A CAMPANHA
PROPOLAR 2011-2012
Novembro de 2011 a Abril de 2012
PROPOLAR 2011-2012
Novembro de 2011 a Abril de 2012
20 Janeiro 2012
Ser biológo na Antártica é um autêntico sonho. Ter um contacto directo com os animais, estar em locais do planeta a fazer coisas que muito poucas pessoas tiveram a oportuniade de fazer (recordámo-nos várias vezes, a subir o Monte Krum, depois de jantar a questionarmos “quantas pessoas na Antártica devem estar a trabalhar com skis e a ver este lindo sol da meia-noite?”), presenciar eventos em directo que só vemos em programas de vida selvagem (Lembro-me do José Seco dizer “Algo que nunca esquecerei, foi na minha primeira vez em Sando Point, ter presenciado um ovo eclodir!”), trabalhar com animais tão interessantes como os pinguins, pétreis gigantes ou focas, partilhar momentos com pessoas que vivem a Antártica tão intensamente como tu (e poder transmitir às nossas gerações mais novas, com as ligações que temos com as nossas escolas/Universidades/Museus em Portugal), perceber que estamos a contribuir para o melhor conhecimento desta região e notar que o que estamos a fazer é realmente importante. O interesse no nosso projecto tem sido grande entre os nossos colegas estrangeiros. E quando se estuda pinguins, tem-se muitas alegrias...apesar de também ser duro. Passamos muito tempo fora (incluindo em alturas especiais para a família como o Natal e a Passagem de Ano), estamos longe das pessoas que nos são queridas, o planeamento de todo o trabalho de campo é complexo, dispendioso e demoroso, e até temos alguns dos nossos amigos aqui das Bases Bulgara e Espanhola a nos dizerem que “hoje cheiram a pinguins!!!” de vez em quando com um sorriso estampado nas suas caras em tom de brincadeira. No nosso projecto, tivemos inúmeros exemplos da complexidade do que é fazer ciência polar aqui em Livinigston Island. Desde planear ao pormenor as tarefas (consoante as condições metereológicas), criar um novo método de apanhar aves, de inovar e desenvolver um meio de pesar as amostras,...fez-se de tudo. Aqui também se cresce muito como pessoa (temos de aprender a ser independentes, ajudar em tudo, desde lavar a loiça, pôr a roupa a lavar...), e ser cientista na Antártica obriga-te a ser multidisciplinar, quer seja na ciência ou no dia a dia nas rotinas da Base.... O nosso grande objectivo era perceber como os pinguins gentoo e chinstrap competem por comida nesta região da Península Antártica. Esta questão tem um grande interesse cientifico pois não só a Peninsula Antártica é uma das regiões que evidência maiores efeitos das alterações climáticas (com as temperaturas a aumentarem a níveis superiores do que em muitas partes do nosso planeta) mas também porque estas 2 espécies de pinguins possuem distribuições maioritariamente diferentes (os gentoos estão mais distribuidos a norte da Antártica e a tendência é para expandir para sul enquanto os chinstraps estão distribuídos mais a sul e a tendência é para a sua distribuição ser cada vez mais reduzida). Pouco se sabe como estes animais lidam com as alterações climáticas. Aqui (Livingston Island, da região da Peninsula Antártica) é o local certo para investigar como estes animais competem por comida num contexto das alterações climáticas, quando ambos se estão a reproduzir ao mesmo tempo (apesar de os gentoos começarem mais cedo) ... será que comem o mesmo? E será assim todo o ano? E isso é importante para a conservação destes pinguins, ou de outros recursos da Antártica? E como isso se pode aplicar a outros animais...de outros oceanos? Os nosso resultados preliminares desta expedição mostram que ambas as espécies se alimentam quase unica e exclusivamente do camarão do Antártico (Krill), Euphausia superba. Supreendente foi também notar que ambas as espécies alimentam-se do mesmo tamanho do camarão, evidenciando que a competição pelo camarão do Antártico é grande. É incrível! Sabendo que a quantidade do camarão do Antártico tem declinado nas últimas décadas nesta região, é bem possível que mais cedo ou mais tarde poderemos ter estas espécies, ou a alimentarem-se de outras coisas ou a sua capacidade de ter filhotes ser diminuida...o que pode afectar as suas populações. Além das amostras da dieta (através das fezes), recolhemos amostras que nos darão informações importantes sobre o nível trófico (confirmar se só se alimentam do camarão do Antárctico) mas também sobre o habitat que exploram, quer quando se estão a reproduzir quer fora desse periodo. Ou seja, em breve poderemos perceber se os pinguins gentoos e chinstraps apanham o camarão nos mesmos locais (junto à costa ou em águas mais profundas) ao longo do ano. Estes dados serão importantes para nos ajudar a prever o que poderá acontecer às diferentes populações de pinguins no futuro mas também nos ajudar a identificar áreas importantes de alimentação deles (o que é importante para a sua conservação) e possivelmente ajudar-nos a perceber como outras espécies lidam com a competição por comida num contexto de alterações climáticas. Por termos o ENORME privilégio e humildade de trabalhar aqui, todo este trabalho só poderia ser possível depois um grande investimento continuado de instituições Portuguesas mas também de vários países como o Reino Unido, Bulgária, Espanha, França, Brasil e os Estados Unidos. Sabendo que a Antártica é um excelente exemplo mundial de colaborações científicas e políticas, é realmente um privilégio Portugal fazer parte desta comunidade científica...e contribuirmos cientificamente para um maior conhecimento desta região do planeta...mesmo quando brincam connosco a dizer que estamos a “cheirar a pinguim!” Até MUITO em breve! José Xavier & José Seco, Ilha Livingston 20 de Janeiro de 2012
Neve, gelo e água líquida; afloramentos, blocos, calhaus e cascalho de rocha; musgos e líquenes; solos. São genericamente estes os tipos de superfícies que encontramos por aqui na península de Fildes no verão austral. Eu ia dizer que eram as superfícies que pisamos, mas nem todas elas podem ser pisadas. O impacto humano na Antártida tem de ser mínimo, os líquenes e os musgos são sempre cuidadosamente evitados, assim como os padrões criados à superfície pela dinâmica sazonal do permafrost como, por exemplo, os círculos de pedras. Apesar da primeira impressão sobre a paisagem ser tão abrangente como redutora, quase como em tudo na vida, somente a avaliação diária e em diferentes locais é que nos tem permitido começar a perceber com pormenor a diversidade de rochas e solos, de neve e de gelo, e das espécies de musgos e líquenes. Esta região, apesar de certamente não ser das mais diversificadas da Terra, bio e geologicamente falando, não deixa de ser variada e muitíssimo interessante. A recolha no local de informação representativa sobre estas classes que ocupam a superfície de Fildes, bem como a determinação da sua localização precisa em alguns pontos com o GPS, é bastante importante para depois as conseguirmos identificar correctamente nas imagens de satélite. Pedro Pina, Ilha King George 20 de Janeiro de 2012
Temos saído para o terreno todos os dias de manhã e começamos a ficar um pouco cansados. O frio e o vento constante cansam bastante e nota-se em todos nós que o cansaço se está a acumular de dia para dia. Levantamo-nos às 7h da manhã, tomamos o pequeno-almoço às 7h30 e, pelas 8h consultamos o email e preparamos o equipamento para sair. Geralmente, pelas 9h já estamos a preparar as moto-4 e pelas 10h iniciamos o trabalho no terreno. O regresso à base faz-se por volta das 16h, momento em que almoçamos. Depois disso, vamos para o laboratório organizar o equipamento do terreno e organizar os dados recolhidos. A essa hora do dia, vamos discutindo os trabalhos e o que iremos fazer no dia seguinte. Isto dura até cerca das 20h, momento em que corremos para o jantar. Pelas 21h estamos de volta ao laboratório. Respondemos a emails e tentamos preparar as actividades do dia seguinte e ir analisando os dados que se vão acumulando. Geralmente, pela meia-noite deitamo-nos e dormimos ferrados até ao dia seguinte. O tempo foge. Todos os dias acabamos por alterar os nossos planos, em função daquilo que fizemos e da informação que fomos recolhendo. A cada visita ao terreno, aprendemos novas coisas. Hoje, uma vez que os neveiros perenes ainda estão enterrados por baixo da neve deste inverno, resolvemos abrir um buraco que chegasse até à neve mais antiga. Encontrámos gelo maciço, logo uns 40 cm abaixo da superfície. Passámos cerca de 1h30 literalmente a picar gelo e furámos até cerca de 70-80 cm de profundidade. Sempre gelo maciço. Estamos curiosos com o que estará por baixo e em saber se iremos encontrar algum horizonte com sedimentos, ou apenas mais gelo maciço. Deixámos o buraco aberto e amanhã voltaremos para ir cavar. Trata-se de um neveiro exposto a sul, orientação em que as vertentes são mais frias e onde a neve permanece durante períodos mais longos. Estamos curiosos, mas quase não sinto os braços de tanto picar. Agora, volto ao trabalho. Vou ver se consigo georeferenciar uma imagem de satélite com pontos que medimos hoje no campo. Gonçalo Vieira, Base Antártica Chilena Prof. Julio Escudero 19 de Janeiro de 2012 Viver numa base na Antártida tem o seu lado de ficção científica - isolados numa zona fria e distante, trabalhando em prol da ciência - mas igualmente uma parte bem real de trabalho físico e bastante duro, onde se enquadra a manutenção de toda a estrutura e o abastecimento de víveres e combustível. E posso garantir-vos que esta última parte não é nada fácil, pois implica grande esforço e sujeição a condições extremas e a horários pouco convencionais. Esta terça-feira chegou então o navio da Armada uruguaia, o Vanguardia, com mantimentos e combustível, que teve de ser descarregado. A tarefa envolveu toda a guarnição da base e eu aproveitei para dar uma ajuda. Como estávamos dependentes das condições marítimas e do vento, só foi possível iniciar os trabalhos a partir das 23h00 e, claro está, a azáfama prolongou-se madrugada fora. Participei entre a 01h00 e as 03h30, mas o frio e o cansaço acabaram por vencer-me. O resto do pessoal da base ficou a trabalhar até às 07h00 (sem, no entanto, terem terminado de descarregar tudo)! Descansaram um pouco e, por volta das 13h00, foram efectuar a transfega de combustível. Ontem ao fim do dia chegou também o Hércules C-130 do Uruguai, com cerca de cinquenta pessoas a bordo (dez investigadores), que ficaram instalados na base. A tranquilidade do início da minha estadia aqui já lá vai, mas tem um lado positivo: como muitos deles vêm para conhecer a ilha, é mais fácil para mim sair da base uma vez que há sempre quem queira passear pelas redondezas! Vanessa Rei 18 de Janeiro 2012
A Base Antártica Chilena Prof. Julio Escudero Julio Escudero é uma base científica do INACH (Instituto Antárctico Chileno) constituída por 4 módulos brancos e de telhado azul, com 2 pisos. O módulo 1 tem 9 quartos duplos com duas casas de banho. O módulo 2 tem a cozinha, sala de estar e 4 quartos duplos. O módulo 3 é constituído por 2 laboratórios e pela sala da chefe de base. No módulo 5 existem laboratórios e 2 quartos, um duplo e outro quadruplo. Nas caves estão as dispensas, tanques de água, a sala de fumadores, bem como espaços de trabalho... Os módulos são confortáveis e quentes. As portas são muito grossas e parecem as de frigoríficos industriais, só que aqui o frio fica do lado de fora. A base dá apoio aos cientistas que aqui fazem trabalho no terreno, mas também serve para dar apoio na logística de distribuição dos cientistas que chegam de avião e que esperam o transporte de barco para chegarem a outros locais na Antártida. Actualmente a base está em obras de ampliação. Está-se a construir um novo módulo que vai permitir a ligação entre todos os espaços, o que vai tornar a base mais confortável. Contudo, por causa destas obras, no dia-a-dia, deparamo-nos com constantes modificações nos acessos entre os edifícios. Por exemplo, para a passagem do módulo 3 (laboratórios) para o módulo 2 (refeições), que até hoje de manhã era muito fácil, pois as portas são uma em frente da outra, agora temos que fazer um percurso épico: descer pela cave, contornar o edifício e entrar na cave do modulo 1, sair da cave e entrar na outra cave do modulo 2 e subir por uma escada interior. Na base estão alojadas cerca de 50 pessoas. Mais de metade pertence à logística por causa das obras. Mas em períodos mais complicados, a base pode alojar mais gente. Por exemplo, durante 3 dias a ocupação superou as 70 pessoas, pois houve um adiantamento nos voos vindos da América do Sul, que traziam cientistas para embarcar nos navios. Uma das pessoas mais importantes na base é o cozinheiro. Em Escudero há um cooker e um ajudante de cozinha. Também há uma senhora que faz a limpeza diariamente. Um Luxo!! A hora das refeições é fixa: o pequeno-almoço é das 7 às 8h, o almoço das 13 às 14h e o jantar das 20 às 21h. No domingo toma-se o pequeno-almoço uma hora mais tarde. Por falar nisso, está na hora de ir jantar... Carla Mora 17 de Janeiro de 2011
Nada de meteorologicamente novo no reino da Antártida, o nevoeiro bastante denso durante quase todo o dia impediu-nos de ir para o campo. Mas não foi mau, pois permitiu-nos logo numa reunião matinal fazer uma avaliação mais detalhada do que já foi feito e do que ainda falta fazer. Continuamos depois, e durante todo o dia, no laboratório a organizar e a pré-processar alguns dos dados colhidos nos dias anteriores de forma a percebermos se, entre outras coisas, a sua representatividade espacial é adequada aos nossos objectivos. É também uma tarefa muito útil para nos ajudar a organizar e a direccionar melhor as actividades dos próximos dias. Já cá chegaram também a Teresa Firmino e o Nuno Ferreira Santos, jornalistas do jornal “Público”, que “Na orelha da Antártida” (http://static.publico.pt/homepage/naorelhadaantarctida/) vão seguramente mostrar um outro olhar desta região austral. Ao fim da tarde aterrou um Hércules C130 das FA argentinas que trazia a bordo mais três membros do projecto PERMANTAR-2, o português Miguel Cardoso, o argentino Gabriel Goyanes e o suíço Antoine Marmy, que nos trouxe um chocolate lá da terra dele. Estivemos com eles aqui na baía de Fildes, durante uma meia hora, antes de embarcarem para o navio Canal Beagle que os levará até à ilha de Deception onde se instalarão na base argentina Decepción para desenvolver as suas actividades. Não se assustem, a embarcação da foto serviu só para os levar até ao navio que está fundeado a meio da baía. Não faltam portugueses por estas bandas. Pedro Pina. 17 de Janeiro de 2012
Ontem saí pela primeira vez da base, para acompanhar os colegas do projecto SNOWCHANGE. Estava um dia muito bonito e pude testemunhar a beleza desta ilha, onde os glaciares se confundem com o céu! Foi muito engraçado acompanhá-los, para além do convívio e da boa disposição, aprendi bastante sobre neve e pude perceber como pode ser duro o trabalho no terreno! Por outro lado, soube muito bem fazer um pouco de exercício físico, depois de cinco dias num navio e três na base! Hoje o dia amanheceu muito cinzento, com chuva e vento, condições que vão dificultar o trabalho da equipa da base. Chegou um navio de abastecimento de combustível e mantimentos, que tem de ser descarregado. Uma vez que a trasfega é um actividade muito sensível - tem, inclusive, planos de contigência para derrames do combustível - não se adivinha uma tarefa fácil para a guarnição da Artigas! Amanhã a equipa terá novamente mais um dia preenchido, pois chega um Hércules C-130 do Uruguai com cerca de quarenta pessoas (dez cientistas) e equipamento, que terá igualmente de ser descarregado. Não é fácil trabalhar numa base! Vanessa Rei 16-01-2012
Nesta base aprende-se muito sobre o espírito de equipa que a Antárctida impõe nas almas que se dispõem a vir aqui. Começamos com coisas pequenas, todos os dias búlgaros e portugueses degladiam-se para ajudar o nosso cozinheiro a preparar a refeição. Ao começar a refeição não faltam os brindes e as saudações entre todos. O elogio ao cozinheiro/chefe de base Koko nunca é obrigatório, mas nesta mesa (na qual portugueses nunca se sentam juntos, mas sim no meio dos búlgaros) já se bateram palmas pela qualidade dos petiscos. Apenas a sopa de estômago com leite custa um pouco a descer. No trabalho de campo os búlgaros dispõem-se sempre para nos facilitar a vida. O DGPS que usamos para registar o movimento do solo pesa uns quilos valentes e sempre que eles percebem que temos de o levar para campo pegam nas malas e levam carga e pessoas nos skidoos monte acima. Afinal as nossas áreas de estudo ficam perto dos 200 metros de altura. Por norma, são eles que nos guiam por qualquer incursão para o interior de Livingston e uma saída de trabalho nossa (mesmo que só de uma pessoa) exige o acompanhamento de nunca menos de dois búlgaros e dois skidoos, todos os existentes na base. Logisticamente, é um grande esforço da parte dos nossos amigos. Quando há trabalho na base, reparações ou limpezas nós ajudamos sempre. Nunca nos impuseram trabalho doméstico, mas sempre que pudemos fazemo-lo. Afinal, este trabalho na Antárctida só é possível devido à existência desta base e a muito trabalho que outros fizeram antes durante 20 anos. Esta é precisamente a 20ª missão búlgara e muito nos orgulhamos por poder estar aqui com eles neste marco. Os portugueses já fizeram 3 jantares aos búlgaros inclusive, e os bitoques, bifes com molho de vinho branco e polvo no forno foram muito apreciados. Entre equipas portuguesas há também um grande apoio e cumplicidade, os dois colegas do projecto Penguin voluntariam-se sempre para ajudar no que podem e são grandes companheiros de trabalhos exteriores. E quando há desembarques na praia, de carga ou pessoas, não se distingue nas pessoas imersas na água gelada quem tem cara búlgara ou cara portuguesa. Não admira, todos ostentamos fartas barbas que ajudam a proteger do frio. João Agrela, Ilha de Livingston 16 de Janeiro de 2012 Hoje o tempo esteve impecável todo o dia! Finalmente um dia de sol que nos permitiu trabalhar no campo com algum conforto. Apenas o vento estava moderado e dificultava o trabalho nos pontos mais elevados. Aproveitámos para sair pelas 9h em direcção à Meseta Norte. No caminho, encontrámo-nos com a Vanessa Rei que veio da base uruguaia para nos acompanhar no trabalho de campo. Estacionámos a base do GPS e demos inicio ao levantamento dos tipos de neve com o objectivo de validar as imagens de satélite. Voltámos à base pelas 16h para almoçar e voltar ao laboratório para trabalhar. Ao final do dia chegaram a Teresa Firmino e o Nuno Santos, do jornal Publico vão ficar em Escudero até ao dia 26/01. Participam na missão enquadrados no Programa Polar Português e vão dar uma outra perspectiva acerca da ciência e da logística polar. A partir deste fim-de-semana está disponível no site do publico o blogue "Na orelha da Antártida" que vão actualizando diariamente. Gonçalo Vieira, Base Antártica Chilena Prof. Julio Escudero, Ilha de Rei Jorge 15 Janeiro 2012
Enquanto esperávamos por uma aberta das condições atmosféricas para ir novamente a Sando Point, foi-nos possível perceber algo muito interessante em relação às focas leopardo... elas ADORAM a baia onde nós moramos (Baia Sul de Livingston Island) e julgamos que, no mundo delas, esta zona deverá ser um Hotel 5 estrelas. Basta que parte de glaciares quebre e é vê-las a tentar subir, ou já esticadas como num spa, em muitos dos pequenos icebergues recentemente formados, todas felizes! Parece que “fazem fila” junto aos glaciares à espera da sua boleia. No dia anterior a muitos dos nossos amigos da Base irem embora, fomos ver alguns desses glaciares e as focas leopardo um pouco mais de perto... estes animais têm mais de 3 metros de comprimento, uma cabeça enorme, intimidantes dentro de água e aparentemente frágeis fora dela...são realmente uns animais estraordinários. E quando se fala de icebergs, não é possível parar de sorrir! São fascinantes por si só....e esta semana, isso foi comprovado novamente. Após termos estado uns dias nos arredores da Base a trabalhar com os pinguins gentoo (estes são possívelmente pinguins não reprodutores, o que será excelente comparar com aqueles que se estão a reproduzir em Hannah Point: será que se alimentam também do krill?), concluimos que precisávamos de ir uma última vez a Hannah Point e a Sando Point para obter as amostras finais das dietas de pinguins gentoo e chinstrap que se estão a reproduzir. Com os dias a continuarem nublados, com neve/chuva e ondas grandes, já estávamos a ficar um pouco preocupados pois estávamos a poucos dias de ir embora. O Federico (o responsável pelo zodiac Espanhol) disse-nos que a última oportunidade seria na próxima Segunda-feira...No dia, acordámos cedinho e fomos ter com o nosso responsável do zodiac Bulgaro, Roman – O capitão!, para saber de sua opinião. Para nós o mar mal mexia, tal era o nosso entusiasmo para ir, mas o Roman sugeriu esperar até ao meio dia para ver se o vento diminuia...”tudo por questões de segurança” disse confiante. Às 10.30 não havia vento, estava sol e o mar estava perfeito. Conseguimos convencer o nosso capitão e o Christo Pimpirev (o Pai da ciência Polar Bulgara e o novo ponto de ligação entre as Bases Bulgara e Espanhola) a contatar os Espanhóis para irmos mais cedo (pois era preciso o seu zodiac para ir connosco por questões de segurança). Partimos às 13 horas!!!!!! O dia não podia ter sido melhor...o plano da viagem consistia em ir primeiro a Hannah Point, depois a Sando Point, e regressar a casa. Com alguns dos novos membros da Base virem connosco (dos novos membros – Christo, Vikitor, Nikola, Rumiana...- vieram o Dimo, Laslo e Kamen, além de nós e o capitão Roman), a viagem até Hannah Point foi muito agradável. Trabalhámos eficientemente de modo a no final parar uns poucos minutos para tentar absorver a sensação de “estar rodeado de pinguins”. Mas foram mesmo poucos minutos....como ainda tinhámos de ir para Sando Point (com uma agenda mais preenchida de trabalho), só passámos 2 horas em Hannah Point. Foi dificil dizer ADEUS a tantos pinguins gentoo, às gigantes elefantes marinhos e até aos pétreis gigantes que nos fizeram companhia nestes 2 meses. N verdade passámos o Natal e a passagem de ano juntos! A caminho de Sando Point, tivemos a grande alegria de termos pela frente um iceberg GIGANTE. É incrível a beleza deles...as cores (nunca pensámos que os azuis podiam ser tão variados), a imponência, o tamanho....após uns breves minutos, continuámos em viagem. Em Sando Point, os chinstrap penguins receberam-nos com a barulheira do costume, que muito me faz lembrar a correria das cidades, mas com todos a cantar, a cuidar dos seus filhotes, pinguins a chegarem e a partirem da colónia, na autêntica azáfama da época de reprodução. Recolhemos as últimas amostras, e conseguimos fazer algumas filmagens para as nossas queridas escolas, de modo a tentar captar um pouco da doçura e do carinho que estes pinguins têm pelos seus filhotes, e o seu bonito modo de vida (apesar de nos ter dado uma valentes bicadas quando trabalhávamos com eles...nós vos adoramos na mesma!). O regresso à Base foi, por um lado, muito bom pois tínhamos o sentido do dever cumprido, após meses de planeamento desta expedição. Por outro, fica-se com a sensação de que deixámos para trás muitos amigos pinguins e havia nostalgia no ar. Os 2 dias seguintes foram passados no laboratório atarefados a analisar estas amostras recolhidas e a tentar adiantar o máximo de trabalho, pois teríamos de ajudar a construir a nova igreja! Assim que soubemos que se iria construir uma nova igreja na Base Búlgara, ficámos logo todos entusiasmos pois não só estaríamos a ter o privilégio de sermos nós a ajudar os nossos amigos Búlgaros nesta tarefa mas também porque estaríamos a fazer história! Só existem 4 igrejas na Antártica (a actual aqui mais antiga, uma católica e Russa em King George Island, e outra na Base americana em McMurdo) e Portugal estará sempre ligado à construção desta igreja....brilhante! Assim, todos os dias, ajudámos a construir a Igreja St. Ioqn Rilski (em honra ao Monge que expandiu a religião na zona dos Balkans). O trabalho em equipa é engraçado de se ver, todos a quererem ajudar e apesar de não percebermos muito das conversas em Búlgaro, nunca hesitámos em lhes ajudar em pôr cimento nas fundações, ajudar a erguer parte da estrutura, e até dar sugestões de como construir uma determinada parte da igreja. Ver, passo a passo, a igreja a erguer-se é algo muito gratificante, e a ver o brilho dos olhos de todos quando a cruz foi posta, é algo que não esqueceremos! Ayde!!!! José Xavier e José Seco, Ilha Livingston |
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