Dia 8 de Fevereiro, concluídas as tarefas de manutenção de equipamentos permanentes e de medição da camada activa nos locais de monitorização GTN-P e CALM, é altura de preparar os equipamentos não permanentes para enviar de regresso a Lisboa. No entanto, os mais de 70 km/hora de velocidade de vento, a queda permanente de neve e a consequente sensação térmica estimada em cerca de -25ºC, complicam esta simples tarefa de final de campanha e anulam a espectativa de um passeio de despedida. Amanhã, se melhorarem as condições meteorológicas, seremos recolhidos pelo mesmo navio da armada chilena AP-41 “Aquiles” que nos trouxe até Deception e iniciaremos a viagem de regresso a Punta Arenas.
As condições meteorológicas de Barton estão agrestes. Desde que chegámos, a temperatura tem estado mais baixa do que durante a campanha toda do ano passado, o céu encoberto, o terreno praticamente todo coberto de neve, e os ventos têm soprado fortes. Mas como nestes primeiros dias é importante organizar o material, e montar o equipamento, o nosso trabalho não é afectado pois todas estas tarefas são feitas no laboratório.
Este ano viemos melhor equipados do que no ano passado, afim de evitar surpresas - a experiência é a mãe de toda a sabedoria. Aqui, se alguma coisa correr mal, ou se faltar alguma peça, não é possível ir à loja da esquina, temos que ser “Macgyver’s” e resolver o problema com o que há à mão (e um bocado de fita adesiva). Na campanha anterior vivemos alguns momentos de aperto, mas felizmente nenhum dos problemas que surguiu foram impossíveis de resolver. Este ano tentámo-nos prevenir para os imprevistos mais prováveis. Hoje foi celebrado o aniversário de dois dos membros da equipa permanente da base. O chefe explicou-me que na Coreia os aniversários são celebrados antes da data e nunca depois, ao contrário do que se passa em Portugal. A base de King Sejong está aberta o ano inteiro, podendo receber cientistas mesmo durante o Inverno. Por isso tem uma equipa de 18 elementos que a mantêm operacional, mas que os obriga a passar uma longa temporada na Antártida de 13 meses. Lourenço Bandeira, Ilha de King George, Península de Barton, Base de King Sejong Novo dia a levantarmo-nos às 5 da matina, para tentarmos apanhar a janela meteorológica que se previa estar aberta durante a manhã. Apesar de um pequeno atraso, o C130 da Força Aérea do Brasil acabou por levantar do aeroporto de Punta Arenas por volta das 10:00 chegando ao aeródromo na península de Fildes cerca de 2:30 depois. O voo foi muito tranquilo, mas a expectativa de sabermos se seria possível aterrar foi aumentando à medida que nos fomos aproximando de King George. É muito frequente o avião chegar perto da ilha e, por a visibilidade ter ficado entretanto muito reduzida, dar meia volta e regressar a Punta Arenas. Pior ainda é o avião aterrar em Fildes e depois não ser possível ir de zodiac até ao navio que está na baía por o vento estar muito forte e as ondas demasiado altas e ter de se voltar novamente para Punta Arenas, por as bases nas redondezas estarem cheias e não haver onde ficar. Foi isso que tinha acontecido há 2 dias com a maioria dos colegas brasileiros com quem viajámos hoje, já tinham posto o pé na Antártida mas tiveram de voltar para o Chile.
Mas assim que saímos do avião soubemos logo que o mar estava demasiado agitado e que as zodiacs não estavam a operar e que dificilmente o iriam fazer durante o resto do dia. Ou seja, não seria possível aos nossos amigos coreanos virem-nos buscar a Fildes como combinado para nos levarem até à península de Barton, onde fica localizada a base de King Sejong em que ficaremos instalados durante as próximas 6 semanas. Contactámos logo o chefe de base chilena de Escudero, París Lavín, para nos acolher até o mar acalmar e podermos fazer a travessia da dezena de quilómetros da baía Maxwell até à base de King Sejong. Durante o resto da tarde, as condições de navegabilidade não se alteraram e assim eu e o Lourenço iremos dormir aqui em Escudero. A base está à cunha mas tudo se resolveu com umas camas de campanha e a enorme disponibilidade do chefe de base e dos chilenos em nos acomodarem. Esta estadia forçada em Escudero permitiu-nos estar com os portugueses João Canário e Eduardo Amaro que estão instalados aqui em Escudero. Foi também muito interessante ver de perto algumas das actividades, da colheita de amostras no campo até o seu manuseamento em laboratório. O projecto deles, CONTANTARC3, tem como objectivo avaliar a contaminação de solos e sedimentos na península de Fildes, mas deixemos isso para serem os próprios a contar. Pedro Pina, Ilha de King George, Península de Fildes, Base Escudero Chegámos finalmente à península de Barton e à base coreana de King Sejong. A velocidade do vento baixou sensivelmente a meio da tarde permitindo aos coreanos irem-nos buscar à praia de Fildes. A travessia em zodiac foi bastante rápida, mas relativamente tranquila, permitindo-nos até ver baleias na baía! Fomos recebidos à chegada pelos administrador e chefe de base, não tendo sido necessário fazerem-nos a sua descrição por já conhecermos bem os cantos à casa. Verificámos que uma parte considerável dos investigadores do KOPRI, Instituto Polar Coreano que gere a base, terminou já as suas campanhas e regressou a casa uns dias antes de virmos, estando a base por isso com uma ocupação inferior àquela que presenciámos no ano passado. Há algumas caras conhecidas do ano anterior, mas a maioria é nova, incluindo 3 colegas brasileiros da Universidade Federal de Viçosa, especialistas em solos destas regiões e com quem vamos colaborar. As bandeiras no mastro à entrada da base atestam as nacionalidades de quem cá está.
Neste primeiro dia, houve só tempo de começar a ‘desemalar’ todas as nossas tralhas para o módulo da base que serve de dormitório e também para o laboratório de geologia e geofísica onde ficará instalado o nosso excelente gabinete de trabalho. Amanhã começaremos a montar e testar todo equipamento. Ao fim da tarde começou a nevar com bastante intensidade, a temperatura baixou bastante (a rondar os -5ºC) e os ventos a voltaram a soprar com força. Parece que passámos para Barton pelo buraco da agulha. Pedro Pina, Ilha de King George, Península de Barton, Base King Sejong Depois da partida de Lisboa no fim da tarde do dia 31 de Janeiro e de vários voos que duraram mais de um dia, cheguei com o Lourenço Bandeira ao ponto no sul do Chile (Punta Arenas) de onde está previsto embarcarmos para a Antártida no dia 4 num C130 da Força Aérea Brasileira. Foi, como sempre, uma viagem cansativa mas atenuada pelas fantásticas paisagens e formas da superfície terrestre observadas da janela do avião quando a viagem é feita de dia e as nuvens não se põem na frente. Deu para ver a mudança latitudinal da paisagem, de cores castanhas a verdes e de relevos irregulares a planos, em particular, a grandiosidade e as diferentes tonalidades dos Andes, vulcões com e sem cobertura de neve, lagos com águas diferentemente coloridas ou ainda meio cobertos de gelo e alguns glaciares, sempre espectaculares.
Na chegada a Punta Arenas, o não aparecimento de umas das minhas mochilas no tapete rolante e a dificuldade da companhia aérea em encontrá-la criaram algum desconforto. O seu não aparecimento nos dias seguintes obrigou a comprar grande parte da minha roupa e algum do equipamento fundamental para a campanha. Felizmente, a mochila acabou por dar à costa ainda a tempo (tinha ficado em Santiago) e o que fica em duplicado será sempre utilizado em campanhas futuras. Antes a mais do que faltar. Estes dias de espera em Punta Arenas serviram também para afinarmos o planeamento da campanha, comprar pequenos materiais que não se justificam trazermos de Portugal e ainda despacharmos ao computador algum do trabalho que tinha ficado pendurado à saída de Lisboa. Hoje, dia 4, depois de madrugarmos e de estarmos prontos dentro de um autocarro para ir para o aeroporto, somos informados de que de manhã já não haveria voo por causa do mau tempo em King George. À tarde há nova reavaliação e nada feito, o voo é mesmo cancelado e passa para o dia seguinte. Tudo isto é normal, assim como as conversas que se têm logo a seguir, que incidem em se saber quem esperou mais tempo em situações anteriores. E redescobre-se que ter de se esperar uma semana ou mais pelo esperado voo (de ida ou de vinda) não é tão infrequente quanto isso. No fim do dia o nosso ânimo aumentou, pois as previsões meteorológicas para o dia seguinte dizem que a probabilidade de o voo se realizar é elevada. Pedro Pina, Punta Arenas, Chile A segunda perfuração ficou concluída dia 28 de Janeiro. Levou 6 horas a atingir os 1,5 m de profundidade pretendidos, dos quais apenas 10 cm se encontravam sem gelo. Fisicamente desgastante manter a perfuradora durante tanto tempo, ainda que com alguns curtos períodos de descanso e alternância entre os dois operadores. No entanto, perfurar em solo completamente gelado tem também as suas vantagens, pois as suas paredes não registam qualquer desmoronamento e consequente deposito no fundo. O contrário aconteceu nas outras duas em que, apesar de se atingir quase 2 metros de perfuração em menos tempo, o depósito de sedimentos ou de lamas no fundo impediu que mais de 1.3 m de tubo tivesse sido colocado. A terceira e última ficou concluída dia 30. Falta instalar os sensores térmicos e esperar os resultados de tão grande esforço físico. Sorte! Concluídas as 3 perfurações previstas, esperam-se dias menos desgastantes até ao final da campanha já no dia 9 de Fevereiro.
After eleven days of work we have a clear idea of what needs to be done to fulfil our objectives. The two of us from Sheffield University (Andrew Hodson and Aga Nowak) have learned that there has been a considerable increase in snow accumulation on this part of the island in recent years, making things rather different to initial expectations. Much of this snow is caused by changing wind directions, resulting in deeper coastal snowpacks near the base and the shore. We therefore decided to study the microbial ecology of this snow and compare it to the inland snowpacks on the glacier. The coastal snow is a big problemfor the station. The buildings influence the winds and form new snow drifts, a process which has already buried one of the old buildingsand which will soon take the large house that was only recently constructed. It is not at all clear if it will be safe next year as the deep snow is already bending the steel frame of the house and causing leaks in several places. Where will the people stay next year then?
On the glacier, the extra snow is temporarily haltingthe retreat of the ice. Digging to the glacier surface through 2.5 m of snow revealed that it is growing through the refreezing of surface snowmelt. The formation of this “superimposed ice” layer means the rivers flowing to the sea are much smaller than we expected. This affects the second part of our study, which involves the examination of nutrients transported from land to marine ecosystems. However, we have been able to travel along the peninsula and around the point into False Bay to collect several stream water samples now. At False Bay, we saw a dead humpback whale on the beach providing a summer’s worth of food for a large group of Giant Petrels. Watching them feed was like seeing albatrosses behave like vultures, neck-deep in blubber and meat. There was a long line of fifty or so birds waiting to get to the carcass. Each approaching bird tried to make itself look big and important by fanning its tail and half spreading its wings. Their behaviour was certainly one of the strangest things we have see on our trip so far. Andrew Hodson e Aga Nowak, Univ. Sheffield. Devido às limitações nas comunicações pela internet, só poderemos apresentar fotografias quando os investigadores regressarem. A campanha de trabalho de campo em Byers acabou mais cedo do esperado. Por causa da previsão de fortes ventos e tempestade de neve para os dias 31 e 1, o barco chileno Aquiles ligou para nós ainda no dia 30 para comunicar que o acampamento tinha que ser levantado nesse mesmo dia às 17 h.
Esta mudança do programa condicionou as nossas actividades finais em Byers. Tivemos que ir dos igloos espanhóis em Byers até os lagos Domo e Cerro Negro para reprogramar os loggers que ainda não foram lançados. Mais de 15 km em 3.30 h! Apesar de ter só dois dias e meio de trabalho de campo em Byers, conseguimos fazer muitas das actividades que estavam previstas: - Instalação de loggers para a medição da temperatura do ar, da superfície do solo e altura da neve nos lagos Escondido, Cerro Negro e Domo. - Perfurações para a monitorização da camada activa até 80 cm de profundidade ao pé dos três lagos. - Amostragem e caracterização dos solos nos sites de monitorização. - Cartografia geomorfológica das bacias dos três lagos. - Amostragem de musgos subaquáticos dos três lagos. Estamos já no Aquiles de volta para Frei, onde está programa a nossa saída para Punta Arenas para o próximo dia 2 de Fevereiro. No dia 28 fomos todos até à base Juan Carlos I de Zodiac para realizar trabalho em Reina Sofia, pico com cerca de 275 m onde se encontram duas perfurações profundas de monitorização de permafrost (25 e 15 m), sensores de monitorização das temperaturas do ar, da neve e da camada activa. Os investigadores da Universidade de Sheffield foram até a caleta argentina recolher amostras de cursos de água e explorar e identificar locais de interesse para estudar as algas na neve.
Em Reina Sofia, devido à persistente cobertura de neve foi impossível realizar medições com o DGPS de monitorização da solifluxão, pelo que aproveitámos para ajudar os nossos colegas espanhóis (Miguel e Juan) a instalar os sensores e também verificar as condições para instalar uma máquina fotográfica. Na altura da instalação dos equipamentos teremos de ir directamente pelo glaciar, com skydoo, pois alguns dos equipamentos são pesados e volumosos. De tarde, e já de regresso à base búlgara, aproveitámos o bom tempo para ir instalar os sensores de temperatura. Dia 29 e dia 30 de Janeiro foram dedicados a fazer mais perfis de neve – 3 por dia, distribuídos ao longo da vertente acima da base búlgara. Os nossos anfitriões foram uma valiosa e reconfortante ajuda transportando-nos no início e no final do dia, quando já estávamos completamente esgotadas e regeladas. Ainda tivemos tempo para fazer um breve teste com o DGPS pois dia 31 esperava-nos mais um árduo dia de trabalho mas desta vez de monitorização do movimento do Glaciar Rochoso – consiste em determinar a deslocação, com elevada precisão (centimétrica), de uma rede de estacas distribuídas ao longo do glaciar rochoso. Fomos de Zodiac atéà baía falsa, na margem sul da Península de Hurd, até ao glaciar rochoso A deslocação até este local demora cerca de 1h. Acompanharam-nos os nossos colegas espanhóis Miguel Angel e o Juan para nos ajudar nesta tarefa, a investigadora espanhola Assunção,que foi recolher amostras de várias espécies de liquens na costa, assim como alguns investigadores búlgaros que foram realizar trabalho de campo de geologia do outro lado da baia falsa. O Andy e a Aga caminharam ao longo da costa para verificar a existência de cursos temporários de água sub-glacial e recolheram algumas amostras. Após cerca de 8 horas de trabalho bastante intenso voltámos a casa, Base Búlgara, completamente esgotadas! Alice Ferreira |
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