DIÁRIOS DE CAMPANHA
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DIÁRIOS DAS ATIVIDADES DE CAMPO DOS PROJETOS DURANTE A CAMPANHA PROPOLAR 2016-2017
O dia começou bem cedo. Às 6 da manhã, acordámos para o pequeno almoço. Foi um dia em cheio, sendo que ocupámos a maior parte do mesmo em SAS2, mas também trabalhámos em SAS1 e KWAK, dada a proximidade entre estes locais e a facilidade de deslocação devido à utilização do helicóptero. Em SAS2 conseguimos utilizar o DGPS. Na chegada a este local, enquanto o meu orientador organizou o plano de vôo para o drone, eu distribuí marcas de controlo ao longo da área de estudo, por forma a utilizarmos o DGPS e corrigirmos, com pormenor, o ortofotomapa a realizar. A distribuição das placas não decorreu exatamente da forma desejada devido à impossibilidade de cobrir toda a área a pé, por causa da quantidade de áreas alagadas, sobretudo na parte central, o que obrigou uma distribuição pouco homogénea das placas. Não obstante, a utilização do DGPS foi um sucesso, sendo que mediante a introdução de um ponto de referência, georreferenciámos todas as placas distribuídas pela área de estudo. Mediante captação de fotografias aéreas por parte do drone, tornar-se-á possível identificar as placas nas mesmas e, recorrendo a um software específico, introduzir as coordenadas obtidas com o DGPS, melhorando a qualidade geométrica do levantamento. Na verdade, o drone e o seu software (eMotion3) já possuem mecanismos sofisticados para a correção fotogramétrica do ortofotomapa final da área de estudo, sendo que, em algumas experiências de processamento preliminar, realizadas na Estação de Investigação (CEN de Kuujjuarapik), o erro médio foi de apenas 70 centímetros.
A vegetação identificada em SAS2 e SAS1 foi semelhante à de ontem, que encontrámos em BGR. As gramíneas tinham especial expressão, progressivamente aumentando de porte até às margens dos lagos de termocarso, bem como briófitas e arbustos com domínio de Betula glandulosa. Contudo, apenas a 10 minutos de distância de helicóptero de SAS1, em KWAK encontrámos uma realidade um pouco distinta. Aí, depois de uma aterragem do helicóptero num afloramento rochoso deparámo-nos com um claro processo de “shrubification” (arbustização), termo usado para a substituição de vegetação baixa de tundra por arbustos, que ocupam amplas áreas na paisagem. O fenómeno ocorre especialmente ao redor dos lagos termocársicos, onde os arbustos altos dominam sobre musgos, líquenes, gramíneas e árvores. É um fenómeno que se tem vindo a intensificar no limite tundra-taiga no Subártico, como consequência do aumento da temperatura nas últimas décadas. Claro que, mais uma vez, não conseguimos percorrer a pé toda a área de trabalho (KWAK), sendo que apenas conseguimos amostrar uma pequena margem da mesma. Esta mostrava um domínio do género Salix, com alguns indivíduos superando 2 metros de altura, misturados com Betula glandulosa, embora de forma menos expressiva. Estou ansioso por perceber os diferentes fatores que influenciam estas mudanças nos ecossistemas próximos aos lagos termocárcicos e não só. A vegetação é um bom indicador para apurar os processos físicos e químicos que se têm desenvolvido com as rápidas mudanças a que estes locais estão sujeitos. Creio que existe uma relação em termos evolutivos entre todas as áreas de trabalho (BGR, SAS1, SAS2 e KWAK). Um dos nossos principais objetivos é verificar a rapidez com que estas áreas têm evoluído, para onde tendem e as consequências derivadas dessa evolução. Os estudos nestes locais, em escalas de grande detalhe, podem permitir extrapolar os resultados, apurando respostas para uma realidade mais abrangente e com consequências mais profundas, não só para os ecossistemas do Ártico e Subártico, como para todo o Mundo.
Pedro Freitas, 1 de setembro de 2017
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