Deception, 9 de Fevereiro de 2015
A nossa estadia em Deception chegou ao fim. Apesar da sua brevidade foi possível concretizar aquilo a que nos tínhamos proposto. Dia 5 de Fevereiro, dia de chegada a Deception: de acordo com os regulamentos, aquando da chegada de novos elementos à base é necessária a apresentação e explicação das regras de funcionamento, segurança, ambientais entre outras informações pertinentes. No dia seguinte, 6 de Fevereiro, houve a oportunidade de ida à “pinguinera” dado que os elementos da base e do navio Hespérides iriam visita-la. Esta oportunidade permitiu aliar tarefas de trabalho com um pouco de lazer pois no caminho para a mesma procedeu-se a um reconhecimento no Irizar onde existe instalado equipamento referente ao projeto. No caminho de volta fez-se uma paragem breve na base argentina, onde fomos recebidos calorosamente com direito a uma tortilha deliciosa! No entanto esta paragem serviu para recolher material (uma pica e uma corda) que nos auxiliaria nas medições a realizar mais tarde num outro local. Durante a tarde e depois de um almoço para repor todas as energias gastas na visita matinal partimos para Crater Lake que se encontra relativamente perto da base espanhola. Em Crater Lake e com o auxílio das ferramentas acima mencionadas procedemos à medição da camada ativa. Esta camada ativa é, de uma forma simplificada, a faixa do solo sobre o permafrost, em contacto com a atmosfera que gela no Inverno mas descongela no Verão. Por fim procedeu-se a monitorização do sítio CALM. Dia 7 de Fevereiro foi um dia um pouco mais calmo. De manhã subimos de novo a Crater Lake para efectuar o isolamento da caixa da bateria e do logger - estes equipamentos têm como função a medição de humidade no solo. Dadas as exigentes condições climáticas nestes locais e o período de tempo em que não são inspecionados obrigam-nos a uma prevenida e cuidadosa manutenção. Já à tarde ficamos na base para “por a escrita em dia”: Elaborou-se o relatório de campanha e atualizaram-se as entradas para o blogue. O dia 8 de Fevereiro foi o nosso último dia nesta fantástica base. De manhã estivemos a preparar a bagagem que parece ter crescido ao longo dos dias dificultando a tarefa de voltar a fechá-las. O almoço foi de despedida pois vários elementos da equipa espanhola iriam, também, partir connosco no navio Hespérides tornando-se um momento um pouco mais sentimental. Depois embarcámos…rumo a Ushuaia. Inês Girão, Navio Hésperides rumo a Ushuaia, 9 de Fevereiro de 2015 Sem que demos por isso chegamos ao primeiro fim-de-semana na Antárctida. Para nós que temos um tempo limitado para a realização dos trabalhos planeados pouca diferença faz, são dias de trabalho como os outros. Infelizmente o tempo não tem ajudado para podermos efectuar os voos com ebee, o nosso UAV, baptizado Suzanne Daveau, e por isso aproveitamos para fazer outras tarefas. Hoje, levámos o DGPS para um ponto que tínhamos escolhido e marcado a posição, anteontem. Trata-se de fazer migrar uma posição de GPS conhecida, e corrigida de erros, para outro local, a partir de onde podemos estender o raio de acção da base receptora que corrige os erros dos sinais enviados pelos satélites. Foi um dia cheio, mas com o desapontamento de ainda não termos conseguido fazer voar o nosso pequeno avião não tripulado e obter as imagens de alta resolução que pretendemos.
Como o Lourenço já contou, chegámos, à base coreana King Sejong na terça-feira dia 3. Para mim que estou na Antárctida pela primeira vez é uma grande emoção o momento em que desembarco do BA146 da companhia chilena DAP, a única que faz voos regulares de Punta Arenas para a Ilha King George, nas Ilhas Shetland do Sul, a maior parte destes voos ao serviço dos programas polares dos vários países que levam a cabo investigação científica nesta região. Estamos nesta base como convidados do KOPRI, o Instituto de Investigação Polar da Coreia. A base King Sejong fica na Península de Barton no lado sudoeste da Ilha King George e pode albergar até um máximo de sessenta pessoas entre investigadores e trabalhadores técnicos. Até anteontem, havia oito estrangeiros convidados através dos intercâmbios dos programas científicos de vários países (incluindo nós os dois). Ontem, Sábado, a base amanheceu com a agitação da chegada de mais cinco investigadores desembarcados do navio polar brasileiro Almirante Maximiano. Mais três chilenos que estudam a presença de bactérias resistentes aos antibióticos nos pinguins e dois brasileiros que estudam vegetação antárctica, musgos e líquenes. Neste momento a lotação da base está quase completa. Noutro post o Lourenço já descreveu algumas das rotinas da base: por exemplo, hoje coube à equipa portuguesa a lavagem dos pratos do jantar de toda a população da base. É uma tarefa para a qual são esperados voluntários regularmente. João Branco, Base King Sejong, Península de Barton, Ilhas Shetland do Sul, Antárctida, 08.Fev.2015 O António Correia já voltou a Portugal e o Jesús e o Marc continuam o trabalho de campo na península de Fildes, ilha King George. Estamos alojados na base chinesa Great Wall, grande, confortável e com boa comida.
Da base Great Wall partimos todos os dias para diferentes lugares da península a procura de amostras de rochas para datações cosmogénicas para conhecer melhor o calendário do retrocesso glaciário na península de Fildes. Alem disso, também colectamos amostras de solos para caracterizar os processos físicos e químicos relativos a formação de solos na Antártida Marítima. Finalmente chegámos ao nosso local de trabalho, a ilha de Deception. A viagem até Punta Arenas, Chile, foi tranquila e correu como previsto no entanto devido às condições climatéricas só conseguimos voo para a Ilha de King George (Antártida) no dia 2 de Janeiro, depois de 2 tentativas em que voámos durante uma hora e voltamos sempre para Punta Arenas. Já em King George embarcámos no Aquiles (Navio da marinha Chilena) onde passámos os seguintes 3 dias. Passámos pelas Shetland do Sul e junto à Península Antártica seguimos para sul até à Ilha de Palmer, depois voltámos a subir até Deception onde desembarcámos. Pelo caminho tivemos a oportunidade de ajudar no trabalho de campo a equipa do projeto Permantar-3 que nos tem acompanhado nesta campanha. Agora estamos a preparar o laboratório e todo o equipamento que precisamos para começar o nosso trabalho de campo que terá de ser realizado apenas em 3 dias, uma vez que dia 9 voltamos a embarcar rumo a Ushuaia. Esperamos conseguir fazer tudo, apesar dos atrasos. Ana Padeiro e João Canário, Ilha de Deception-Antártida, 6 de Janeiro de 2015
Desembarcámos hoje na ilha de Deception e estamos alojados na Base espanhola Gabriel de Castilla. Esta estadia não estava prevista inicialmente mas o enorme encurtamento do período de trabalho em Deception para a equipa João Canário-Ana Padeiro devido ao atraso de 3 dias do avião da DAP e à alteração do trajecto do Aquiles, que queimou mais 3 dias, levou a que os nossos colegas concluíssem que não poderiam cumprir tudo o que estava programado. Tínhamos acabado de sair da ilha de Amsler, no dia 3, quando lhes coloquei a hipótese de eu e a Inês ficarmos com eles em Deception e voltarmos também com eles no navio espanhol Hespérides, proposta que foi acolhida com satisfação. Nesse mesmo dia, em Yelcho, fiz um reconhecimento prévio de áreas potencialmente interessantes para instalação de novas perfurações que nos permitam estudar melhor a distribuição do permafrost na Península Antárctica e enviei um mail para Lisboa com a proposta de alteração de percurso. O fim da tarde desse dia foi espectacular. O Aquiles fundeou na baía da Base Brown permitindo-nos assistir a um por-do-sol fantástico, ao mesmo tempo que do outro lado da baía a lua cheia compunha um quadro fabuloso. O dia 4, pelo contrario, acordou mal disposto e a viagem entre a Península Antárctica e a ilha Livingston, onde parámos antes de chegar a Deception, foi feita debaixo de neve, primeiro, depois chuva, uma neblina persistente e um mar revolto. Depois do almoço, fiz uma apresentação do projecto PERMANTAR-3 (a pedido do Dr. Retamales) bilingue, em castelhano e em inglês, que gerou várias perguntas e foi bem apreciada. Estabelecidos os contactos levados a cabo pelo PROPOLAR em Lisboa e com as autorizações necessárias concedidas, agradecemos a colaboração prestada a bordo do Aquiles por parte do INACH (Instituto Antartico Chileno), na pessoa do seu responsável máximo Dr. Jose Retamales e preparámo-nos para sair em Decption onde chegámos hoje pelas 12.30 (hora local).
Mario Neves, Ilha de Deception, 5 de Fevereiro de 2015 Después de haber realizado mi estadía en la Base Española Gabriel de Castilla en isla Decepción, me traslade hacia mi nuevo destino dentro de la Antártida, la Base Argentina Marambio, en el avión Hércules de la Fuerza Aérea Argentina el día 5 de Enero. Desde allí nos llevaron en helicóptero (Bell 212 y MI8) hasta nuestro destino final, la isla Cerro Nevado (Snow Hill) sobre el Estrecho de Bouchard en el mar de Weddell. Allí nos esperaba un largo mes de trabajo con las comodidades básicas que brinda el alojarse en tiendas de campaña. Nuestro grupo de trabajo constaba de tres militares del Ejército Argentino, el glaciólogo y geocriólogo Dr. Yermolin y yo. Pero este sitio de trabajo no es un sitio más dentro de la Antártida, aquí se encuentra la cabaña de madera que utilizó el geólogo Otto Nordenskjöld durante la expedición Sueca en el año 1902. La misma fue designada Sitio y Monumento Histórico Nº 38 en el marco del Tratado Antártico. Esta cabaña contiene objetos originales de la expedición y actualmente funciona como museo viviente administrado por la Argentina y Suecia. Haciendo una breve reseña histórica, la expedición estaba integrada por Nordenskjöld, Bodman, Ekelöf y Sobral, que componían la comisión de estudio, y los marineros Jonasen, habilidoso herrero y carpintero, y Akerlundh, como cocinero. Fueron trasladados hacia el continente antártico en el velero Antarctic, durante el verano de 1901-1902. De esta forma fueron desembarcados en la isla Cerro Nevado el 14 de Febrero de 1902. Esta expedición fue pensada para que durase un año, pero el clima les jugó en contra, congelando el mar e impidiendo que el Antarctic pueda retirarlos. Por este motivo, los expedicionarios debieron quedarse otro año más. Frente a la escases de alimentos, debieron alimentarse de carne de foca, cormoranes y petreles. Pero todavía quedaba un contratiempo aun mayor, el Antarctic había sido hundido al quedar atrapado entre los hielos. Al pasar ya mucho tiempo de la partida del navio desde el puerto de Buenos Aires y frente a la ausencia de noticias acerca de los expedicionarios y del buque, las autoridades argentinas, dispusieron inmediatamente el alistamiento de la Corbeta Uruguay para encarar la difícil tarea de rescatarlos. La misma zarpó desde el puerto de Buenos Aires el día 8 de octubre de 1903 al mando del teniente de navío Julián Irizar. La búsqueda se completó con total éxito y el día 8 de noviembre de 1903 lograron encontrar a los expedicionarios y a los tripulantes del Antarctic. Ya con la misión cumplida, la Corbeta Uruguay retornó a Buenos Aires, donde arribaron el día 2 de diciembre. Esta expedición no es una más para nuestro país (Argentina), sino que es la que marcó el comienzo de una larga tradición antártica, la cual hoy en día es admirada por todo el mundo.
A base de Artigas tem condições excepcionais de alojamento. Nunca antes tinha ficado num quarto com casa-de-banho privativa, um verdadeiro luxo antártico! Infelizmente, por causa dos atrasos da minha chegada apenas fiquei uma noite, em vez dos quatro dias previstos. No dia seguinte, com a chegada do meu colega João Branco a Fildes num voo contratado pelo KOPRI, Instituto de Investigação Polar Coreano, reunimo-nos na baía com os coreanos e seguimos para a base deles, King Sejong. A travessia até à base costuma ser feita por pequenos barcos semi-rígidos, zodiacs, mas desta vez, por terem muita carga para levar para a estação, fomos de boleia numa barca russa. Já é a minha terceira vez nesta base, e por isso conheço muito bem as rotinas e os hábitos praticados, mas o primeiro dia é sempre dedicado ao protocolo de apresentação e explicação das regras de conduta. Não houve muitas mudanças dos anos anteriores, resumindo e concluindo: o pequeno-almoço é às 07:30; o almoço ao 12:00 e o jantar às 18:00; todos são anunciados com música nos altifalantes da base e os horários devem ser pontualmente respeitados. A única diferença mais marcante este ano é que não somos os únicos ocidentais por cá. Connosco estão diversas equipas internacionais compostas por três romenos, um americano, um alemão e um argentino-alemão. Lourenço Bandeira, Ilha de King George, Península de Barton, Base de King Sejong As campanhas na Antarctida caracterizam-se sempre pela possibilidade do imprevisto. Quem participa nestas campanhas, dadas as distâncias a percorrer desde Portugal, os vários meios de transporte utilizados para chegar ao local de trabalho de cada um e os imponderáveis do clima sempre muito instável a estas latitudes, tem que estar preparado para modificar e adaptar a calendarização estabelecida antecipadamente. Este ano, contudo, ocorreu um conjunto de eventos que levaram a alterações significativas no planeamento executivo da nossa campanha. Ontem, depois de finalmente termos conseguido atravessar o Drake no avião da DAT - 3 dias depois do previsto – e ter entrado no navio militar chileno Aquiles, fomos confrontados com a notícia de que o atraso que o Aquiles levava devido a ter esperado pelas pessoas que vinham no voo e o facto de a base chilena de Yelcho ser obrigada a fechar mais cedo que o planeado, somente teríamos algumas horas no dia seguinte para levar a cabo o trabalho que aqui nos trouxe, voltando de novo ao Aquiles. Durante a noite e a manhã do dia seguinte preparámos os sensores a instalar e eu pedi ao João Canário e a Ana Padeiro, que nos acompanham no Aquiles com destino a Deception, para nos ajudarem no trabalho rápido que teríamos que fazer na ilha de Amsler. Os preparativos para a descida nas zodiacs do Aquiles são demorados mas a segurança é sempre um imperativo essencial. Saímos um pouco depois das 12:00 (hora local), primeiro em direcção à base americana Palmer onde vamos buscar um PC que nos vai ajudar na recolha de dados. A base Palmer aparenta ser muito acolhedora mas infelizmente não temos tempo para nos demorarmos aí. Somos recebidos pela chefe de base Carolyn Lipke que muito amavelmente nos oferece um café. Atravessámos de Zodiac os 500 metros que separam a base da ilha de Amsler em poucos minutos. Aqui chegados, dirigimo-nos à Estação Climatológica onde deixamos a Inês e a Ana a recolher os dados de temperatura, vento e precipitação, enquanto eu e o João subímos ao topo para inspeccionar a perfuração profunda e tentar instalar aí sensores para monitorizar a temperatura do solo ao longo dos próximos 12 meses. Ainda havia outras pequenas tarefas menos importantes mas a brevidade da estadia na ilha não nos permite completa-las. Voltamos ao barco exaustos mas satisfeitos com o trabalho realizado.
Mário Neves, algures nos mares do Sul a quase 65 S, 3 de Fevereiro de 2015. De regresso a Punta Arenas para mais uma campanha Antártica. Sabe bem chegar a um lugar onde as ruas já nos são conhecidas, onde sabemos onde se come bem e onde fica tudo. Punta Arenas, na ida, sabe sempre a antecipação, a expectativa, a curiosidade, a paciência, a nervosismo. Desta vez não foi diferente. A minha chegada à ilha de Rei Jorge estava prevista para dia 30 de Janeiro, mas o tempo não colaborou. O voo foi adiado sucessivamente até que dia 01, na noite de sábado para domingo, avisaram-nos que tínhamos que estar prontos à meia noite e meia. Levantámos voo às 03:00 num voo contratado pelo INACH, Instituto Antártico Chileno, com direito a jantar e tudo, só que, a janela meteorológica que estava prevista fechou, e após 40 minutos de voo tivemos que regressar a Punta Arenas. Como não se sabia quando é que iríamos tentar de novo tivemos que dormir no aeroporto umas horas, alguns no chão, outros nas cadeiras, e às 09:00 levantámos voo. Desta vez já não houve direito a pequeno-almoço, mas tudo o que queríamos era chegar à Antártida. Infelizmente, após 60 minutos de voo, demos meia volta e regressámos ao aeroporto de Punta Arenas. Cansados e desmotivados regressámos ao hotel. A boa surpresa foi reencontrar-me com o meu colega João Branco que me irá acompanhar durante o resto da campanha. Não pensava encontrá-lo tão cedo pois supostamente só nos iríamos encontrar já na base Coreana de King Sejong na península de Barton, ilha de Rei Jorge. A terceira tentativa foi logo no dia seguinte, por volta da hora de almoço. À terceira foi de vez, e ao aterrar fui recebido pelos nossos colegas Uruguaios que me levaram num snowcat para a sua base, Artigas.
Lourenço Bandeira, Ilha de King George, Península de Fildes, Base de Artigas |
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