Lígia Coelho, Kuujjuarapik 2019.Mar O que me levou a Kuujjuarapik foi a recolha de amostras para o desenvolvimento da minha tese em astrobiologia. O tema concreto da minha tese é: Análise astrobiologica de biomas gelados como proxy para vida extraterrestre em luas geladas. Este tema está a ser desenvolvido sob orientação de João Canário, Zita Martins e Rodrigo Costa. Os ambientes árticos são análogos terrestres de algumas luas de Júpiter e Saturno, como por exemplo as luas Europa e Enceladus. Uma forma de preparar as futuras missões espaciais a estas luas é a recolha de bioassinaturas em ambientes análogos que nos indiquem quais os sinais químicos e biológicos que a vida, tal como a conhecemos, deixa nestes ecossistemas. Trabalho de campoForam cinco dias de trabalho de campo para recolher cores de gelo e água marinha em diferentes localizações pela Baía de Hudson. Em dois dos cinco dias o mau tempo não permitiu recolha de amostras. Num dos dias a temperatura com vento rondava os -41ºC. Nos últimos três dias, viajamos por três localizações diferentes na Baía de Hudson, ficando o ponto mais longe a 12 Km da base. Em cada um dos pontos de recolha, o trabalho recomeçava sempre da mesma maneira: cavar a neve (que chegou a ter 50 cm de altura), fazer um furo no gelo que permitisse a recolha de água, montar a tenda para proteger o furo do frio e da neve do exterior. Após este set-up, a equipa dividia-se entre perfurar o gelo para recolher cores e utilizar a garrafa kemmerer para recolher água. Apesar do frio, todas as recolhas foram feitas com a boa disposição e muitas gargalhadas de uma equipa que, apesar de se ter acabado de conhecer, já trabalhava muito bem em conjunto. Trabalho de laboratórioDepois do trabalho de campo, as amostra devem ser processadas em laboratório o mais rapidamente possível. Isto pode significar muitas horas de trabalho durante a noite. Os cores de gelo devem ser descontaminados da neve e do toque das luvas de trabalho de campo. Depois devem ser serrados e armazenados. Enquanto isso acontece a água marinha deve ser filtrada em parte para análises de metagenómica. Uma outra parte deverá ser aliquotada em separado e fixada, para posterior contagem de microorganismos. E o que restar deverá ser armazenado em frascos para análise geoquímica e espectroscopia.
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Martin Jusek, Kuujjuarapik 2019.Mar Último dia no Norte envolve muita arrumação, mas também é altura de fazer um balanço ao trabalho feito e de planear os próximos passos do projeto. Obtivemos todas as amostras que queríamos, conseguimos usar os métodos pensados anteriormente de forma a evitar ao máximo contaminações e manter as amostras o mais idêntico possível ás condições normais do lago que encontrámos.
O caminho segue agora para Peterborough, para a Trent University, onde as taxas de metilação de mercúrio e demetilação de metilmercúrio vão ser medidas para as diferentes incubações. Depois seguem as análises químicas no Instituto Superior Técnico em Lisboa. Esperamos deste projeto poder perceber os fatores que parecem influenciar os processos de metilação de mercúrio e demetilação de metilmercúrio destes sistemas aquáticos. Tivemos a sorte de poder observar uma aurora boreal em duas noites, parece ser um bom presságio para o que falta do projeto! Martin Jusek, Kuujjuarapik 2019.Mar Em Kuujjuarapik o dia começa cedo com o ritual de vestir todas as camadas de roupa e a preparação das motas de neve e do equipamento que queremos levar para o campo. Quando tudo está pronto, Simon o nosso guia Cree, guia-nos para os locais de recolha de amostras que vamos trabalhar nesse dia. Os nossos locais de recolha são pequenos lagos formados pela degradação do permafrost com propriedades químicas relevantes entre as quais a quantidade de contaminantes tóxicos como o mercúrio e o metilmercúrio que queremos analisar.
Ao chegar tentamos ser o mais rápidos e eficientes possível a encontrar o lago que queremos analisar, já que podemos ter condições climatéricas adversas (no pior dia tivemos uma sensação térmica de -43˚C). Nem sempre é fácil fazê-lo tendo em conta que tudo se encontra com uma camada de até 1,5 m de neve e gelo de até 60 cm, que o GPS por vezes não é tão preciso como seria desejado… Este processo envolve muito trabalho de braço a retirar a neve até chegar ao gelo, que depois é perfurado com uma broca de gelo. Uma vez encontrado o lago, monta-se uma tenda com um pequeno aquecedor a gás e todo o material necessário para a recolha de amostras. Este aquecedor é fulcral, já que impede que a água para as amostras (e os cientistas) congelem e que isso impeça a recolha de amostras. Começa-se por medir os parâmetros físico-químicos com uma sonda multiparamétrica, como a temperatura, pH, salinidade… dos dois ou três níveis que queremos amostrar (dependendo da profundidade do lago). Em seguida retiramos amostras, com uma bomba peristáltica, dessas profundidades e imediatamente juntamos os químicos às amostras para começar o período de incubação das mesmas. Retiradas as amostras de água, passa-se para o sedimento que é retirado com um cilindro metálico de onde retiramos uma amostra fiel à coluna horizontal do lago. Daqui retiramos uma amostra do sedimento orgânico (parte superior) e da lama (parte inferior) para análise posterior. As amostras são guardadas dentro de uma arca térmica e trazidas o mais rapidamente possível para o centro de investigação de modo a evitar que estas congelem e assim alterem as suas propriedades químicas e microbiológicas. O regresso é igualmente feito em mota de neve e após descarregar todo o equipamento começa o trabalho de laboratório. João Canário, Ligia Alves e Martin Jusek, Lisboa, 2019.FEv.07 A duas semanas da partida para o Ártico o projeto PERMAMEC já mexe. Todos os envolvidos já começaram a preparar o material para a campanha de amostragem incluindo a sua lavagem, descontaminação e acondicionamento na arca que o irá transportar.
Deste projeto que tem como objetivo o estudo da dinâmica do mercúrio em lagos de termocarso faz parte uma grande equipa que inclui ecologistas, químicos e ambientais e microbiólogos de Portugal e Canadá. Participará também o estudante de mestrado do IST Martin Jusek. Nesta campanha irão ser realizas igualmente análises biogeoquímicas e microbiológicas em cores de gelo com vista ao doutoramento em Astrobiologia da aluna Ligia Coelho. Nestas duas semanas várias reuniões estão programadas para que nada falte pois disso depende o sucesso do projeto. |
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