A CAMPANHA
PROPOLAR 2012-2013
Novembro de 2012 a Março de 2013
PROPOLAR 2012-2013
Novembro de 2012 a Março de 2013
Ao contrário do sol radioso e calmaria de ontem, o dia hoje amanheceu frio, ventoso, com nevoeiro e bastante neve, que ainda não parou de cair. Felizmente os planos do dia eram pouco ambiciosos. Como ontem à noite terminámos a amostragem da primeira experência desta campanha de 2013, hoje tomamos notas, organizamos amostras, preparamos os próximos dias e respodemos ao e-mail. Ontem durante o dia aproveitámos o bom tempo para sair à pesca. Não fora a temperatura da água e do ar, e os pequenos icebergs ao redor do zodíaco e poderiamos estar numa qualquer praia tropical vestidos com ridíiculos fatos de sobrevivência. A pesca correu bem e conseguimos juntar mais cerca de 30 peixes ao stock. Assim hoje apenas teríamos de proceder a renovações de água e afinar os tanques para a próxima experiência, enquanto os peixes se ajustam ao cativeiro.Mas tarefa relativamente simples de bombear água do mar foi dificultada pelo mau tempo mas sobretudo pelas focas-elefante! Já há alguns dias que estes gigantes pachorrentos andam aqui mas hoje decidiram utilizar exactamente o corredor onde passa o tubo e os cabos da bomba para os seus banhos de sol (se o houvesse) e mar ... e não podemos arriscar que as suas centenas de quilos e falta de jeito para “caminhar” em terra esmaguem o equipamento ... assim nada feito... há que utilizar a água salgada que haviamos armazenado anteriormente, apesar da temperatura não ser a ideal.
Entretanto na base para além da rotina habitual espera-se a chegada do navio oceanográfico Humbolt da marinha do Peru, que deverá trazer o Presidente daquele país de visita à base de Machu Pichu, também aqui na Baía do Almirantado, e dar boleia a quatro chilenos que ficaram retidos em Arctowski. Estes planos também têm sido adiados pelas instáveis condições climáticas. Eis os acontecimentos mais dignos de nota dos últimos dias... na quinta-feira uma visita-relâmpago do helicóptero da força aérea chilena que veio recolher o correio... desculpem, mas ainda não tínhamos escrito os postais!... na sexta-feira a visita de um navio de cruzeiros repleto de turistas séniores alemães, ao qual fomos recolher uma caixa de frutas frescas (é que há que combater o escorbuto!!)... no sábado o aniversário do Bruno, com direito a bolo, mesa farta e a costumeira festa, ao som do hit Chica Bomb de Dan Balan, desta vez sem os colegas da base americana de Copa, que não conseguiram deslocar-se devido ao vento... e no domingo o desastroso desaparecimento de um dos kayaks dos chilenos que faziam turismo-aventura, talvez levado durante a noite pelos ventos fortes e maré alta... tudo aqui tem de ser continuamente protegido dos elementos. Toda uma semana de emoções fortes!! Pedro M Guerreiro e Bruno Louro Os últimos dias têm sido passados no laboratório a elaborar tratamento de dados e também a preparar a base para novos elementos da armada argentina que chegarão na próxima semana.
Hoje (10.02) tivemos visitas do veleiro argentino Quixote e quando fomos para o campo com eles ouvimos um ruído alto que o Gabriel identificou como sendo uma possível escoada de detritos. Rapidamente fomos até ao local onde era mais provável existir escoadas uma vez que a neblina era bastante cerrada apesar de estar algum sol. Subimos e verificámos que tinha sido reactivado uma pequena escoada de detritos que entretanto continuava a mover-se de forma lenta à medida que a água de fusão de montante escoava, agora em abundância devido à mais elevada temperatura do ar. O que é excelente uma vez que pudemos fazer vídeos e perceber como o evolui o processo de movimento das escoadas em Decepcion. Alice Pena, Decepcion Estamos a trabalhar na Antárctida dentro de uma câmara frigorífica! Assim o exige o controlo da temperatura que é fundamental para as experiências: arrefecemos o ar para manter uma temperatura externa estavél, para voltar a aquecer a água dos tanques individualmente e de forma controlada. Após o período de aclimatização dos peixes à sua nova casa, estamos prestes a começar as experiências. Estas consistem em replicar os efeitos das rápidas alterações climáticas, tais como as variações de temperatura e salinidade das aguas das zonas costeiras deste habitat único, e verificar a capacidade da resposta fisiológica destes animais que aqui evoluiram durante cerca de 25 milhões de anos. Com isto queremos tentar perceber como reagem os peixes as estas variações do habitat e com que mecanismos moleculares e fisiológicos. Terão a plasticidade suficiente para a adaptação?
Após vários dias a bombear água sob o olhar preguiçoso de um grupo de focas elefante que decidiu fazer da “nossa” praia a “sua” praia, o meu dia de aniversário começou com uma noite em branco a fazer a vigia à sala dos geradores e caldeiras. Esta vigilância de 24h sobre 24h serve para tentar evitar tragédias como a que ocorreu à quase um ano do outro lado da baía, quando o grande incêndio que destruiu aa base antártica brasileira começou nas salas dos geradores. Morreram duas pessoas e houve vários feridos graves e há que deixar aqui a devida homenagem às vidas perdidas, mas a melhor homenagem aos seus compatriotas é a que os brasileiros estão a fazer, com uma reconstrução rápida da base, mostram com perseverança que as suas mortes não foram em vão! Para terminar com uma nota de humor, ontem fomos à pesca de ofiurídeos ... não encontrando nada na maré baixa, tivemos de recorrer a todos os recursos possíveis e imaginários, até mesmo à antiga tecnologia militar soviética herdada pelos polacos! Um tanque anfibio!! Bruno Louro e Pedro M Guerreiro Parecíamos 3 "baratas tontas" na cozinha, mas garanto-vos que não deixamos ficar mal a imagem da boa culinária portuguesa! Desde a sopa juliana que o António correia preparou, às "costeletas à pai" do Gonçalo Vieira e eu ajudei na confeção destes pratos e preparei os acompanhamentos, puré e arroz de cenoura. No final da refeição, brindámos um "nazdrave" com vinho do Porto (que me desculpem as restantes regiões demarcadas) e eu aventurei-me a cantar um fado da Amália "Com que voz". Ontem, dia 8, voltei à carga para continuar o levantamento topográfico da zona do Papagal. Carregámos os dados e conseguimos ver os primeiros resultados e já dá para perceber que teremos de levantar mais alguns pontos para aperfeiçoar o modelo. Depois é começar a fazer a delimitação de áreas de vegetação. Falando assim até parece fácil, não é? Mas garanto-vos que em meia dúzia de horas de trabalho numa área com declives acentuados, neve, rochas e cascalho de variadas dimensões, fica-se completamente arrebentado além dos frequentes sustos com quedas e derrapagens! De um dia para o outro, basta uma alteração de temperatura e a neve fofa que nos obriga a gigantes movimentos de pernas pode-se tornar num autêntico ring de patinagem. Aqui são agora 9h30 da manhã, 12h30 em Portugal Continental, por isso um "Dobro Utro"
para vocês (que é o mesmo que dizer bom dia em búlgaro) Ana Salomé, Ilha Livingston, Arquipélago das Ilhas Shetland do Sul, Antártida, 09-02- 2013 A cada dia que passa a noção de “aventura” torna-se mais intensa. Ontem, foi o ponto alto destes primeiros dias de campanha. Todos os passos do desembarque do navio da armada espanhola Hespérides, que nos transportou desde a ilha King George até à ilha Livingston, até à chegada à base búlgara St. Kliment Ohridski, onde vamos ficar alojados nas próximas 2 semanas, foi uma emoção. Os equipamentos completos de segurança que somos obrigados a vestir cada vez que temos de embarcar/desembarcar em Zodiac (barcos semi-rígidos), limitam-nos grandemente os movimentos, e dão-nos um ar muito desajeitado e patusco – por isso são alcunhados de “Tele-Tubies”. Mas nem diria quando os vi pela primeira vez vestidos na tripulação do navio espanhol, movendo-se com relativa ligeireza. O vestir e despir destes fatos é revestido de toda uma técnica que ainda não domino e que ao mesmo tempo que me desgasta fisicamente também me diverte. Como devem imaginar, mover-me com este equipamento vestido é outra “tortura”. Mas tudo pela nossa máxima segurança! A praia da base búlgara é lindíssima, mas cheia de grandes rochas, que dificultam o acesso das Zodiac. O desembarque deu-se por isso dentro de água, com os homens a segurar no semi-rígido e próximo da zona de rebentação. Eu, que tinha ficado dentro do bote, já não sei porquê achei que deveria fazer contrapeso na outra ponta na tentativa de ajudar a estabilizar o bote: Ao que um dos “gigantes” búlgaros, o Vasco, que vinha connosco e estava dentro de água a segurar o bote me diz no seu arranhado espanhol “no mi amor, tienes que saltar para aqui”, e eu saltei, mas o “para aqui” era para dentro de água e eu apanhei um valente susto pois enquanto ao Vasco a água lhe dava pela barriga, a mim quase me chegava ao pescoço e é claro que só larguei a Zodiac quando a maré recuou e eu me “mandei” literalmente para os calhaus na margem da praia. Depois foi descarregar rapidamente os equipamentos enquanto uns dentro de água seguravam na Zodiac. Construímos um cordão para tirar as coisas rapidamente mas mesmo assim os sacos molharam-se e todos receávamos pelos equipamentos electrónicos, principalmente os computadores. A adrenalina deste desembarque nem deixou saborear a maravilhosa paisagem desta praia, nem cumprimentar os pinguins de barbicha que recebiam tão amistosamente a nossa chegada. Depois de descarregadas as bagagens para a praia, e de terem conseguido devolver ao mar a Zodiac com os dois tripulantes do navio espanhol (que também foi uma aventura com a ondulação), começamos a transportar rapidamente os sacos já bastante molhados para a base. Eu receava não ter roupa para vestir pois no desembarque a minha mala mergulhou totalmente
dentro de água. Apesar de não ser completamente estanque o malão azul lá conseguiu aguentar a coisa, felizmente! Claro que ficamos todos exaustos e o Gonçalo Vieira todo ensopado. Ana Salomé, Ilha Livingston, Arquipélago das Ilhas Shetaland do Sul, Antártida, 30-01-2013 Hoje fomos recolher os dados da sondagem de temperatura do solo no refúgio chileno com a nova equipa de investigadores (um espanhol e uma alemã) que estuda a actividade vulcânica na ilha aos seus vários locais de medição. Houve alguma actividade anómala há umas 2 semanas no entanto de momento os registos estão normalizados, sem se verificar anomalias. Neste local de trabalho é extremamente importante não nos esquecermos que se trata de um vulcão activo e que por isso devemos estar atentos a qualquer actividade fora da norma.
Alice Pena, ilha Deception No dia 2 realizámos as primeiras medições de monitorização de solifluxão de elevada precisão com o GPS diferencial nas proximidades da base Argentina, no leque aluvial. No dia seguinte, com a ajuda de dois elementos da armada Monica e Esteban fizemos todas as medições tanto de solifluxão como do local CALM na rechã Irizar e um dia depois a mesma equipa voltou a Crater Lake para terminar o trabalho com o GPS diferencial.
Alice Pena , ilha Deception No dia 30 de Janeiro, fomos até Irizar realizar as medições de camada activa do local CALM que são realizadas várias vezes ao longo do Verão, de forma a monitorizar a sua evolução. No dia 1 de Fevereiro executámos as mesmas medições no outro local CALM que monitorizamos em Crater Lake nas proximidades da Base Gabriel de Castilla. Aguardávamos a chegada de equipamento bastante importante para a campanha com a chegada do navio Hespérides e fomos até à base espanhola recolhe-lo. Assim poderíamos avançar com a monitorização da solifluxão em Decepcion. Ficámos também a saber que tinha corrido tudo bem no inicio da campanha antartica portuguesa em Livingston com a chegada de Gonçalo Vieira, António Correia e Ana Salomé.
Alice Pena , ilha Deception Dia 29 visitaram-nos alguns elementos da marinha inglesa que estão a bordo do navio HMS Protector e que trabalham com investigadores British Antarctic Survey. Uma vez que na Base Argentina poucas pessoas falam inglês tive o prazer de ser a tradutora oficial. Assim que terminassem o trabalho científico na ilha Decepcion partiriam visto que se aproximava um temporal forte. À tarde começou a soprar um vento sul bastante forte e hoje já nevou bastante, sendo que em alguns locais se acumulou cerca de 70cm de neve, de modo que não se pode fazer trabalho no campo.
Alice Pena, ilha Deception
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