Joana Baptista, Ilha de King George, 31 Janeiro 2020 A programação feita à chegada antevia este como um dia cheio de atividade. Para além da vontade que tínhamos em revisitar o local da perfuração, era necessário proceder à caracterização de amostras dos mantos de neve (neveiros) presentes na península de Barton, de modo a calibrar os dados de uma imagem de satélite Sentinel-1 (radar), cuja recolha estava prevista para esse mesmo dia. Os dados recolhidos, incidiram na medição da dimensão do neveiro e na caracterização da neve (estratigrafia, temperatura, densidade e dimensão dos cristais). Assim, em cada neveiro que se cruzava no nosso caminho foram marcados pontos delimitativos e um central, onde procedíamos à amostragem num pequeno buraco. Aí, escavávamos a neve até atingirmos um horizonte de gelo compacto, de re-congelação. De seguida procurávamos a existência de horizontes definidos na parede vertical do buraco, embora nos casos estudados, fossem praticamente inexistentes. Assim, concentrámo-nos na medição da densidade da neve e na descrição dos agregados na camada superficial, acompanhada com a observação à lupa dos pequenos grãos que já se encontravam em fusão e da medição da temperatura da neve, que estava sempre próxima de 0ºC. Analisados dois neveiros, fomos caminhando entre os pequenos blocos convertidos em peças de puzzle (superfícies de clastos fragmentados), até que ao longe avistámos a resistente estação de medição de temperaturas do ar, nas imediações da perfuração para monitorização do permafrost, que instalámos na campanha anterior. Esta, tinha resistido ao inverno e às intempéries distantes da nossa latitude de residência.
Quase descansados pela aparência sólida do equipamento, apressámos o ritmo na procura de indícios que confirmassem a integridade do furo. Após procedimentos metódicos que não comprometessem nada, ligamos o computador e o modem wifi e estabelecemos a ligação aos data loggers, na expectativa de ver os primeiros registos de dados. Sustivemos a respiração envoltos no silêncio proporcionado por aquele local onde um ano antes um gerador conduzia o ritmo das atividades pesadas e impedia qualquer noção de quietude. - “Temos dados! Temos dados de temperaturas ao longo de 13 metros de profundidade livres de falhas.” - Imaginem a felicidade, imaginem sobretudo que após 10 dias de trabalho de perfuração digno de titãs realizado no ano anterior e um ano de espera, chegamos a este local isolado onde apenas gaivinas e skuas disfrutam dos dias e recolhemos todos os dados com sucesso. Incontornavelmente felizes e sem tempo para maiores contemplações prosseguimos a jornada entre neveiros até chegar à base. Não tinha mencionado, mas era sexta-feira, dia de barbecue na base. Que melhor forma há de festejar?
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