A CAMPANHA
PROPOLAR 2012-2013
Novembro de 2012 a Março de 2013
PROPOLAR 2012-2013
Novembro de 2012 a Março de 2013
Parecíamos 3 "baratas tontas" na cozinha, mas garanto-vos que não deixamos ficar mal a imagem da boa culinária portuguesa! Desde a sopa juliana que o António correia preparou, às "costeletas à pai" do Gonçalo Vieira e eu ajudei na confeção destes pratos e preparei os acompanhamentos, puré e arroz de cenoura. No final da refeição, brindámos um "nazdrave" com vinho do Porto (que me desculpem as restantes regiões demarcadas) e eu aventurei-me a cantar um fado da Amália "Com que voz". Ontem, dia 8, voltei à carga para continuar o levantamento topográfico da zona do Papagal. Carregámos os dados e conseguimos ver os primeiros resultados e já dá para perceber que teremos de levantar mais alguns pontos para aperfeiçoar o modelo. Depois é começar a fazer a delimitação de áreas de vegetação. Falando assim até parece fácil, não é? Mas garanto-vos que em meia dúzia de horas de trabalho numa área com declives acentuados, neve, rochas e cascalho de variadas dimensões, fica-se completamente arrebentado além dos frequentes sustos com quedas e derrapagens! De um dia para o outro, basta uma alteração de temperatura e a neve fofa que nos obriga a gigantes movimentos de pernas pode-se tornar num autêntico ring de patinagem. Aqui são agora 9h30 da manhã, 12h30 em Portugal Continental, por isso um "Dobro Utro"
para vocês (que é o mesmo que dizer bom dia em búlgaro) Ana Salomé, Ilha Livingston, Arquipélago das Ilhas Shetland do Sul, Antártida, 09-02- 2013 A cada dia que passa a noção de “aventura” torna-se mais intensa. Ontem, foi o ponto alto destes primeiros dias de campanha. Todos os passos do desembarque do navio da armada espanhola Hespérides, que nos transportou desde a ilha King George até à ilha Livingston, até à chegada à base búlgara St. Kliment Ohridski, onde vamos ficar alojados nas próximas 2 semanas, foi uma emoção. Os equipamentos completos de segurança que somos obrigados a vestir cada vez que temos de embarcar/desembarcar em Zodiac (barcos semi-rígidos), limitam-nos grandemente os movimentos, e dão-nos um ar muito desajeitado e patusco – por isso são alcunhados de “Tele-Tubies”. Mas nem diria quando os vi pela primeira vez vestidos na tripulação do navio espanhol, movendo-se com relativa ligeireza. O vestir e despir destes fatos é revestido de toda uma técnica que ainda não domino e que ao mesmo tempo que me desgasta fisicamente também me diverte. Como devem imaginar, mover-me com este equipamento vestido é outra “tortura”. Mas tudo pela nossa máxima segurança! A praia da base búlgara é lindíssima, mas cheia de grandes rochas, que dificultam o acesso das Zodiac. O desembarque deu-se por isso dentro de água, com os homens a segurar no semi-rígido e próximo da zona de rebentação. Eu, que tinha ficado dentro do bote, já não sei porquê achei que deveria fazer contrapeso na outra ponta na tentativa de ajudar a estabilizar o bote: Ao que um dos “gigantes” búlgaros, o Vasco, que vinha connosco e estava dentro de água a segurar o bote me diz no seu arranhado espanhol “no mi amor, tienes que saltar para aqui”, e eu saltei, mas o “para aqui” era para dentro de água e eu apanhei um valente susto pois enquanto ao Vasco a água lhe dava pela barriga, a mim quase me chegava ao pescoço e é claro que só larguei a Zodiac quando a maré recuou e eu me “mandei” literalmente para os calhaus na margem da praia. Depois foi descarregar rapidamente os equipamentos enquanto uns dentro de água seguravam na Zodiac. Construímos um cordão para tirar as coisas rapidamente mas mesmo assim os sacos molharam-se e todos receávamos pelos equipamentos electrónicos, principalmente os computadores. A adrenalina deste desembarque nem deixou saborear a maravilhosa paisagem desta praia, nem cumprimentar os pinguins de barbicha que recebiam tão amistosamente a nossa chegada. Depois de descarregadas as bagagens para a praia, e de terem conseguido devolver ao mar a Zodiac com os dois tripulantes do navio espanhol (que também foi uma aventura com a ondulação), começamos a transportar rapidamente os sacos já bastante molhados para a base. Eu receava não ter roupa para vestir pois no desembarque a minha mala mergulhou totalmente
dentro de água. Apesar de não ser completamente estanque o malão azul lá conseguiu aguentar a coisa, felizmente! Claro que ficamos todos exaustos e o Gonçalo Vieira todo ensopado. Ana Salomé, Ilha Livingston, Arquipélago das Ilhas Shetaland do Sul, Antártida, 30-01-2013 Hoje fomos recolher os dados da sondagem de temperatura do solo no refúgio chileno com a nova equipa de investigadores (um espanhol e uma alemã) que estuda a actividade vulcânica na ilha aos seus vários locais de medição. Houve alguma actividade anómala há umas 2 semanas no entanto de momento os registos estão normalizados, sem se verificar anomalias. Neste local de trabalho é extremamente importante não nos esquecermos que se trata de um vulcão activo e que por isso devemos estar atentos a qualquer actividade fora da norma.
Alice Pena, ilha Deception No dia 2 realizámos as primeiras medições de monitorização de solifluxão de elevada precisão com o GPS diferencial nas proximidades da base Argentina, no leque aluvial. No dia seguinte, com a ajuda de dois elementos da armada Monica e Esteban fizemos todas as medições tanto de solifluxão como do local CALM na rechã Irizar e um dia depois a mesma equipa voltou a Crater Lake para terminar o trabalho com o GPS diferencial.
Alice Pena , ilha Deception No dia 30 de Janeiro, fomos até Irizar realizar as medições de camada activa do local CALM que são realizadas várias vezes ao longo do Verão, de forma a monitorizar a sua evolução. No dia 1 de Fevereiro executámos as mesmas medições no outro local CALM que monitorizamos em Crater Lake nas proximidades da Base Gabriel de Castilla. Aguardávamos a chegada de equipamento bastante importante para a campanha com a chegada do navio Hespérides e fomos até à base espanhola recolhe-lo. Assim poderíamos avançar com a monitorização da solifluxão em Decepcion. Ficámos também a saber que tinha corrido tudo bem no inicio da campanha antartica portuguesa em Livingston com a chegada de Gonçalo Vieira, António Correia e Ana Salomé.
Alice Pena , ilha Deception Dia 29 visitaram-nos alguns elementos da marinha inglesa que estão a bordo do navio HMS Protector e que trabalham com investigadores British Antarctic Survey. Uma vez que na Base Argentina poucas pessoas falam inglês tive o prazer de ser a tradutora oficial. Assim que terminassem o trabalho científico na ilha Decepcion partiriam visto que se aproximava um temporal forte. À tarde começou a soprar um vento sul bastante forte e hoje já nevou bastante, sendo que em alguns locais se acumulou cerca de 70cm de neve, de modo que não se pode fazer trabalho no campo.
Alice Pena, ilha Deception
Dia 23 e 24 as condições meteorológicas não eram favoráveis de modo que permanecemos na base a realizar trabalho de laboratório e a ajudar nos preparativos para o aniversário da base. Faz hoje 65 anos que a base argentina de Decepción foi construída e é sem dúvida motivo de celebração. Os festejos começaram cedo com a cerimónia da armada juntamente com os militares e científicos da Base Gabriel de Castilla. Fomos brindados com o melhor dia de sol que eu até agora vi na Antárctica; quase não havia vento, estavam cerca de 7 graus e a neve no solo nas proximidades da base é escassa. Aproveitámos para jogar à bola e preparar o resto da festa para noite, nomeadamente o tradicional assado argentino. Para jantar chegaram grande parte dos militares e científicos e assim foi um dia de excelente celebração entre amigos. Alice Pena, ilha Deception Dia 18 de Janeiro durante a manhã estivemos no laboratório a realizar o tratamento de dados de temperatura recolhidos nesta campanha. Fomos convidados pela Base Gabriel de Castilla para jantar e cada base cozinhou algo típico das suas nações; de Espanha uma variedade de tortilhas e da Argentina pizzas. O convívio foi bastante agradável e reencontrámos alguns investigadores que conhecíamos de outras campanhas e novos investigadores recém chegados à Base. Visitei o laboratório da equipa de dos biólogos espanhóis que realiza mergulhos para recolher espécies (sobretudo ouriços e estrelas do mar) e aí realiza experiências. No dia seguinte concluímos a instalação de sensores de temperatura da superfície do solo nos locais mini-CALM, além das habituais medições da camada activa. Finalmente conseguimos ver as estacas do mini-CALM localizado numa vertente exposta a sul que anteriormente estava coberto de neve. Do navio Hespérides chegaram à Base argentina dois biólogos búlgaros que realizam trabalho em algas terrestres microscópicas. No domingo todos os investigadores e a maioria da dotação da base visitaram a pinguineira Irizar. Inicialmente havia um pouco de neblina o que impossibilitava ver a pinguineira em toda a sua beleza mas após tomarmos à beira mar o tradicional mate argentino, pudemos ver a magnitude desta colónia de barbichos e tirar belas fotos aos pinguins bebé sendo que alguns já estavam bastante crescidos. O acesso dos pinguins à colónia é bastante difícil de modo a evitar os predadores, sobretudo as focas leopardo, e por isso para ingressar os pinguins têm de apanhar ondas de grande magnitude de encontro às rochas e tentar subir. Alguns magoam-se nesta tarefa mas eles fazem tudo para que as suas crias estejam protegidas. Ontem realizámos trabalho no laboratório de preparação para ir o mais longe possível a pé para terminar a cartografia geomorfológica nesse sector, de modo que hoje eu, o Gabriel e os biólogos búlgaros, levantámo-nos bem cedo para tentar alcançar a Caleta Pendulo. Aproveitámos a maré baixa para caminharmos pela costa o máximo que pudemos. A paisagem é magnífica; gelo coberto por cinzas, lagos, pinguins (Papua e Barbichos), focas weddel e a elevada dinâmica de vertentes que expressa a morfologia típica desta ilha. Chegámos até Pêndulo e aproveitámos as águas termais para tomarmos um banho antárctico. Aí visitámos as ruínas da base chilena destruída na última erupção de 1970.
Alice Pena, ilha Deception Fazer ciência polar com a Nova Zelândia faz todo o sentido, pois a Nova Zelândia fica mesmo aqui ao da Antárctica. Já que Portugal andou pelo mundo fora há 500 anos, desde a nossa era dos descobrimentos, quais serão as ligações entre Portugal e a Nova Zelândia? De acordo com um último census, existem cerca de 200 Portugueses na Nova Zelândia (dos 4.5 milhões de Nova Zelandeses), chegando quase aos 700 se incluirmos descendentes. Nos séculos XIX e XX, existiam mais Portugueses do que Espanhóis na Nova Zelândia, resultado das nossas ligações comerciais pelo mundo fora. Portugal é um dos países entre os primeiros colonialistas da Nova Zelândia, com um português (ligado à pesca da Baleia) na árvore genealógica de uma das famílias Maori Ngāti Kahungunu. Vários imigrantes ficaram conheçidos, como o Senhor António Rodrigues que se estabeleçeu em Akaroa (perto de Christchurch, na Ilha Sul, onde Frank Worsley, o famoso comandante da expedição de Shackleton de 1914-16) e construiu o “Madeira Pub Hotel” que ainda está em funcionamento. Outra Português referenciado é Francisco Rodrigues Figueira, também da Madeira, que possuiu um campo de trabalhos forçados de uma prisão no séc. XIX. Conheçido como “Don Buck”, Francisco é relembrado em vários lugares em Auckland como Rua Don Buck, Escola primária Don Buck e até uma reserva natural. Este fim de semana foi a 4 etapa do circuito mundial de râguebi de 7 em Wellington, e Portugal fez parte desta elite de 16 equipas a fazer este circuito. Jogámos bem mas perdemos sempre. Não faz mal! A equipa está num periodo de renovação e só de ver algumas bandeiras de Portugal mostra bem que os nossos atletas não estavam sozinhos...mesmo neste lado extremo do mundo. Que bom! Conducting polar science with New Zealand makes all sense, as it is so close to the Antarctic. As Portugal has been around the world for 500 years (since the Age of Exploration, in the XV and XVI centuries), what are the links with New Zealand? According to the last census, there are 200 Portuguese living in New Zealand (out of the 4.5 million of New Zealanders), reaching almost 700 if including descendents. Portugal is named as one of the first amongst New Zealand's early colonists, one Ngāti Kahungunu family has a Portuguese whaler in its whakapapa (genealogical chart). Other arrivals included António Rodrigues who migrated from the island of Madeira his wife in the 19th Century and eventually settled in Akaroa where he built the "Madeira Pub Hotel", which is still in activity. Another early settler was Francisco Rodrigues Figueira, also from Madeira who owned a prison labour gum-digger's camp in Auckland late 19th century. Known as "Don Buck", Francisco is remembered in such west Auckland placenames as Don Buck Road, Don Buck Primary School, and Don Buck Corner Reserve. This week, we had the world circuit of rugby of Sevens in Wellington and Portugal was part of the 16 teams in it. It was so nice to see some Portuguese flags...in this extreme part of the world. Nice! A Nova Zelândia é realmente lindissima, com a natureza a ser uma parte integrante do dia a dia. Exemplo? Estou-vos a escrever de casa, com uma vista deslumbrante no meio de Wellington (a capital da Nova Zelândia) e estou ouvir grilos. Polinésios chegaram à Nova Zelândia entre os anos 1250 e 1300 (para vos ajudar a situar no tempo, Portugal tornou-se a mais antiga nação do mundo em 1139) e desenvolveu uma cultura Maori, que até hoje está totalmente integrada na sociedade Nova Zelandesa. O primeiro contato com os europeus acorreu em 1642. Em 1840 os Britânicos e os Maori assinaram um tratado (Waitangi Treaty, celebrado no dia 6 de Fevereiro) tornando a Nova Zelândia uma colónia do Império Britânico. Tornou-se país em 1853 (apesar de haver muito debate quando o foi exatamente). Económicamente, os pontos mais fortes são a exportação de produtos associados ao leita, carne e mais recentemente, o seu vinho. E o turismo também...só para dar-vos o exemplo, o caso do Senhor dos Anéis ser filmado em toda a Nova Zelândia, faz com que haja muitos turistas deslocarem-se à Nova Zelândia anualmente. E quais foram os primeiros cientistas polares a colaborarem diretamente com a Nova Zelândia? Bem, não sabemos mas possivelmente nós da Universidade de Coimbra e a Catarina Magalhães, da Universidade do Porto, estaremos entre os primeiros. Acabei de receber uma mensagem da Catarina a informar-me que a sua expedição aos vales secos da Antártica, através da base Antárctica Neozelandesa Scott, que decorreu durante todo o Janeiro 2013 correu bem. Portugal e Nova Zelândia em grande...Boa Semana and Waitangi day! New Zealand is truly beautiful, with nature being part of our daily life. Example? I am writing from my house, with one of nicest views towards a bay and I can ear crickets. Polynesians settled New Zealand in 1250–1300 CE (just to have an idea of time scale, Portugal was the first nation to be officially established in 1139) and developed a distinctive Māori culture, that is well integrated in New Zealand culture. In 1840 the British and the Maori people sign the famous Waitangi Treaty (celebrated every year on the 6 February) making New Zealand a British colony. Soon later, New Zealand became a country, in 1853 (although there is still a open debate about it). Economically, New Zealand's agricultural exports have diversified greatly since the 1970s, with once-dominant exports of wool being overtaken by dairy products, meat, and recently wine. Tourism must be big too...just think of Lord of the Rings that it was filmed all over New Zealand. And what were the first Portuguese polar scientists collaborating directly with New Zealand? Well, we do not know, but possibly we at University of Coimbra and Catarina Magalhães from the University of Oporto, are amongst the first. I just got an SMS from Catarina saying that her expedition to the dry Valleys went really well. Nice to see Portugal and New Zealand working together...Have a great week and Waitangi day! Jose Xavier |
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