A CAMPANHA
PROPOLAR 2011-2012
Novembro de 2011 a Abril de 2012
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Novembro de 2011 a Abril de 2012
Chegámos à linda cidade Argentina de Ushuaia que é a cidade mais a sul da America do Sul e a mais próxima da Antárctica...daí dizer-se que se está perto do fim do mundo. Após mais de 24 horas de viagem, estávamos totalmente exaustos...mas era cerca de 9 da manhã e não podíamos ir dormir...isto para vencer o jetlag, o melhor é só dormir à noite. E assim foi. Fomos "explorar" Ushuaia e reunimo-nos com o coordenador da parte logística, os simpáticos German e Romina. Fomos muito recebidos pelos locais com um "bom dia" (aqui não se usa “buenos dias”)...parece que aqui, Fernão de Magalhães mantém uma boa influência na cultura local ;).
Ushuaia tem tudo...tem lindos parques naturais lindos por perto e é uma cidade bastante cosmopolita com mais de 56 000 pessoas que...até tem um Casino! Nota-se que esta cidade vive muito do turismo sustentado e na qualidade do serviço, pois pode-se encontrar a última gama de computadores, como ser-te servido uma refeição do Bacalhau do Antárctico ou encontrares aquela T-shirt de surf que querias. Existem lojas com muito bom gosto em toda a cidade... tudo isto porque Ushuaia é a partida e a chegada de muitos cruzeiros turísticos (e no nosso caso científicos) para a Antárctica. Andar pela rua ouves Americanos, europeus e uma grande variedade de pessoas cujo o poder de compra é alto. Aqui já se sente o ambiente do continente branco, os picos dos montes em redor têm neve, há lembranças de pinguins e da Antárctida por todo o lado, os postos de turismo anunciam visitas a ilhas com pinguins! Ate já nos cruzamos por algumas pessoas que têm “cara” de cientistas e andam com t-shirts dos diferentes comités polares! Mas tudo isto torna esta cidade muito interessante... Próximo passo é recuperar...e rever tudo novamente. Partida para Livingston Island em breve.... José Xavier & José Seco Clique aqui para editar Dia 7 Dezembro 2011 "Mira que bueno el bacalao!" Depois de horas a descascar cebolas (com ajuda de óculos de neve), cozer e desfiar bacalhau, descascar e fritar batatas e calorosas discussões pelas melhores opções de confecção, o bacalhau à Brás feito por mim e pelo João prometido para hoje ficou uma delicia e superou as expectativas. Fazer um bom bacalhau à Brás pode não parecer muito difícil, mas fazê-lo para 19 espanhóis, 1 americano e 2 portugueses é um desafio e pêras. Além disso o que estava em causa não só era dar de comer a esta gente toda para o almoço, mas sim honrar a fama que o bacalhau à Brás tem por todo o mundo. Antes de comer, juntamos todos os copos: "Un brindis por Portugal, VIVA!!" O aspecto do bacalhau estava óptimo, mas confesso que ficamos mais babados com os elogios que recebemos. Que satisfação!! Todos adoraram e muitos garantiram-nos que nunca tinham comido um bacalhau tão saboroso. Mesmo em Portugal... Não fiquei muito bem na foto porque na verdade estava a queimar-me no tacho! hehe De qualquer forma é a única que tenho por isso.. Pela tarde fomos novamente ao rio Mecon recolher amostras. O gelo continua a derreter e a provocar imensas alterações no leito do rio. De repente ouviu-se um CRAAAAKKKK! A placa de gelo junto à margem do Mecon por onde o João estava a caminhar rachou e caiu. Nesse preciso momento estava a tirar uma foto em direcção à foz do rio e captei o momento! André Mão de Ferro e João Canário Dia 6 Dezembro 2011 As mudanças do rio Mecon com o passar do tempo são fascinantes. As paredes de gelo derretem a todo a tempo e estão em permanente derrocada. O leito do rio ganha cada vez mais força à medida que o gelo derrete e as margens do rio afastam-se de dia para dia. No primeiro dia de recolhas tínhamos colocado 3 estacas ao longo do vale para marcar os postos de recolha. Hoje a segunda estaca desapareceu. As margens estão em permanente derrocada e calculamos que a estaca esteja coberta de sedimentos no leito do rio. Fizemos a recolha de amostras e posterior tratamento no laboratório da base. No dia seguinte esperáva-nos uma manhã de grande responsabilidade: Fazer o prometido bacalhau à brás para o almoço para toda a equipa de Gabriel de Castilla. André Mão de Ferro e João Canário, Deception Uma expedição cientifica à Antárctica é SEMPRE feita com um brilho nos olhos, com muitas expectativas e de novas experiências...e o Natal e a passagem de ano serão na Antárctica! Já vos contamos mais sobre isso.... O nosso projecto cientifico, PENGUIN, é muito interessante pois pretende principalmente compreender como pinguins competem entre si por alimento, e como as condições ambientais podem afectar negativamente/positivamente as populações de algumas espécies de pinguins. Estamos a usar os pinguins como exemplo de como espécies do nosso planeta podem ser afectados pelas alterações climáticas há medida que o planeta aquece e o que nós podemos fazer para os preservar. O que o nosso projecto multidisciplinar faz é parte integrante de vários programas internacionais cientificos e educacionais (ICED, SCAR-EBA, SCAR-CBET, APECS) e terá lugar na Peninsula Antárctica, mais precisamente em Livingston Island. Os nossos estudos possuem um forte apoio, quer institucional em Portugal (Instituto do Mar da Universidade de Coimbra, Fundação para a Ciência e a Técnologia) quer também de vários paises como o Reino Unido, Bulgária, Espanha, França e Estados Unidos. A preparação ao detalhe para a expedição foi muito acelerada nestes últimos meses... A nossa equipa do Instituto do Mar da Universidade de Coimbra partiu de Lisboa num voo às 8.25 com destino inicial a Madrid, no dia 6 de Dezembro 2011 e durará até Fevereiro. O Natal será na Antárctica. Quanto estiverem a saborear o Bacalhau no dia de Natal ou comer as passas na passagem de Ano, pensem em nós;) O entusiasmo para a viagem foi constante. O José Seco estava um pouco ansioso, é a sua primeira expedição Antárctica. Como estudante de Mestrado em Ecologia, esta é uma oportunidade única de fazer trabalho de campo na Antárctica e trabalhar directamente com pinguins. Tivemos inúmeras reuniões sobre como decorrerá a expedição e julgo que estamos prontos! Para mim, era a primeira vez que trazia um estudante, que iria áquela parte da Peninsula Antárctica, e a falar Português tanto tempo :))) “ Está é a primeira vez que vou fazer trabalho de campo na Antárctida! Desde o dia em que o José Xavier me falou da possibilidade desta oportunidade única, não houve um dia em que não tenha pensado como tudo será. Como será o ambiente? Como será a base? Como será a viagem? Mas a principal questão foi sempre, como irão reagir os animais à nossa presença? Como será lidar com algumas espécies que só estou habituado a ver nos programas da BBC? Ainda não consigo responder a nenhuma destas perguntas, mas está para breve :))” Disse José Seco com um sorriso... A ida para Madrid foi rápida pois metemos logo conversa com as pessoas ao nosso lado e o tempo voou. Depois apanhámos outro avião para Buenos Aires, que demorou 12 horas e cerca de 10 000 km. Está viagem demorou muito mais tempo a passar, vimos 4 filmes pois dormir sentado é super desconfortável. Chegámos às 22 horas locais (menos 3 do que em Portugal). Em Buenos Aires tivemos de equacionar o que fazer pois a ligação a Ushuaia era às 4.30 da manhã noutro aeroporto...e tinhámos de decidir se iríamos dormir um pouco e apanhar esse voo ou pedir que nos adiassem o voo para mais tarde. Os responsáveis da LAN Chile bem nos tentou ajudar mais não nos foi possível mudar os voos, e então tentamos descansar 2 horas num Hotel, enquanto do outro lado da rua estava a haver uma festa na embaixada portuguesa! O senhor taxista que nos levou ao Hotel, era uma joia de pessoa (que ficou super contente por sermos Portugueses. "Já deviam ter dito!" disse ele, e passou a viagem a praticar o seu Português Brazileiro ;)), mostrou-nos algumas partes muito bonitas de Buenos Aires (La Casa Rosada, Puerto Madero,...) mas nunca tinha sentido a sensação de estar num carro de Formula 1 em forma de taxi. Em tom de filme de Hollywood de acção, passámos entre camiões gigantes, ultrapassamos numerosos carros, sinal vermelhos é o mesmo que sinal verde...só rir...mas só depois de termos saído, vivos, do Formula 1. Dormimos 1-2 horas e fomos para o Aeroporto Jorge Newbery. Aí bebemos um hot chocolate que nunca tinhámos bebido...com chocolate mesmo;) ou seja, eles dão-nos leite quente e uma barra de chocolate e depois é só adicionar ao gosto. Brilhante ideia pois a partida para Ushuaia era ainda dali a algum tempo e a necessidade de energia era bem precisa ;). José Xavier & José Seco Durante o dia fomos buscar os dispositivos que tínhamos colocado dois dias antes na baía aqui mesmo junto à base. O nosso receio era de que a bancada de gelo vinda das praias de oeste os tivessem esmagado.
Felizmente estavam em bom estado, mas o gelo entretanto tinha derretido e baixou a salinidade das águas da baia. Infelizmente teríamos de voltar a repetir a experiência. Os planos aqui mudam como o tempo, num piscar de olhos! Regressamos à base e planeamos o dia seguinte. Teríamos de fazer as recolhas de amostras diárias de água no rio mecon, e procurar uma alternativa para a colocação dos dispositivos na baia. A um determinado momento a ponta da bandeira ficou presa no poste, e no final do dia dois militares foram discretamente remediar a situação. O caso era complexo e tiveram que a tirar para a remendar. "Teresa estás cosiendo la bandera del enemigo??" Perguntava Pepe na brincadeira, o marido de Teresa. São ambos vulcanólogos espanhóis veteranos nestas andanças e formam o casal mais catita da Antárctida. Eu e a Teresa passamos o serão à conversa e a remediar as pontas rasgadas. Enquanto a Teresa cosia a bandeira falámos das inúmeras batalhas entre portugueses e espanhóis em especial da grande batalha de aljubarrota. André Mão de Ferro e João Canário Hoje começamos por ir às fumarolas.
Um dos nossos objectivos deste projecto é, para além de definir os processos de transporte de contaminantes, também identificar as fontes. A vantagem da ilha de Deception é ser de origem vulcânica com vulcanismo activo. Este aspecto é muito importante na medida em que estes fenómenos naturais contribuem para a introdução de muitos metais pesados no ambiente. Daí termos aproveitado a nossa estadia para recolher amostras nestes locais para em laboratório determinar as concentrações de alguns dos mais importantes. Desta forma, estivemos toda a manhã a recolher amostras de água e solo nestas fumarolas para depois serem processadas em laboratório e analisadas em Lisboa. A recolha de amostras de água foi mais complicada pois numa das fumarolas a água estava a 75ºC e na outra 90ºC. Da parte da tarde fomos fazer o reconhecimento do rio Mecon. O nosso objectivo ao estudar este rio é ver de que forma alguns elementos se distribuem pelo gelo e pela água e de que forma é que o degelo contribui para o input (ou não) desses elementos na coluna de água e, se esse processo está associado ao teor e natureza do carbono orgânico (dissolvido e/ou partículado) ou simplesmente à natureza das partículas existentes no gelo ou na água. O trabalho da tarde foi unicamente reconhecer os locais e definir três estações de amostragem que foram identificados por GPS e assinaladas no local com uma estaca. Aproveitamos ainda para visitar o Lago Zapatilla onde é feita a recolha de água doce que abastece a base. " E pronto. Vou continuar o meu trabalho de Maria que não paro desde as 9. João Canário e André Mão de Ferro O primeiro dia na base foi intenso. Não se ia trabalhar pois connosco tinha chegado muito material para a base e os militares tinham de pôr tudo em ordem. Sim, a base Gabriel de Castilla é militar. No entanto, aproveitamos para montar o nosso laboratório, fazer brancos, calibrações etc. Aproveitamos sobretudo para nos inteirar da vida da base.
Mas primeiro, ainda hastearam a nossa bandeira á entrada da base. O André trouxe muito solenemente a bandeira nos braços e um militar hasteou-a. Foi um momento emocionante. E na verdade é um mundo diferente. Mesmo muito diferente da minha experiência no Árctico. É no entanto uma experiência de vida fascinante. O trabalharem 24 pessoas para o bem comum sem stresses é algo que infelizmente não se está muito habituado. Depois há a figura do(a) Maria, alguém que está escalonado (cientista ou militar) para limpar a base, casas de banho, serviço à cozinha, servir à mesa etc. Uma experiência interessante mas muito cansativa. Ao final do dia há reunião com o comandante da base para preparar o dia seguinte e no nosso caso ir para o lab pois iríamos sair para as fumarolas às 9 da manhã. _O embarque foi no dia 28 pela tarde. Estávamos apreensivos pois o que nos contaram da travessia do Drake não era muito agradável. Íamos preparados para o pior e com os comprimidos para o enjoo a postos. Nas primeiras três horas tudo correu bem e achamos que nos tinham assustado. Vai ser "canja". Na verdade não tinhamos era previsto que ainda demoraria a passar o Beagle Channel. Quando saímos tudo se recompôs. Comprimidos logo. E foram três dias assim. Praticamente sempre deitados. O André armou-se em forte e não quis tomar no primeiro dia e o resultado foram as primeiras 24h horríveis com direito a injecções e tudo. Felizmente a minha experiência embarcado nos navios do IPIMAR me serviu de muito.
Assim foram três dias entre a cama, a sala dos "cientificos" e a ponte. E foi aí que vimos icebergs. Visão fantástica. Com os binóculos víamos pinguins no topo do iceberg. A Antárctida aproximava-se e a excitação aumentava. Desembarcaríamos no dia a seguir. João Canário |
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