DIÁRIOS DE CAMPANHA
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Pedro Pina, 22 de Janeiro de 2017, Ilha de King George Se há coisa que na Antártida não se pode planear antecipadamente são as actividades a realizar diariamente numa campanha de campo, por causa da Dona Meteorologia ou, para manter a igualdade de género, do Senhor Tempo. Naturalmente que os objectivos devem ser claros, o que se pretende atingir também, assim como a forma de o realizar. Mas sempre a um nível alto, como um todo, sem pensar nos pormenores, com um horizonte temporal largo, da largura da duração da campanha. É depois na execução diária da campanha, conforme as etapas forem sendo ultrapassadas, que se pode pensar no momento seguinte, às vezes no dia que virá depois, mas muitas outras vezes somente na tarde que aí vem. É um pouco como navegar com a costa à vista. No nosso 2º dia de campo, tínhamos previsto voltar à Meseta Norte, mas rapidamente percebemos que a neblina a cobria quase na íntegra. Concluímos que, depois de esperar um pouco, a coisa não deveria alterar-se rapidamente. Olhando para sul, o céu estava um pouco mais limpo e a cobertura de nuvens um pouco mais alta. Ala que se faz tarde, para aí fomos nós, eu, a Sandra Heleno e o Pedro Ferreira, levando connosco uma pequena ‘ração de combate’ para podermos passar todo o dia no campo.
Fizemo-nos novamente ao caminho e, uma vez que a chuva parou e o vento amainou, fomos fazendo vários voos com o drone em áreas com características superficiais distintas, com maior predominância de líquenes ou de musgos e de rochas ou de solos. Foram sempre voos relativamente baixos (30 m de altura e até menos), cobrindo áreas mais pequenas do desejado, porque a neblina não deixava espaço para maiores voos. Apesar de tudo foi um bom dia de trabalho que, no regresso à base, acabou em beleza com a passagem pelas praias dos lobos e dos elefantes marinhos.
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Ana David, Equipa PROPOLAR Pelas 10h00 locais, 13h em Portugal, do dia 19 de Janeiro, descolou do Aeroporto Internacional Presidente Carlos Ibáñez del Campo, Punta Arenas, Chile, o voo português, transportando, para a Ilha Antarctica de King George, 64 investigadores e técnicos de Programas Polares de 5 países distintos. A bordo do avião DAP-BAE, estavam 9 investigadores da campanha polar portuguesa PROPOLAR 2016-17, Pedro Pina e Sandra Heleno, do projeto CIRCLAR, Marc Oliva, Jesus Fernandes e David Palácios, do projeto CRONOBYERS, Pedro Ferreira, projeto GEOPERM III, Carla Gameiro e Tania Vidal, do projeto Hg-PLANKTARCTIC, e António Correia, projeto PERMATOMO. O entusiasmo era evidente, em especial para os que pela primeira vez entram em território Antártico. O voo demorou aproximadamente 2 horas, aterrando por volta das 12h no aeródromo de Fildes. Seguiu-se a azáfama do costume... uma rápida sessão fotográfica, ... separação de bagagens, .... coordenação dos passageiros que entram e dos que dão saída no voo de regresso, .... O regresso à cidade de Punta Arenas deu-se ao princípio da tarde. A bordo vinham 45 investigadores e técnicos que finalizavam o seu período de campanha, preparando-se para o regresso a casa. Desta vez, não havia equipas de investigação portugueses a bordo. O cansaço estava patente na maioria dos passageiros... Para alguns, será o fim de uma longa e intensa campanha de quase dois meses de investigação... para outros, em particular para as equipas de apoio técnico, será apenas uma pausa, prevendo regressar dentro de um mês para preparar o encerramento das bases para o período de inverno. Por mais cansaço que haja todos desejam regressar na próxima campanha... É o "bichinho da Antártida", um "ser" resistente que vai acompanhar para o resto da vida!
O voo português é o contributo nacional para a logística internacional na Península Antártica, contando o PROPOLAR com o apoio logístico dos vários programas antárticos parceiros para que os cientistas portugueses possam fazer trabalho de campo na Antártida. Os principais países parceiros na logística na presente campanha são Espanha, Chile, Brasil, Coreia do Sul, Bulgária e Argentina, com quem o PROPOLAR mantém colaboração logística e científica há vários anos.
Depois de termos arranjado um canto e umas mesas para colocarmos os nossos equipamentos e da breve reunião matinal diária do chefe de base com todos os investigadores responsáveis de projectos para se identificar as actividades (e necessidades) do dia, decidimos fazermo-nos ao campo, na companhia do Pedro Ferreira do projecto GEOPERM, que é geólogo do LNEG, e que tem vindo a elaborar a cartografia geológica desta região. Definimos como zona prioritária do nosso projecto a Meseta Norte da Península de Fildes, onde iremos captar imagens de alta resolução com um drone. Interessa-nos conhecer em pormenor o que se passa à escala centimétrica nalgumas superfícies desta ilha que já não têm gelo (que tipo de solo, de rocha, ou de vegetação por exemplo), para depois podermos perceber o que se passa nas imagens de satélite, que já não permitem distinguir tão bem esses tipos entre si (se por exemplo é musgo ou líquen), mas que permitem estudar áreas maiores porque cobrem regiões bem mais extensas. Ou seja, usamos esta região como uma espécie de laboratório natural para conhecer pormenores da sua superfície que depois poderão ser extrapolados para toda a Península Antártica de forma a perceber a dinâmica actual das regiões livres de gelo e a sua relação com as alterações climáticas. Nesta campanha, daremos uma particular atenção a um padrão natural típico das regiões polares, os círculos de pedras, que se forma e evolui pela dinâmica da camada superficial da superfície. Voltaremos aos círculos mais tarde noutros postes quando já tivermos imagens captadas este ano. Apesar de o tempo estar cinzentão, arriscámos sair e esperar que abrisse um pouco. E assim foi. Voltei à Meseta Norte cinco anos depois. Após uma caminhada de uns bons 2 km desde a base, fizemos um breve reconhecimento e dirigimo-nos para o primeiro ponto de trabalho que tínhamos escolhido no nosso planeamento para prepararmos os voos com o drone. Fizemos somente 2, depois de abrir ligeiramente. Foi curto, pois tínhamos previsto fazermos 5, mas o tempo não permitiu mais a partir de determinada altura. A neblina começou a baixar, o vento a soprar um pouco mais forte e também a nevar. Decidimos regressar à base. Foi pouco mas correu bem, permitindo também avaliar o comportamento do drone que ainda não tinha sido usado aqui em Fildes. Amanhã também haverá dia. E eles são bem longos por aqui nesta altura do ano. Hoje chega o voo fretado pelo PROPOLAR. Nele vêm portugueses mas sobretudo muitos investigadores de outros países. E nele saem também outros tantos, incluindo dez chineses. Este voo é a contribuição portuguesa para a logística antárctica. Nós vamos espera-lo ao aerodromo Teniente Marsh, para receber os Pedros, o Pina e o Ferreira e a Sandra, que ficarão na base chilena Escudero, o António que partirá com os coreanos para King Sejong e a Carla e a Tânia que vão embarcar no Sarmiento de Gamboa com destino à base espanhola Gabriel de Castilla, na ilha Deception. Tirámos as fotos da praxe e os portugueses vão de caminho até à praia de Fildes.
A equipa do projecto CIRCLAR, Pedro Pina e Sandra Heleno, já está na Antártida, onde chegou a 19 de Janeiro de 2017. Tudo começou em Lisboa uns dias antes, a 14 de Janeiro, rumo ao hemisfério sul. O périplo até à ilha de King George nas Shetland do Sul, como sempre longo, incluiu trânsito de avião por Buenos Aires e Rio Gallegos (Argentina), seguido de uma viagem de autocarro pela ‘Ruta del Fin del Mundo’ até Punta Arenas no Chile. A tradicional e obrigatória chegada antecipada a Punta Arenas (3 dias antes do voo para a Antártida) foi passada a comprar pequenos materiais, afinar o planeamento da campanha e a acabar algum ‘trabalho de casa’ que ainda estava pendurado. Fomo-nos também encontrando com outros colegas portugueses, e de outras nacionalidades, que também estavam à espera de embarcar para a Antártida. O ponto de encontro, normalmente para irmos jantar, é já um clássico, e só podia mesmo ser junto à estátua de Fernão de Magalhães. O voo para a Antártida, fretado pelo Programa Polar Português PROPOLAR e que veio completamente cheio de investigadores de várias nacionalidades, correu sobre rodas. Saiu e chegou no horário previsto, pois o tempo estava excelente, algo que nunca me aconteceu nas 4 missões anteriores que fiz até cá. Como penso que ele será descrito noutro post não entrarei em mais pormenores. Na península de Fildes onde aterramos, o céu estava azul e praticamente limpo, e a temperatura rondava os 6 graus positivos, portanto um dia antártico totalmente anormal. Descemos a pé do aeródromo até à base de chilena de Escudero onde nos viemos instalar. A base está sobrelotada porque alguns navios, que era suposto apanharem muitos dos investigadores acabados de chegar, estão atrasados vários dias. Esta já é uma situação normal, sobretudo aqui em Escudero que é um local de passagem mais frequente, e todos temos de nos apertar um pouco, pois ninguém fica na rua. As expectativas de que a campanha nos corra bem são, como sempre, altas, mas sabendo muito bem que tudo vai ter de ser gerido dia a dia, conforme o tempo nos permita ou não sair para a rua.
À base chegaram esta manhã 5 cientistas uruguaios que vão realizar algumas recolhas de água. Junto-me a eles para aproveitar a pesca. Devido ao excesso de lotação a Carmen não pode ir. Seguimos em direção a Fildes atravessando o istmo que liga a Ilha de Ardley a King George... isto seria normal na maré alta, mas a maré está baixa e esta opção obriga-nos a ter de arrastar o barco sobre cerca de 6 metros de gravilha... Uff, parece que afinal a Carmen safou-se de boa.
Ao longe o glaciar da ilha Nelson parece um imenso lençol branco. E aqui as baleias continuam chuuuuufffff...e depois outro chuuufffff... mas temos de voltar pois ainda podemos aproveitar para pescar.
Pelo caminho acompanham-nos alguns pinguins saltitões que podem dar-se ao luxo de brincar enquanto uma foca leopardo dorminhoca se espreguiça sobre o gelo. Pescamos junto à Ilha dos Geólogos, um pequeno ilhote na Baía de Great Wall. Não corre mal e conseguimos cerca de 25 peixes... infelizmente são de duas espécies distintas, ambas de interesse, mas cada uma insuficiente em número para o que queremos fazer... Há que voltar amanhã. Afinal a Carmen perdeu um ótimo dia para estar no mar... Carmen Sousa e Pedro Guerreiro, 18 Janeiro 2017, Ilha King George Hoje é dia de gala... Há vários dias que se prepara a visita do Ministro da Ciência e Tecnologia da China, com discussões sobre a melhor forma de o receber, disposição de mesas na refeição etc. Desde de manhã que a azáfama é muita mas a hora de chegada vem sendo adiada em função da saída do voo desde Punta Arenas. A receção foi bastante formal, com a pompa chinesa. Cá fora ensaiaram-se coreografias e distruibuiram-se bandeirolas. A comitiva de cinco carros, também eles com bandeirolas, chega já depois do meio dia e encontra todos fardados na praça. Nós acabámos por participar no alinhamento e depois dos discuros, em chines evidentemente, ficar também na foto de conjunto para mais tarde recordar. Este ano a China recebe as reuniões do Tratado Antárctico e parece que esta visita se insere num conjunto de actividades relacionadas. A sua visita teve o intuito de ver as condições gerais, acomodações e falar um pouco com todos, cientitistas e técnicos, mas principalmente com os que vão residir durante o ano inteiro, e de manter contactos com outras bases. Após a visita da comitiva à ilha Ardley, onde se encontra uma colónia de pinguins, o dia termina com um jantar mais esmerado que o normal, cheio de boa disposição e simpatia!! Com mais discursos e cumprimentos, desejos de colaboração e votos de boa campanha.
e lá se foi um polar… a chegada a Santiago do Chile não começou da melhor maneira. Depois de tantas horas no avião, todos os passageiros estavam ansiosos de respirar um pouco de ar puro – a verdade é que ar puro é coisa rara aqui para os lados da capital Chilena, pois o smog é muito frequente, com uma implicação muito danosa para qualquer fotógrafo que pretenda uma fotografia ícone desta cidade – a difusidade da cadeia Andina na envolvência da cidade. Com a confusão instalada na zona da recolha das bagagens, o desejo de sair para fora do aeroporto e com o anúncio da mudança do número da cinta nº1 para a cinta nº5, gerou-se um movimento repentino e em massa de todas as pessoas para o novo local de recolha das bagagens. Tinha o polar enfiado nas alças da minha mochila e, acredito que intencionalmente ou não, terá sido nesta altura que ele se sublimou. A verdade é que no dia seguinte antes da partida para Punta Arenas, ainda fui à secção dos perdidos e achados mas… não estava lá niente!! é domingo em Santiago… depois de apanhar o bus para o centro da cidade e de deixar a bagagem no hotel, lá fui cirandar pelo centro da cidade. No entanto os 37ºC rapidamente refrearam esta vontade – sair do Inverno de Portugal para no dia seguinte apanhar o Verão Chileno é demasiado drástico e repentino. Mas lá fui caminhando lentamente pelas avenidas e ruas de Santiago achando um movimento totalmente distinto do das duas últimas visitas a esta cidade. Nas redondezas do Palácio de la Moneda, normalmente repletas de pessoas, estavam às moscas!! O meu primeiro pensamento, quase imediato, é que uma forte recessão económica tinha apanhado de surpresa os chilenos neste último ano (tal foi o trauma dos últimos anos e que ainda está bem presente em nós, povo lusitano). No entanto, o facto de as lojas estarem quase todas fechadas trouxe a explicação lógica para os factos - é domingo em Santiago! à falta de melhor, bora para o Cerro de Santa Lucia… é incontornável uma visita a Santiago do Chile sem apanhar o funicular para o Cerro de San Cristóbal de modo a se ter uma imagem desta metrópole na sua plenitude. Este cerro eleva-se 370m das suas redondezas, originando o relevo mais elevado desta cidade, e a vista em todas as direcções é de tirar a respiração. Já estava nas últimas quando pensei – “chega! Vamos lá para cima passar o resto da tarde” – e lá fui eu… e de lá vim eu! É que o maralhal era tanto, tanto, a bicha para o funicular era tão extensa que antevi o tempo que iria para ali ficar, e ainda por cima à chapa do sol. Antevi, igualmente, que não tinha a força anímica suficiente para escalar o cerro a pé. Então, lá fui eu em direcção ao Cerro de Santa Lucia que está localizado no centro da cidade, e que, do ponto de vista geológico, faz parte de um alinhamento de estruturas vulcânicas (com a designação de Manquehue–San Cristóbal–Santa Lucía belt) que se estende por vários km’s nesta cidade, segundo uma orientação NE-SW. Corresponde a uma estrutura tipo dique, com 300 metros de espessura, relativamente à zona circundante e que do ponto de vista geoquímico corresponde a um basalto andesítico, com uma idade de 20 Ma. Tem um relevo pronunciado, com uma altura de 70 metros relativamente à área envolvente, e daqui consegue-se obter uma das melhores vistas de Santiago, na eventualidade de não se conseguir subir o funicular para o Cerro de San Cristóbal (que constitui o centro da estrutura vulcânica acima referida, constituída por rochas vulcânicas lávicas do tipo dacito e riólito, bem como rochas piroclásticas do tipo ignimbritíco). Foi neste cerro que Charles Darwin definiu a vista sobre a cidade de “certainly most striking”, quando a visitou em 1833. E o senhor Charles tinha toda a razão… no voo de Santiago para Punta Arenas não esquecer: reservar atempadamente um lugar à janela a “bombordo”…
nos voos da companhia de aviação chilena LAN, no trajecto que une as cidades de Santiago a Punta Arenas, que é o único que fiz até ao presente, é possível reservar muito antecipadamente o lugar (pelo menos um mês e meio antes). Esta possibilidade deve ser obrigatoriamente aproveitada para reservar um lugar à janela a “bombordo”, no sentido N-S, para se poder desfrutar do esplendor da cadeia andina - ela é vulcões, ela é relevos impressionantes, ela é glaciares, ela é vales esplêndidos, ela é, no seu todo, um verdadeiro espectáculo imperdível!! Ela é isto tudo se… não existir uma cortina de nuvens entre as montanhas e o avião ou se o lugar à janela ficar sobre a asa!!! Não, não! Não estejam a pensar que me calhou um lugar traiçoeiro como este. Na reserva que fiz, e para evitar a surpresa efeito-asa, atirei-me logo para o lugar da janela da última fila. O problema foi mesmo as nuvens. Junto as melhores, mas ainda assim, fraquinhas fotos que tirei (nada comparáveis às do ano passado), para se ter uma ideia do que falo. |
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