Pedro M Guerreiro, 07-01-2018, KGI ![]() Os peixes antárticos vêm em muitas formas! Mas 90% só existem nas águas a sul da convergência antártica. Cerca de 25 milhões de anos de evolução neste ambiente frio e estável selecionaram um conjunto de características únicas. Mas essas características que os faz adaptados a este ambiente podem ser as que os impedem de se ajustar às alterações previstas para os próximos 100 anos. É nessa premissa que trabalham muitos dos investigadores e se assim for é necessário conhecê-los o quanto antes. Tal como os tentilhões das Galápagos, os peixes antarticos, e mais especificamente os nototenídeos, sofreram uma radiação adaptativa que os levou a ocupar muitos nichos. De um ancestral comum existem agora cerca de 200 espécies, desde o Antartic silverfish, pelágico e do tamanho de um biqueirão ao tootfish, de grandes profundidades e dois metros de comprimento. Aqui em KGI estudamos principalmente Notohenia rossii e N.coriiceps, mas este ano queremos também avaliar as respostas de Harpagifer antarticus, um peixe que vive no subtidal e que só conseguimos capturar na maré vazia – fazê-mo-lo com os colegas da UACh. A técnica é simples, mas demorada, cansativa e desconfortável. Consiste em procurar os peixes debaixo dos seixos maiores, entre 10 e 40cm de profundidade. Removemos as pedras e observamos. Estão lá, mas conseguir vê-los é outra história. Estes pequenos peixes – os adultos não ultrapassam os 15cm – são mestres da camuflagem, e conseguir distingui-los através da superfície da água é como olhar para uma daquelas imagens… estereogramas? Depois, quando finalmente os vemos, apanhamo-los com as mãos, pois têm relutância em mover-se. Ao fim de umas três horas que conseguimos, para além de uma dor de costas, mão geladas e água nas botas? Cerca de 30 espécimes, incluindo alguns juvenis de Notothenia sp., que serão agora mantidos em caixas cobertas de gelo, para manter a temperatura perto dos seus 2 graus ambientais, e alimentados com anfípodes, até serem utilizados nos ensaios experimentais. Nos próximos dias mais do mesmo pois há que aproveitar estas marés baixas… outras como estas só lá para o fim de Janeiro. Acabo por jantar por Escudero, aceitando a hospitalidade chilena. Da janela do refeitório vêem-se os restos queimados do edifício da capitania de Fildes, gerida pela Marinha do Chile, e que ardeu durante o inverno, rodeada de gelo e neve, sob ventos fortes. Felizmente sem fatalidades, mas entre estruturas e viaturas nada se salvou, à exceção de dois botes. Não alastrou aos restantes edifícios, mas deixou danificada a estação de tratamento de águas, e agora os banhos estão racionados em Escudero…
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