DIÁRIOS DE CAMPANHA
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Menos mal que hoje é dia de trabalhar na oficina, já que lá fora as condições estão agrestes: Felizmente, com a ajuda de equipa de ALOMAR e do Andøya Space Center, conseguimos recuperar o equipamento danificado durante o transporte, pelo menos para podermos trabalhar enquanto esperamos que nos cheguem peças de substituição. Demorará uma semana até recebermos novo material mas, pelo menos, podemos começar a trabalhar. Damos, então, início às nossas actividades de recolha de partículas aerossóis em filtros. O sistema de captação está montado e em pleno funcionamento.
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Recém chegados a Andenes e ao Andøya Space Center. Com a recepção calorosa a que já nos habituaram! E quando tudo parecia correr bem, eis que surge um sério revés! A nossa instrumentação chegou danificada pelo transporte! Sabemos conscientemente como é dificil viver a estas latitudes mas nestes momentos é que se nos torna doloroso sentir na pele as dificuldades de quem vive aqui. Não podemos simplesmente comprar novo... não há onde comprar! Comprar pela web e mandar vir demorará alguns dias! Resta a opção possível: amanhã será dia de trabalho de oficina e vamos ver como podemos recuperar dos estragos. Esperamos poder dar boas notícias em breve. Aqui estamos mais uma vez a caminho do Árctico para dar início à campanha POLARUBI-2016-2017. Hoje pernoitamos em Bodo e, se as condições meteorológicas o permitirem, amanhã seguiremos viagem rumo à ilha norueguesa de Andøya, mais concretamente, à localidade de Andenes, Norte da Noruega. A diferença de Portugal, onde a Primavera já fez abrir as primeiras flores do ano, aqui, ainda predomina a paisagem de inverno. A neve domina a paisagem e os dias ainda são curtos. Com o Sol a por-se por volta das 16:30, às 17:30 já é noite cerrada e o contraste com Portugal é obvio. Os sinais da primavera ainda não se notam aqui, pelo menos para quem vem de sul. Pretendemos recolher amostras de partículas aerossóis atmosféricas com o objectivo de estudarmos as suas características físicas e químicas. A sua morfologia, tamanho, estado de agregação, composição química, etc, são alguns dos parâmetros que estudaremos no regresso a casa.
Como a ciência não para, ser cientista significa também trabalhar durante os fins de semana...como este ( " :-) ) Devido às amostras de 2017 terem sido recolhidas em Janeiro, elas só me chegaram nesta semana. Assim, com o tempo a ser cada vez mais reduzido até regressar, a opção foi dedicar-me ao trabalho também neste fim de semana...sem problemas. Como sou otimista, analisei os pontos positivos desta questão, além de avançar significativamente com a análise das minhas amostras. Enquanto trabalhei no laboratório, deu para ouvir o relato do futebol do FC Porto e Sporting ao vivo! É super engraçado, devido às 11 horas de diferença, que um jogo às 8 da noite de Portugal corresponde às 9 da manhã do dia seguinte na Nova Zelândia. Assim, neste Sábado ouvi o FC Porto a jogar com o Arouca (que acabou com 4-0 para os Portistas) e no Domingo ouvi o Sporting a jogar com o Tondela (4-1 para o Sporting) ... Durante a semana também dá para ouvir o programa do José Candeias (Antena 1) aos fins da tarde que ajuda a cuidar de quase todas as saudades de Portugal e das suas bonitas gentes. Na Antártida, o trabalho de campo também não pára aos fins-de-semana, e trabalha-se todos os dias, seja quando se está num cruzeiro científico ou numa estação científica. E aqui na Nova Zelândia, a vida é igualmente intensa. Aqui acordo todos os dias às 6.30 da manhã para ver os emails. Como estou a dormir enquanto a Europa está acordada (são as 11 horas de diferença), assim que abro o PC, sou inundado com todos os emails imediatamente, que variam entre os 40 e os 50 emails diários. Assim, pretendo resolver todas as questões pendentes até às 7.30 de modo a conseguir chegar ao instituto antes das 8.30. Depois do pequeno-almoço, é pegar na bicicleta e aproveitar a viagem até ao instituto (20-30 minutos). O tempo voa no laboratório e estou lá até às 6 da tarde, com um pequeno período para o almoço (basicamente com alguém ou à frente do PC, pois tem-se sempre assuntos a resolver). Ainda vou ao escritório ao fim do dia verificar questões pendentes de emails e colocar os dados obtidos no dia...às 20.30-21 horas, estou a regressar a casa. Jantar e trabalhar mais um pouco...e cama. Horas depois começa tudo outra vez, tal como quando se está na Antártida! Neste fim-de-semana continuou assim durante o fim-de-semana, apenas com a única diferença que no Domingo, já não tenho tantos emails, pois já é Sábado na Europa " :-) As science does not wait, to be a scientist means also working at weekends... like this one ( :-) ). Due to some of my 2017 samples were collected in January, they only arrived this week. Therefore, with my time in NZ getting closer to returning to Europe, the option was to work during this weekend...without any problems. As I am an optimist, I also saw the positives out of this, beyond avancing with the analyses of the samples. While in the lab, I was able to follow LIVE the football in Europe!! It is truly funny listening to football when it is 9am (with 11 hours of difference, in Portugal/UK is 8pm of the previous day). Here I wake up at 6.30am everyday to check my emails. As I am sleeping while everyone is Europe is awake, as soon as I turn my PC on, I get overwhelmed by 40-50 emails daily. I do try to sort them out before 7.30am, so that I get time for breakfast, get on the bike and go to the institute (20-30 minutes bike ride). Time flies in the lab. and I am there until 6pm, with only a brief interval for lunch (uusually with someone or in front of the PC, as there are always issues to be solved). Still manage to got the office to check any unsolved issues, check more emails and put the data in the PC...by 8.30pm-9pm, I am arriving at home. Dinner and work a big more....and go to bed. Hours later everything starts again. During this weekend, the working schedule did not finish but wth the plus that, on Sunday there was not many emails, as it is Saturday in Europe ( :-) ) O tempo aqui muda consideravelmente e desta vez parece que escutou os nossos pedidos. O dia de hoje acordou cheio de sol e com uma temperatura de +1ºC. Esta alteração fez, no entanto, que tivéssemos de alterar o percurso para o vale BGR pois o guia não achou seguro seguir pelo rio.
A grande vantagem é que com este tempo se consegue ser muito mais produtivo. Enquanto nos dias anteriores fazíamos um lago por dia devido ao congelamento da água dentro dos equipamentos de amostragem, neste dia fizemos os quatro lagos restantes em tempo record. É muito mais fácil trabalhar nestas condições, no entanto, o nosso objetivo era mesmo trabalhar em condições de inverno e por isso as condições dos dias anteriores seriam as expectáveis. Conseguimos fazer muito e depois à chagada a Umiujaq tivemos muito trabalho de laboratório. Foi uma noite intensa de trabalho. No outro dia seria o regresso a Montréal. Apesar de algum sol no dia 6 de Março foi impossível ir para o campo devido ao mau tempo. Quando se fala em mau tempo falamos em temperaturas de cerca de -40ºC e ventos da ordem da ordem dos 80km/h. Embora o dia 6 tenha sido mais ou menos o dia 7 foi muito pior. O sol desapareceu, o vento piorou e passámos a ter blizzard e blowing snow o que diminuiu consideravelmente a visibilidade e tornou impossível mesmo o sair de casa.
No entanto como o laboratório ficava relativamente perto aproveitámos para por as amostras em dia e preparar os próximos dias. Foram dois dias muito aborrecidos e começávamos a ficar preocupados pois só teríamos um dia para fazer o resto do trabalho de campo. No dia 27 de Fevereiro iniciou-se mais uma jornada na nossa equipa para o circulo polar ártico. Neste caso, foi para Tromsø na Noruega. O Programa Polar Português permitiu-me chegar à University of Tromsø – The Arctic University of Norway e ao centro de investigação Akvaplan-niva para analisar amostras de sedimentos da região polar do noroeste da Rússia contaminados com petróleo (amostras recolhidas previamente pela equipa Norueguesa) que serão usados nas experiências de remediação. A remediação de locais contaminados consiste na aplicação de tecnologias que permitam reduzir (ou até eliminar) a contaminação existente tendo em vista a reabilitação do local permitindo o seu uso futuro em condições ambientalmente favoráveis. Durante esta semana em Tromsø procedeu-se à caracterização dos sedimentos (textura, matéria orgânica, etc.), assim como à análise do tipo e teor de contaminação (hidrocarbonetos totais, hidrocarbonetos aromáticos policíclicos, bifenilos policlorados e metais). Estes sedimentos serão usados nas experiências de remediação. Em seguida delineou-se o desenho experimental das experiências de remediação a serem realizadas utilizando o software MODDE. Esta ferramenta permite maximizar a quantidade de informação obtida realizando o menor número possível experiências, poupando os recursos e custos associados. Neste caso, o desenho experimental foi delineado a partir de um desenho fatorial de dois níveis (two-level factorial design). Foram também realizadas algumas reuniões nas quais ficou definido continuar o estudo de remediação com amostras não só do noroeste da Rússia como também da Gronelândia. Assim será possível desenvolver tecnologias de remedição para áreas Polares de uma forma mais abrangente. A calma do espaço onde me instalaram, com uma vista privilegiada para as montanhas, tornou o trabalho extremamente produtivo.
Mas nem tudo foi trabalho. O Professor Tore e a sua equipa receberam-me de braços abertos e fizeram questão de mostrar um pouco da cultura e paisagens da região. A minha estadia passou por uma visita aos fiordes onde encontrei renas a banharem-se ao sol J. Visitamos o museu de Tromsø onde aprendi um pouco mais sobre a história e a cultura da Escandinávia, e o Polaria onde tive “uma experiência ártica” com uma visita que se inicia com um vídeo sobre o fenómeno da Aurora Boreal (a qual tive a felicidade de observar à noite) seguido de um vídeo sobre a fauna e flora do Ártico. Neste museu há ainda uma secção dedicada ao problema do aquecimento global e degelo no qual a guia explica e mostra os equipamentos usados pelos cientistas para fazerem as medições do nível de gelo. No regresso a casa fica a sensação de dever cumprido e a promessa de que esta colaboração se manterá para futuros projetos. Muitas vezes nos perguntam como é viver entre inuits. Ainda se tem muito a ideia, particularmente os mais novos, que eles ainda vivem em iglos, caçam e pescam para comer, enfim, que vivem num mundo à parte.
Na verdade, e apesar de viverem no Ártico a vida é, com algumas exceções, igual à nossa. Têm televisão, rádio, internet, telefone, supermercados onde fazem as suas compras e pagam com multibanco, e claro, também fazem iglos e caçam. Num dia de folga (domingo) decidimos dar uma volta por Umiujaq. A comunidade tem cerca de 450 habitantes, vê-se em 30 minutos e até tem uma igreja. Depois é sempre uma experiência interessante pois são muito simpáticos e gostam de nos conhecer, saber de onde vimos e o que fazemos e comemos. Curiosamente alguns deles até sabem onde fica Portugal e nunca ouviram falar no Cristiano Ronaldo. Pudera o seu desporto é o hockey no gelo. Foi um dia interessante que deu para descansar. “Após tantos anos de cientista, ainda não descobriste tudo?” Boa pergunta. Tem uma resposta simples e humilde: Não. Interessante que esta pergunta é-me feita regularmente, principalmente nas escolas. Vamos por partes. Ser biólogo marinho, alguém que estuda o mar, exige ir regularmente à Antártida... para recolher amostras no Oceano Antártico, várias vezes (ou colegas as recolhem por mim). Tudo depende da pergunta que se pretende responder. Por exemplo, para estudar o que os pinguins rei na Geórgia do Sul comem, bastará ir uma vez. Mas imagina que queres estudar o que eles comem em redor da Antártida, então terá de se ir várias vezes. E para estudar se as suas dietas variam entre anos? E se quisermos estudar a dieta das focas também? E dos albatrozes? Os anos vão certamente acumulando, e serão cada vez mais... tudo dependendo da pergunta que se deseja responder. Neste exemplo, ao estudar a dieta dos pinguins, poderemos também saber se come espécies que são capturadas também comercialmente por barcos de pesca (como os peixes do gelo – Icefish), ou seja eles estão a competir diretamente com as pescas. Ou alternativamente, os pinguins capturam espécies que não existem pescas dirigidas a elas, como as lulas da Antártida. Elas (lulas) são extremamente raras e ainda hoje, são ainda literalmente desconhecidas.... temos lulas que ainda não as conhecemos e possuem nomes como A, B ou C.... por exemplo, na dieta dos albatrozes que estou a estudar nesta viagem à Nova Zelândia, temos Moroteuthis sp. B (Imber) ou Taonius sp. (Clarke). Recentemente finalmente saiu um artigo em que classificou os bicos de lulas a que eu chamava ?Mastigoteuthis A (Clarke) como lula Asperoteuthis lui. E ainda esta semana, ainda estou a descobrir bicos de lulas e polvos desconhecidos... exemplos de que ainda não sei tudo ocorrem diariamente.... “After so many of being a scientist, don´t you know everything by now?” Good question. It has a simple and humbling answer: no. Interesting that this question is done to me regularmente, particularly in schools. Funny enough, numerous children think that it is easy and that knowledge is at a distance of a click of a computer. But in numerous occasions, i tis not easy. Answering by steps. Being marine biologist, someone that studies the Ocean, I have to go the Antarctic to collect the material I need to examine (we call them samples)...numerous times (unless colleagues collect thr samples for me). Everything depends on the scientific question we are trying to answer. For example, to study what king penguins from South Georgia eat, I would just need to go once. But imagine that I want to know what king penguins eat all around the Antarctic? I would have to go more times. And to assess diferences between years? And compare with the diets of seals? And of albatrosses? The fieldwork seasons surely pile up. But everything dependo n the question you are trying to address. In this example, studying the diet of penguins, we could also ask if the prey species they are catching are the same that local fisheries are catching (example, icefish), which tells us that they might compete for icefish. Alternatively, penguins may catch prey naturally, which there is no fisheries directed to them, such as Antarctic squid. They are extremely rare and still today, some are still unknown to science. We still have squid species that are called A, B or C...as examples, in the diet of the albatrosses I am studying in this research trip to New Zealand, I encountered Moroteuthis sp. B (Imber) or Taonius sp. (Clarke). Recently there was a research article that finally attributed the beaks of ?Mastigoteuthis A (Clarke) to the squid Asperoteuthis lui. And still this week, I came across squid and octopod beaks unknown to me....examples reminding me that we do not know everything occur EVERYDAY ;)
Terminou no dia 23 de Fevereiro a campanha antártica do projeto PERMANTAR 2016.
Ficam algumas fotografias 360º que ilustram as atividades e o dia-a-dia da campanha. Trata-se de um modelo experimentar em que algumas imagens apresentadas têm baixa. Clicando no mouse e arrastando, pode rodar as imagens em todas as direções. A roda do mouse permite ampliar e reduzir a imagem. Recomendamos que reduza ligeiramente para melhor visualização.
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