Pedro Almeida, 07 FEV 2019, Ushuaia, Argentina Há algumas imagens que merecem ser recordadas, tais como o aviso no ponto de gravimetria absoluta em Ushuaia, Argentina, seria interessante ter aviso igual em Portugal :D. Depois, já com o "bébé" (leia-se, gravímetro) bem protegido para atravessar o mar de Hoces, mais conhecido como a passagem de Drake, iniciámos a travessia. Passados alguns dias de navegação e aventuras logísticas, com paragens, entre as quais nas ilhas Livingston e Deception, chegámos ao destino do projeto LATA : Baía Cierva que, segundo a estória transmitida mais tarde pelo colega Cláudio Matko, do Instituto Antártico Argentino, foi denominada por engano de Primavera por um comandante argentino, ou o seu navegador, pensarem ter chegado a Spring Point, localizado à entrada da Baía Brialmont, um pouco mais a Sul da Baía Cierva. O equipamento foi desembarcado, com todo o cuidado possível, e lá seguimos, no meio de um mar de gelo, acompanhados pelo comandante do Hespérides. Mas tudo chegou em perfeitas condições. Nevava bastante na baía Cierva. Após as apresentações iniciais foi possível iniciar os trabalhos. O Claudio estava já a postos e foi, na verdade, uma preciosa ajuda e excelente companheiro de trabalho. Bem hajas pelo mate! Começámos por ter uma surpresa desagradável: o receptor GNSS permanente, instalado em Primavera em Fevereiro de 2016, apesar de se ter mantido operacional durante todo o inverno antártico, teve problemas de corrupção de memória e todos os dados foram perdidos. Ultrapassando a primeira desilusão e após se ter conseguido reiniciar a memória e a operação do equipamento, seguiu-se a segunda fase: instalar o gravímetro num local seguro, protegido das escuas (em espanhol, ou skuas, em inglês, ou moleiros, em português, que são aves marinhas) e dos pinguins... Instalou-se o gravímetro sobre um maciço rochoso sobre-elevado, protegido pelo laboratório. E por aí passou toda a sua temporada de medições antárticas. Seria neste ponto que deveríamos escolher uma maré baixa para fazer a instalação do sensor de maré mas tivemos de aguardar pois, a mala do Cláudio, onde estava a protecção anti-gelos, focas, pinguins, lobos marinhos, escuas, etc... havia ficado perdida num dos vôos e esperava-se que chegasse no dia seguinte, num navio que deveria transportar também a equipa de investigadores argentinos, onde se contavam dois velhos conhecidos da campanha de 2015-16, o Pablo (geólogo) e o Lucas (biólogo). Assim prosseguimos para a fase seguinte do plano: efectuar um nivelamento geométrico entre os pontos onde se encontram os equipamentos, sempre se avançava o trabalho. Os trabalhos de nivelamento geométrico foram atentamente seguidos pela escua mais famosa da base, o Bartólo, e por alguns pinguins. Contou com alguns troços complicados, como o de acesso à pequena baía que serve de zona de desembarque. Os resultados deste trabalho foram animadores ... e ficámos ainda mais animados com as notícias ao fim do dia, pelo rádio... no dia seguinte chegaria o navio e a mala do Claúdio com a proteção do sensor. Depois da descarga do material e mais um momento de saudações e apresentações com a chegada de novos membros, deitamos mãos à obra para preparar o equipamento a ser instalado na primeira maré baixa que permitisse um nivelamento ao ponto que já tínhamos cotado na praia. Fazer um nivelamento subaquático não é tão fácil como parece, mas lá se conseguiu, com algumas quedas na água fresquinha, a rondar os -1ºC. Tendo todos os sensores no local, e a registar, passámos às seguintes fases da missão, dar uma mão ao projeto Permantar. Aproveitamos um dia de sol e fomos até à estação meteorológica recolher dados e verificar o estado dos sensores de solo e perfurações. Regressámos à base, acompanhados na nossa caminhada pelos simpáticos e curiosos vizinhos pinguins. À chegada, o nosso cozinheiro, Marcelo, tem sempre algo à espera de quem anda lá fora ao frio. Entretanto também foi colocado em funcionamento a estação meteorológica anexada ao receptor GNSS e que ficou testada ainda antes de partirmos. Havia uma outra missão a executar: a entrega dos agradecimentos à Base Primavera e ao Programa Polar Argentino (DNA e IAA), pelo seu apoio aos projectos portugueses - um painel de parede, em cortiça portuguesa, com a frase "To the Argentine Research Station Primavera in appreciation of continued support and partnership". Chegava ao fim a estadia na Base Primavera, que tem sempre boas imagens. Com a chegada do navio de investigação espanhol Hespérides, dizemos adeus à base Primavera e a Caleta Cierva (denominação em espanhol). No regresso, houve oportunidade para uma curta visita à Base Chilena Professor Júlio Escudero, na Ilha Antártica de King George, para participar na cerimónia comemorativa do seu 24º aniversário, celebrada no dia 1 de Fevereiro de 2019, com direito a visita ministerial espanhola. Seguimos em direção ao aeródromo de Frei (nome oficial, Teniente Rodolfo Marsh Martin), para embarcar num "pinguim voador" (aeronave BAE 146 pintada com as cores de um Pinguim-macaroni). Com aproximadamente 2 horas de voo, terminámos a missão em Punta Arenas, onde por fim, o gravímetro acusou o cansaço da viagem.
1 Comentário
Pedro Almeida, 19 JAN 2019, Ushuaia, Argentina O projecto LATA já chegou a Ushuaia, após as peripécias do costume quando se transporta um gravímetro como bagagem de mão e se resolve carregar o dito no meio do chão no aeroporto de Buenos Aires a altas horas da madrugada... Enfim, a polícia e os outros passageiros vão passando e o gravímetro vai aquecendo. O LATA este ano começou os trabalhos em Ushuaia e que com a ajuda do Gustavo Lezcano (o antártico) do governo fueguino, antártica argentina e das ilhas do atlântico sul que nos acompanhou aos locais de medição dos valores de gravidade absoluta no CADIC e no porto de Ushuaia. Como o projecto PERMANTAR ainda não começou as medições, o Mohammad teve o azar de acompanhar as do LATA, pelo que lhe calhou também ter de carregar com o gravímetro, o Scintrex CG3M. Depois de nos termos tornado na equipa mais famosa do porto de Ushuaia, devido ao constante entra e sai para efectuarmos medições, vamos agora deixar repousar o equipamento até à base Primavera. No entanto o trabalho não abranda, dando uma mãozinha à logística a bordo do BIO Hespérides com o material de diversos projectos PROPOLAR e conseguindo mesmo uma audiência protocolar com o comandante para apresentarmos o apreço pelo apoio da Armada Espanhola às missões portuguesas, em particular pelo seu navio de investigação oceanográfica (BIO) Hespérides. E pela noite, quando o vento acalmou, lá seguimos pelo canal afora até ao vasto oceano, onde nos esperam as ondas.... |
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