Pedro Freitas, 30 Agosto 2019, Umiujaq, no sub-Ártico Canadiano A chegada à estação de Umiujaq do Centro de Estudos Nórdicos foi seguida pela primeira ida a BGR, logo depois do almoço e da organização do equipamento científico necessário para a ida para o campo. Depois da minha tese de mestrado, esta seria a oportunidade de regressar a BGR, uma área de monitorização da Universidade de Laval caracterizada pela presença de lagoas termocársicas de cores variadíssimas, do bege ao castanho escuro, passando pelo esverdeado, e onde os fenómenos de arbustização têm sido bastante intensos com o crescimento e expansão de comunidades predominantemente arbustivas. Desta vez, a visita já se fez no quadro do meu doutoramento e com uma sonda multiparamétrica prontinha a estrear. A localização remota de BGR (56°36'52.3"N 76°17'19.2"W) faz com que seja necessária a utilização de um helicóptero para deslocação; helicóptero esse que nos seria garantido (felizmente) durante os próximos três dias (fig. 1). No primeiro dia, realizámos voos com um drone eBee Plus RTK sobre a área de estudo, considerando uma área semelhante à de 2017, e utilizando-se uma câmara multiespectral (Sequoia) com quatro bandas: verde, vermelho, limite do vermelho e infravermelho próximo. Procedeu-se ainda à montagem da base GNSS para aquisição de dados em tempo real, por forma a corrigir-se em pós-processamento o posicionamento das fotografias aéreas realizadas (fig. 2). O primeiro dia ditou ainda a estreia da sonda multiparamétrica para a amostragem das propriedades biogeoquímicas das lagoas termocársicas, entre as quais, a temperatura, o pH, os sólidos suspensos totais, a salinidade, a condutividade, o oxigénio dissolvido, a matéria orgânica dissolvida (CDOM) e a clorofila (fig. 3). Algumas destas variáveis influenciam as propriedades óticas das lagoas e, como tal, podem ser estimadas usando imagens multiespectrais de sensores instalados em drones e satélites. Esta abordagem permitirá o estudo da representatividade e variabilidade espacial destas lagoas em grandes transectos regionais e em diferentes zonas de permafrost, potencialmente melhorando a compreensão da importância das mesmas para o ciclo do carbono. No primeiro dia, testámos a sonda multiparamétrica mergulhando-a próximo da margem das lagoas e a pouca profundidade. Este método não é aconselhável uma vez que poderá haver influência dos sedimentos, vegetação e fitoplâncton que entram em suspensão e que resultam em leituras que não são representativas da água no centro da lagoa. Para evitar esse problema, nos restantes dias procedemos à utilização de um barco insuflável para a amostragem com a sonda no centro das lagoas (fig. 4). No segundo dia, procedemos, primeiramente, à realização de voos com o drone, desta vez utilizando-se uma câmara ótica. Finalizados os voos, procedeu-se ao levantamento de dados com a sonda multiparamétrica. Durante esse dia ficámos cientes de algumas dificuldades práticas para as medições, em particular, o facto do vento dificultar de sobremaneira a estabilização do barco no centro da lagoa aquando da realização das leituras com a sonda. Este aspeto fez-nos procurar e adotar uma forma mais eficiente para a estabilização do barco, que aplicámos no dia seguinte. No terceiro e último dia em BGR, procedemos apenas à caracterização da água das lagoas, aterrando o helicóptero estrategicamente num sítio próximo de lagoas com diferentes cores. Por forma a estabilizar-se o barco no centro da lagoa, utilizou-se uma corda esticada entre dois investigadores, situados em margens opostas, sendo atada ao barco, estabilizando-o facilmente. Antes da gravação dos dados, é necessário que as leituras estabilizem, pelo que é essencial que o barco se encontre parado. As leituras foram realizadas a cada 50 cm de profundidade, tendo a profundidade total, sido medida, antes de cada amostragem (fig. 5).
A chuva e o vento no turno da levaram a que tenhamos sido forçados a terminar o trabalho mais cedo. Simultaneamente ficou garantida a viagem de helicóptero mais radical de sempre (fig. 6). O denso nevoeiro tornou necessária uma viagem perto do solo, com muitas subidas e descidas, bem como curvas mais ou menos fechadas. Fantástico!
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Carla Mora, 29 Agosto 2019, Umiujaq, no Sub-Ártico canadiano No dia 26 de agosto, partimos em direção a Umiujaq, no Sub-Ártico canadiano, para estudar a vegetação e as lagoas resultantes da fusão do permafrost, que pontuam a região com águas de inúmeras cores. Por que razão? Quais as suas características físico-químicas? Será o sedimento em suspensão? Diferenças nas comunidades fitoplanctónicas? Qual a representatividade espacial das lagoas de diferentes cores? Estas são algumas das questões que vamos tentar responder com base nos dados de campo recolhidos até 2 de setembro. À chegada ao aeroporto de Umiujaq, que é um pequeno edifício de madeira, fomos rodeados por vários habitantes da aldeia que se foram despedir de familiares que partiram para norte no avião em que chegámos. Muito simpáticos e sorridentes, quiseram saber quem éramos e, ficaram muito impressionados por seremos portugueses. Também nós ficamos impressionados com a simpatia e com os fatos tradicionais Inuíte, em particular dos das mães que levavam os filhos às costas. Quiseram, com muita curiosidade, saber quem éramos e por que razão ali estávamos. Depois de satisfeita a curiosidade mútua, saímos do aeroporto e tínhamos a carrinha do Centro de Estudos Nórdicos (CEN) estacionada à porta à nossa espera. A viagem foi curta, e tivemos a sorte de ser prontamente guiados por uma muito simpática inuíte que se voluntariou para dar uma volta pela aldeia connosco. Ficámos assim a saber onde podíamos comprar comida, onde era o centro de saúde, a câmara municipal, etc… Muitas vezes nos voltámos a cruzar com a simpática Lucy ao longo da nossa estadia e nunca iremos esquecer a sua amabilidade.
Na estação do CEN fomos recebidos pelos investigadores Alexander Matveev e Marie-Amélie Blais e, depois de restabelecidas as energias, partimos na mesma tarde para o campo, pois tínhamos o helicóptero disponível para nos levar para a área de BGR onde realizámos os primeiros levantamentos multiespectrais com o drone. |
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