Lourenço Bandeira
Ilha Livingston, Antártida A recepção na base búlgara foi extremamente calorosa, com um almoço tardio abundante, muita alegria e até cantorias, entre as quais o já clássico “Livingston, Antarctica”. A certa altura, e de uma forma espontânea, a Ana Salomé deu largas a um fado que nos deixou a todos pasmados. Já não é a primeira vez que ela está nesta base, e conhece grande parte da equipa búlgara, que são imensamente acolhedores, simpáticos e prestáveis. A base Búlgara é muito pequena, com cerca de 20 camas em condições improvisadas repartidas em 3 módulos. Não é a base mais confortável, nem aquela com melhor internet (apenas dispomos de um e-mail partilhado com o resto das pessoas aqui instaladas para enviar e receber mensagens de texto), mas é certamente uma das bases com a melhor vista, numa pequena praia em frente ao glaciar de Hurd. Gostava de vos poder presentear com uma fotografia, mas vai ter que ficar para o meu regresso. Dia 19 da parte da manhã, fomos fazer o reconhecimento dos locais onde se encontram os sensores mais perto da base, nas proximidades de um monte a que chamam Papagal. Este será o destino de grande parte das nossas incursões ao campo, uma vez que temos lá vários equipamentos que registam as temperaturas do ar e do solo a diversas altitudes e profundidades. Da parte da tarde realizámos os primeiros voos de teste com o nosso drone Gaspar, um novo elemento da equipa que nos irá ajudar a cartografar as nossas áreas de estudo. É a primeira vez que este UAV voa na Antártida e foi preciso verificar o seu comportamento nestas condições extremas, tendo principalmente atenção aos níveis das baterias e à velocidade com que estas se esgotam nestas temperaturas. Lourenço Bandeira
Península Hurd, ilha de Livingston, Base St. Kliment Ohridski Neste momento reporto da base Bulgara St. Kliment Ohridski, na Península Hurd, ilha de Livingston, Antártida. Estou aqui desde o dia 18 de Janeiro com a Ana Salomé David que para além de estar a dar apoio a este projecto está também a trabalhar para a sua tese de mestrado com o título “Distribuição espacial de comunidades de líquenes do tipo Usnea spp. na Península de Hurd (Ilha Livingston, Antártida): cartografia e fatores condicionantes”. O projecto ANTUAV tem como principal objetivo a elaboração de cartografia com elevado detalhe das áreas livres de gelo da Antártida Marítima (em particular na Ilha de Livingston) a partir de imagens obtidas com UAVs, dando continuidade às atividades iniciadas em 2013 com o projeto HISURF do PROPOLAR. Este trabalho é fundamental para ajudar a compreender a evolução da paisagem numa das regiões da Terra onde as alterações climáticas têm sido mais marcadas. A campanha deste ano foca-se principalmente na cartografia dos observatórios da Global Terrestrial Network for Permafrost na Península de Hurd, nomeadamente na obtenção de modelos digitais de terreno de alta resolução (10 cm), ortofotos (4 cm) e mapas geomorfológicos, assim como realizar a manutenção dos sensores instalados nestes locais. Para além disso daremos continuidade aos trabalhos de monitorização da deformação do glaciar rochoso na Península de Hurd através de GNSS e DINSAR. A viagem para a Antártida decorreu sem percalços, no dia planeado e à primeira tentativa, ao contrário de anos passados. Voámos dia 17 de Janeiro para a ilha de Rei Jorge no voo Português, entre cientistas polares Portugueses, Chilenos, Espanhóis, Búlgaros, Coreanos, entre outros. Assim que aterrámos fomos acolhidos a bordo do navio oceanográfico da marinha Espanhola, o Bio-Hesperides, que proporciona apoio logístico à investigação polar. A viagem até Livingston durou cerca de 20 horas e foi fabulosa, com uma breve paragem dia 18 pela manhã para desembarcar investigadores na ilha de Deception. A nossa rota serpenteava entre inúmeros icebergs com as formas mais inacreditáveis e de dimensões variáveis, desde pequenos cubos de gelo a verdadeiros campos de futebol (ou maiores!). Ao longo do percurso vimos muitos pinguins que saltitavam da água e baleias a poucos metros do navio. Chegados à ilha de Livinsgton entrámos na baía Sur, onde desembarcaram investigadores e pessoal de apoio técnico na base Espanhola Juan Carlos I, a base vizinha da base Bulgara St. Kliment Ohridski, ambas situada na península de Hurd. Finalmente foi a nossa vez de vestir os enormes fatos de segurança e descer para os botes semi-rígidos de borracha que nos transportaram até à praia de calhaus grandes rolados da base Búlgara. João Branco Fundeados em Deception Regressámos ao Hespérides, navio da Armada Espanhola, depois de uma inesperada descida a terra na Ilha de Deception junto à Base Espanhola Gabriel Castilla. Aqui ficaremos até amanhã, dia 16, de onde sairemos para a Ilha Livingston. Ontem pelas 8:30h o Hespérides surgiu na entrada da South Bay, onde se encontra a base Yelcho na Ilha de Doumer. Embarcámos, eu e o Gonçalo, a caminho da Ilha King George. Navio com óptimos espaços para o trabalho científico, camarote confortável e hospitalidade da guarnição. O navio saiu em direcção ao canal de Neumayer que separa a Ilha de Anvers da Ilha de Wiencke cujo sector mais estreito mede pouco mais de 1 km e tem um panorama especial entre as montanhas das duas ilhas. Infelizmente devido ao ice pack o navio teve que retroceder para fazer a navegação pelo Canal de Gerlache mais largo e desimpedido de gelo. Pelo final do dia chegámos a Cierva Cove, na Península Antárctica, onde está a base argentina, Primavera, para onde foi desembarcada carga. Noite a navegar. Aqui é conveniente dizer que, nesta altura do ano, embora nos 64o de latitude sul, o sol esteja durante algum tempo abaixo da linha do horizonte, pois estamos abaixo do Círculo Polar Antárctico, na realidade a noite não escurece completamente mantendo-se um crepúsculo bastante luminoso dificilmente encarado como noite. Hoje pelas 08:30h, entrada na caldeira do interior da Ilha de Deception, uma ilha muito especial pois além de se estar no interior de uma cratera abatida de um vulcão esta ilha mantém actividade vulcânica monitorizada por várias equipas de vulcanólogos e sismólogos. Com a oportunidade de ir a terra fomos recebidos pelo comandante da base, que é operada pelo Exército Espanhol. Calorosa recepção com rápida visita à base e subida a Crater Lake, onde inspeccionámos o local de monitorização do permafrost, integrado na rede Circumpolar Active Layer Monitoring (CALM) e mantido por projectos conjuntos do CEG/IGOT e a Universidade de Alcalá de Henares em Madrid e removemos um resistivímetro que já não estava em utilização.
Paisagem totalmente diferente da observada nos outros locais. Nítida presença da actividade do gelo sob o solo, totalmente constituído por piroclastos na área visitada. Neve coberta de sedimentos, solos ordenados com pequenos círculos de pedras, solos estriados e quase total ausência de vegetação, indicando grande dinâmica dos sedimentos constituintes do solo. À tarde o Hespérides saiu do interior da caldeira e circum-navegou a ilha em sondagens de batimetria. Mais uma etapa até King George. João Branco Ontem os colegas chilenos da base de Yelcho foram-nos buscar a Palmer com dois Zodiacs e transportaram-nos para a base chilena que fica numa bela baía na Ilha de Doumer, que fica na parte sul do canal de Neumayer. De Palmer a Yelcho são 25 km e fizemos o percurso com o mar com pouca ondulação em 1:20h. A base deve o nome ao navio Yelcho, comandado pelo Piloto Luis Alberto Pardo que efectuou o salvamento de Ernest Shackleton em 1916 após o afundamento do Endurance, aprisionado pelo gelo na Antárctida. Esta base base fica situada num afloramento rochoso na base de uma pequena península cujo topo é uma superfíce aplanada e glaciada. Penguins Gentoo constituem a maioria da população de aves da península, existindo uma pinguineira destas simpáticas aves dentro do perímetro da base. Como a base está em trabalhos de expansão, os seus ocupantes eram, não só os técnicos e os cientistas, que aqui se dedicam essencialmente a investigação na área da biologia marinha, com mergulhos diários na baía, mas também técnicos de construção que se ocupam das obras de expansão. Fomos recebidos muito acolhedoramente por este grupo tão heterogéneo.
Hoje com um dia espectacular de sol e vento fraco realizámos dois voos com o eBee e cartografámos a área da base da qual ainda não existiam ortofotomapas. À tarde subimos ao topo da vertente e instalámos dois sensores de temperatura que ficarão a medir a temperatura do solo e do ar até ao próximo ano. Até agora os trabalhos da campanha estão a decorrer de acordo com o plano e o tempo tem estado de feição com dias de sol e vento calmo. Oxalá assim continuasse no resto da campanha… Gonçalo Vieira Base norte-americana de Palmer Quatro anos depois estou de regresso à base de Palmer. Em 2012 estivemos cá a instalar novas perfurações no permafrost, em colaboração com a Universidade de Wisconsin e desde 2014 que somos responsáveis pela sua manutenção. Este foi, aliás, o objetivo desta curta, mas intensiva visita a Palmer. Chegámos na 6ª feira à tarde e terminámos os trabalhos na manhã de hoje, 2ª feira. Desde então, temos estado à espera que nos venham buscar de lancha a partir da base chilena de Yelcho, a cerca de 25 km de distância, para onde vamos de seguida. Provavelmente a partida será só amanhã de manhã, depois de ter sido cancelado o transporte da tarde de hoje, por uma avaria numa das embarcações. Os trabalhos em Palmer correram de forma perfeita. Depois de uma chegada com o mar completamente cheio de gelo (brash) e da manhã de sábado em que não pudemos sair de zodiac para a ilha Amsler, onde temos os nossos instrumentos, o resto dos dias, foram perfeitos. Amsler é uma pequena ilha rochosa, cujo topo se encontra a 67 metros de altitude, e que se separou da ilha de Anvers quando há cerca de uma dezena de anos o glaciar que as ligava, colapsou. Foi esse o local escolhido para instalarmos em 2011-12 uma rede de sondagens para monitorizar a temperatura da camada ativa e permafrost, bem como uma estação meteorológica e uma máquina fotográfica automática. Infelizmente, parte deste equipamento estava inativo desde 2013-14 e a nossa vinda aqui a Palmer visava pôr todo o equipamento de novo a funcionar. E foi isso que fizémos, o que nos deixou muito satisfeitos, porque a janela temporal de que dispunhamos era muito restrita para a quantidade de trabalho a realizar. Assim, diariamente, saímos de zodiac para a ilha de Amsler, passámos os dias quase completos a trabalhar no campo, regressando à estação para rever os equipamentos e programar os data loggers ao final do dia. Os dados observacionais da ilha Amsler visam ajudar a compreender o modo como as alterações climáticas estão a influenciar o solo gelado na região. Até 2012, praticamente nada se sabia sobre o estado térmico do permafrost do arquipélago de Palmer. Graças aos trabalhos efectuados sabemos agora que o permafrost está ausente nas partes mais baixas das ilhas e que na perfuração do topo da ilha Amsler, está com temperaturas próximas da fusão, o que foi uma surpresa quando obtivémos esses dados em 2013.
Infelizmente a nossa perfuração principal estava inativa desde essa altura, porque quando os técnicos da base recolheram os sensores em 2014, o cabo ficou preso a 10 m de profundidade, não tendo sido possível recuperá-lo. Na campanha passada, o nosso colega, Mário Neves, tinha conseguido instalar uma cadeia de sensores até 4 metros, o que já permitiu começar a recolher novos dados. Finalmente, no sábado passado, conseguimos revitalizar a sondagem até aos 9 metros de profundidade. Perdeu-se a parte do furo entre 9 e 14 metros, mas conseguimos voltar a ter a perfuração ativa, o que é excelente. José Xavier 4 dias de viagem| 4 days of travelling Mala verificada, plano revisto, passaporte, bilhete...partida! A viagem exige 2 aviões, 4 dias e ± 14.000 km entre Portugal e as Ilhas Falklands (também conhecida por Ilhas Malvinas) via Londres, onde iremos embarcar no navio cientifico Britânico James Clark Ross. Partimos dia 10 de Janeiro de 2016 (Sexta-feira) às 9h do aeroporto de Lisboa, e passado cerca de 2-3 horas chegamos ao invernoso Reino Unido. Porquê ir ao Reino Unido? Porquê viajar para norte quando queremos ir estudar o Oceano no Sul? Simplesmente porque a nossa expedição é em colaboração com o Reino Unido e estaremos a usar maioritariamente a sua logística. Mais concretamente a logística do instituto de investigação British Antarctic Survey (BAS). Assim, voámos para Londres (aeroporto internacional de Heathrow) e partimos de imediato para Cambridge, cidade onde fica sediada a BAS. No Sábado fomos ao instituto onde estivemos a rever o toda a campanha e a trabalhar nos últimos emails antes de partimos. Esta foi a primeira vez do José Seco no Reino Unido (e em Cambridge). É uma cidade Universitária recheada de edifícios históricos, em que se respira cultura e conhecimento. A cada esquina que virávamos, encontramos edifícios enigmáticos, como o colégio de Cristo (Christ´s College; onde estudou Charles Darwin), o Scott Polar Research Institute ou o famoso Pub “The Eagle” onde foi declarada a descodificação do ADN humano pelo Watson e Crick. É sem duvida alguma uma cidade a visitar, principalmente se és um jovem cientista. Baggage checked, research planned review, passport, flight tickets ready...let´s go! The trip between Portugal and the Falkland Islands (also known as Ilhas Malvinas), via London, demands 2 planes, 4 days and ± 14 000 km of travelling. In the Falklands/Malvinas, we will join the Royal Research Ship James Clark Ross. We departured on the 10 January 2016 (Friday) from Lisbon Airport, taking 2-3 hours to arrive in Wintery London. Why going to the UK? Simply because our expedition is in collaboration with the United Kingdom, using most of the logistics of the British Antarctic Survey (BAS). Therefore, we flew to London Heathrow, and gone to Cambridge, where BAS is based. The following day was spent at BAS reviewing the research plan and the final emails. This is the first time of José Seco is in the UK (and Cambridge). Cambridge is a beautiful University city covered with amazing historical buildings. In each corner, something interesting was there to impress us: Christ´s college (where Darwin studied), Scott Polar Research Institute, the famous pub “The Eagle” where Watson and Crick announced their DNA findings for the first time. Worth a nice visit particularly if you are a young scientist. A nossa viagem para Sul estava planeada para Domingo à tarde. Voamos com os colegas cientistas John Watkins, a Sophie Fielding e o Jeremy Robst. Fomos os únicos cientistas a ir neste primeiro voo (os restantes cientistas chegarão no próximo voo, na Quinta-feira) para ultimar os preparativos da expedição, e familiarizarmo-nos com o navio James Clark Ross. Partimos de Oxford num avião militar (Voyager A330 da Royal Air Force) às 23h10 em direção à Ilha Ascensão (para reabastecer o avião), com destino final as Falklands/Malvinas. A viagem até esta Ilha tropical do meio do Oceano Atlântico é longa (9 horas) e dormir é complicado. Apanhámos 25 °C e humidade superior a 80%. Durante toda a viagem as conversas convergiam sempre para a expedição, quais eram as nossas expetativas e saber quem iria mais trabalhar connosco nesta aventura Antárctica. Chegada às remotas Ilhas Falklands/Malvinas, após mais 8 horas de voo, foi sem dúvida uma grande alegria! Agora é descansar um pouco...
We got our plane South (a military Voyager A330 of the Royal Air Force) on Sunday afternoon with our colleagues John Watkins, Sophie Fielding and Jeremy Robst. On our way to the Falklands/Malvinas, we were obliged to stop at the tropical Ascension Island to re-fuel, after 9 hours flight. We had to come out of the plane, for safety reasons, and realized the 25 °C and humity of 80% (pretty hot!). During the flights, our conversations converged naturally to our coming expedition, what were our expectations asnd with whom we will be working with. After 8 hours flight, we arrived at the Mount Pleasant Military Airport of the Falkland Islands /Ilhas Malvinas with a big smile! Now is time to rest... João Branco Palmer Station A meio da manhã de ontem embarcámos no navio da Armada Chilena, Lautaro, que nos trouxe até à base científica de Palmer, pertencente ao Programa Polar dos Estados Unidos da América, onde ficaremos com o objectivo de proceder à manutenção de perfurações de monitorização de permafrost existentes na pequena vizinha ilha de Amsler. Navegar a bordo de um navio militar, ainda por cima na Antárctida, não é algo que seja familiar à maioria das pessoas e, no meu caso não era. O navio em causa serve a Patrulha Antárctica Mista, operada conjuntamente por navios chilenos e argentinos e que tem como atribuições, não só, apoiar a logística dos programas antárcticos destes dois países mas também garantir as operações de busca salvamento nesta área da Antárctida. Apesar de remotas, nestas águas navegam frequentemente barcos de recreio, muitas vezes pequenos veleiros, além das embarcações envolvidas nas actividades de investigação polar, pelo que, estes navios são polivalentes, estando o Lautaro equipado com uma plataforma de operação de helicópteros e podendo até de funcionar como rebocador em mar alto. A vida a bordo de um navio militar é plena de regras e rituais e como tal, embora a duração da viagem pouco passasse de 24 horas, também os passageiros receberam à chegada a bordo, do 2º comandante do navio, as informações principais. Foram-nos indicadas as áreas do convés até onde poderíamos circular pois, sendo o Lautaro um navio de popa aberta, por questões de segurança não podíamos passar para lá de meio navio; comeríamos na messe de oficiais, descansaríamos num local designado e, o mais interessante, era-nos dado o acesso à ponte de comando. Claro que pouco descansámos com tanto que ver durante a viagem. Zarpando de King George a viagem para Palmer segue uma rota para sul ao longo da Península Antárctica sendo possível ver do lado direito, ou utilizando a terminologia de bordo – estibordo, as principais ilhas das Shetland do Sul, Livingston e Deception, onde o CEG/IGOT conduz há vários anos projectos de monitorização do permafrost. À medida que o navio avança para sul e que nos aproximamos da das montanhas da Cordilheira Transantárctica apercebemo-nos da sua dimensão e extensão, individualizamos os topos altamente glaciados, as vertentes íngremes dissecadas por corredores de avalanches constituindo uma paisagem de grande beleza. A primeira baleia avistada coincide com a entrada no Canal de Gerlache que separa o Arquipélago de Palmer da Península e que é duma beleza extraordinária com a nossa rota a cruzar com inúmeros icebergs, muito deles com pinguins ou focas no gelo. Quando atingimos a extremidade sul da Ilha de Wiencke o Lautaro corrigiu o rumo norte de modo a entrar na baía onde se encontra a base chilena de Yelcho, na Ilha Doumer e onde deixámos colegas investigadores chilenos, que esperamos rever dentro de poucos dias quando regressarmos de Palmer. A Base de Palmer na Ilha de Anvers fica a cerca de 25 km de Yelcho mas esta última parte da viagem ainda teve que se conte pois, entre os icebergs, o pack ice (gelo marinho) aumentava cobrindo grande superfície da água e como o Lautaro não é um navio quebra-gelos as manobra nestas condições é altamente complexa de modo a evitar gelo de maiores dimensões. A ponte do navio encheu-se de oficiais e marinheiros, com tarefas específicas, uns em observação do gelo dos dois lados do navio outros do radar, onde uma miríade de pontos correspondentes a blocos de gelo, surge no ecrã e que levam a constantes alterações de rota.
Demorámos 3 horas a percorrer tão pequena distância e quando finalmente avistámos a base americana verificámos que não era possível atingir de zodiac o cais da base devido ao gelo à sua volta. A opção foi desembarcarmos, o Gonçalo e eu numa pequena península rochosa situada em frente da base mas que implicaria não só transportar à mão os nossos cerca de 80 kg de bagagem e equipamento, além de que dali, para alcançar a base de Palmer teríamos que retroceder na direcção do glaciar existente a montante da base subindo-o, primeiro, descendo, depois, rodeando a enseada coberta de gelo. Nestes preparativos e depois de termos carregado toda a bagagem para o lado oposto da península vimos sinais do navio quebra-gelos americano Laurence M. Gould que estava ancorado em Palmer, que nos indicavam que um barco iria tentar recolher-nos daquele local o que veio a acontecer com grande mestria do piloto do barco semi-rígido com fundo metálico que o usou para ir partindo as placas de gelo onde não se encontrava uma fenda que permitisse passar. Longo dia que, com o acolhimento na base americana, estava a chegar ao fim comemorado com uma cerveja após um duche e um jantar reconfortante. João Branco Base Professor Julio Escudero Duas horas depois de descolar de Punta Arenas o BAe146 da DAP aterra na pista de terra batida do aeródromo Teniente Marsh, na Península de Fildes, que serve a Base Científica Chilena de Escudero na Ilha King George no Arquipélago das Shetland do Sul na Antárctida. Devido à possibilidade de acesso por via aérea em aviões de passageiros a jacto, esta é a principal porta de entrada na Península Antárctica para os investigadores dos vários programas científicos que conduzem projectos no continente antárctico. Despedimo-nos dos investigadores sul-coreanos que se dirigem para a Península de Barton e que esperamos rever dentro de duas semanas quando chegarmos à base King Sejong. Encontro-me na Antárctida pela segunda vez e a chegada aqui foi como regressar a um lugar que, ainda que remoto, se tornou agradavelmente familiar. O ar limpo e frio, a intensidade das cores no fundo branco da neve e do gelo, que rodeia a base de Escudero tudo me traz boas recordações da minha prévia passagem por este local há um ano atrás. Chegámos aqui, eu e o Gonçalo, após um dia de viagem de Lisboa, via Madrid e Santiago do Chile, até Punta Arenas, seguidos de dois dias nesta cidade, consumidos nos últimos preparativos da campanha deste ano: contactos no Instituto Antárctico Chileno (INACH), na DAP (a companhia de aviação que efectua os voos para King George) e compras de última hora, pois tudo o que necessitarmos na Antárctida terá que ser transportado connosco. Estamos a 12.000 km de Portugal o que amplifica a complexidade logística, não só para aqui chegar, mas também, para levar a cabo os projetos científicos em curso que o Programa Polar Português desenvolve neste continente. Hoje ficamos instalados na base chilena onde já se encontra um grupo de investigadores de Portugal, do projecto POLARLODGE que vão este ano testar um abrigo destinado a ambientes polares concebido com materiais ecológicos.
Este ano a minha parte da campanha envolve não só o regresso à Península de Barton, onde espero recolher os dados dos sensores ali instalados no último verão antárctico, como também colaborar com o Gonçalo na manutenção de perfurações e equipamentos na pequena ilha de Amsler situada cerca de 400 km a sudoeste de King George e realizar na área da base chilena de Yelcho voos de fotografia aérea com o nosso drone eBee que mais uma vez regressará aos céus antárcticos. A base de Escudero, além de local com capacidade de receber investigadores nas ciências da Terra e Biológicas, serve de entreposto para investigadores em trânsito para outras bases na região da Península Antárctica como é nosso caso. Amanhã, dia 7, de acordo com o plano embarcaremos no Lautaro, o navio da Armada Chilena que nos levará rumo a Sul até Palmer, a base do Programa Antárctico dos EUA (USAP) situada na Ilha de Amsler no arquipélago com o mesmo nome. Gonçalo Vieira Base Chilena Escudero, 5 de Janeiro de 2016 Entre Dezembro de 2015 e Fevereiro de 2016, o CEG/IGOT conta com três equipas envolvidas no estudo do permafrost e alterações climáticas na península Antártica: - Gabriel Goyanes e Simone Girst na ilha Dundee para realizar uma nova perfuração para monitorização do permafrost, bem como levantamentos de fotografia aérea com UAV e estudos geoecológicos. O Gabriel Goyanes esteve já na ilha Deception e irá ainda a Cierva Cove, no âmbito do mesmo projeto; - Gonçalo Vieira e João Branco no arquipélago de Palmer e depois na ilha Rei Jorge, também para realizar a manutenção da rede de observatórios de permafrost do CEG/IGOT e levantamentos de fotografia aérea com UAV; - Ana David e Lourenço Bandeira (CERENA/IST) na ilha Livingston para realizar a manutenção da rede de observatórios de permafrost do CEG/IGOT e também levantamentos de fotografia aérea com UAV. As atividades de investigação são apoiadas pelos projetos: - Permafrost e alterações climáticas na Península Antártica - PERMANTAR 2015-16 (PROPOLAR - FCT) - Impactes das alterações climáticas no permafrost e nas formas de relevo na Antártida Marítima e risco para as infraestruturas e ambiente (Acordo cooperação científica e tecnológica Portugal-Argentina). A logística do projeto é apoiada pelo Programa Polar Português em cooperação com os programas antárticos argentino, bulgaro, chileno, espanhol, norte-americano e sul-coreano. Vista aérea a partir do voo de Punta Arenas para a Ilha Rei Jorge
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