A CAMPANHA
PROPOLAR 2011-2012
Novembro de 2011 a Abril de 2012
PROPOLAR 2011-2012
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A minha primeira viagem à Antárctida decorreu sem percalços. A antecipação de chegar ao destino era grande e dormi muito pouco por causa disso. À parte de alguns agentes de alfândega um pouco mais persistentes não tive sobressaltos, excepto os provocados pela imensa turbulência que transportou todo o conteúdo do meu copo de sumo de laranja para cima de seis pessoas. À chegada a Ushuaia, cidade argentina do fim do mundo cercada por montanhas salpicadas de neve, encontrei-me com o António Correia e com o João Rocha, os meus companheiros de aventuras e desventuras dos próximos dois meses. Levaram-me a visitar o Las Palmas logo à chegada (dorme-se depois) e toda a embarcação espanhola promete acrescentar emoções fortes à campanha. Faz parte do trabalho e o apoio Espanhol é muito bem-vindo. A viagem do João Rocha correu menos bem porque algures no aeroporto de Barajas (Madrid) deram-lhe cabo de uma das malas. Felizmente conseguiu substitui-la com rigor e qualidade. O dia acabou com um grande jantar que nos recheou convenientemente e com todos os companheiros de volta dos computadores a verificar detalhes de campanha e a informar as famílias que tudo está bem. A campanha implica isolamento, por vezes bastante prolongado, e as nossas famílias acabam por sofrer um pouco. Amanhã espera-nos um dia calmo, a preparar últimos detalhes e em busca de algum material em falta. Mal podemos esperar por chegar à base búlgara, eu e o João estamos na nossa primeira campanha e temos a impressão que apesar de todas as explicações e descrições da Antárctida nenhuma fará justiça. João Agrela 29/12/2012 28 Dezembro 2011 Não há qualquer dúvida que um dos factores principais que deveremos ter em conta quando se faz uma expedicão cientifica à Antártica é o tempo. Sim, as condições atmosféricas! Pode-se planear tudo ao pormenor, ao minuto até, equacionar os imprevistos em que só depende de nós para que as coisas corram bem... e depois há que ter em conta com o tempo!!! No nosso projecto PENGUIN, que envolve estudar pinguins na Antártica, as condições com que podemos trabalhar com eles são importantes. Para trabalhar com eles, idealmente é necessário um dia bom de tempo. Caso estejamos longe da colónia, e seja necessário aceder por mar por pequenos barcos (chamados zodiacs; procurar no google caso não saibam ;)) ou por terra com skiis ou simplesmente a pé, não é possivel o fazer caso haja uma grande ondulação/má visibilidade/muitos icebergues na água/ventos fortes/forte queda de neve, tudo que ponha em causa a nossa segurança. E claro, há que pensar nos animais que estamos a estudar. Chover não é nada bom pois agarrar nos pinguins é muito desconfortável para eles.... Por isso, reunimo-nos todos os dias a ver as previsões do tempo para os dias seguintes, analisar quais os melhores dias para ir às colónias... e caso haja bom tempo para o dia seguinte, será mesmo? As condições de tempo em Livingston Island, tal como em muitas partes da Antártica e arredores (tal como nas Ilhas Falkland/Malvinas), mudam literalmente de hora a hora. Para ilustrar isto mesmo, foi a nossa primeira ida a Hannah Point. Previsão de boas condições para o dia. Excelente, pensámos... de manhã as condições pareciam ideais com mar calmo, boa visibilidade. Na nossa viagem, que demora cerca de 1 hora, apanhámos uma chuva torrencial, muita nublosidade, nevoeiro, ondulação e só quando pusemos pé em Hannah Point, parece que o céu deu-nos tréguas. Parou de chover e as temperaturas aumentaram... já no regresso gelo/icebergues pequenos na água apareceu e quantidades apreciáveis (devido a estarmos perto de glaciares que regularmente libertam-nos) e o vento era muito forte! Sair à rua na Antárctica, é mesmo necessário trazer roupa para as 4 estações do ano... caso não sejam pinguins claro ;) José Xavier 28 Dezembro 2011
Se és um estudante de Biologia e estás a ler este blog, imagina que daqui a umas semanas alguém te faz um convite para vires fazer trabalho de campo a Antárctida, como reagias? É uma pergunta no minimo estranha, mas foi o que me aconteceu!! Estava no meu último ano de licenciatura, a fase complicada em que tinha que decidir a área a seguir no mestrado... que acabou por recair em ecologia na Universidade de Coimbra. Fui então falar com diferentes professores para perceber os projectos de investigação em que me poderia integrar. Uns dos que mais me cativaram foram os do grupo do Investigador José Xavier, do Instituto do Mar (IMAR-CMA) da Universidade de Coimbra, sobre Ecologia Marinha na Antártica. Para além do óbvio interesse em pinguins, por serem animais tão carismáticos, as interacções predador-presa sempre foi algo que me despertava interesse. Optei por um projecto que iria estudar a ecologia trófica de vários predadores, incluindo albatrozes, o Bacalhau do Antárctico e pinguins, focando particularmente na importância dos cefalópodes (lulas e polvos) no Oceano Antárctico. Ingressei assim este fantástico grupo de trabalho em Abril de 2011. Semanas depois, já tinha realizado algum trabalho no laboratório, e ajudei outros colegas nos seus projectos de Mestrado mais adiantados (mostrando dedicação e o gosto que tenho pela ciência), tive uma nova reunião com o meu orientador de mestrado, para falar sobre o ponto de situação de todo o projecto. Uma reunião perfeitamente normal, até que no final o José me perguntou “Há uma possibilidade muito remota de no próximo ano (ou seja agora!!!) haver uma expedição à Antártica. Se eu te perguntasse se querias participar, qual seria a tua disponibilidade?”, como é obvio a minha resposta foi um “Claro que sim!” quase instantâneo! Sai do gabinete com um enorme sorriso na cara, não é todos os dias que nos fazem propostas destas, mas estava com os pés bem assentes na terra, tendo perfeita noção que ainda era um possibilidade muito remota. A confirmação que eu tanto ansiava veio em Agosto! O convite foi oficializado! Se antes já passava algum do meu tempo a sonhar com esta viagem de sonho, a partir desta reunião não houve dia em que o continente branco não tenha passado umas boas horas no meu pensamento! O tempo até a semana do embarque passou a voar, com os preparativos e uma reunião com todas as equipas da 1 campanhã Polar Portuguesa! Quando dei por mim estava a menos de 5 dias, mas foram 5 dias em que parecia que o relógio tinha parado... A viagem fez-se bastante bem, até a chegada da Passagem de Drake (que fica entre a América do Sul e a Antártica)! Mas este episodio já foi falado anteriormente no blog ;). Assim que vi o meu primeiro pinguim a menos de 2 metros de mim, era um pinguim de barbicha que estava na praia da base búlgara, todas as dificuldades da viagem de barco desapareceram! Devo ter feito mais de 100 fotos dele! São, sem dúvida, os animais mais engraçados que alguma vez vi! Mas não são só os pinguins que fascinam, aqui tudo é espetacular! O azul do glaciar, o branco da neve, o brilho do sol, parece que são diferentes aqui! Há um sentimento de paz e calma a pairar no ar! Todos os dias são dias de árduo trabalho mas ao estar aqui , os dias têm um brilho especial e diferente. Os melhores são aqueles em que o tempo nos permite ir até às colónias, são locais indescrítiveis que transbordam vida! A Antártida é, para mim, o melhor local de trabalho de todo o mundo, mas como tudo o que é bom, não é fácil! Como temos um período para o trabalho de trabalho limitado (só estaremos aqui cerca de 40 dias), é tudo muito intensivo, não nos podemos dar ao luxo de tirar dias de folga, não há fins de semana e trabalha-se com temperaturas muito negativas, com vento e neve à mistura! É duro, mas tudo vale a pena quando vemos um pequeno pinguim a sair das nossas mãos a andar e a seguir a sua vida como se nada se tivesse passado! A experiência que ganhei no último mês vai mudar muitos aspectos da minha vida quando voltar à “terra-mãe” tanto a nível profissional, porque adquiri técnicas e métodos muito importantes, como a nível pessoal. Aqui, aprendemos a relativizar as coisas (não morro se não beber coca-cola todos os dias!) com uma vida sem acesso à internet, sem TV, sem cinema, sem telefone, sem sms gratuitos, sem outros dos muitos facilitismos da aldeia globlal. Mas tudo é perfeitamente funcional e até mais saudável... não há outra opção, estamos literalmente no fim do mundo!!!! José Seco Acordámos ao som da neve a bater na janela...estava a nevar, uma vez mais! O dia não podia ter começado de melhor maneira, já que nos dias anteriores as temperaturas tinham subido um pouco e chovia. E o Natal na Antárctica tinha de ser Branco...muita Branco!!!! A noite anterior, de dia 24 de Dezembro, já tinha sido um autêntico banquete, à moda da casa pois claro. Todos nós, os 12 membros da Base, julgávamos preparados para o que ai vinha, mas puro engano. Na tradição Bulgara tem-se 7 pratos diferentes, todos vegetarianos: pão tipico, salada de pepino verde com alho, arroz dentro de pepinos vermelhos e de folhas de couve, feijão branco, sobremesa...e uma bebida de fruta sem alcool, que fez uma boa alternativa à Rakia. Depois do jantar, e para tentar digerir um pouco, alguém pôs a música um pouco mais alta e foi ver os membros mais clássicos da base (o Sando, que estava estava a perder fortemente o combate contra o sono, foi o exemplo primário) a dar um autêntico reportório de como bem dançar e que muito nos fez rir numa noite longe de todos. Claro que muitos dos nossos pensamentos estavam com todos os que nos são queridos em Portugal...e sabendo que o sabor do nosso Bacalhau não seria saboreado por nós, foram as suas vozes que nos dão aquela força para continuar a aproveitar tudo ao máximo;) Depois de um breve chá na manhã do dia de Natal, pois o pé de dança nem de perto nem de longe deu para digerir tudo o que tínhamos comido na noite anterior, já o comandante da Base Daddy nos despachava para nos pormos nos skidoos para irmos para a Base Espanhola Juan Carlos I, para continuarmos com o banquete Natalício, mas agora na versão Espanhola. Antes disso, fomos à igreja para por uma vela por todos os que nos são queridos e para desejar votos de um Bom Natal a todos. O Dedo e o Misho ficaram na base por questões de segurança e saúde (o Misho estava com uma dor nas costas após um passo de dança mais afoito), e lá fomos nós de skidoo...para conseguirmos ir todos, o Bobby, o Bojo, o Doctor Zezo e o Roman foram de skiis rebocados pelos skidoos. Super divertido! Subimos até um ponto mais elevado em que num dia limpo dava para ver que ficava entre montanhas, atravessámoos um glaciar e finalmente, depois de chegarmos a um refúgio Espanhol, foi descer a pé mais 15 minutos até à Base Espanhola. Fomos recebidos por um “Feliz Navidade”, com um grande sorriso e um abraço do comandante da Base Espanhola, Jordi. Depois de cumprimentarmos todos os 11 Espanhóis, lá nos sentámos novamente ao almoço e...com uma entrada de Ananás com camarões, com um prato principal de cordeiro assado, solha no forno, uma enormidade de doces e boa conversa, mal podíamos respirar;) Depois foi subir novamente o monte para regressar à Base...para que no dia seguinte fosse a vez dos Espanhóis visitarem a Base Bulgara. À chegada questionou-se se daqui a 2 dias seria possível ir a Hannah Point recolher mais amostras, e para não arriscar, passámos as últimas horas do Natal, e a manhã do dia 26, a analisar amostras dos pinguins para que estivessemos preparados para a próxima ida. Conseguimos acabar todas já depois do almoço com os Espanhóis no dia 26 de Dezembro. A recepção Bulgara foi excelente e mais um almoço, que desta vez terminou no Bar. O Bar, é simplesmente a Base original Bulgara onde viviam 6-7 cientistas Bulgaros, e que é um Museu, correio, hotel...e Bar! Nunca pensei que fosse possível ver 16 pessoas num espaço tão pequeno mas é! O dia terminou com os Espanhóis a regressarem com um grande sorriso à Base Espanhola, a cantarem “Feliz Navidad” do Zodiac... Feliz Natal para todos !!!! José Xavier & José Seco Dia 20 Janeiro 2011
O último dia na Antárctida chegou e nesse dia partiria também Craig, o microbiologista americano, Dácil e Gladys, investigadoras canarinas, e os quatro militares de visita à base que tinham chegado nessa semana. Nesse dia ainda havia muito a fazer: Retirar sedimentos e vegetação da estufa, limpar o laboratório e fazer as malas pessoais. Tarefas feitas com um nó na garganta. Essas tarefas demoraram praticamente todo dia o e só acabaram perto da hora do jantar. Durante o dia tivemos visitas de cientistas vindos de Livingstone, uma ilha a norte de Deception. Vieram no barco "Las Palmas" que nos iria transportar para Ushuaia nesse mesmo dia. No final do jantar tivemos a cerimónia formal de recolher da bandeira portuguesa e da bandeira americana. Os militares em continência alinharam-se com os cientistas enquanto eu e Craig recolhíamos a bandeira correspondente. Foi um momento muito simbólico e oficialmente marcava o fim da presença americana e portuguesa na base de Gabriel de Castilla. Logo de seguida fomos avisados de que iríamos partir dentro de breves instantes e começaram as despedidas finais. Aquela teria sido a nossa família por 20 dias e foi um momento muito emocionante para todos. Sentíamos um enorme privilégio de ter vivido esta experiência. Foram dias inesquecíveis, vividos com muita intensidade e no fundo sabíamos que era difícil voltarmo-nos a ver. Depois de muitos abraços e beijinhos, entramos finalmente para o "zodiac" para a nossa última viagem até ao barco "Las Palmas" que nos esperava na baía. Estávamos precisamente naquela altura do dia em que a luz começava a encher a baía com tons de azul. O vento parecia que nos tinha dado tréguas para a despedida final e o mar da baía estava calmo como raramente tínhamos observado. Aquele cenário só por si, era emocionante. Ravi, pilotava o "zodiac" mas não íamos em direcção ao barco. Navegámos pacificamente junto à linha da costa seguindo para norte. Passámos pela base argentina e pelas fumarolas. Finalmente, fomos em direcção à "arbor de navidad" para uma última despedida. Depois do adeus, virámos 90º em direcção ao "Las Palmas". Naquele momento já caía uma chuva miudinha que provocava pequenas crateras naquele espelho de água. O "Las Palmas" buzinava e lançava para o ar jactos enormes de água, e os militares da base puseram dois "zodiacs" ligados por umas fitas, junto à entrada para o barco, para nós passarmos por baixo. Uma espécie de tapete vermelho, um tratamento VIP para os que estavam de partida. Estávamos completamente maravilhados com todo aquele cenário. Fomos recebidos pela tripulação do "Las Palmas" e arrancámos instantes depois. Os "zodiacs" seguiram-nos e Alex, militar especialista em mecânica que tinha ficado na base, correu até ao topo de um monte e acendeu um verylight vermelho. Estávamos todos sem palavras, admirados com aquelas demonstrações de carinho e contemplávamos aquele momento até a base ficar reduzida a um minúsculo ponto da ilha. ------------------------------------//----------------------------------------- Com o início da viagem de barco até Ushuaia terminamos os diários do projecto Contantarc. O regresso a casa correu sem percalços de maior e estamos ansiosos para que as amostras recolhidas cheguem a Lisboa, sãs e salvas. O processo de análise será longo e durará muitos meses e esperamos no final contribuir para o conhecimento acerca dos contaminantes ambientais em Deception Island e responder a todas as questões a que no propusemos. Um especial obrigado a toda a equipa de Gabriel de Castilla. Adios amigos, hasta siempre!! Assim que falámos em Hannah Point os olhos do Espanhol Federico brilharam! Ainda estávamos a bordo do navio oceanográfico Espanhol Las Palmas, quando ele se apresentou como o responsável pelo zodiac (barco de transporte de pequenas dimensões, optimo para pequenas viagens e transporte de mercadoria de pequeno porte) Espanhol e que seria ele que nos levaria a Hannah Point. Já lá tinha estado várias vezes e disse-nos, sem hesitar, que era o local mais belo de toda a ilha! Todos lá querem ir! Pois transborda de vida, com todo o tipo de animais, elefantes marinhos, petreis gigantes, moleiros do Antártico e claro MUITOS pinguins!
Depois de estarmos bem acomodados na Base Bulgara de St. Kliment Ohridski, há quase uma semana, depois de várias reuniões com os comandantes das bases Bulgara e Espanhola, e com muitas consultas ao mapa das previsões atmosféricas, lá se conseguiu concluir que a primeira ida a Hannah Point seria na Terça-feira (20 de Dezembro). A preparação de todo o equipamento a levar começou dias antes, e estavamos anciosos de conhecer tal famoso local de Livingston Island. No dia, a confirmação veio da Base Espanhola por rádio a dizer que o tempo estaria aparentemente bom e que seria uma boa aposta irmos. Assim, tivemos de preparar os 2 zodiacs, Bulgaro e Espanhol, com uma equipa de 10 pessoas. A viagem demorou cerca de uma hora, com uma paragem de 10 minutos a caminho para deixar equipamento Espanhol para casos de emergência. Quando saímos da nossa Base, não havia vento, o mar apresentava-se calmo e parecia que iriamos ver sol. No entanto, a Antárctica mostrou-nos que não é bem assim, e que aqui, as condições atmosféricas podem mudar radicalmente em minutos ou horas. Quando nos juntámos ao zodiac Espanhol, 15 minutos depois, o vento já se estava a levantar e em breve, estava a chover. Nessa altura, pensámos o pior. A chover não nos seria possível obter amostras dos pinguins, pois o manuseamento deles nessas condições se torna muito dificil...e na verdade queremos sempre o bem deles. E continuou a chover por largos minutos até que os nossos amigos Bulgaros disseram a palavra mágica... “Ayde! “. Vamos, como quem a pedir a Deus e ao St. Kliment para nos ajudar! E as nossas preces foram ouvidas... Como por magia, e quando Hannah Point comecava-se a desenhar no horizonte, parou de chover e o vento baixou...Atracamos na praia mesmo ao lado de um harem de elefantes marinhos. A partir daí o nosso tempo voou pois tínhamos muitas coisas para fazer com os pinguins...inicialmente demos a volta a Hannah point para saber quais as espécies que se estavam a reproduzir lá, a sua abundância, e que perspectivas tínhamos de recolher as amostras a que nos tínhamos proposto obter. Deu logo para perceber que não havia pinguins de barbicha e de Adelia, e que teríamos de pensar mais um pouco onde obter amostras deles. Para estudar os pingins gentoo, que estavam por todo o lado, recolhémos amostras (penas, sangue e fezes; as penas para saber onde, e o que, comeram no último ano, o sangue na última semana e as fezes, nos últimos dias) o que nos vai dar informação importante sobre o que se estão a alimentar e como podem competir por comida com as outras espécies de pinguins. O dia foi fascinante mas muito intensivo pois pegar em pinguins não é pera doce, que o diga o José Seco: “Apesar de terem um ar muito amistoso e de animal muito querido, quando se sentem agarrados, lutam com todas as suas forças para se libertarem!! Pelo menos durante uns segundos, até voltarem a acalmar no nosso colo.. Entretanto essa altura já tinha 3 ou 4 nodoas negras graças as bicadas e os dedos dormente, como se tivesse voltado a levar reguadas da minha professora da primária! Mas vale tudo a pena quando os libertamos e os vemos a caminhar com se nada fosse e com o seu andar tão típico!” Não parámos excepto para saborear a magnifica sandes que a querida Galia nos tinha preparado nessa manhã (e não havia Hotel de 5 estrelas que nos podia proporcionar a vista)!!! Regressámos à Base com um sorriso gigante nesse dia...o nosso primeiro dia de trabalho de campo em Hannah Point... Ayde!!! José Xavier & José Seco [CONTANTARC] Os objectivos do projecto Contantarc foram todos conseguidos e até mesmo superados19/12/2011
19 Dezembro 2011
O "Las Palmas" chegaria no dia seguinte para levar cientistas da ilha de Livingston e de Deception Island para Ushuaia, e por isso o trabalho de campo tinha acabado, e era altura de fazer a contagem de amostras e de arrumar as malas. Feitas as contas, os objectivos do projecto Contantarc foram todos conseguidos e até mesmo superados e isso eram óptimas noticias. Na Antártida os imprevisto são muitos e quase nunca jogam a favor. A manhã foi dedicada a fazer o inventário de todas as amostras recolhidas e a armazenar todo o material do laboratório na caixa. Pela hora de almoço fui espreitar à cozinha a preparação do almoço. "Que nos vas abandonar!!" Dizia-me David, o militar cozinheiro. Não era verdade claro, o dia da partida estava planeado com meses de antecedência, mas depois de uma vivência tão intensa com toda a equipa de militares e de cientistas, a despedida nunca poderia ser fácil de lidar. Por toda a base sentiam-se as emoções a borbulhar. O trabalho de contagem e empacotamento das amostras continuou durante a tarde até ter sido surpreendido com o convite de Gladys, uma investigadora canarina. Entrou no Laboratório a correr e com um ar maroto perguntou, "Vamos a la agua en 15 minutos. Quieres vir?". O convite referia-se a tomar banho nas águas geladas da baía e claro que não pude recusar. Saímos da base de fato de banho e corremos até à água. Aquele vento gelado ao tocar na pele exposta doía como se estivéssemos a ser cortados por pequenos golpes de bisturi, mas ao entrar na água a sensação de frio passou a um pânico, um desespero, parecia que o corpo tinha entrado em modo de sobrevivência. A verdade é que quem não quis ir, ficou a ver e a tirar fotografias para se arrependerem mais tarde. Depois do banho gelado a única solução para acalmar o choque térmico era tomar outro banho desta vez quente no WC. O trabalho de laboratório prosseguiu o resto da tarde até à hora do jantar. Depois da sobremesa, fizeram-se as despedidas formais porque em princípio partiríamos no dia seguinte pela tarde. Passaram um video, que entretanto fizeram, especialmente para a despedida, distribuíram "regalos" e fizeram pequenos discursos de despedida que nos encheram a todos de orgulho e de emoções fortes. O trabalho de empacotamento continuou pela noite dentro. O dia seguinte seria o último dia em Deception Island A festa de mascaras do dia anterior durou até às tantas e acabou com todos a colaborarem na arrumação da bagunça e a pôr a mesa do pequeno almoço para o dia seguinte. Um gesto de amizade e de companheirismo para com os pobres "marias" desse dia que tinham trabalho redobrado.
Depois do pequeno almoço parti com Beatriz, a Sargenta 1º especialista em transmissões até Collado Vapor, a norte da base argentina e a meio caminho até às colónias de pinguins. O objectivo era tirar amostras de vegetação e encontrar equipamento que o Gonçalo Vieria tinha instalado nessa zona. Como estava a nevar aproveitei para levar tubos extra para se possível recolher amostras de mais neve fresca. A praia até à base Argentina estava coberta de branco e o caminho até ao topo de Collado Vapor foi feito debaixo de muita neve, chuva, vento e claro de uma satisfação enorme por encontrar aquelas paisagens impressionantes. A campanha do Contantarc estava a chegar ao fim e tentei apreciar cada minuto naquelas montanhas pintadas de preto e branco. Pela tarde, os DGT's instalados na baia precisavam de ser retirados. Parti com a mochila e com o Viking vestido. Havia cinco DGT's instalados na água, o primeiro estava a sul da base a cerca de um quilómetro e meio, e os restantes distribuídos para norte a cerca de 500 metros de distância entre si. A tarde foi passando e por fim cheguei ao último DGT. O vento acalmou e contemplei a paisagem. Mesmo ao meu lado estava de foca de Weddell que tinha passado despercebida aquele tempo todo. A sua pele tinha um padrão muito parecido com as rochas que compunham a praia, estava perfeitamente camuflada enquanto dormia a sesta. A reunião diária com o chefe começava daí a instantes e não havia tempo a perder. Durante o caminho de volta cruzei-me ainda com pinguins, ossos enormes de baleia e uma skua que descansava à beira da água. Na reunião o chefe perguntava-me como tinha corrido o dia, "Óptimo!", e quais eram as minhas necessidades para o dia seguinte, "Nenhumas...". A resposta era curta mas tinha peso, o silencio e o sorriso cúmplice del Jefe indicou-me que não era preciso ter dito mais nada para ser compreendido. A recolha de amostras tinha acabado, assim como o trabalho de campo e a despedida estava próxima. Já só faltava empacotar as amostras, arrumar o laboratório e fazer a mala para o regresso a casa. _Dia 17 Dezembro 2012
A previsão era de que naquela manhã o vento continuaria muito forte, e assim foi. No dia anterior terminámos a reunião com o chefe de base dizendo "Amanhã teremos de esperar para ver o que é possível fazer, vamos ver, vamos ver...". Sair da base com um temporal daqueles estava fora de hipótese e a prevenção é a palavra de ordem na Antárctica, uma vez que o apoio médico é bastante condicionado. A manhã foi preciosa para actualizar as entradas no computador, e os diários de campanha. Ao meu lado, uns contemplavam a paisagem ou liam o email, outros ensaiavam uns passos de dança. A música e aquele ambiente familiar de partilha e amizade faziam um contraste abismal com a agressividade do clima em Deception. Depois do almoço o chefe de base reuniu-se com os militares junto à janela e tomaram a decisão. O vento estava mais calmo e apontou-se a saída de 1 Zodiac para as 16h, o destino era a praia coberta de ossos de baleia, Colatinas, para ir retirar os DGT's que foram instalados três dias antes. Hoje o dia seria muito longo, e depois de chegar à base tinha ainda de retirar os 5 DGT's junto à baia. Connosco vinham mais 4 militares que tinham chegado a Gabriel de Castilha durante essa semana. A viagem até Colatina foi feita com muito cuidado, as águas da baía de Deception continuavam muito agitadas e o Zodiac balanceava com dificuldade pelas ondas. Os DGT's estavam em bom estado, e enquanto trabalhava um dos militares filmava-me com uma câmara profissional "Serás muy famoso en España" dizia-me na brincadeira. Ao embarcar Ravi perguntou-me se conhecia a baía dos baleeiros. Mal esperou pela minha resposta e disse-me "Entonces vamos!" Paciência pensei, teria de adiar trabalho. A baía de baleeiros era realmente um ponto de paragem obrigatória na ilha. Da praia a vista era desconsertaste. Mesmo em frente erguiam-se enormes contentores de armazenamento de gordura e maquinaria parcialmente enterrados na areia negra de piroclasto. Os anos de exposição a este clima impiedoso desfizeram e corroeram todo aquele complexo industrial fantasmagórico agora devorado pela natureza. Aqui e ali havia aquilo que restava das casas e barracões de madeira onde os trabalhadores dormiam e faziam a sua vida diária. Aproximámo-nos devagar para lermos o letreiro informativo pregado à velha e desgastada parede de madeira. Explicava que Deception Island tem uma história de ocupação humana desde 1911 desde a instalação daquela baleeira por uma empresa Norueguesa. Mais tarde em 1931 o complexo foi abandonado e em 1944 parte dos edifícios foram adaptados para a instalação de uma base britânica. As erupções de 1967 e de 1969 provocaram destruição e deslocamentos de terra que forçaram o encerramento da base até aos dias de hoje. Aquele enorme casarão de madeira abandonado dava arrepios na espinha. A luz do sol entrava pelas janelas partidas e iluminava camas, secretárias, armários, objectos pessoais e maquinaria, e as paredes e telhados estavam completamente contorcidos pelas alterações do terreno impostas pelo vulcão. Imaginar a vida de uma equipa de homens há precisamente 100 anos atrás, lutarem contra este tempo e trabalharem em condições tão adversas enchia-nos de espanto e admiração por este lugar. A 100 metros desta casa havia duas sepulturas que inocentemente impunham um ambiente catastrófico a todo aquele cenário surreal. Os contentores de armazenamento tinham cerca de 20 metros de altura, havia muitos outros invisíveis completamente enterrados e a capacidade de armazenamento dava-nos uma ideia da dimensão da matança. Ravi dizia que mesmo assim por vezes os contentores não chegavam e que teriam mesmo de interromper a caçada. Olhou para mim e suspirou " La barbarie humana..." Na praia ao lado, a areia estava coberta de focas de Weddell e de pinguins gentoo. Disseram-me mais tarde que aquela zona está sempre quente e por isso é uma das paragens obrigatórias para as focas que anseiam por uma sesta. Descansavam relaxadamente ao lado de enormes ossos de baleia e faziam o contraste perfeito entre vida e morte em Deception. Dia 17 seria marcante também pela festa de sábado à noite. Desta vez tínhamos uma temática: "Baile de mascaras!", em que todos nos mascarámos num personagem à escolha. Houve piratas, palhaços, assaltante de bancos, batmans, dorminhocos e até anjinhos. O nível de diversão batia no vermelho! Festas destas só acontecem na Antárctica... Isto garantiram-me os veteranos Antárcticos. Lamento mas os pormenores não podem ser revelados por este meio. Ficarão novamente à mercê da vossa i m a g i n a ç ã o. 16 de Dezembro de 2011
Da janela da sala, o chefe de base olhava para o tempo com um ar desconfiado. Por uma questão de segurança todos os planos para aquela manhã tinham de ser cancelados e o aviso foi dado enquanto tomávamos o pequeno almoço. O vento fustigava a base sem piedade, conseguíamos ouvi-lo e senti-lo nos abanões das paredes do pré-fabricado e ficámos todos na sala durante a manhã. A calma e o convivio matinal contrastavam com a azáfama habitual de inicio de dia. Na verdade não me deu grande estorvo, havia imensos dados para meter no portátil e claro escrever os diários em atraso para o propolar. A manhã passou e a hora de almoço chegou. Depois do postre o chefe de base olhou novamente para o tempo a partir da janela. Pela agitação das bandeiras podíamos dizer que o vento continuava muito enfurecido. Os comandantes militares juntaram-se e chegaram a uma conclusão. Tínhamos autorização para sair, mas com vigilância redobrada. Nessa tarde os planos de trabalho eram recolher os DGT's na praia de Colatinas assim como amostras de vegetação no vale do Mecon. Parti então com Aitor, veterinário companheiro de maria e de camarata, até ao vale do Mecon para a recolha de vegetação. Andávamos com dificuldade e muito inclinados para não sermos derrubados pelo vento. As nossas caras eram bombardeadas constantemente por piroclastos voadores, e as rajadas mais fortes conseguiam levantar a água do Mecon e lança-la para o ar como se fosse um jet wash. As condições de trabalho eram complicadas, e Aitor não parecia muito entusiasmado em ir a Colatina depois de acabarmos com a recolha de amostras. Demoraria cerca de 1hora a caminhada só de ida e tudo podia acontecer nestas condições. Depois de recolher as amostras voltámos à base, para tranquilamente tomar uma decisão. Ao entrar na sala vimos da janela tampas das enormes caixas de mantimentos a voarem e saímos a correr para recolher o que era possível. A coisa estava feia e os militares juntaram-se para tentarem conter o voo de mais material. Finalmente o chefe deu a ordem por rádio, estávamos todos proibidos de sair da base. Estava realmente perigoso andar lá fora. Fui para o laboratório tentar adiantar trabalho mas não pude fazer grande coisa. O vento fazia tremer as paredes e era impossivel para a sensível balança estabilizar o peso das amostras. Ao meu lado Mariano monitorizava o vento em tempo real através da estação meteorológica da base e ia avisando quando os recordes de velocidade eram batidos. 90, 100, 110, 120 km/h. Durante o resto do dia restou-me contemplar a furia dos ventos Antárcticos e planear o dia seguinte, iria certamente haver trabalho redobrado. André Mão de Ferro & João Canário |
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