DIÁRIOS DE CAMPANHA
|
Depois de mais um rápido inverno, estamos de volta à Islândia, à espera dos “nossos” GeoSpoi. O plano para esta época de campo tem como principal tarefa a recuperação de geolocators colocados nos Maçaricos-galegos (Numenius phaeopus islandicus) em 2015 e 2016 e a colocação de mais. Até à data já registamos o regresso de 22 indivíduos com estes pequenos data-loggers, incluindo um de 2015 que no verão anterior esteve ausente das áreas de estudo. Se tudo correr bem, vamos aumentar consideravelmente a nossa amostra inter-individual, mas também intra-individual e perceber o que se passou com aquela ave no verão passado: esteve noutro local da Islândia? Não migrou nesse ano? Além deste caso, ficaremos também a conhecer as migrações de mais indivíduos e quão variáveis são as rotas de cada um deles ao longo dos anos. Será que o mesmo Maçarico-galego altera a sua estratégia de migração de ano para ano? Caso não o faça, quão consistente é nas suas rotinas anuais? Realiza as migrações sempre nas mesmas datas? E que consequências pode ter essa potencial flexibilidade para o seu sucesso reprodutor? Em breve teremos dados para responder a estas perguntas! A maior parte das aves seguidas em anos anteriores fez uma paragem na Irlanda durante a migração primaveril no seu trajecto para o ártico. Por isso, esta primavera decidimos fazer o mesmo e passamos a última semana de Abril no sul da Irlanda. Com o importante apoio de colegas locais, capturamos alguns Maçaricos-galegos que foram marcados individualmente com anilhas coloridas e recolhemos também algumas amostras biológicas. Além disso, fizemos observações do comportamento alimentar e recolhemos presas (caranguejos, principalmente) para relacionarmos a quantidade de alimento ingerido em paragem migratória com os gastos energéticos da migração precedente (desde Africa até a Irlanda) e da consequente (desde a Irlanda até a Islândia). Em breve teremos novidades sobre que indivíduos regressaram às suas áreas de reprodução no ártico voando sem parar entre África e Islândia ou fazendo dois voos distintos com uma paragem na Irlanda!
0 Comentários
Agora que o trabalho de campo chegou ao fim, é tempo de fazer balanço. A primeira etápa do projecto POLARUBI está concluida. Resta regressar a casa e começar a analisar as amostras recolhidas. Para trás fica uma paisagem Ártica muito diferente daquela que encontrámos em Março, no início da nossa campanha. A neve derreteu e o número de horas diárias de luz aumentou de 12 h para 21 h.
Em Junho iniciar-se-à a segunda etápa do projecto com a estadia de um estudante em ALOMAR, graças a uma bolsa atribuida pelo PROPOLAR. Apesar do precalço inicial devido ao nosso equipamento ter chegado danificado, conseguimos recolher amostras suficientes para dar continuidade ao projecto. O próximo passo consiste no revestimento dos filtros com uma camada condutora, que os tornará visíveis ao microscópio electrónico.
A captura de amostras para analisar por microscopia electrónica de transmissão (TEM) foi iniciada esta semana com as partículas aerossóis a serem depositadas em dois tipos de filtros. Por um lado, temos partículas a ser depositadas directamente na rede do TEM para posterior análise. Por outro lado, temos partículas a serem depositadas nos nossos filtros tradicionais de policarbonato. Nesta última situação, os filtros são dissolvidos em clorofórmio, deixando os aerossóis em suspensão. Estas partículas em suspensão, são depois depositadas nas redes do TEM, para posterior análise.
O objectivo é a caracterização de partículas menores que 1 microm, difícilmente perceptiveis no microscólipo de varrimento. Estudante brasileiro a frequentar a Universidade da Beira Interior e colaborador habitual do Grupo de Óptica Atmosférica, o Renan Zocca dará continuidade à campanha POLARUBI ao longo das próximas semanas. Com a chegada do Renan a ALOMAR, entramos numa nova etapa da nossa campanha. O sistema de aquisição está completo e agora é só recolhermos muitas partículas para levarmos para casa e depois estudarmos. A recolha de amostras vai continuar e o trabalho diário passa pela troca de filtros no sistema de recolha, controle de fluxos de ar e registo de dados meteorológicos com vista à sua posterior análise conjuntamente com os dados de aerossóis.
Carolina Sá, Março 2017, a bordo do Navio da Marinha Brasileira Almirante Maximiano
* As ações desta campanha integram-se nos Apoios a Jovens Investigadores Polares
E agora que o chão já não balança, é tempo de fazer um balanço...
1 navio polar - Almirante Maximiano 2 helicópteros 3 botes 6 balsas salva-vidas 100 tripulantes (70 militares e 32 investigadores) 2 portugueses 26 dias de mar 3180 milhas a navegar 4 laboratórios 3 CTDs 24 garrafas Niskin 12h de turno (por dia) 3 rampas de filtração 47 estações de amostragem 6 profundidades de colheita 750 L de água filtrada 333 filtros (amostras congeladas) 3 voos em Hércules C-130 da Força Aérea Brasileira 8 noites em Punta Arenas (4 na ida e 4 na volta) 1 experiência para a vida! ... e... 1 agradecimento especial ao projeto INTERBIOTA, à Marinha Brasileira, ao PROANTAR e ao PROPOLAR! O trabalho continua agora no laboratório e ao computador no processamento de imagens de satélite. Ficam mais algumas fotos e vídeos da campanha!
...
Resumo da campanha do projeto Permafrost e alterações climáticas realizada na Península Antártica em Fevereiro de 2017.
Estar a ouvir sempre qualquer coisa quando se está a trabalhar faz parte da vida de um cientista, pelo menos da minha. Confessa, na tua também, certo? É acordar, ligar o PC (uso Mac) e pôr qualquer som, pode ser para ouvir as notícias do que se passa em Portugal (Antena 1 ) ou simplesmente música (Antena 3, BBC 1,...). Dá companhia e, surpresa das surpresas, ajuda-me a concentrar na tarefa (mesmo com o escritório cheio de estudantes e colegas). Também ouço muito os campeonatos de surf em direto (Frederico Morais no World Tour e Vasco, Teresa, Miguel, Zé e os restantes surfistas portugueses e europeus no Qualifying Tour)...surpreendentemente, torna o dia muito mais produtivo. Na Nova Zelândia foi assim. Regularmente vinham colegas ao lab. só para saber os últimos resultados do surf (os Nova Zelandeses também têm surfistas nestes campeonatos). Desde que fiz a mala, a 4 de Dezembro 2016, para a expedição à Península Antártica (com o José Seco) e vir à Nova Zelândia (passando 3 semanas em Portugal com um colega Russo, em Janeiro/inicio de Fevereiro) até agora, foi sempre muito intensivo mas bom. Desde a chegada à Nova Zelândia, a 10 de Fevereiro, deu para analisar todas as amostras do José Queirós, que incluiu desde lulas fantásticas, otólitos (ossinhos que estão junto ao cérebro, usados para manterem o seu equilíbrio) de peixe e até crustáceos que nunca tinha identificado. E sim, descobrir que o José Q. tinha trazido o polvo gigante do Antártico, com o interesse dos media da Nova Zelândia, foi fantástico!!! O que também me alegrou nestas semanas foi identificar que espécies de lulas e polvos continham as amostras da dieta dos albatrozes das Ilhas Adams e Antípodes, dos anos 2002 e 2016. Estava particularmente desejoso de descobrir se haveria diferenças entre anos (ou se comiam mais o menos as mesmas espécies todos os anos) e de que modo pode estar relacionado com a grande queda de sobrevivência que estes albatrozes têm estado a sofrer nos últimos anos. Estou a fazer a estatística agora (estão a ver como a matemática é importante para um cientista!?). As análises ascenderam aos 14 000 bicos! Fazendo as contas, um filhote de um albatroz da ilha Antípodes poderá chegar a comer 2 lulas por dia durante 8 meses. Se as lulas possivelmente só são 50% da dieta em peso (o restante é maioritariamente peixe), estavam a imaginar como os filhotes destes albatrozes estão a ser bem tratados pelos seus pais :). Também trabalhei com os meus colegas Nova Zelandeses numas amostras da dieta de pinguins Rockhopper (que se reproduzem na Ilha de Campbell), em que mostrou que estes pequenos pinguins (2-3 kg de peso) se alimentam bem junto ao fundo, comendo polvos pequenos Octopus campbelli e lulas (maiores) também junto ao fundo. O que achei interessante foi não encontrar bicos de outra espécie de polvo (maior do que O. Campbelli) mas que é abundante também nessa região. Outro fato interessante foi estes pequenos pinguins comerem também uma espécie de lulas M. hyadesi) que vive no meio da coluna de água...resumindo: Nos dias em que apetece cefalópodes (o grupo que compreende lulas e polvos), os nossos pinguins rockhopper exploram o redor da ilha junto ao fundo para apanhar polvos pequenos e 1 lula que vive também junto ao fundo, e vai mais à coluna de água comer outra espécie de lulas (poderei simplesmente explorar o fundo, não?). Fica um beijinho ou um abraço de Sidney já a caminho da neve em Coimbra (que já tiveram o prazer de me informar) !!! Vou pôr uma música para ajudar, pois ainda faltam 40 horas de viagem... Hearing something while working is surely something that is part of the life of a scientist, at least for mine. You too, right? Wake up, turn on the computer and put something on is the norm...it could be the news or a music channel. It helps me concentrate on the tasks of the day (even with the office crowed with colleauges and students). I also hear a lot of the surfing competitions (World Surfing League)...surprensingly ti turns my day even more productive. While in the lab in New Zealand, regularly colleagues would pop in just to know the results of the last “heat”. Since I made my suitcase, on the 4 December 2016 (to the Antarctic Expedition with José Seco) and coming to New Zealand (with 3 quick weeks in Portugal with a Russian colleague), has been always intensive but good. Since arriving in Wellington, it was possible to analyse all the samples of José Queirós that included amazing Antarctic squid , fish otoliths (fish little bonés located clsoe to their brain, used for orientation) and even crustaceans that I have never seen. And yes, to discover that José Q. brought a giant Antarctic Octopod was also interesting! What also made me happy during these weeks was to assess what the Antipodes and Adams Albatrosses feed and if there were diferences between years...and if these differnces can be associated with their decline. I am still doing the statistics (a note for young students: maths, like most disciplines, is really important in the life of a scientist!). This work lead to the analyses of more than 14 000 cephalopod beaks!!! Doing the maths, a wandering albatross chick from Antipodes islands may eat 2 squid per day for 8 months. If squid is likely to be only 50% of the diet by Mass (the other half is likely to be mostly fish), we can certainly conclude that these chicks have been well fed. I also worked on the diet of Rockhopper penguins from Cambell Island, that showed that these small penguins (up to 2-3 kg) feed mostly close to the bottom (on small octopods Octopus campbelli and 1 squid) but also in the water column on a pelagic squid called Martialia hyadesi. A kiss or a big hug from Sydney (Australia) on my way to snow in Coimbra (from what I heard)!!! I am putting some music now to help me coping with such news....only 40 hours of travelling to go.... Quanto temos um grande desafio dizemos que “temos uma montanha pela frente!”. No meu caso, eu tinha um caso bicudo. Tinha 40 amostras (20 de cada albatroz, Diomedea gibsoni e Diomedea antipodensis) acabadas de chegar aqui ao instituto em Wellington, Nova Zelândia. Nessa altura ainda não sabia que esta seria “a minha montanha”. Com pouco tempo disponível no laboratório, deu para compreender que tinha um autêntico Everest à minha frente, pois estava a demorar muito tempo a analisar apenas 3-4 amostras por dia (a chegar ao lab. às 8.30 e sair às 6 da tarde, seguindo as regras de segurança do instituto em relação ao uso dos laboratórios), com cada amostras com 400 a 500 bicos de cefalópodes para analisar. Isso significa limpar cada bico, separar entre os bicos de cima e os bicos de baixo (cada lula ou polvo, possui um de cada), identificar e medir todos os bicos de baixo, além de preservar amostras para estudos futuros. Com o tempo a reduzir-se significativamente antes de regressar à Europa, a solução foi pedir ao instituto para poder trabalhar no fim de semana. Assim, nestas 2 últimas semanas não existiu a possibilidade de reduzir de ritmo de trabalho...foi sempre “subir a montanha”. Felizmente durante esse fim de semanas acabei as primeiras 20 amostras do albatroz Diomedea antipodensis, no entanto não saberia como seriam as restantes 20 amostras da outra espécie. Seriam tão complicadas com as primeiras? Para minha alegria, estas 20 últimas amostras aparentemente continham um número muito mais reduzido de bicos...nessa altura senti que estava “no topo da montanha a ver o horizonte!” Nos 2 dias seguintes consegui terminar estas amostras, comparativamente com mais de 1 semana para as primeiras...estava literalmente no fim da “descida da montanha”!!! Esta semana tive também de acabar de identificar uns crustáceos com os colegas de cá da dieta do bacalhau da Antártida, do projeto de mestrado do José Queirós, e passar 2 dias a concluir muito do trabalho pendente (vocês sabem: muitos emails, artigos para rever,...). Será sempre assim, perguntam vocês, a trabalhar com pouco tempo para mais nada? Não. Existe tempo para “aproveitar o passeio pela montanha”. Como sou otimista, este desafio também me ajuda sempre a refletir das coisas boas que temos junto de nós. Desde que cheguei, emprestaram-me uma bicicleta que tem feito a minha delicia todos os dias para chegar ao instituto (e Wellington é uma cidade linda para passear). Deu para rever e conhecer amigos de cá, incluindo Portugueses do melhor que temos, para ir ao cinema, para explorar a cidade, para deliciar-me com os gelados, ir ver as ondas em Lyall Bay (ainda vi um surfista mas as ondas estavam um pouco pequenas), tudo isto a tentar cuidar das saudades da família e amigos por facebook, skype...concluindo: no meio do meu percurso “a subir a montanha”, é sempre importante manter a alegria de fazer ciência, e principalmente perceber o que nos faz felizes. Agora olho para trás e vejo a montanha lá longe, com um sorriso... When we have a big challenge we say “we have a mountain in front of us!”. In my case, I had a very complicated 40 samples (20 from each albatross, 'Diomedea gibsoni' and 'Diomedea antipodensis') that recently arrived at the institute in Wellington, New Zealand to be analysed. At that time I did not know that this would be “my mountain” to climb. With little time available in the lab., it became obvious that I had the “Everest” in front of me, as I was taking considerable more time that expected to analise 3-4 samples per day (arriving in the lab. at 8.30am and leaving at 6pm, following NIWA laboratory regulations), with each containing up to 400-500 beaks. For each sample, it is necessary to clean each beak, separate upper from lower beaks (each squid or octopus has a 1 of each), identify and measure all lower beaks and preserve all beaks for future studies. With time getting shorter and shorter before returning back to Europe, the solution was to request the institute to work during the weekend. Therefore, in the last 2 weeks, there was no time to reduce the pace of work, working during the weekend....I was literally “climing the mountain”. Happily, during that weekend I finished the first 20 samples, however I did not know how much time would the final 20 samples from 'D. gibsoni' would take. Would they be the same nightmare as before (i.e. another mountain?)? You should have seen my face of happiness when realized that these final samples contained far less beaks ...at that time I felt I was “at the top of the mountain looking at the lanscape and to the horizon!” In the following two days all samples were analised, far less than 7 days for the first 20 samples...I was literally going “fast down the mountain”. |
DIÁRIOS DA CAMPANHA
|