DIÁRIOS DE CAMPANHA
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Último dia do ano do Macaco para dar início ao ano do Galo, que significa paz e felicidade. Para nós o grande galo é que ainda não temos o equipamento! Mas vamos esquecer isso por agora porque é um dia de festa. Este festival é o mais importante do ano na China, similar à nossa festa de passagem de ano. Entre estes dois dias, os chineses fazem todas as tarefas com muita calma e pouco trabalham, caso contrário há a superstição que o novo ano não vai correr bem. Logo, o nosso dia foi tranquilo e com pouco trabalho, mas o jantar foi especial, com muita variedade de comida e bebidas alcoólicas e, claro está, não podia faltar o karaoke. Um dos hábitos que têm é levantarem-se e irem brindar (gambe em chinês) mesa a mesa ou até mesmo um a um e é uma falta de educação não brindar. Uma das bebidas alcoólicas mais famosas tem 52% de álcool e é feita através de uma planta, que neste momento não sei qual é (também não posso pesquisar porque só temos acesso ao WhatsApp) e que tem semelhanças com o milho, mas, que segundo eles não tem semelhança nenhuma !!!??? Esta bebida tem um sabor e um odor bastante forte e é preciso ter muito cuidado porque senão não se fica em boas condições!!! Não me lembro bem!!!! Relativamente à comida, há de tudo mas o recorrente é o “dumpling”, uma iguaria típica da China, oriundo e muito popular na província Guangdong, segundo nos dizem. É um tipo de massa fina com a dimensão de um rissol e que pode ter vários recheios, nomeadamente carne. Nesta época festiva é muito característico comer-se em grandes quantidades. Durante o jantar estavam sempre a sair quentinhos e quanto mais saíam mais se comiam!! A tarefa de os comer com pauzinhos é que nem sempre é fácil, como se pode ver na imagem!! Outro momento alto é o karaoke! Quase todos cantam mas como tinha maioritariamente músicas em chinês, era difícil nós participarmos. Mas lá nos conseguiram arranjar algumas
músicas em inglês e pudemos cantar... bem, mais ou menos! Apesar da felicidade esta é uma época para estar com a família na China, um pouco como o Natal para nós, e havia nostalgia e saudades no ar! Ja temos todos os peixes necessários para as experiencias que planeámos, mas continuamos limitados pela falta de material. Ontem o Sarmiento de Gamboa, um dos dois navios espanhois que apoiam o Propolar tentou descarregar o nosso material depois de não ter sido possível recebê-lo do outro navio, o Hesperides, na sexta passada. Infelizmente ventos de 25 nós impediram que os zodiacs pudessem ser colocados na água para trazerem a carga até à praia. Após 4 horas de espera o navio teve de zarpar para Punta Arenas de onde nos irão enviar os equipamentos por avião. Seguramente não chegarão até à próxima sexta e isto muda os nossos planos. Afinal a Carmen já não poderá sair a 3 como planeado e tentaremos terminar tudo até 11, quando o Hespérides volta para nos levar até Yelcho, para a segunda fase da camapanha! O problema de momento é alimentar os animais até que possamos receber tudo e inicar. Vamos procurar anfípodes e outras opções junto com os colegas chilenos que estão a fazer experiencias em Escudero com Harpagifer antarcticus e que hoje procuram peixes durante a maré baixa entre pedras no meio de grandes blocos de gelo. Não estamos sós – os pinguins divertem-se e divertem-nos com os seus saltos. O dia 19 Janeiro foi o dia D e representou a entrada da equipa do Projecto Hg-Planktarctic na Península Antártica, juntamente com mais 4 equipas participantes do Programa Polar Português 2016/2017. Apesar de em Punta Arenas o céu estar nublado, o estado do foi melhorando gradualmente ao longo da viagem que durou aproximadamente 2h, e aquando da aterragem na ilha de King George, o tempo apresentava-se como um verdadeiro dia de verão (6 °C), sem vento e com bastante sol, o que resultou nos primeiros escaldões dos participantes lusos. Na ilha pudemos observar os primeiros pinguins que fizeram as nossas delícias e foram objeto de muitas fotos divertidas. Enquanto esperávamos pelo transporte do navio Espanhol, Sarmiento Gamboa, que nos ia levar ao destino final, Deception Island, pudemos visitar a base militar Chilena, a base Escudero, assim como a capela ortodoxa Russa, muito digna de uma visita. O transbordo foi feito com auxílio de Zodiac e teve a duração de aproximadamente 1h, devido à presença de blocos de gelo, o que implicou o uso de um fato seco de um tamanho muito acima do nosso e que nos deu um aspeto muito engraçado. O mar estava sem qualquer ondulação pelo que se tratou de um passeio com direito a observar as brincadeiras dos pinguins que individualmente ou em grupo circundaram o barco. Pudemos observar também uma foca leopardo que descansava calmamente num bloco de gelo. Pelo que a chegada ao Sarmiento Gamboa aonde pernoitamos foi muito agradável e queremos agradecer a simpatia de toda a tripulação que nos acolheu. Pelas 5h da manhã, passamos para um outro navio espanhol, o Hespérides, onde fomos igualmente bem recebidas e passamos uma noite. Este último levou-nos finalmente à ilha Deception, onde fomos admitidas com muito entusiasmo, o que claro nos aqueceu a alma. Agora é montar o nosso laboratório, que veio em 5 caixas de metal e dar início ao nosso primeiro trabalho Antártico.
Hoje chega o voo fretado pelo PROPOLAR. Nele vêm portugueses mas sobretudo muitos investigadores de outros países. E nele saem também outros tantos, incluindo dez chineses. Este voo é a contribuição portuguesa para a logística antárctica. Nós vamos espera-lo ao aerodromo Teniente Marsh, para receber os Pedros, o Pina e o Ferreira e a Sandra, que ficarão na base chilena Escudero, o António que partirá com os coreanos para King Sejong e a Carla e a Tânia que vão embarcar no Sarmiento de Gamboa com destino à base espanhola Gabriel de Castilla, na ilha Deception. Tirámos as fotos da praxe e os portugueses vão de caminho até à praia de Fildes.
À base chegaram esta manhã 5 cientistas uruguaios que vão realizar algumas recolhas de água. Junto-me a eles para aproveitar a pesca. Devido ao excesso de lotação a Carmen não pode ir. Seguimos em direção a Fildes atravessando o istmo que liga a Ilha de Ardley a King George... isto seria normal na maré alta, mas a maré está baixa e esta opção obriga-nos a ter de arrastar o barco sobre cerca de 6 metros de gravilha... Uff, parece que afinal a Carmen safou-se de boa.
Ao longe o glaciar da ilha Nelson parece um imenso lençol branco. E aqui as baleias continuam chuuuuufffff...e depois outro chuuufffff... mas temos de voltar pois ainda podemos aproveitar para pescar.
Pelo caminho acompanham-nos alguns pinguins saltitões que podem dar-se ao luxo de brincar enquanto uma foca leopardo dorminhoca se espreguiça sobre o gelo. Pescamos junto à Ilha dos Geólogos, um pequeno ilhote na Baía de Great Wall. Não corre mal e conseguimos cerca de 25 peixes... infelizmente são de duas espécies distintas, ambas de interesse, mas cada uma insuficiente em número para o que queremos fazer... Há que voltar amanhã. Afinal a Carmen perdeu um ótimo dia para estar no mar... Carmen Sousa e Pedro Guerreiro, 18 Janeiro 2017, Ilha King George Hoje é dia de gala... Há vários dias que se prepara a visita do Ministro da Ciência e Tecnologia da China, com discussões sobre a melhor forma de o receber, disposição de mesas na refeição etc. Desde de manhã que a azáfama é muita mas a hora de chegada vem sendo adiada em função da saída do voo desde Punta Arenas. A receção foi bastante formal, com a pompa chinesa. Cá fora ensaiaram-se coreografias e distruibuiram-se bandeirolas. A comitiva de cinco carros, também eles com bandeirolas, chega já depois do meio dia e encontra todos fardados na praça. Nós acabámos por participar no alinhamento e depois dos discuros, em chines evidentemente, ficar também na foto de conjunto para mais tarde recordar. Este ano a China recebe as reuniões do Tratado Antárctico e parece que esta visita se insere num conjunto de actividades relacionadas. A sua visita teve o intuito de ver as condições gerais, acomodações e falar um pouco com todos, cientitistas e técnicos, mas principalmente com os que vão residir durante o ano inteiro, e de manter contactos com outras bases. Após a visita da comitiva à ilha Ardley, onde se encontra uma colónia de pinguins, o dia termina com um jantar mais esmerado que o normal, cheio de boa disposição e simpatia!! Com mais discursos e cumprimentos, desejos de colaboração e votos de boa campanha.
Hoje informaram-nos, durante o pequeno-almoço, que o dia ía ser atarefado e que precisavam da nossa ajuda na cozinha da parte da manhã e ao final de tarde, do qual nos disponibilizamos prontamente. A nossa tarefa foi descascar, lavar e cortar legumes que passo a especificar: eu fiquei responsável por uma enorme quantidade de um legume que desconheço o nome mas, não é cebolinho nem alho francês e o Pedro ficou com uma responsabilidade mais diversa começando pelas batatas, couve coração, cogumelos, acabando por me ajudar no legume mistério. É de salientar a grandiosidade da cozinha e respetivos utensílios nomeadamente as facas, no qual fizemos de questão de elucidar-vos com algumas fotografia. A compreensão com o cozinheiro foi meramente ilustrativa pois ele só fala chinês, mas, lá nos conseguimos entender, cumprir as tarefas que nos atribuíram e trabalhar harmoniosamente. Entretanto chegou uma cientista chinesa para nos ajudar e, para nossa satisfação, tem umas noções de inglês o que tornou, a partir desse momento, o diálogo e entendimento mais percetível e acessível. Apesar do cheiro a comida estar impregnado na nossa roupa, esta experiência foi bastante engraçada e prazerosa pois nunca tínhamos vivenciado tal função em tão larga escala. Em sinal de agradecimento, ainda tivemos uma oferenda, por parte do chefe de cozinha, que nos cortou uma laranja, muito doce, para comermos. Modéstia à parte, trabalhámos bem em equipa e fomos rápidos e eficientes, o que agradou o chefe. Para terminar bem o dia, finalmente, colocaram o contentor no cais para que possamos começar a trabalhar!
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