipo e teor de contaminação (hidrocarbonetos totais, hidrocarbonetos aromáticos policíclicos, bifenilos policlorados e metais). Estes sedimentos serão usados nas experiências de remediação. Em seguida delineou-se o desenho experimental das experiências de remediação a serem realizadas utilizando o software MODDE. Esta ferramenta permite maximizar a quantidade de informação obtida realizando o menor número possível experiências, poupando os recursos e custos associados. Neste caso, o desenho experimental foi delineado a partir de um desenho fatorial de dois níveis (two-level factorial design). Foram também realizadas algumas reuniões nas quais ficou definido continuar o estudo de remediação com amostras não só do noroeste da Rússia como também da Gronelândia. Assim será possível desenvolver tecnologias de remedição para áreas Polares de uma forma mais abrangente. A calma do espaço onde me instalaram, com uma vista privilegiada para as montanhas, tornou o trabalho extremamente produtivo.
Mas nem tudo foi trabalho. O Professor Tore e a sua equipa receberam-me de braços abertos e fizeram questão de mostrar um pouco da cultura e paisagens da região. A minha estadia passou por uma visita aos fiordes onde encontrei renas a banharem-se ao sol J. Visitamos o museu de Tromsø onde aprendi um pouco mais sobre a história e a cultura da Escandinávia, e o Polaria onde tive “uma experiência ártica” com uma visita que se inicia com um vídeo sobre o fenómeno da Aurora Boreal (a qual tive a felicidade de observar à noite) seguido de um vídeo sobre a fauna e flora do Ártico. Neste museu há ainda uma secção dedicada ao problema do aquecimento global e degelo no qual a guia explica e mostra os equipamentos usados pelos cientistas para fazerem as medições do nível de gelo. No regresso a casa fica a sensação de dever cumprido e a promessa de que esta colaboração se manterá para futuros projetos. Muitas vezes nos perguntam como é viver entre inuits. Ainda se tem muito a ideia, particularmente os mais novos, que eles ainda vivem em iglos, caçam e pescam para comer, enfim, que vivem num mundo à parte.
Na verdade, e apesar de viverem no Ártico a vida é, com algumas exceções, igual à nossa. Têm televisão, rádio, internet, telefone, supermercados onde fazem as suas compras e pagam com multibanco, e claro, também fazem iglos e caçam. Num dia de folga (domingo) decidimos dar uma volta por Umiujaq. A comunidade tem cerca de 450 habitantes, vê-se em 30 minutos e até tem uma igreja. Depois é sempre uma experiência interessante pois são muito simpáticos e gostam de nos conhecer, saber de onde vimos e o que fazemos e comemos. Curiosamente alguns deles até sabem onde fica Portugal e nunca ouviram falar no Cristiano Ronaldo. Pudera o seu desporto é o hockey no gelo. Foi um dia interessante que deu para descansar. “Após tantos anos de cientista, ainda não descobriste tudo?” Boa pergunta. Tem uma resposta simples e humilde: Não. Interessante que esta pergunta é-me feita regularmente, principalmente nas escolas. Vamos por partes. Ser biólogo marinho, alguém que estuda o mar, exige ir regularmente à Antártida... para recolher amostras no Oceano Antártico, várias vezes (ou colegas as recolhem por mim). Tudo depende da pergunta que se pretende responder. Por exemplo, para estudar o que os pinguins rei na Geórgia do Sul comem, bastará ir uma vez. Mas imagina que queres estudar o que eles comem em redor da Antártida, então terá de se ir várias vezes. E para estudar se as suas dietas variam entre anos? E se quisermos estudar a dieta das focas também? E dos albatrozes? Os anos vão certamente acumulando, e serão cada vez mais... tudo dependendo da pergunta que se deseja responder. Neste exemplo, ao estudar a dieta dos pinguins, poderemos também saber se come espécies que são capturadas também comercialmente por barcos de pesca (como os peixes do gelo – Icefish), ou seja eles estão a competir diretamente com as pescas. Ou alternativamente, os pinguins capturam espécies que não existem pescas dirigidas a elas, como as lulas da Antártida. Elas (lulas) são extremamente raras e ainda hoje, são ainda literalmente desconhecidas.... temos lulas que ainda não as conhecemos e possuem nomes como A, B ou C.... por exemplo, na dieta dos albatrozes que estou a estudar nesta viagem à Nova Zelândia, temos Moroteuthis sp. B (Imber) ou Taonius sp. (Clarke). Recentemente finalmente saiu um artigo em que classificou os bicos de lulas a que eu chamava ?Mastigoteuthis A (Clarke) como lula Asperoteuthis lui. E ainda esta semana, ainda estou a descobrir bicos de lulas e polvos desconhecidos... exemplos de que ainda não sei tudo ocorrem diariamente.... “After so many of being a scientist, don´t you know everything by now?” Good question. It has a simple and humbling answer: no. Interesting that this question is done to me regularmente, particularly in schools. Funny enough, numerous children think that it is easy and that knowledge is at a distance of a click of a computer. But in numerous occasions, i tis not easy. Answering by steps. Being marine biologist, someone that studies the Ocean, I have to go the Antarctic to collect the material I need to examine (we call them samples)...numerous times (unless colleagues collect thr samples for me). Everything depends on the scientific question we are trying to answer. For example, to study what king penguins from South Georgia eat, I would just need to go once. But imagine that I want to know what king penguins eat all around the Antarctic? I would have to go more times. And to assess diferences between years? And compare with the diets of seals? And of albatrosses? The fieldwork seasons surely pile up. But everything dependo n the question you are trying to address. In this example, studying the diet of penguins, we could also ask if the prey species they are catching are the same that local fisheries are catching (example, icefish), which tells us that they might compete for icefish. Alternatively, penguins may catch prey naturally, which there is no fisheries directed to them, such as Antarctic squid. They are extremely rare and still today, some are still unknown to science. We still have squid species that are called A, B or C...as examples, in the diet of the albatrosses I am studying in this research trip to New Zealand, I encountered Moroteuthis sp. B (Imber) or Taonius sp. (Clarke). Recently there was a research article that finally attributed the beaks of ?Mastigoteuthis A (Clarke) to the squid Asperoteuthis lui. And still this week, I came across squid and octopod beaks unknown to me....examples reminding me that we do not know everything occur EVERYDAY ;)
Terminou no dia 23 de Fevereiro a campanha antártica do projeto PERMANTAR 2016.
Ficam algumas fotografias 360º que ilustram as atividades e o dia-a-dia da campanha. Trata-se de um modelo experimentar em que algumas imagens apresentadas têm baixa. Clicando no mouse e arrastando, pode rodar as imagens em todas as direções. A roda do mouse permite ampliar e reduzir a imagem. Recomendamos que reduza ligeiramente para melhor visualização.
O primeiro dia de amostragem correu como previsto, pois com o trail já definido era relativamente simples lá chegar. Relativamente porque ainda são cerca de 30 km em cada sentido e a temperatura por volta dos -25ºC (felizmente sem vento) não facilita.
Quando chegámos ano nosso lago, o BGR1, foi fácil reconhecer pela depressão em volta e também por estar uma câmara fotográfica do CEN apontada para o lago e que tira uma foto a cada 24h. Nós tivemos muitas dificuldades em tirar mais fotos pois com a temperatura ambiente e com o tempo de viagem as baterias vão logo abaixo. Depois da tentativa frustrada de complementar com mais fotos demos inicio à recolha de amostras de água para os mais diversos parâmetros e profundidades. Foi um dia frio, mas em cheio. O primeiro dia de trabalho foi dedicado a procurar o caminho para o nosso site de trabalho (BGR valley). Isto porque todas as vezes que lá fomos, fomos por helicóptero e de verão. De inverno teremos de ir de mota de neve (ski doo). Como temos as coordenadas GPS dos locais de amostragem apenas teríamos, pensávamos nós, de com o auxilio de um mapa definir um “trail” para nos guiarmos nos dias seguintes.
Não foi tarefa fácil. Para começar saímos cerca de 9h da manhã e estava uma sensação térmica de -41ºC. Depois embora o mapa ajude, não indica se os trilhos poderão estar em condições. E assim foi o dia inteiro e só pelo meio da tarde encontrámos um caminho seguro até ao local que passaríamos a utilizar. O que nos vale, é que passamos por paisagens de cortar a respiração. Depois o contacto direto com o nosso guia Inuit é sempre muito enriquecedor pelas histórias que nos conta. Amanhã começamos a amostragem. A viagem para norte demora em geral 2 dias. Isto porque os voos para as comunidades Inuits (equimós) saem sempre de Montreal pelas 8 da manhã o que torna impossível fazer todo o percurso num dia só.
Este ano a ida para Montreal foi via Frankfurt o que nos fez sair de Lisboa pelas 5 da manhã. A vantagem é que se chegou pelo meio dia e desta forma tivemos a tarde livre. À espera estava o colega do Environment Canada que nos fez tomar um segundo almoço e fazer as ultimas compras. Hotel perto do aeroporto pois teríamos de fazer o check in pelas 6h. O voo para Umiujaq foi normalíssimo. Sempre feito num avião a hélice BOMBARDIER DASH-8 COMBI 300 SERIES e que a partir de Kuujjuarapik, pára em todas as comunidades. Como Umiujaq foi a terceira, chegámos por volta das 13h debaixo de um sol intenso e com -33ºC. Depois foi ir para a nossa casa (Estação cientifica do CEN) e arrumar o nosso laboratório improvisado. |
DIÁRIOS DA CAMPANHA
|