Pedro Freitas, 30 Agosto 2019, Umiujaq, no sub-Ártico Canadiano A chegada à estação de Umiujaq do Centro de Estudos Nórdicos foi seguida pela primeira ida a BGR, logo depois do almoço e da organização do equipamento científico necessário para a ida para o campo. Depois da minha tese de mestrado, esta seria a oportunidade de regressar a BGR, uma área de monitorização da Universidade de Laval caracterizada pela presença de lagoas termocársicas de cores variadíssimas, do bege ao castanho escuro, passando pelo esverdeado, e onde os fenómenos de arbustização têm sido bastante intensos com o crescimento e expansão de comunidades predominantemente arbustivas. Desta vez, a visita já se fez no quadro do meu doutoramento e com uma sonda multiparamétrica prontinha a estrear. A localização remota de BGR (56°36'52.3"N 76°17'19.2"W) faz com que seja necessária a utilização de um helicóptero para deslocação; helicóptero esse que nos seria garantido (felizmente) durante os próximos três dias (fig. 1). No primeiro dia, realizámos voos com um drone eBee Plus RTK sobre a área de estudo, considerando uma área semelhante à de 2017, e utilizando-se uma câmara multiespectral (Sequoia) com quatro bandas: verde, vermelho, limite do vermelho e infravermelho próximo. Procedeu-se ainda à montagem da base GNSS para aquisição de dados em tempo real, por forma a corrigir-se em pós-processamento o posicionamento das fotografias aéreas realizadas (fig. 2). O primeiro dia ditou ainda a estreia da sonda multiparamétrica para a amostragem das propriedades biogeoquímicas das lagoas termocársicas, entre as quais, a temperatura, o pH, os sólidos suspensos totais, a salinidade, a condutividade, o oxigénio dissolvido, a matéria orgânica dissolvida (CDOM) e a clorofila (fig. 3). Algumas destas variáveis influenciam as propriedades óticas das lagoas e, como tal, podem ser estimadas usando imagens multiespectrais de sensores instalados em drones e satélites. Esta abordagem permitirá o estudo da representatividade e variabilidade espacial destas lagoas em grandes transectos regionais e em diferentes zonas de permafrost, potencialmente melhorando a compreensão da importância das mesmas para o ciclo do carbono. No primeiro dia, testámos a sonda multiparamétrica mergulhando-a próximo da margem das lagoas e a pouca profundidade. Este método não é aconselhável uma vez que poderá haver influência dos sedimentos, vegetação e fitoplâncton que entram em suspensão e que resultam em leituras que não são representativas da água no centro da lagoa. Para evitar esse problema, nos restantes dias procedemos à utilização de um barco insuflável para a amostragem com a sonda no centro das lagoas (fig. 4). No segundo dia, procedemos, primeiramente, à realização de voos com o drone, desta vez utilizando-se uma câmara ótica. Finalizados os voos, procedeu-se ao levantamento de dados com a sonda multiparamétrica. Durante esse dia ficámos cientes de algumas dificuldades práticas para as medições, em particular, o facto do vento dificultar de sobremaneira a estabilização do barco no centro da lagoa aquando da realização das leituras com a sonda. Este aspeto fez-nos procurar e adotar uma forma mais eficiente para a estabilização do barco, que aplicámos no dia seguinte. No terceiro e último dia em BGR, procedemos apenas à caracterização da água das lagoas, aterrando o helicóptero estrategicamente num sítio próximo de lagoas com diferentes cores. Por forma a estabilizar-se o barco no centro da lagoa, utilizou-se uma corda esticada entre dois investigadores, situados em margens opostas, sendo atada ao barco, estabilizando-o facilmente. Antes da gravação dos dados, é necessário que as leituras estabilizem, pelo que é essencial que o barco se encontre parado. As leituras foram realizadas a cada 50 cm de profundidade, tendo a profundidade total, sido medida, antes de cada amostragem (fig. 5).
A chuva e o vento no turno da levaram a que tenhamos sido forçados a terminar o trabalho mais cedo. Simultaneamente ficou garantida a viagem de helicóptero mais radical de sempre (fig. 6). O denso nevoeiro tornou necessária uma viagem perto do solo, com muitas subidas e descidas, bem como curvas mais ou menos fechadas. Fantástico!
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Carla Mora, 29 Agosto 2019, Umiujaq, no Sub-Ártico canadiano No dia 26 de agosto, partimos em direção a Umiujaq, no Sub-Ártico canadiano, para estudar a vegetação e as lagoas resultantes da fusão do permafrost, que pontuam a região com águas de inúmeras cores. Por que razão? Quais as suas características físico-químicas? Será o sedimento em suspensão? Diferenças nas comunidades fitoplanctónicas? Qual a representatividade espacial das lagoas de diferentes cores? Estas são algumas das questões que vamos tentar responder com base nos dados de campo recolhidos até 2 de setembro. À chegada ao aeroporto de Umiujaq, que é um pequeno edifício de madeira, fomos rodeados por vários habitantes da aldeia que se foram despedir de familiares que partiram para norte no avião em que chegámos. Muito simpáticos e sorridentes, quiseram saber quem éramos e, ficaram muito impressionados por seremos portugueses. Também nós ficamos impressionados com a simpatia e com os fatos tradicionais Inuíte, em particular dos das mães que levavam os filhos às costas. Quiseram, com muita curiosidade, saber quem éramos e por que razão ali estávamos. Depois de satisfeita a curiosidade mútua, saímos do aeroporto e tínhamos a carrinha do Centro de Estudos Nórdicos (CEN) estacionada à porta à nossa espera. A viagem foi curta, e tivemos a sorte de ser prontamente guiados por uma muito simpática inuíte que se voluntariou para dar uma volta pela aldeia connosco. Ficámos assim a saber onde podíamos comprar comida, onde era o centro de saúde, a câmara municipal, etc… Muitas vezes nos voltámos a cruzar com a simpática Lucy ao longo da nossa estadia e nunca iremos esquecer a sua amabilidade.
Na estação do CEN fomos recebidos pelos investigadores Alexander Matveev e Marie-Amélie Blais e, depois de restabelecidas as energias, partimos na mesma tarde para o campo, pois tínhamos o helicóptero disponível para nos levar para a área de BGR onde realizámos os primeiros levantamentos multiespectrais com o drone. Pedro Freitas, Paulatuk, Northwest Territories – Canadá, 28 de Julho de 2019 No seguimento da campanha Nunataryuk 2019 nos Territórios do Noroeste, Alto Ártico Canadiano, três elementos da equipa portuguesa (Gonçalo Vieira, Pedro Pina e Pedro Freitas) deslocaram-se de Tuktoyaktuk, onde a maioria dos trabalhos foram desenvolvidos até então, para Paulatuk numa pequena avioneta fretada à Aklak Air no dia 24 de Julho de 2019 (fig. 1). Paulatuk é uma aldeia bastante remota não sendo possível o seu acesso sem ser de avião ou barco, situada numa pequena Península na costa do Golfo de Amundsen, possuindo cerca de 300 habitantes. À equipa portuguesa juntaram-se ainda Dustin Whalen do Natural Resources Canada e Weronika Murray uma foto jornalista baseada no Oeste do Canadá, nesta campanha focada na documentação e interpretação da ligação entre investigadores científicos e comunidades locais. O voo ocorreu sobre condições meteorológicas fantásticas, permitindo a interpretação das formas de relevo e hidrologia à superfície. De Tuktoyaktuk a Paulatuk pôde observar-se grandes mudanças na paisagem, de planícies aluviais fortemente dissecadas por cursos de água, lagos e lagoas a planaltos caracterizados pela presença de vales e cicatrizes de erosão expondo sedimentos de tipo arenoso, com menor concentração de matéria orgânica e consequentemente carbono (fig. 2). O principal objetivo da campanha em Paulatuk consistiu no levantamento da aldeia e do aeródromo recorrendo a um drone SenseFly eBee Classic de asas fixas com câmara ótica. No turno da manhã do dia 25 de Julho de 2019 realizaram-se os primeiros voos com o drone na parte central da Península, referindo-se à área residencial e industrial da aldeia. As condições meteorológicas caracterizadas por ventos vindos de Noroeste potenciados pela diferença de temperatura entre oceano e continente, não permitiram a realização de voos no turno da tarde. Mediante uma única tentativa de lançamento do drone registou-se 11 metros por segundo de velocidade do vento, a 110 metros de altitude, procedendo-se à sua aterragem como medida de segurança. No dia 26 de Julho de 2019, após nova tentativa, o forte vento registado impossibilitou novamente a realização de voos com o drone, pelo que durante esse dia procedeu-se à recolha de Ground Control Points (GCP) com GPS Diferencial de alta precisão ao longo de toda a aldeia. A recolha destes GCP revela-se essencial por forma a corrigir fotogrametricamente o modelo aquando do seu processamento, assegurando qualidade na georreferenciação nos eixos de coordenadas X, Y e Z. No total foram obtidos cerca de 50 GCP, relativos a objetos estáticos localizados no solo, facilmente identificáveis nas fotografias aéreas. Após dois dias com períodos de vento de elevada intensidade, finalmente as condições meteorológicas verificadas no dia 27 de Julho de 2019 permitiram o levantamento com drone da restante parte da Península referindo-se à área mais a Norte onde se encontra localizado o aeródromo. As tarefas do turno da manhã foram divididas por duas equipas, sendo uma constituída por Gonçalo Vieira e Pedro Pina, ficando responsáveis pela realização dos planos de voo com o drone para captação de fotografias aéreas, e outra constituída por Pedro Freitas e Dustin Whalen, ficando responsáveis pelo levantamento de GCP. Para o levantamento dos GCP ao nível da tundra e ao nível da praia, utilizou-se como modo de transporte uma moto 4 permitindo flexibilidade e rapidez na sua obtenção (fig. 3) Estes pequenos veículos são o modo de transporte mais utilizado pelos habitantes de Paulatuk durante o verão, não só dentro da aldeia, onde não existem quaisquer estradas alcatroadas, mas também para alcançarem áreas mais distantes à aldeia no que toca a outros propósitos essencialmente relacionados com a pesca e a caça, mas também recreativos, onde por entre as montanhas, do litoral ao interior, ramificam pequenos trilhos espontâneos e orgânicos numa rede mais ou menos densa, originada pela passagem sucessiva exclusiva desses pequenos veículos ao longo de muitos anos. Alguns trilhos são até mesmo considerados ancestrais, existindo desde a altura em que não era possível tirar proveito destes veículos para locomoção na aldeia e respetivas redondezas. Atualmente pode observar-se, embora que apenas em alguns setores, trilhos propositadamente melhorados para a passagem destes e outros veículos de maior porte, com a colocação e assentamento de grandes quantidades de gravilha. A determinada altura estes pequenos veículos passaram a ser utilizados pela equipa no terreno, por forma a deslocar-se a algumas áreas de estudo de particular interesse, embora que de difícil acesso, localizadas a Este e Oeste de Paulatuk tendo sido propostas pela comunidade local e em particular pela Hunters and Trappers Commission, entidade que regula toda a atividade científica que se faz na região (fig. 4). Terminado o período da manhã, seguiu-se uma reunião com o vice-presidente da aldeia, bem como com representantes da Hunters and Trappers Commission para apresentação de alguns resultados e demonstração da importância dos materiais e métodos científicos utilizados na campanha no que toca ao apoio à gestão e planeamento das atividades desenvolvidas pela comunidade dentro e fora da aldeia. A partir do turno da tarde do dia 27 de Julho de 2019 a campanha científica assumiu uma abordagem mais baseada nos conhecimentos tradicionais da comunidade. Um ancião e alguns membros mais novos guiaram-nos ao longo da costa em direção ao Oeste por forma a nos falarem sobre algumas mudanças relacionadas com as alterações climáticas observadas em alguns locais. Durante o percurso que acabou por terminar em Argo Bay (69°22'02.8"N 124°29'30.1"W), um hotspot importantíssimo ao nível da pesca e caça para a comunidade, foram relatadas mudanças não só ao nível da erosão costeira, mas também ao nível de alterações geomorfológicas na paisagem, bem como perturbações nos ecossistemas terrestres e marinhos, com o aparecimento de novas espécies e desaparecimento de outras. Na chegada à Argo Bay procedeu-se à distribuição de marcas no terreno para levantamento de GCP com o GPS Diferencial, realizando-se posteriormente um plano de voo com o drone. Durante esta tarefa os membros da comunidade demonstraram estar bastante interessados nos materiais utilizados para a recolha de dados, o que permitiu a partilha de conhecimento e a interação entre os mesmos e os investigadores, estes últimos continuadamente explicando a funcionalidade dos equipamentos, formas de utilização e mostrando resultados, como por exemplo através das fotografias aéreas capturadas no momento (fig. 5). Aquando da realização do trilho em direção a Argo Bay, pôde observar-se, apesar da predominância de material essencialmente arenoso, a exposição de depósitos de matéria orgânica em alguns setores localizados no fundo de alguns vales mais abertos (fig. 6). No dia 28 de Julho de 2019, último dia da campanha em Paulatuk, durante o turno da manhã a equipa deslocou-se ao delta do Rio Hornaday (69°18'19.0"N 123°46'16.0"W), onde realizou alguns vídeos 4K utilizando um drone Phantom 4 multi-rotor ao longo das vertentes nas margens do curso de água principal que espelhavam forte erosão e movimentos de vertente por colapso bastante dinâmicos, tendo sido possível observar alguns em tempo real. Em alguns setores a erosão ocorre de forma tão rápida que alguns trilhos, em tempos utilizados pela comunidade, têm desaparecido (fig. 7). O turno da tarde do dia 28 consistiu no levantamento do Billy’s Creek, uma área costeira com uma laguna presente num vale bastante aberto, onde a erosão costeira tem ocorrido de forma bastante acentuada nas costas altas viradas ao Ártico (fig. 8). Por fim, a última tarefa do dia consistiu no levantamento de um pequeno deslizamento rotacional por fusão associada à fusão de gelo maciço presente no solo de origem recente (fig. 9). O levantamento de uma área mais ampla com o drone permitiu contextualizar esse deslizamento numa área mais ampla, percebendo-se que a mesma seria uma evidência da policiclicidade associada a uma grande deslizamento rotacional por fusão de origem mais antiga. Pedro Pina, Tuktoyaktuk, Northwest Territories – Canadá, 23 de Julho de 2019 Depois de uma viagem de carro de 150 km desde Inuvik até à costa norte canadiana em Tuktoyaktuk, a que abreviada e vantajosamente falando nos referimos como Tuk, instalamo-nos os quatro (eu, Gonçalo Vieira, Pedro Freitas e Daniel Pinheiro) numa das casas alugadas pelos Natural Resources Canada com quem estamos a colaborar nesta campanha. Permitiu-nos rever ou conhecer novos colegas, bem como saber os seus interesses de investigação e áreas de trabalho. Os levantamentos com drone nesta primeira estadia aqui em Tuk foram feitos com o ebee clássico, que conseguimos adquirir em 2014 no âmbito da campanha de crowdfunding 3D Antártida (link: https://www.facebook.com/3dantartida/) e que continua ainda a dar muito boa conta de si. O outro drone que também trouxemos (ebee plus) teve uma avaria e ficou a reparar em Edmonton, esperando que ainda o consigamos utilizar nesta campanha, pois consegue identificar com precisão a localização das fotos que tira sem necessitar de ter pontos de controlo no solo (designa-se esta técnica por rtk) e também de fazer voos de maior duração. O ebee clássico precisa mesmo desses pontos de controlo, obrigando-nos a colocar marcas no solo que serão sobrevoadas pelo drone e cujas localizações são medidas com GPS diferencial. Os vários voos efectuados permitiram-nos cobrir a região mais a sul de Tuk e completar os levantamentos que tínhamos feito no verão de 2018 somente na área urbana. As áreas sobrevoadas desta vez são sobretudo áreas industriais na periferia sul de Tuk. Antes da abertura da estrada desde Inuvik em finais de 2017, estas áreas ficavam nos seus confins, pois o acesso era somente efectuado mais a norte por barco ou por avião. Agora são o primeiro contacto para quem entra em Tuk por estrada, sobretudo auto-caravanas e motas, mas também bicicletas! São, no entanto, poucas, mas há mesmo quem venha a pedalar, sabe-se lá de onde, até ao oceano Ártico. Como os vários sítios em que nos fomos instalando ao longo dos dias para voar o drone ficavam relativamente perto da estrada, e também porque o relevo aqui é praticamente todo plano, verificámos que o movimento motorizado, em relação ao ano passado, aumentou bastante. Estes primeiros dias de trabalho foram intensos e sobretudo extensos. Os dias aqui perto dos 70º de latitude, nesta altura do ano, não têm praticamente noite, ou seja, as 24 horas de luz permitem-nos ficar na rua bastante mais tempo do que se estivéssemos por exemplo em Portugal. No entanto, não abusamos totalmente dessa oferta luminosa, pois o sol ao baixar no horizonte ao longo do dia começa a criar sombras cada vez maiores. Como não nos interessa nada que elas possam mascarar zonas de interesse nas imagens, acabamos por ter de parar. E obviamente porque também precisamos de ir recarregar as nossas baterias.
Foi um bom início de campanha, na maioria dos dias com vento aceitável para voar o drone, com muitos novos dados. Mas as nossas expectativas estão a aumentar, pois iremos em seguida de avião até Paulatuk, uma aldeia costeira situada a cerca de 400 km a Este de Tuk, para nos próximos dias continuarmos as nossas actividades voadoras. 24 Julho de 2019, O rápido aquecimento do Ártico está a causar drásticas mudanças na criosfera e nos ecossistemas, com um dos impactes mais importante a ocorrer nos ambientes com solo permanentemente gelado ou permafrost. Estes, ocupam cerca de 20% da superfície continental do Hemisfério Norte e são especialmente importantes para o clima global, principalmente devido à elevada concentração de matéria orgânica que existe no permafrost. Com o aquecimento e com a fusão do permafrost, essa matéria orgânica fica exposta à decomposição por parte de microrganismos, que como consequência do seu metabolismo vão causar a libertação de gases de efeito de estufa, como o dióxido de carbono e o metano. Gera-se assim uma retroação positiva com grandes impactes para o sistema climático global; ou seja, uma maior temperatura, gera maior fusão do permafrost e, consequentemente, maior libertação de gases de efeito de estufa. Mas a degradação do permafrost causa também outros impactes, como são os casos de mudanças na hidrologia, geomorfologia e vegetação, que resultam em mudanças nos ecossistemas. Nas áreas construídas, há ainda enormes problemas com a estabilidade dos terrenos, afetando severamente diversos tipos de infraestruturas.
O projeto NUNATARYUK (http://www.nunataryuk) dedica-se ao estudo das mudanças nos ambientes com permafrost no litoral do Ártico e, em particular, com a quantificação dos fluxos de carbono do permafrost terrestre para o ambiente marinho e atmosfera. Inclui ainda equipas que estudam os impactes socioeconómicos, nas infraestruturas, bem como nos modelos climáticos. A equipa NUNATARYUK da Universidade de Lisboa, é coordenada pelo CEG/IGOT e inclui investigadores do CERENA/IST e do CQE/IST. A contribuição no quadro do NUNATARYUK incide na monitorização da dinâmica da linha de costa, em particular, no Mar de Beaufort, com recurso a técnicas de campo e de deteção remota, colaborando também na componente da biogeoquímica do permafrost, em particular no que respeita ao carbono e ao mercúrio. No verão de 2019 há quatro investigadores da ULISBOA no terreno: Gonçalo Vieira e Pedro Freitas (IGOT) e Pedro Pina e Daniel Pinheiro (IST). Os trabalhos de campo incidem sobre a região litoral das vilas de Tuktoyaktuk e Paulatuk nos Territórios do Noroeste (Canadá), duas áreas em que o trabalho é realizado em colaboração com a Natural Resources Canada (Canada Geological Survey). O objetivo é realizar levantamentos de terreno de ambas as povoações e áreas envolventes, produzindo modelos digitais de superfície e ortofotomapas, que permitirão gerar cartografia de risco de erosão e de inundação. Para isso, utilizaremos veículos autónomos não tripulados (drones), sistemas D-GPS bem, como observações de terreno. O trabalho é também feito em colaboração com os dois municípios locais, envolvendo várias reuniões de trabalho conjuntas. Daniel Pinheiro, estudante de mestrado em Engenharia do Ambiente no IST, orientado por Gonçalo Vieira (IGOT), João Canário (IST) e Dustin Whalen (NRCAN), irá realizar a sua tese sobre a temática da presente campanha, em Tuktoyaktuk. Pedro Freitas, candidato a doutoramento no IGOT, encontra-se no terreno, desde 10 de junho, a colaborar com Dustin Whalen em levantamentos de erosão costeira. Por Camilo Carneiro (@Camilo_Carneiro) e José A. Alves (@_JoseAAlves_) Em 2012 começou o projecto piloto que viria a dar origem ao GEOWHIMBREL. Na época de reprodução desse ano, capturamos um casal de Maçarico-galego, em que ambas as aves foram marcadas com as combinações de anilhas coloridas YY-WLf e YY-LLf (ver fotos abaixo). Embora as fêmeas de Maçarico-galego tendam a ser maiores do que os machos, existe bastante sobreposição de tamanhos e por vezes recorremos a análises de determinação molecular do sexo dos indivíduos que seguimos. Com uma pequena gota de sangue pudemos garantir que YY-LLf é de facto um macho, e que YY-WLf é, portanto, fêmea. Sabe-se que os Maçaricos-galegos formam casais que se mantêm para a vida, daí neste projecto termos investido em seguir ambos os membros de um casal, para perceber como as fases do ciclo anual fora dos locais de reprodução no ártico se processam entre indivíduos que são síncronos por algumas semanas na Islândia. Em 2013, procuramos o casal YY-WLf e YY-LLf, e, como seria de esperar, ambos regressaram e nidificaram a poucas dezenas de metros do ano anterior. Sem grande surpresa, o mesmo se passou em 2014 e 2015. Para nossa tristeza, em 2016 a fêmea não foi observada. Mas o macho YY-LLf reproduziu-se com uma fêmea que transportava uma anilha metálica! Uma vez que já muitas centenas de aves foram marcadas apenas com anilha metálica na Islândia, supusemos que aquela anilha seria islandesa, e ficamos curiosos em saber quando a ave teria sido marcada. Nesse ano tentámos capturar essa “nova” fêmea, também para a marcar com uma combinação de cores (WY-WLf) e colocar um geolocator. Quando o fizemos, e para grande surpresa nossa, esta fêmea não tinha uma anilha islandesa, e por isso a ave teria sido anilhada fora dos locais de reprodução. Depois de contactar colegas que provavelmente o teriam feito, ficamos a saber que esta ave tinha sido marcada no local de invernada, o Banc d’Arguin, na Mauritânia. Dado o que já descobrimos no decorrer do projecto GEOWHIMBREL sobre a migração e distribuição de invernada desta subespécie de maçaricos-galego (ver link para artigo com mapa no final da página), o registo não é totalmente surpreendente, mas ainda assim especial quando, no inverno seguinte, registamos essa mesma “nova” fêmea no seu local de invernada. Esta “nova” fêmea regressou à Islândia em 2017, assim como o seu companheiro e já nosso velho conhecido, YY-LLf, e reproduziram-se juntos. Nesta altura e sem ter sido avistada desde o verão de 2015 assumimos que a fêmea “original”, possivelmente teria morrido, ou dispersado para nidificar noutro local (algo que parece ser raro, mas que sabemos muito pouco). Qual não foi o nosso espanto quando em 2018, ela regressa a uma das nossas áreas de estudo e nidifica com o seu companheiro YY-LLf! Foi a quinta vez em sete anos que estes dois indivíduos se reproduziram juntos. E parece que o mesmo vai acontecer pela sexta vez, já que ambos estão de regresso ao local de reprodução neste ano de 2019. O nosso conhecimento sobre a formação de casais e divórcio nas espécies de aves migradoras, particularmente naquelas que se reproduzem a altas latitudes é ainda muito rudimentar, porque é necessário seguir os indivíduos durante uma parte significativa da sua vida, que neste caso pode ser de duas décadas. Sem apoio logístico de logo curso, que se mantenha activo durante muitos anos, desenvolver investigação sobre a ecologia de vertebrados superiores nestes locais é difícil e dispendioso. Assim, e infelizmente, estudos longitudinais são raros, apesar do seu imenso valor, principalmente na monitorização destas populações. O caso que aqui descrevemos mostra que num estudo de três a quatro anos (duração típica de um projecto de doutoramento/pós-doc/projecto de investigação), facilmente consideraríamos que os casais desta espécie são extremamente estáveis (período 2012-2015), ou que uma das fêmeas morreu (ou dispersou) e um novo casal se formou, mas que se irá manter por muitos anos (período 2014-2017). Claramente essa não é a realidade, é apenas parte dela, e uma que pode originar uma hipótese de baixo valor científico e consequentes previsões erróneas. Este verão continuaremos a marcar individualmente mais membros da população e a monitorizar as relações entre estas aves, para recolher informação sobre estes processos nas aves migradoras que se reproduzem a altas latitudes. Artigo que descreve as migrações dos Maçaricos-Galegos:
Faster migration in autumn than in spring: seasonal migration patterns and non‐breeding distribution of Icelandic whimbrels Numenius phaeopus islandicus - https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1111/jav.01938 Ligação a notícias anteriores: GeoSpoi de volta – entre o ártico e os trópicos! Num piscar de olhos os GeoSpoi deixam o Ártico e voltam a África GeoSpoi – O terceiro verão começa! GeoSpoi – Um jogo de paciência e nervos Uma mão-cheia de dados Comemoração do Dia Mundial das Aves Migradoras na Islândia Individualidade Na Universidade de Waikato, no laboratório Thermophile Research Unit (TRU), a experiência do projecto NITROPENGUIN já se encontra a decorrer. Desta vez tentámos perceber o impacto que as alterações climáticas com o consequente aumento dos níveis da água do mar impactarão as comunidades microbianas de Cape Adare. Com esta subida é expectável que os pinguins que habitam a praia vão migrar para a zona mais alta mais próxima. Com os pinguins vem também o Azoto (N), e a nossa questão centra-se em saber em que aspecto estes níveis aumentados de azoto vão impactar as comunidades microbianas do solo. A nossa experiência está a decorrer numa câmara ambiental que simula as condições ambientais existentes na Antártida. Utilizamos uma placa de 24 poços em que podíamos facilmente testar vários tratamentos e usar apenas uma pequena quantidade de solo. Antes de incubarmos as nossas amostras, crivámos e maceramos o solo de modo a este ficar o mais homogéneo possível. Para aclimatizar o solo às novas condições, as amostras foram incubadas durante 6 dias antes de iniciarmos a experiência. Após aclimatização a estas condições, começamos a experiência em si. Expusemos as amostras a soluções de concentração crescente de azoto e também a uma solução preparada com o próprio guano dos pinguins. Dentro de 20 dias a experiência estará terminada e vamos então determinar o que acontece nas comunidades microbianas presentes.
18 FEV 2019 “Sacrista!” (Vieira, expressão oral) Sacrista a energia necessária para que dois membros superiores trabalhem e escrevam estas breves notas, sobre aqueles que foram os dois dias de transporte do material neveiro acima… Reforçados com uma refeição matinal de hidratos, arredávamos passo pelo calçadão de calhaus rolados, rumo à praia de águas tropicais (ou assim imaginadas), onde por alguns momentos contemplávamos o depósito de carga a ser transportado. Energizados os braços e preparado o casaco contra a ação abrasiva de qualquer peça metálica, iniciávamos a subida num ritmo quase mecânico, interrompido em breves segundos para uma respiração mais eficiente e um olhar fugaz pela paisagem. Ainda que fossem vários os dias pela frente, procurava-se a todo o custo decorar um pequeno pormenor que não se esfumace no esquecimento de quem regressa a outras latitudes. Reposta a respiração, seguíamos entre pequenos patamares até ao local de ação definido onde libertávamos toda a carga que nas últimas centenas de metros, parecia fundir-se com os nossos ossos e progredir por meios desconhecidos.
Valeu o apoio da equipa coreana que, divertida com a força muscular do grupo, trouxe o equipamento necessário até à praia, onde um batalhão de pinguins teve a cortesia de o proteger contra possíveis intempéries. A tarefa árdua de carregar os “apetrechos peso pluma”, da responsabilidade da arcaica equipa de drillers, foi caracterizada pela boa disposição e, motivada por uma qualquer banda sonora interpretada expressivamente pelo Mercury, ou talvez Björn Ulvaeus, do grupo (Dani Vonder Mühll). Posso assegurar que a imagem mental de um elenco de peso, digno de uma película de ação ao estilo dos Mercenários, é indubitavelmente correta. Ainda assim, não seria justa a realização deste post sem menção à ajuda prestada pelos parceiros de campanha. Começando pela equipa VEGETANTAR, é de referir o apoio entusiasta no transporte de tubos e caixas de ferramentas até ao local de ação, entre aquelas que eram as suas tarefas aéreas. Outra ajuda importante é a de Alper Gürbüz (“O Bravo Soldado” professor na Niğde Ömer Halisdemir University) que na espera do seu material, se disponibilizou para apoiar nos doze trabalhos de Hércules. Martin Jusek, Universidade de Trent, Canadá 2019.Mar O trabalho de laboratório começa assim que regressamos do campo e recuperamos as forças com uma sandes e um banho quente merecido. Começa-se por se separar as amostras de sedimento em diferentes frascos e procede-se à adição de regantes com o objectivo de preservar as amostras que seguirão para Portugal e algumas para a Universidade de Trent aqui no Canadá. Quanto ás amostras de água, estas têm que ser preparadas para a seguir a seis horas se juntar ácido e dar o período de incubação como terminado. Momentos antes de se juntar ácido retiram-se pequenas quantidades de amostra para frascos de volume inferior. As amostras dentro destes frascos pequenos vão ser usadas para se medir os parâmetros químicos no fim das diferentes incubações e compará-los uns com os outros e com a amostra “controlo” que tem as propriedades químicas iguais à do lago amostrado. Após o período de incubação do sedimento colocamos estes num congelador de forma a parar a incubação do mesmo.
Até já Portugal!!! 02-03-2019, Ilha Antártica de King George, Base Chinesa de Great Wall Hoje inicia-se a nossa viagem de regresso a Portugal e, vamos ter 2 dias em Punta Arenas (Chile), onde é sempre aconselhado marcar uns dias, pois os voos da Antártida têm sempre grandes condicionantes e nunca é certo que efetivamente se possa voar no dia em que está previsto. Após a estadia em Punta Arenas, só vamos estar de passagem noutras cidades como Santiago (Chile), Londres (Inglaterra) e Lisboa (Portugal) até chegar ao nosso destino final – Faro (Portugal). Até já Portugal e esperemos que também seja um até já Antártida !!! Desmontagem e Inventário 27-02-2019, Ilha Antártica de King George, Base Chinesa de Great Wall Já conseguimos terminar todas as experiências e agora é o processo de desmontagem do sistema no contentor, arrumar todo o material nele existente, bem como o material e equipamento presente no laboratório. Para todo o material e equipamento tem de se fazer o inventário para sabermos o que cá vai ficar para anos posteriores e o que vai ser transportado para Portugal. Costuma-se dizer que desmontar é sempre mais fácil que montar mas, não sei se concordo, pois todo este processo é moroso e bastante minucioso. O material que esteve no contentor, tem de ser todo lavado em água doce para se poder guardar e aqui o acesso a água doce é condicionado. Então, a tarefa não é fácil, principalmente quando o cansaço já se começa a manifestar!! Mas, o dever de objetivos cumpridos é bastante satisfatório e compensatório!!! Ensaios laboratoriais24-02-2019, Ilha Antártica de King George, Base Chinesa de Great Wall Os dias têm sido bastantes extensos e cansativos, após as amostragens do principal plano experimental, também decidimos fazer umas pequenas experiências que complementam o que foi feito anteriormente. Então os dias têm sido passados entre imensas amostragens, ensaios laboratoriais de amostras de plasma e filtração de água. Os nossos dias começam por volta das 5h da manhã e terminam à meia-noite, quando não é mais tarde. 34th Anniversary – CHINARE20-02-2019, Ilha Antártica de King George, Base Chinesa de Great Wall O dia de hoje foi de comemoração, pois a base faz 34 anos de expedições antárticas. Algumas pessoas representantes das bases de outros países também foram convidados e representaram o Chile, Uruguai, Argentina, Coreia do Sul, Rússia, República Checa e Portugal. Esta comemoração começou com uma breve história das expedições antárticas chinesas bem como da própria base – Great Wall, feito pela chefe responsável. De seguida, o embaixador chinês no Chile também discursou e depois o hino foi tocado enquanto içavam a bandeira chinesa. E assim se passou o dia, com muita variedade de comida e muita gente de diferentes nacionalidades!! |
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