Vasco Miranda e Gabriel Goyanes, Ilha Livingston, 10 Fevereiro 2020 Muito se tem falado do máximo histórico de temperatura registada na Antártida. Na base de Esperanza os termómetros chegaram aos 18.3º C (dados do Serviço Meteorológico Nacional Argentino)! Por aqui, na base espanhola Juan Carlos I, não fomos agraciados por tão agradável temperatura e no entanto, não ficámos muito atrás. Uns sólidos 12º C foram registados e remeteram para a gaveta do quarto a roupa térmica e casacos que já nos havíamos habituado a usar no dia a dia Antárctico. A temperatura, o céu limpo e a ausência de vento, contribuíram para um dia perfeito de trabalho. Do topo do monte Reina Sofia a visibilidade era tal que era possível ver a Ilha de Deception e a ilha de Smith.
Noutros anos, o frio e vento criavam alguns constrangimentos operacionais que não nos afligem este ano. A técnologia não gosta do frio excessivo e por isso, quando no ano passado se ia para o campo, as baterias do drone eram aquecidas junto ao corpo (nos bolsos do casaco) até à sua utilização, o telemóvel (onde se planificam os voos) era envolto numa toalha para não arrefecer em demasia e por vezes nem estes cuidados evitavam o ocasional “problema técnico”. Enfim, as circunstâncias actuais tornam o trabalho mais fácil, mas trazem associadas preocupações referentes às alterações climáticas que se têm verificado com mais intensidade nos pólos.
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Vasco Miranda e Gabriel Goyanes, Ilha Livingston, 3 Fevereiro 2020 O trabalho de campo com drones está muito dependente das condições meteorológicas. O vento e a chuva impossibilitaram, por isso, a aquisição de imagens no primeiro dia. No entanto, o dia foi longe de ser um dia perdido. Uma boa prática quando se pretende obter dados no terreno é saber onde os ir buscar e para tal a melhor maneira é fazer um reconhecimento do terreno. O objectivo era chegar a um ponto com boa visibilidade e, por isso, o destino foi o monte Reina Sofia. No tempo restante, aproveitamos para trabalhar no laboratório a fim de se testar o equipamento electrónico e fazer a sua preparação para o trabalho que viria, assim que o tempo nos deixasse.
Vasco Miranda e Gabriel Goyanes, Ilha Livingston, 1 Fevereiro 2020 Chegamos! Com a meteorologia do nosso lado, embarcamos em Punta Arenas no avião que nos levaria para a Antárctica. Na ilha Rei Jorge, a embarcação espanhola Hespérides esperava para nos transportar até à ilha de Livingston. Assim, somavam-se dez horas de viagem às já cerca de três feitas até então.
O transito até ao destino desta etapa (base Juan Carlos I, península de Hurd) foi tranquilo e deu para explorar o navio, tendo direito a um jantar a bordo. O desembarque e recepção na base começaram por volta das 2.00h e às 4.00h já nos encontrávamos alojados e prontos para dormir o tempo que nos restava até ao início do dia seguinte. Pois bem, a viagem foi longa mas chegou a bom porto. A base Juan Carlos I será a nossa casa durante as próximas semanas. Neste tempo correremos a península com um DGPS e 3 drones. Há muito que andar, muitos kilos para transportar, muito trabalho a fazer, mas penso que estaremos à altura! Lisboa, 24-Jan-2020 A campanha de campo na Antártida do projecto VEGETANTAR 2 está prestes a começar e durará cerca de 6 semanas até à segunda semana de Março de 2020. O acrónimo do projecto não deixa grandes dúvidas, está lá (quase) tudo, basta uma pequena ajuda para se perceber melhor o que é: o projecto tem como principal objectivo efectuar a cartografia da vegetação antártica nas regiões livres de gelo por detecção remota, sendo esta a sua segunda campanha de campo.
A vegetação é uma das componentes essenciais dos ecossistemas antárticos, e efectuar a sua identificação e monitorização a larga escala fornece indicações relevantes que, relacionadas com outras variáveis, ajudam a perceber melhor as mudanças climáticas nesta região polar e o seu impacto não só local, mas também global. Mas a sua identificação nas imagens de satélite não é fácil. A vegetação antártica, dominada espacialmente por musgos e líquenes, ocorre de uma forma esparsa e em ‘manchas’ de pequenas dimensões (dezenas a centenas de metros quadrados, por vezes um pouco mais). É por isso frequente a vegetação aparecer nos pixels das imagens de satélite misturada com outras classes (por exemplo, solo ou rocha, neve ou gelo). Isto só por si nem sempre é um grande problema, pois existem métodos que permitem decompor (ou ‘desmisturar’) esta mistura com alguma confiança. Mas para que esses métodos nos dêem resultados correctos, temos de os ensinar adequadamente. Para isso, temos de perceber o que se passa a uma escala ainda mais detalhada do que a dos pixels dos satélites (mesmo nos actuais que está já abaixo de 1 m). E os drones são a solução para isso. Permitem obter imagens de resoluções muito mais elevadas (centímetros a milímetros) e cobrir áreas relativamente extensas (quando comparadas com a tradicional avaliação a pé), mesmo que a frequente cobertura de nuvens esteja presente (coisa que os satélites ópticos não conseguem resolver). Basta que esteja a uma ou duas centenas de metros acima do solo para já não atrapalhar muito a aquisição de imagens pelos drones. E é isso mesmo que a equipa de campo do projecto vai fazer este ano na Antártida. Vai utilizar drones equipados com câmaras distintas, além das ‘normais’ a cores também vai utilizar de infra-vermelho que é muito adequada para identificar a vegetação. Vai sobrevoar várias zonas na ilha Livingston (62ºS) nas Shetland do Sul (área de cerca de 800 km2, mas quase 90% está coberta de gelo), para também podermos quantificar a variabilidade geográfica. As actividades incidirão em vários locais de duas das suas maiores áreas livres de gelo: as penínsulas Byers e Hurd. A logística na Antártida é complexa e depende de várias instituições e de muita gente. Para nós lusos, primeiro do Programa Polar Português (PROPOLAR) e também das colaborações internacionais, que este ano serão com os programas polares de Espanha, Bulgária e Coreia do Sul. O voo até à Antártida, desde o Chile, é fretado pelo KOPRI-Korean Polar Research Institute. Depois, na Antártida, o transporte entre os vários pontos de interesse será efectuado no navio espanhol Hespérides e as estadias em Hurd nas bases Juan Carlos I (de Espanha) e St. Kliment Ohridski (da Bulgária). Na península de Byers como não há base, a equipa do VEGETANTAR 2 irá acampar com o apoio de Espanha. Falta só dizer que a equipa no campo é constituída pelo Gabriel Goyanes, investigador doutorado do CERENA e pelo Vasco Miranda, que está a começar o seu doutoramento no IST sobre o tema do projecto. Tenho pena de este ano ficar em terra e não participar na campanha de campo, mas fico bastante satisfeito por ver a equipa do CERENA/IST estar a crescer e a alargar as suas áreas de estudo no continente mais frio e seco cá da Terra. Mas a descrição das actividades da campanha será feita e ilustrada nos próximos episódios através dos posts do Gabriel e do Vasco. |
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