Afonso Ferreira, Oceano Antártico Já estamos a meio caminho e, no “Laboratório do ROV”, como é oficialmente denominado o pequeno laboratório situado em frente ao hangar, é onde nós, a equipa do fitoplâncton, trabalhamos. Este ano, a equipa do “fito” é formada por quatro elementos, dois de nacionalidade portuguesa e dois de nacionalidade brasileira: o Rafael, o Raul e o Pedro da Universidade Federal do Rio Grande (FURG) e eu (Afonso) do MARE-ULisboa. O Rafael, o outro elemento português, é professor na FURG e é já um veterano em vindas à Antártida, tendo embarcado cerca de quinze vezes em águas antárticas. Para além disso, é o coordenador científico embarcado, encontrando-se ao leme de uma equipa com mais de 20 investigadores. O Pedro e o Raul são alunos de graduação na FURG, ambos orientados pelo Rafael, procurando dar os primeiros passos no mundo da ciência. O nosso trabalho foca-se no estudo das comunidades de fitoplâncton. Por um lado, são recolhidas amostras para a determinação e quantificação de pigmentos a várias profundidades ao longo da coluna de água. Os pigmentos não só permitem caracterizar o estado das comunidades de fitoplâncton, como possibilitam, através da quimiotaxonomia, a identificação dos principais grupos de fitoplâncton. Esta identificação será validada através da recolha, em simultâneo, de amostras de espécies de fitoplâncton (posteriormente analisadas ao microscópio). Por outro lado, estamos também a recolher amostras para identificação e contagens de cocolitóforos (nanofitoplâncton calcário). Os cocolitóforos são organismos-chave para o ciclo do carbono, sendo um dos principais exportadores de carbono atmosférico do oceano. Embora sejam um grupo típico de águas mais quentes (a baixas latitudes), tem-se vindo a verificar uma expansão, associada ao aquecimento dos oceanos, da sua distribuição em direção às altas latitudes. Assim, será avaliado o potencial dos cocolitóforos como proxies para a expansão de massas de águas mais quentes e pobres em nutrientes provenientes do Atlântico Sul. Todo este trabalho in-situ realizado a bordo do Almirante Maximiano e subsequentes análises serão depois utilizados para complementar e validar bases de dados de satélite para a Península Antártica Norte, procurando dar resposta ao objetivo do FACT: entender a relação entre a dinâmica do fitoplâncton e a variabilidade climática nesta região. Mas isso é trabalho reservado para o regresso a terra. Até lá, temos ainda muitas milhas náuticas por percorrer e muitas estações por amostrar. We’re already halfway into our journey and in the ‘ROV Laboratory’, as the small lab facing the hangar is called, we, the phytoplankton team are working day and night. This year, the ‘phyto’ team is made up of four members, two from Brazil and two from Portugal: Rafael, Raul and Pedro, from the Federal University of Rio Grande (FURG) and I (Afonso), from MARE-ULisboa (University of Lisbon). Rafael, the other Portuguese among this group, is a professor at FURG and is already a veteran in terms of Antarctic expeditions. Furthermore, he is the chief scientist, leading a multidisciplinary team comprising of over twenty researchers. Pedro and Raul are graduation students at FURG, both under Rafael’s supervision, taking their first steps in science.
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20/02/2020 Na última semana, o trabalho levou-nos a acampar na península de Byers, Ilha de Livingston, na companhia dos investigadores portugueses do projecto Lichen Early Meter 2 (Paula Matos e Bernardo Rocha). Por ser uma área protegida, esta zona não possui uma base, mas sim um refúgio ao pé do qual se montou o acampamento. As condições de vida nos 5 dias que lá ficamos foram mais exigentes, embora pudéssemos usufruir de alguns confortos no módulo cozinha/sala de estar.
Apesar dos muitos kilómetros, terreno díficil, 5 dias sem banho, e exposição a condições meteorológicas adversas, o trabalho previamente planeado foi integralmente cumprido e ainda conseguimos voar zonas adicionais. Foi, portanto, um sucesso! Vasco Miranda e Gabriel Goyanes, Ilha Livingston, 10 Fevereiro 2020 Muito se tem falado do máximo histórico de temperatura registada na Antártida. Na base de Esperanza os termómetros chegaram aos 18.3º C (dados do Serviço Meteorológico Nacional Argentino)! Por aqui, na base espanhola Juan Carlos I, não fomos agraciados por tão agradável temperatura e no entanto, não ficámos muito atrás. Uns sólidos 12º C foram registados e remeteram para a gaveta do quarto a roupa térmica e casacos que já nos havíamos habituado a usar no dia a dia Antárctico. A temperatura, o céu limpo e a ausência de vento, contribuíram para um dia perfeito de trabalho. Do topo do monte Reina Sofia a visibilidade era tal que era possível ver a Ilha de Deception e a ilha de Smith.
Noutros anos, o frio e vento criavam alguns constrangimentos operacionais que não nos afligem este ano. A técnologia não gosta do frio excessivo e por isso, quando no ano passado se ia para o campo, as baterias do drone eram aquecidas junto ao corpo (nos bolsos do casaco) até à sua utilização, o telemóvel (onde se planificam os voos) era envolto numa toalha para não arrefecer em demasia e por vezes nem estes cuidados evitavam o ocasional “problema técnico”. Enfim, as circunstâncias actuais tornam o trabalho mais fácil, mas trazem associadas preocupações referentes às alterações climáticas que se têm verificado com mais intensidade nos pólos. Afonso Ferreira, Punta Arenas - Chile Passado um ano, eis-nos de volta a bordo do Navio Polar Almirante Maximiano, rumo à Antártida. O ‘Tio Max’, como é carinhosamente apelidado pela Marinha do Brasil, vai já na sua 11ª Operação Antártica (38ª no total da história do Programa Antártico Brasileiro). E nós, procurando dar seguimento ao trabalho feito em janeiro de 2019, estamos aqui outra vez, agora no âmbito do FACT – Relação entre a dinâmica de fitoplâncton e a variabilidade climática no setor NO da Antártida. A verdade é que, à primeira vista, pouco mudou. O navio continua a atravessar o Drake imponentemente, os sotaques e ritmos brasileiros continuam a ecoar pelos seus corredores e o feijão preto e o arroz continuam a pautar a nossa alimentação. Embora os projetos de investigação que lideram esta expedição – EcoPelagos e PROVOCCAR, ambos do Grupo de Oceanografia de Altas Latitudes (GOAL), sediado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul – sejam novos, metade da equipa de investigadores a bordo partilhou connosco as aventuras do PHYTONAP, em 2019 (ver posts referentes ao PHYTONAP no blog das campanhas de 2018/19 do PROPOLAR: http://www.propolar.org/diario-de-campanha-2018-19/category/phyto-nap). No entanto, algo muito importante alterou-se: o plano da campanha. No ano transato, as amostragens focaram-se em quatro regiões ao longo do sector norte da Península Antártica: os Estreitos de Bransfield e Gerlache e os mares de Weddell e Bellingshausen. Este ano, o plano estende-se para além da Península Antártica, até ao arquipélago das Ilhas Órcades do Sul. Este arquipélago é considerado um hotspot de biodiversidade, sendo igualmente um local de elevada produtividade primária. Para além disto, a região entre a Península Antártica e as Órcades do Sul é um local importante de exportação de massas de água de fundo do Mar de Weddell, contribuindo para a circulação termohalina global. Entre dia 9 de fevereiro e 9 de março, serão realizadas mais de 50 estações de amostragens em águas antárticas, procurando analisar as componentes biológica, química e física da coluna de água. Desde as comunidades fitoplanctónicas a cetáceos, passando pelos macronutrientes e tipos de massas de água existentes na região, o ecossistema antártico será estudado como um todo. After a long year, we find ourselves again onboard the research vessel ‘Navio Polar Almirante Maximiano’, heading straight to Antarctica. ‘Tio Max’ (‘Uncle Max’ in Portuguese), as the ship is fondly called by its crew, is already on its 11th Antarctic expedition (38th in total of the Brazilian Antarctic Programme). Our goal? Follow up on the work we performed in January 2019, now under the FACT - Links between phytoplankton dynamics and climate Forcing in NW AntarCTica project. Joana Baptista, Ilha de King George, 5 Fevereiro 2020 O dia começou com céu azul, sol e uma temperatura que nos permitia roupas mais leves para a visita programada à Baía Collins onde iríamos ver o abrigo construído pelo projeto Polar Lodge. Equipados, fomos até à praia receber os raios de sol da manhã enquanto esperávamos por Isabel, a embarcação de transporte disponibilizada pelo INACH para a ligação. Após retirada dos blocos de gelo flutuante (brash) que se encontravam junto ao cais coreano com a ligeireza da maquinaria pesada e a perícia do manobrador, iniciámos a nossa viagem. Da Península de Barton até à praia na Baía Collins, demorámos 15 a 20 minutos, numa viagem sobre um espelho de água azul com os reflexos das arribas projetados. Digo 15 minutos, de forma generosa, porque a viagem pareceu um instante. Na chegada à praia, saltaram imediatamente à vista os dois pequenos módulos localizados numa pequena elevação abrigada do mar. Um, em tudo semelhante aos pequenos edifícios na Villa de las Estrellas. E, outro com uma forma circular, coberto por tecido preto, mais difícil de associar a qualquer estrutura que tenhamos visto nas redondezas. Ali estava o abrigo do projeto português Polar Lodge. Entusiasmados e curiosos com a estrutura, tivemos oportunidade de visitar o seu interior e permanecer para uma explicação dada por Manuel Guedes e Susan Roaf. A primeira impressão é referente à temperatura atingida no interior do abrigo, passível de uma permanência confortável. A segunda, diz respeito à disposição que nos transporta para uma tenda mongol, onde os tapetes dispostos no chão combinam mosaicos de diferentes geometrias. No entanto, esta não é uma tenda de cores animadas e tapeçarias multicolores. Para isso, há que observar a paisagem. Feita a visita para observação da infraestrutura e experimentado o seu ambiente, fomos convidados para um almoço na Base Chilena Prof. Julio Escudero na Península Fildes.
Entre garfadas no arroz com ervilhas e carne, foi sendo debatida a hipótese de visitar outra equipa portuguesa estabelecida na Ilha Nelson. Dependentes das condições meteorológicas, definimos uma visita breve, a realizar pouco tempo após o término do almoço. Embarcados novamente na senhora dos mares, Isabel, partimos, desta vez, para um mar menos azul e mais agitado por força do vento, que salpicava as nossas pequenas áreas de pele exposta. Após troca de embarcação para desembarque em menores profundidades, chegámos a uma pequena praia, onde se distribuíam pequenas estruturas de madeira de aparência gasta pelo tempo e várias tendas de cores garridas, espaço de pernoita dos habitantes quase ermitas da ilha. Reencontrados com Paula Matos, Bernardo Rocha e a equipa checa, fomos levados numa visita pelo local, de história sui generis, acompanhados por um pequeno brinde feito num único copo de uma substância dita caseira. Divididas as nacionalidades, fomos num passeio entre trilhos inexistentes ver aquela que é a praia mais bonita para os habitantes temporários da ilha. Feito o acompanhamento dos trabalhos de campo, regressamos à Base King Sejong Station para a preparação de mais um dia na campanha PERMANTAR. Vasco Miranda e Gabriel Goyanes, Ilha Livingston, 3 Fevereiro 2020 O trabalho de campo com drones está muito dependente das condições meteorológicas. O vento e a chuva impossibilitaram, por isso, a aquisição de imagens no primeiro dia. No entanto, o dia foi longe de ser um dia perdido. Uma boa prática quando se pretende obter dados no terreno é saber onde os ir buscar e para tal a melhor maneira é fazer um reconhecimento do terreno. O objectivo era chegar a um ponto com boa visibilidade e, por isso, o destino foi o monte Reina Sofia. No tempo restante, aproveitamos para trabalhar no laboratório a fim de se testar o equipamento electrónico e fazer a sua preparação para o trabalho que viria, assim que o tempo nos deixasse.
Pedro Quinteiro, Ilha King George O projeto está a avançar a bom ritmo. Já entrevistámos investigadores e logísticos de programas uruguaios, chilenos, espanhóis e búlgaros. A expetativa é visitar outras bases e entrevistar outras nacionalidades. Temos caminhado muito entre bases, algumas vezes com muita lama e chuva, mas o frio vai-se embora rapidamente com o acolhimento caloroso que temos tido nas bases que visitamos. Hoje por exemplo falámos com um alpinista que subiu o Evereste duas vezes! A expectativa para os próximos dias é continuar a recolher mais relatos incríveis de trabalho em equipa e liderança.”
Vasco Miranda e Gabriel Goyanes, Ilha Livingston, 1 Fevereiro 2020 Chegamos! Com a meteorologia do nosso lado, embarcamos em Punta Arenas no avião que nos levaria para a Antárctica. Na ilha Rei Jorge, a embarcação espanhola Hespérides esperava para nos transportar até à ilha de Livingston. Assim, somavam-se dez horas de viagem às já cerca de três feitas até então.
O transito até ao destino desta etapa (base Juan Carlos I, península de Hurd) foi tranquilo e deu para explorar o navio, tendo direito a um jantar a bordo. O desembarque e recepção na base começaram por volta das 2.00h e às 4.00h já nos encontrávamos alojados e prontos para dormir o tempo que nos restava até ao início do dia seguinte. Pois bem, a viagem foi longa mas chegou a bom porto. A base Juan Carlos I será a nossa casa durante as próximas semanas. Neste tempo correremos a península com um DGPS e 3 drones. Há muito que andar, muitos kilos para transportar, muito trabalho a fazer, mas penso que estaremos à altura! Joana Baptista, Ilha de King George, 1 Fevereiro 2020 Motivados pelos resultados obtidos da perfuração, hoje preparámo-nos para a caça ao tesouro. Não somos exploradores de epopeias enviados por grandes impérios. Somos os otimistas que um ano antes instalaram 20 sensores enterrados no solo e totalmente invisíveis, para registarem temperaturas em áreas onde pistas ao estilo Steven Spielberg em Indiana Jones, são inexistentes. Para nós, estavam disponíveis coordenadas aproximadas GPS e pequenas mariolas edificadas aquando da instalação, mas sem a certeza de que iriam resistir aos ventos e à neve do inverno. Não discutimos a eficiência de cada método, até porque, não seria interessante ter uma rocha com qualquer forma animalesca a indicar a localização?
Os sensores foram instalados na península de Barton de acordo com diferentes fatores geográficos de que são exemplo a altitude, exposição e topografia, para melhor identificarmos a influência destes nos regimes térmicos do solo. Enterrados a 2 cm abaixo da superfície distribuíam-se por uma área de aproximadamente 1 km2. Com percurso de busca definido nos headquarters, saímos na expectativa de conseguir encontrar cada placa enterrada. Aqui reconheço que a experiência e idade de uns promovessem uma maior tranquilidade e positivismo face ao receio de outros. Ao fim de percorrer os 13 pontos estipulados no percurso, caminhávamos com 13 placas adicionais nas nossas mochilas. Cada uma com a feição do tipo de superfície onde tinha sido instalada, mas bem conservadas e, no essencial, sem indícios preocupantes de ferrugem ou dano. Bons indicadores para a possível sobrevivência dos sensores, a cujos dados só poderíamos aceder no laboratório da base. Estabelecidos no excelente laboratório cedido pelo KOPRI, começámos por dispor as placas na mesa para retirar de forma ordenada os sensores e fazer a sua leitura no programa -OneWireView. Nos primeiros segundos sofremos um pequeno impasse até recordar as particularidades do software e conseguir aceder aos dados, não fazendo caso da mensagem de erro no separador de abertura. Todos os sensores recolhidos estavam operacionais e foram fornecedores de séries de dados de temperatura do solo (próximo da superfície) correspondentes a 11 meses, com medições a cada 3 horas. Nos próximos dias, esperamos recolher os restantes 7 sensores, assim que a previsão seja favorável. Mohammad Farzamian and John Triantafilis, Livingston Island, Antarctica ANTERMON activities in 2020 are just starting, with the installation of a new A-ERT system in Livingston Island and EM and ERT surveys across the Island as well as maintenance of the A-ERT system in Deception Island, being conducted by 2 field teams. - Livingston Island: Mohammad Farzamian (IDL/ULISBOA) and John Triantafilis (UNSW ) will install a new monitoring electrical resistivity meter (A-ERT), which was built at IDL this year, in Reina Sofia site and perform EM and ERT surveys across the Island. - Deception Island: Miguel Esteves will do the maintenance of the existing A-ERT system as well as repeating ERT surveys to compare with observations one decade ago. The A-ERT system built at IDL this year. A set-up with 26 electrodes and 0.5 m spacing. An explorer cases 5833B was used, casing the 4POINTLIGHT_10W instrument, solar panel-driven battery and multi-electrodes connectors during data acquisition. A timer was used this year to optimize the energy consumption by turning on the system at each six hours for ERT measurements. |
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