A CAMPANHA
PROPOLAR 2011-2012
Novembro de 2011 a Abril de 2012
PROPOLAR 2011-2012
Novembro de 2011 a Abril de 2012
14-02-2012
Estes últimos dias têm sido movimentados. Finalizámos o trabalho em Barton e despedimo-nos dos nossos colegas coreanos que tão bem nos receberam. Por questões de logística tivemos de parar duas noites na base uruguaia Artigas antes de chegar à base Argentina Jubany, onde temos estado a trabalhar nos últimos dias. Em Artigas conseguimos fazer algum reconhecimento para campanhas futuras e ainda tivemos tempo de auxiliar os colegas brasileiros na manutenção de um sensor deles. A estadia em Artigas, apesar de curta, foi muito boa e também fomos muito bem recebidos. Quase parece haver uma competição não escrita entre bases para ver qual consegue ser mais hospitaleira. Chegamos a Jubany (base argentina na península de Potter, ilha King George) depois de uma curta viagem no navio brasileiro Maximiano. O desembarque foi quase à meia-noite, com ondulação forte, ventos fortes e visibilidade reduzida. Podemos dizer que sentimos emoções fortes quando a água começou a entrar a jorros pelo zodiac dentro, mas chegámos vivos e sem problemas. Os nossos colegas brasileiros Filipe Simas e Karoline Delpupo já seguiram para casa, mas foram substituídos por dois outros colegas brasileiros, o André (Geógrafo) e o David (montanheiro) que tem trabalho a fazer em Potter. Temos tido dias com algum mau tempo, tempestades, chuva, neve e ventos fortes, mas continuamos a seguir até aos lagos destas penínsulas para recolher testemunhos do passado, com o nosso mini Beagle ao lado. Os sedimentos desta península têm-se mostrado terríveis de trabalhar, pois são muito argilosos e conseguem fazer muita sucção no nosso equipamento e quase não o conseguimos recuperar. Mesmo assim já conseguimos 3 cores de diferentes lagos. A vida na base Jubany é bastante diferente da vida na base coreana. Não há algas na alimentação e os horários são mais maleáveis para poder acomodar o trabalho de mais de 40 cientistas que aqui trabalham. O facto de todos falarmos um pouco de espanhol ajuda a transpor as diferenças culturais e à mesa temos sempre boas conversas. Hoje estivemos em campo a movimentar o mini Beagle (o nome de baptismo do nosso querido bote), mas os ventos obrigaram-nos a parar o trabalho. Mesmo com mochilas de 13 quilos o vento empurrava-nos e forçava-nos a caminhar dobrados. Se em terra não conseguimos estar quietos seria impossível estabilizar o barco nos lagos. Mas seremos persistentes! Conseguimos ainda passar perto de um sector com permafrost exposto. O permafrost ao descongelar fica exposto pois o terreno fica saturado em água e desliza sobre a parte ainda sólida, o que resulta numa lenta escoada de lamas. Foi uma visão inesperada, mas muito apreciada pelo grupo. João Agrela, Ilha King George 14 Fevereiro de 2012
O meu nome é Alexandre e estou a participar na minha 5ª campanha na Antárctida. Sou aluno de doutoramento e membro do grupo de investigação AnteCC do Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa. O meu trabalho nesta região abrange a monitorização da camada activa e do permafrost e da geomorfodinâmica destes ambientes. Este ano esta campanha é especial para mim. Será a minha ultima até terminar o meu doutoramento, que será em 2015, que abrange a Serra da Estrela. Venho à antarctida desde de 2006, apenas com 1 ano de interrupção. Não será fácil ficar longe desta região que para mim é especial, e mudou muita na minha vida. Esta campanha também é a que estarei mais a sul (64⁰S), em que parte será na base americana de Palmer (17 dias) e posteriormente em acampamento em Cierva Point (3 semanas). O meu objectivo principal é proceder a duas perfurações, uma em cada local, com a profundidade de 16 metros. Estou bastante asnsioso para iniciar os trabalhos, visto que estamos a preparar-nos há cerca de 1 ano. Nas campanhas passadas realizamos 3 perfurações atingindo o maximo de 8 metros, mas este ano iremos utilizar uma perforadoura nova e com mais potência, onde esperamos conseguir atingir os nossos objectivos. Alexandre Trindade, Estreito de Gerlache. 13 de Fevereiro de 2012 Estamos já há algumas horas em pleno Drake. Aliás, para além das ondas de uns 7 metros, nota-se bem onde estamos pela disposição do pessoal. O oscilar forte e continuo do barco, que por vezes deve ultrapassar os 30 graus, dá cabo dos que enjoam e moi os que não enjoam, ou que enjoam menos. Ainda consegui trabalhar um pouco no computador, mas é muito difícil fazer qualquer coisa de jeito. Desisti. Vejo filmes, dou um salto à ponte, ajudo a decorar a sala de refeições com corações do São Valentim, não faço nada...espero. Uma animação! Ainda devemos ter mais um dia e meio disto até entrarmos no Estreito de Bransfield onde o mar costuma ser mais calmo. Depois, será a chegada à Antártida e começar a atacar o trabalho do projecto. Agora...vou ver mais um filme e dormir sacudido pelas ondas que fazem as minhas costas quase levantar do colchão. Estamos a receber as ondas de oeste e isso faz com que o navio abane mais. Gonçalo Vieira. Estamos finalmente no navio LM Gould a caminho da Antártida. Os últimos dois dias e meio foram passados em Punta Arenas a fazer os preparativos finais para a campanha. Todo o equipamento teve que ser revisto, fizemos algumas compras de última hora e passámos várias horas a arrumar tudo dentro de um contentor que vai cheio com o material do nosso projecto. Uma infindável tralha. Na 6ª feira de manhã estivemos também a verificar as tendas para o acampamento de Cierva Point, bem como a montá-las para que depois seja tudo mais fácil e rápido. Esta revisão em grupo é especialmente importante, pois em caso de necessidade de montar as tendas com mau tempo, é essencial que todos saibam o que fazer. Os projectos PERMANTAR-2 (Permafrost and Climate Change in the Maritime Antarctic) e ANT-6900673 (Impact of Recent Climate Warming on Active-Layer Dynamics, Permafrost, and Soil Properties on the Western Antarctic Peninsula) são parte de um consórcio que visa estudar o permafrost da Península Antártica. A campanha deste ano inclui-se em ambos os projectos e representa uma colaboração entre a Universidade de Wisconsin-Madison, e as Universidades de Lisboa (CEG/IGOT) e de Évora (CGE). No terreno, seremos 5 na nossa equipa. Dois portugueses: eu e o Alexandre Trindade, meu estudante de doutoramento; e três norte-americanos, o James Bockheim e dois estudantes de doutoramento seus, o Nick Haus e o Kelly Wilhelm. Os objectivos principais desta campanha são: a) a instalação de duas novas perfurações para a monitorização das temperaturas do permafrost (próximo da base norte-americana de Palmer e em Cierva Point); b) a instalação de novos sensores para a monitorização da camada activa e de uma nova estação meteorológica em Cierva Point; c) a recolha dos dados de sensores instalados no ano passado; d) a análise de perfis de solo. Basicamente, as tarefas distribuem-se em três etapas: - Reconhecimento do terreno em Cierva Point (16 de Fevereiro); - Trabalhos próximo da base Palmer (17 de Fevereiro a 5 de Março); - Trabalhos e acampamento em Cierva Point (5 de Março a fim de Março). Eu ficarei no terreno até ao acampamento, momento em que regressarei a Portugal. O meu tempo de campanha deste ano já começa a ser muito longo, depois dos trabalhos de Janeiro em Fildes e tenho compromissos lectivos no IGOT. O resto da equipa ficará acampada em Cierva Point durante 3 semanas e regressarão a casa no início de Abril. Para vários de nós, será a 1ª vez que vamos ao arquipélago de Palmer e à Península Antártica (Cierva Point), pelo que estamos bastante contentes com a possibilidade de conhecer novas paisagens, ainda mais geladas do que aquelas em que temos trabalhado até agora. O Estreito de Gerlach será certamente um dos highlights. Entretanto, vamos dando novidades. Gonçalo Vieira Navio LM Gould, Estreito de Magalhães, 12/02/12 SÁBADO, 11 DE FEVEREIRO Arctowski - Há umas décadas atrás esta zona de rocha nua e sedimento, onde se encontram os edifícios da estação de Henryk Arctowsky, eram um arraial baleeiro. Os restos de esqueletos de baleias encontram-se dispersos pela praia e um pouco mais para o interior. Vértebras que parecem bancos num jardim, crânios que se assemelham a banheiras (ms maiores) e as costelas tão grandes como troncos de árvore dispersos. Na nossa memória estão as imagens (a preto e branco) desses tempos e as descrições de encontros com icebergs, do cheiro (que imaginamos) da queima de óleo de baleia para aquecer os corpos doridos, a luta heróica nas tempestades que rapidamente se formam na Passagem de Drake, a viagem de Ernest Shackleton que andou por próximo para salvar (todos) os seus homens, entretanto retidos na Ilha do Elefante após o Endurance se afundar, esmagado pelos gelos do Mar de Weddel. Henryk Arctowsky foi um dos pioneiros da investigação científica no continente Antárctico. Nascido na partição russa de Varsóvia, hoje Polónia, em 1871, juntou-se à Expedição Antárctica Belga (1897-1899), liderada por Adrian de Gerlache de Gomery onde tomou a posição de subdirector científico. Nesta expedição a bordo do navio Belgica seguia também o jovem Roald Amundsen que há 100 anos, a 14 de Dezembro de 1911, bateria Robert Falcon Scott na corrida para chegar primeiro ao Pólo Sul. Amudsen lideraria também a primeira travessia por barco da mítica Passagem do Noroeste (1918-1920) e o primeiro a chegar ao Pólo Norte de avião (1926) e o primeiro homem a ter estado em ambos os pólos geográficos. Embora o Belgica tenha ficado preso no gelo, o que levou a que fosse a primeira expedição a hibernar na Antárctica, a expedição foi muito bem sucedida tendo resultado quase uma centena de trabalhos científicos publicados nos dois anos seguintes. Arctowski acabou por voltar para a Polónia em 1920, onde lhe foi oferecido o lugar de Ministro da Educação, que recusou, continuando a fazer investigação e a leccionar. Quando a guerra estalou, em 1939, estava nos Estados Unidos no Congresso da União Geofísica Internacional, na qualidade de Presidente da Comissão Internacional de Alterações Climáticas. Não podendo voltar, por lá ficou a trabalhar no Smithsonian Institute, tendo falecido nos Estados Unidos em 1958, nunca tendo voltado à Polónia. Henryk Arctowsky fez várias contribuições importantes no campo da meterologia, oceanografia e geologia. Nesta estação, que recebeu o seu nome, um outro projecto, para além do nosso, que se encontra a decorrer, com 6 cientistas, trata da diversidade microbiana. Fazem recolhas de amostras em vários pontos, especialmente na interface entre o gelo e os solos. A diversidade bacteriana não é muito grande mas existem espécies muito especiais que produzem proteínas de superfície que impede que se forme cristais de gelo que as destruiriam. Por outro lado, estas proteínas fazem com que exista sempre alguma água líquida na interface envolvente que garante a sua sobrevivência. Como não existe forma de manter culturas destas bactérias um dos objectivos do trabalho vai ser sequenciar o seu DNA, não só para perceber quantas espécies existem, mas também para identificar possíveis genes que possam ser interessantes para aplicações práticas. Ao longo da semana a nossa experiência tem estado a decorrer bem. A rotina é mudar a água para manter os pexies em boas condições e ajustar as temperaturas desde -2ºC até 6ºC e desde salinidade de 32 por mil (água salgada) até 10 por mil (água salobra). E estão a adaptar-se a estas condições. Na segunda-feira é dia de amostragem. Entretanto, hoje o Pedro está de faxina - apoio à cozinha e limpezas - e amanhã é a minha vez. O clima na semana tem estado variável, uns dias ventosos e chuvosos, outros calmos e com muito sol. Por vezes temos visitas de companheiros de outras bases aqui à volta - peruanos, brasileiros e argentinos. Amanhã é suposto ser dia de aniversário da estação temporária americana apelidada de Copacabana, mas se estiver a ventania que está agora deve ficar às moscas. Penso eu! E eu? Fico de faxina ou vou p'rá festa? Adelino Canário & Pedro Guerreiro, Ilha King George, http://www.facebook.com/note.php?note_id=10151277418810384. Voo Santiago do Chile - Punta Arenas 9 de Fevereiro de 2012 Novamente no ar. Cerca de 24h depois de sair de casa, de passar por Madrid e Santiago do Chile, sigo novamente para sul. Estou a iniciar mais uma campanha antártica, depois de 10 dias em Lisboa. Foi uma pausa pesada, com muito trabalho acumulado. Passei longas horas a corrigir relatórios e exames dos meus cerca de 230 alunos deste semestre no IGOT. Ainda ontem em Madrid passei 3 horas a fazer as revisões finais nas pautas. Está quase tudo terminado, mas ainda me resta uma disciplina de mestrado, que espero encerrar neste fim-de-semana. Em Lisboa, foi muito bom aproveitar o tempo livre com a familia. Essencial interrupção entre duas campanhas. Agora sigo novamente para a Antártida. Desta vez, mais para sul, para a Península Antártica, uma região onde ainda nunca estive, e numa colaboração com a National Science Foundation e com o Programa Antártico Norte-americano. Os obrigatórios símbolos com pinguins do USAP que trazemos nas nossas malas, assim o comprovam. Voltamos a atacar o estudo do solo permanentemente gelado - o permafrost - na sequência dos trabalhos iniciados no ano passado. Trata-se de uma colaboração entre o projecto PERMANTAR-2, financiado pela FCT e que coordeno, e do projecto... Da NSF coordenado por James Bockheim da Universidade de Wisconsin-Madison. Mas quanto aos trabalhos do projecto, voltarei a eles mais tarde. Hoje, em Punta Arenas, espera-me ainda uma reunião com os restantes membros americanos da campanha e mais à noite, reune-se a nós o Alexandre Trindade, meu estudante de doutoramento que tem também já muita experiência antártica. Os próximos dois dias serão passados em Punta Arenas a tratar da logística da campanha. Rever o equipamento enviado através dos E.U.A. Em Novembro, selecionar vestuário e comida e, arrumar tudo num contentor que seguirá no domingo, conosco no navio LM Gould. 8 de Janeiro de 2012, Decepcion
Después de las ansias por llegar al destino final pero a la vez disfrutando del paisaje antártico, desembarcamos en isla Decepción, más precisamente en la Base Argentina Decepción. Hemos tenido la suerte de llegar unos días antes de un acontecimiento muy especial, que es el festejo del 64 aniversario de inauguración de la base. El mismo se realizó el día 25 de enero, en el cual participaron tanto el personal científico como militar de nuestra base y de la Base Española “Gabriel de Castilla” ubicada a escasos kilómetros, donde degustamos unas buenas pizas y empanadas junto a los ya conocidos vinos argentinos. Vivir este acontecimiento es parte de todo lo que uno se lleva como aprendizaje de este lejano continente. Uno no solo viene a hacer ciencia sino también a vivir la experiencia de convivir junto a personas desconocidas. En mi caso personal es mi segundo año consecutivo aquí, pero cada vivencia es totalmente diferente ya que el personal se renueva todos los años. Junto a Antoine y Miguel hemos formado un grupo muy bueno de trabajo, donde no solo trabajamos sino que nos divertimos haciendo los que nos gusta, estudiar el permafrost. Esta campaña está presentando muchos contratiempos con el tema equipos, pero afortunadamente nos está sirviendo para plantear nuevas áreas de trabajo dentro de la isla y para conocer aún más en detalle la geomorfología presente y la interacción que existe entre la actividad del volcán y la distribución del permafrost. Así también es una buena oportunidad para ir ganando tiempo en el tratamiento de los datos adquiridos para volver al continente con los modelos ya realizados y poder así dedicarnos exclusivamente a su análisis y discusión. Es un honor para mí poder participar en este proyecto bajo la dirección de Gonçalo, como así también poder difundir a través de este blog las tareas que vamos realizando. Por ello, nos encontramos a su entera disposición para realizar discusiones, recibir consejos o aclarar sus dudas. GABRIEL GOYANES Lic. en Ciencias Geológicas UBA – CONICET (Argentina) 06 Janeiro 2012 Para mim esta expedição Antártica está sendo bem diferente das outras cinco vezes em que estive aqui no continente gelado. Pela primeira vez participo de uma expedição fora do Programa Antártico Brasileiro. Logo fui me sentindo à vontade, percebendo o alto nível de organização do Propolar e toda a sua equipe. Já em Punta Arenas, eu e minha colega brasileira Katia Karoline, nos integramos à equipe do Propolar, aos cuidados da Ana Salomé sempre preocupada em nos manter informados sobre a programação. Ali também começamos já a planejar as atividades de campo junto com o Coordenador de campo e do projeto HOLOANTAR, Marc Oliva, e os demais integrantes da nossa equipe internacional – João Agrela (Portugal), Dermot (Canadá), Marc Oliva (Catalunha), Eu e Karol (Brasil). Assim que embarquei no vôo comercial da DAP já não tinha saudades do vôo do Hércules brasileiro (que é muito bom, sem dúvida!). Mas na DAP foi padrão comercial, com direito a check in, controle de bagagens e, o melhor, serviço de bordo de alto nível, com direito a vinho chileno. O vôo foi fantástico, durou menos de 2 horas. Ao tocarmos na velha conhecida pista de Frei os nossos anfitriões Coreanos estavam à nossa espera e logo fomos para a praia embarcar nos Zodíacs. Começava agora o meu maior motivo de preocupação – atravessar a Baía Maxwell nos botes coreanos sob um mar gelado no qual o tempo de vida de um ser humano na água não chega a 5 minutos.... Dia bom, pouco vento, botes gigantes, travessia tranquilia, chegamos à Seoul da Antártica. Estação moderna, confortável e organizada. A parte da dificuldade de comunicação, são muito simpáticos porém reservados. Estamos alojados em camarotes muito confortáveis, um laboratório só para nós e com toda condição de trabalho. Primeira semana de campo, estranho como o tempo está bom! Sol, pouco vento, nenhuma chuva, praticamente todos os dias, coisa rara nesta parte da Antártica. Após o reconhecimento do terreno no primeiro dia, feito por todos nós em conjunto, Oliva e os demais preocupados com os lagos, eu e Karol observando os diferentes solos, cuja caracterização e mapeamento é nosso objetivo principal. Aos poucos fui convencendo a todos, com evidências de campo, que SIM! Existem solos na Antártica, quase sempre muito pedregosos aqui nos materiais vulcânicos da Ilha Rei George mas são solos – camada superficial da crosta, produto da alteração das rochas que suportam a vida. Nos dias seguintes, cada equipe seguiu seu caminho. Encontramos solos muito interessantes, sítios com turfeiras, extensas superfícies aplainadas densamente vegetadas cujo verde dá uma beleza singular à paisagem, contrastando com o azul do mar, ao sol da Antártica. Em um dos dias pude acompanhar os demais nas coletas dos lagos, carregando um bote morro acima desde a praia até próximo dos 100 metros de altitude. Coisas da Antártica...! Até aqui já coletamos muito material, muito trabalho para o laboratório no Brasil. Ainda instalamos mais um sítio de monitoramento de temperaturas do solo até 80 cm de profundidade. Restam agora 04 dias para sairmos de King Senjong. A equipe se integrou muito bem e está sendo uma experiência cultural fantástica, com destaque para o aspecto gastronômico, conhecendo a culinária Coreana e suas comidas bem apimentadas! Do ponto de vista científico está campanha consolida cada vez mais a parceria entre o TERRANTAR (grupo brasileiro que estuda ecossistemas terrestres da Antártica) e o ANTECC de Portugal. Uma grande honra poder participar da primeira expedição Antártica do Propolar e espero que esta parceira continue forte por muitos anos! Felipe Simas, Ilha de King George. Sexta-feira, 3 de Fevereiro
Arctowski - O tempo passa depressa. Estamos aqui praticamente há uma semana e tem sido um período intenso a preparar o sistema de tanques e a pescar para poder começar as experiências, o que aconteceu a partir de hoje. Na segunda-feira conseguimos convencer o matulão Artur, o comandante da estação a fazer uma saída de zodíaco para experimentar-mos a pesca mais ao largo. O convencer é aos poucos, ele sorri sempre, faz uma pausa e marca uma hora. No final do pequeno almoço combinámos para a seguir ao almoço. A seguir ao almoço é mais rigoroso e diz 16:00 horas. Um pouco antes já estava o zodíaco a ser aparelhado. O barco está em terra em cima de um atrelado, é preciso verificar que o motor arranca, e é preciso que vestamos os fatos de sobrevivência. Saltámos para o barco, que é rebocado pelo trator, conduzido pelo próprio Artur, até à água. O atrelado entra na água de marcha atrás e o motor do zodíaco encarrega-se de o libertar. Vamos para uma zona a umas centenas de metros da praia, desliga-se o motor e é só largar os anzóis. O barco vai derivando com o vento e correntes e temos de voltar a ligar o motor para o trazer de volta. Numa hora apanhámos uma dúzia de peixes e tivémos de parar pois só tínhamos um contentor para manter os peixes vivos. As nototenias, ou bacalhau da rocha, gostam de algas e deve ser em zonas de algas que as apanhamos mais, pois são mais frequentes nalguns locais. O barco foi retirado da água pelo processo inverso, nunca temos de colocar os pés na água, que está a 2ºC. Com os fatos de sobrevivência aguentávamo-nos talvez uns 15 minutos. Na terça-feira, voltamos a fazer pesca à linha na costa e tornámos a perder material. A conclusão é que a pesca no barco é que nos permitiria conseguir o que queríamos. Experimentámos armadilhas, uma espécie de murjonas, e lá se vai apanhando ocasionalmente, 1 peixe na primeira noite, 3 na segunda. É impressionante a quantidade de anfípodes de grandes dimensões, parecem camarões, que cobrem o isco, a digeri-lo nas armadilhas! O Artur ficou semi-entusiasmado e acedeu a mais uma pesca no barco, pela manhã a seguir ao pequeno almoço. Na quarta-feira, mais uma pescaria de barco desta vez com uma equipa reforçada. O Conrad ao leme e mais dois tripulantes, pelo menos um chamado Marjec (há 3 pessoas na base com este nome), além de mim e do Pedro. Só o piloto não pescava. Desta vez levámos 3 bidões para colocar os peixes e no espaço de 2 horas apanhámos mais de 30. Com isto, tínhamos o que precisávamos para já. No final ainda oferecemos 3 dos peixes maiores à cozinha que foram o almoço hoje, na forma de uma espécie de pasta em bolinhos de batata fritos, acompanhados de puré de batata com ervas aromáticas e uma salada de couve e cenoura avinagradas! Durante a tarde substituimos parte da água dos tanques para garantir que a qualidade se mantém. A substituição da água implica colocar uma bomba de imersão eléctrica na praia com um tubo de uns 40 metros e carregar a água para o contentor. De cada vez é preciso carregar com uns 500 litros de água salgada. Daí para cá foi vigiar o sistema, verificar que o aquecimento funciona, e que os peixes estão bem. Ontem foi um dia de temporal. Rajadas de ventos de 100-150 km por hora acompanhadas de chuva e flocos de neve. A temperatura ronda os 0ºc mais ou menos 2º. Foi assim um dia dedicado à escrita e a actividades de escritório. Hoje ainda está ventoso mas muito mais calmo e claro, mas o suficiente para impedir que a Internet funcione.A alimentação é imaginativa mas monótona. Baseia-se muito em porco, nos seus diferentes componentes, lombo, pernil, chispe, paios, chouriços, salame, fritos ou numa espécie de guisados de caçarola, quase sempre com batata cozida frita ou na forma de puré. Por vezes massa - macarrão para os brasileiros - e esta noite, ao que parece, pizza. Os pequenos almoços têm quase sempre ovos. Nada mal no conjunto mas a única fruta são umas maças já enrugadas. Muita tentação de doces e há sempre o sabor do café em pó! Adelino Canário & Pedro Gurreiro, Ilha King George, http://www.facebook.com/note.php?note_id=10151247812435384. 02-01-2012, Penisula de Barton, ilha de King George
O nosso trabalho baseia-se em transportar um pequeno (mas pesado) bote de lago em lago na península e tirar amostras dos sedimentos do fundo do lago. Este bote foi complicado de encontrar mas felizmente tem uma boa combinação entre resistência e peso que conseguimos transportar. Tirar amostras é demorado e pode ser trabalhoso, pois os instrumentos que estamos a usar pesam mais de 11 quilos e tem de ser puxados do fundo dos lagos à força de braços. O conjunto dos instrumentos mais amostras cheias de água pode chegar perto dos 18 quilos que têm de ser puxados via corda fina que entra pelos dedos dentro. Transportar o barco também não é tarefa fácil, no primeiro dia tivemos de o fazer enquanto nevava e os nossos braços ficaram bem doridos. Somando a isto o frio e o vento e ao fim do dia percebe-se porque estamos sempre cansadíssimos. Mas a recompensa é boa! Já temos 4 cores de 3 lagos diferentes, um dos cores tem mais de um metro de comprimento! A vida na base tem sido surpreendente. A comida mantêm-se arroz e algas, mas os níveis dos molhos picantes têm subido espectacularmente. Eu já tive de fazer reparações de emergência à minha bota, pois as rochas aqui são bem afiadas. O Marc já fez uma viagem de Zodiac muito especial para mais tarde recordar, o Dermot regressa sempre com a roupa encharcada e os colegas brasileiros chegam à base sempre com vários quilos de amostras às costas. Hoje infelizmente estamos presos na base, pois o vento e a chuva impedem-nos de sair em segurança. Segundo a previsão o mau tempo mantêm-se até amanhã, mas estamos prontos para sair assim que pudermos. João Agrela. |
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