DIÁRIOS DE CAMPANHA
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Carolina Sá, Março 2017, a bordo do Navio da Marinha Brasileira Almirante Maximiano
* As ações desta campanha integram-se nos Apoios a Jovens Investigadores Polares
E agora que o chão já não balança, é tempo de fazer um balanço...
1 navio polar - Almirante Maximiano 2 helicópteros 3 botes 6 balsas salva-vidas 100 tripulantes (70 militares e 32 investigadores) 2 portugueses 26 dias de mar 3180 milhas a navegar 4 laboratórios 3 CTDs 24 garrafas Niskin 12h de turno (por dia) 3 rampas de filtração 47 estações de amostragem 6 profundidades de colheita 750 L de água filtrada 333 filtros (amostras congeladas) 3 voos em Hércules C-130 da Força Aérea Brasileira 8 noites em Punta Arenas (4 na ida e 4 na volta) 1 experiência para a vida! ... e... 1 agradecimento especial ao projeto INTERBIOTA, à Marinha Brasileira, ao PROANTAR e ao PROPOLAR! O trabalho continua agora no laboratório e ao computador no processamento de imagens de satélite. Ficam mais algumas fotos e vídeos da campanha!
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Carolina Sá, 23 Fev. 2017, a bordo do Navio da Marinha Brasileira Almirante Maximiano * As ações desta campanha integram-se nos Apoios a Jovens Investigadores Polares O plano de amostragem foi desenhado de forma a cobrir diferentes regiões da Península Antártica, e a manter as estações já feitas noutras campanhas para permitir uma avaliação da variabilidade interanual na região. Em cada estação é feito um perfil de CTD (Conductivity, Temperature and Depth), PAR (Photosynthetic available radiation) e Fluorimetria. Estes sensores estão acoplados a uma estrutura cilíndrica metálica, a rosette, que suporta ainda 24 garrafas Niskin para a colheita das águas. Estas garrafas são fechadas a diferentes profundidades, muitas vezes decididas no momento, de acordo com os perfis de fluorometria e temperatura observados.
No grupo do fitoplâncton estamos a fazer colheitas aos 5, 25, 50, 75, 100 e 150 m. Colhemos cerca de 5 L de água para filtração em filtros GF/F para posterior análise por HPLC (High Performance Liquid Cromatography) para determinação de pigmentos e caracterização da amostra em termos de grupos de fitoplâncton presentes. Fazemos ainda filtração fracionada para quantificar a amostra em termos de classe de tamanho (micro-, nano-, e pico- plâncton). Em algumas estações é colhida água para observação ao microscópio, e uma colega está a fazer isolamentos para cultura/crescimento das espécies encontradas a bordo. Outras variáveis são ainda avaliadas por outros colegas que também recolhem água nas mesmas profundidades [ex: oxigénio, nutrientes, fisiologia (PAM)]. Depois da rosette, seguem-se as redes para quantificação e caracterização das comunidades de zooplâncton (Multi-net e Bongo) e avaliação da presença de microplásticos (rede arrasto pelágico). Entre estações, de dia, o grupo das baleias faz observação e, em condições favoráveis, descem de bote para tentarem colher biópsias. Na última tentativa conseguiram 3 biópsias de orca! Neste momento, já completámos metade das colheitas previstas para esta campanha, tendo-se já feito as estações na zona do estreito de Gerlache, Bellingshausen e parte do estreito de Bransfield. Estamos agora a dirigir-nos para a estação 44! Nas imagens podem ver o mapa das estações (o que já foi feito e o ainda está por fazer), a rosette com os sensores e garrafas acoplados e o laboratório de filtração do fitoplâncton. A campanha antártica para mim já terminou e enquanto aguardo pelo voo da próxima quinta-feira, aproveito o tempo para descansar um pouco e disfrutar estes dias no navio. A grande surpresa de hoje foi avistar, de perto, baleias minke em Caleta Cierva... As baleias pareciam estar felizes e a adorar o bom tempo, andando de um lado para o outro, passando por baixo e contornando o navio. E todos nós contentes por estarmos a vê-las. Aposto que o Pedro não ficou muito contente!!! Para terminar o dia em esplêndido, o comandante do navio ainda nos deu (a mim e ao Gonçalo Vieira) a oportunidade de ir à ilha de Couverville, onde se encontram várias colónias de pinguins. O dia esteve fantástico e a paisagem simplesmente indescritível!!! Quantos aos pinguins, cada vez que os vejo, mais fico encantada…e já nem o odor característico me incomoda!! Foi a primeira vez que estive mesmo numa colónia de pinguins e onde pude ver alguns jovens pinguins na mudança de penugem… É de evitar qualquer proximidade com eles, porque esta é uma altura especialmente stressante para o pinguim. No entanto se estivermos parados e quietos, eles próprios passam ou param mesmo ao nosso lado!!! Carmen Sousa e Pedro Guerreiro,16 Fevereiro 2017, arquipélago de Palmer, a bordo do navio Hespérides Os dias a bordo do navio têm estado maravilhosos, um sol esplêndido, mar calmo, vento quase ausente e uma temperatura bastante convidativa a sair e contemplar as belas paisagens que se avistam. Na quarta-feira, dia 14, passamos pelo estreito de Gerlache em direção a Palmer. Este é um mar de baleias. Dezenas de baleias de bossas cruzaram o caminho do navio durante as cerca de 10 horas de navegação entre paredes montanhas geladas. Ao fim do dia fundeámos frente à base americana Palmer, no sul da ilha Anvers. Ontem, 15, acompanhámos o Gonçalo Vieira e João Ferreira aos pontos de perfuração e à estação meteorológica que mantêm perto de Palmer. O objectivo é recolher as sondas deixadas em cerca de 10 furos e reparar o anemómetro, e eventualmente voltar a tempo de visitar a base americana. Aqui também se fazem estudos com peixes e seria interessante visitar as instalações e falar com os cientistas sobre temas mais próximos da nossa investigação. Ao mesmo tempo que tentamos ajudar aproveitamos para conhecer e disfrutar a bela vista do glaciar e dos elefantes-marinhos que estao perto. O comandante permitiu algumas horas de trabalho em terra, mas enquanto estávamos na ilha o tempo começou a agravar-se, demasiado vento, e tivemos de voltar, não sem antes sermos perseguidos por um leão-marinho que não nos queria deixar chegar ao material que havíamos deixado em terra... e a visita a Palmer terá de ficar para outra oportunidade. Hoje acordámos rodeados de icebergs e focas. Enquanto a equipa de geólogos e os cientistas do instituto hidrográfico espanhol desceram a terra, nós e alguns membros da tripulação fomos autorizados pelo comandante para uma pequena saída de zodiac para contemplar os gigantes de gelo, os pequenos icebergs onde descansam focas-caranguejeiras, e a colónia de pinguins papua. Mais umas horas de navegação rumo ao norte e é hora de nos despedirmos do meu companheiro de campanha, Pedro Guerreiro, que desembarcou em Yelcho, onde vai permanecer até dia 20 ou 21. Este ano esta base chilena, de Yelcho, vai fechar ainda mais cedo que o previsto, por isso o Pedro tem pouco tempo para as actividades planeadas mas talvez consiga ir no mesmo voo KOPRI que nós (eu, Gonçalo, João e António), de 23 de Fevereiro, da ilha de King George até Punta Arenas. Algumas pessoas questionam o porquê de não ter ido com o Pedro e não fui por várias razões. O plano inicial era regressar dia 3 mas com os atrasos que já foram sendo mencionados tivemos de adiar a minha ida para conseguirmos finalizar as experiências, pois nosso principal objetivo da campanha deste ano seria em Great Wall. Em Yelcho as actividades são exploratórias, para observar as condições para futuras experiências, avaliar que espécies de peixes podem ser encontradas e recolha de amostras em condições não experimentais, não sendo por isso necessário irmos os dois. Por último, como esta base chilena é pequena, não havia inicialmente disponibilidade para alojarem dois investigadores. No entanto devido as alterações de fecho da base, aqui embarcaram 14 chilenos, mais que o previsto, associados a projetos polares do INACH (Instituto Antártico Chileno) e IDEAL (Centro de Investigación Dinámica de Ecosistemas Marinos de Altas Latitudes). No Hespérides, a sala dos investigadores está lotada. A maior parte dos investigadores a bordo aguardam os voos de 22 (voo uruguaio) e 23 de fevereiro (voo coreano). O ambiente contrasta entre a azáfama dos que estão quase a terminar as suas campanhas e a tranquilidade dos que já terminaram. Entre os dias 20 e 21 mais pessoas vão embarcar no navio para os mesmos voos, incluindo o António Correia que está na base búlgara na Ilha Livingston. E começam os preparativos para o regresso!!!
Ontem foi o dia de nos despedirmos da base chinesa e de entrarmos a bordo do navio Hesperides. A mim espera-me 12 dias a bordo até regressar a Punta Arenas e ao Pedro 6 dias até chegar à estação em Yelcho. Esperamos na praia. O navio está algures no nevoeiro e vir-nos-ão buscar de zodiac o que acontece ao fim de meia hora. Os chilenos ajudam-nos a colocar tudo no bote e ai vamos rapidamente – temos amostras para guardar nos congeladores! O “Hesperides” já não é novo (1991), mas está bem remodelado e cuidado. O navio está dividido entre as áreas de trabalho da marinha espanhola e os camarotes entre os tripulantes da marinha e os cientistas. O tipo de alimentação é muito similar ao nosso e, passado aproximadamente um mês da nossa chegada à Antártida, voltamos a usar talheres durante as refeições. Os camarotes estão lotados e a noite passada tivemos que dormir num saco cama no chão. Para nossa sorte, o tempo tem estado calmo apesar do nevoeiro intenso! O percurso que nos espera é ilha Livingston, onde desce o António Correia (projeto PERMATOMO) que fica na base Bulgara, depois peninsula Byers, também na ilha Livingston (onde deverão subir os 3 colegas do projeto CRONOBYERS), e em seguida para a ilha Deception (base espanhola Gabriel de Castilla). Depois rumamos a sul pelo estreito de Gerlache em direcção à base americana Palmer (ilha Anvers), depois mais a sul e subimos para a base chilena Yelcho na ilha Doumer, onde devemos chegar a 17 e recolher 10 cientistas chilenos. Daí começaremos a subir junto à Peninsula Antarctica parando em Cierva e noutros pontos de amostragem no regresso (mais rápido) até Fildes, na Ilha Rei Jorge onde se encontra o aeroporto que opera os voos para Punta Arenas, enquanto que o navio volta a descer. O seu destino final antes de voltar a Espanha, é Ushuaia (Argentina) para onde deve seguir só a 14 de Março.
Carolina Sá, 10 Fev 2017,
a bordo do Navio da Marinha Brasileira Almirante Maximiano (clique para ver a localização) NOTA: As ações desta campanha integram-se nos Apoios a Jovens Investigadores Polares
O projeto INTERações BIOlógicas em ecossisTemas marinhos próximos à Península Antártica sob diferentes impactos de câmbios climáticos (INTERBIOTA), liderado por investigadores da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), no âmbito do Programa Antártico brasileiro (PROANTAR), conta já com 6 campanhas de amostragem na região da
Península Antártica. O projeto pretende desenvolver estudos que integrem todos os níveis da cadeia trófica nesta região, envolvendo várias equipas de investigação (nacionais e internacionais), tendo em vista a avaliação da resiliência deste ecossistema numa perspetiva de alterações climáticas. Nesta sétima campanha do INTERBIOTA, com carácter multidisciplinar, vão estar embarcados investigadores de diferentes áreas da oceanografia, incluindo as componentes físico-química (por ex.: fluxos de carbono), e biológica (por ex.: fitoplâncton, onde estou integrada, zooplâncton e cetáceos). Para além da participação na amostragem, a minha contribuição para o projeto prevê a inclusão da componente da cor do oceano (imagens de satélite) na análise integrada dos dados obtidos durante as diferentes campanhas. Todo o material necessário para a campanha seguiu a bordo do navio polar Almirante Maximiano, da Marinha Brasileira, no início de Outubro de 2016, e os últimos detalhes da campanha foram discutidos numa reunião a 3 de Fevereiro 2017, nas instalações da FURG. A Marinha Brasileira trata de toda a complexa logística operacional, que envolve voos de apoio da Força Aérea Brasileira (FAB) desde o Brasil até à base aérea chilena de Frey, na ilha King George. A equipa chegou a Punta Arenas, Chile, no 5ºVoo de Apoio Antártico no domingo dia 5 de Fevereiro a bordo de um Hércules C-130 da FAB, após um voo de 6 horas com origem em Pelotas, Brasil. A equipa de 24 investigadores embarcou no dia 6 no navio Almirante Maximiano, que permaneceu 3 dias no porto para descanso da tripulação. No dia 9, às 16h locais, largou em direção a Sul! A campanha tem a duração prevista de um mês, com regresso marcado para o 6º voo de apoio da FAB (previsto para 6 de Março), desta vez a partir da base aérea chilena de Frey, na Antártida, uma vez que o navio seguirá rumo a Rio Grande, Brasil, onde chegará apenas no final de Março. Entre ontem e hoje estivemos a arrumar e a fazer o inventário de todo os materiais e reagentes que transportamos ou que deixamos armazenados em Great Wall. Muitos destes materiais poderão ser utilizados em futuras campanhas. O transporte de equipamentos para a Antarctica é complicado e assim sabemos exactamente o que pode fazer falta e o que fica. É importante deixar registado não só as quantidades e o estado de conservação mas também onde ficam arrumados, pois juntamente com as nossas coisas existem centenas de outras caixas na cave da base, e muitas serão ainda realojadas ou reacondicinadas depois do fecho da época.
Entretanto fomos convidados para apresentar a nossa investigação na base chilena Escudero, que organiza sessões de seminários todas as quintas-feiras. Outras palestras descrevem o impacto dos humanos nas colonias de petréis gigantes, avaliados por investigadores alemães alojados na base russa Bellingshausen ou os projectos acerca dos ecossistemas nas altas latitudes desenvolvidos pelas universidades chilenas. Também em Great Wall devemos dar um seminário, este com tradução simultânea do inglês ao chinês. Falamos sobre o que fazemos mas também das particularidades dos peixes Antárcticos, mas não sabemos o que realmente foi transmitido. Foi também altura para agradecer a todos os membros da 33ª Chinese Antarctic Research Expedition a ajuda que nos deram para realizarmos as experiencias, a hospitalidade e a alimentação de 1ª classe do Chef. E deixamos ao chefe, Chen Bo, os cumprimentos do Propolar. À noite temos o jantar de despedida. Um rancho melhorado em nossa honra regado com vinho do Porto que haviamos trazido. Gambé!!! Pela primeira vez vi focas de Weddel, elefantes e leões marinhos aqui na Antártida. Fomos dar um passeio à praia juntamente com a Sandra Heleno e o Pedro Ferreira, portugueses que ficaram na base chilena, e que com o Pedro Pina, vão embora já amanhã. Os elefantes marinhos parecem amistosos, mas quase não se importam com a nossa presença, enquanto que os leões marinhos são mais agressivos e até podem correr atrás de nós se acharem que estamos no seu espaço. Apesar de parecerem uns queridos, os elefantes marinhos têm um senão - o odor! Estes animais podem estar a mais de 500 metros do mar, onde chegam arrastando a sua meia tonelada pelo solo. E o esforço de voltar ao mar só para fazer a higiene parece demasiado. No entanto é impressionante ver estes animais no seu habitat natural!!
Dia de serviço à Base, no momento com 40 ocupantes. Dia dedicado à limpeza dos espaços comuns como sala de estar, WC’s, corredores, cozinha. Inclui também a preparação das refeições, servir às mesas, lavar toda a loiça usada e deixar a cozinha limpa para a próxima refeição. Fizeram-nos vários pedidos para cozinharmos comida Portuguesa mas não havia o elemento base da nossa gastronomia, o bacalhau, por isso decidimo-nos por um postre (sobremesa). Lembramos de preparar um pastel de nata. É fácil de fazer e tem ingredientes que podemos encontrar em qualquer cozinha (38 ovos, 2 kg de massa folhada, 1 l de leite e 1 l de natas, 800 g de açúcar e 8 colheres de farinha). A reação foi muito boa e podemos dizer que foi um sucesso, o nosso Pastel de Nata “Antártico”. Foi uma jornada de trabalho longa que começou às 7h00 de manhã e terminou bem depois da meia-noite. Dia 29 arrumamos tudo e saímos da base um dia mais cedo.
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