A CAMPANHA
PROPOLAR 2011-2012
Novembro de 2011 a Abril de 2012
PROPOLAR 2011-2012
Novembro de 2011 a Abril de 2012
Navio LM Gould, Estreito de Bransfield, 7 de Março de 2012 Estou já na longa viagem de regresso. Saímos há 2 dias de Palmer, depois de no domingo termos recolhido todo o material do monte Amsler. Ontem estivemos todo o dia em Cierva Point a desembarcar o equipamento para as perfurações e os víveres para a estadia de 3 semanas da equipa na Base Primavera. Eu estou de regresso. A minha campanha antártica já vai longa, pois já estou fora desde final de Dezembro, com um pequeno interregno de cerca de 1 semana em Portugal. o Jim, o Alexandre, o Nick, o Kelly e o Stian ficaram na base, já encerrada, mas gentilmente cedida pela Argentina para albergar a nossa equipa. O objectivo é instalar mais uma perfuração para a monitorização do permafrost, uma estação meteorológica, várias pequenas perfurações para o estudo da camada activa, e ainda fazer um estudo detalhado dos solos e da geomorfologia da área. O dia de ontem foi passado a transportar quase 1 tonelada de equipamento; parte significativa dele, vertente acima até ao sítio da perfuração, a 180m de altitude. Sem a ajuda extraordinária dos Marine Technicians do LMG e dos colegas investigadores do navio, a tarefa teria sido muitíssimo difícil. Obrigado LMG! Hoje, estamos a caminho do refugio COPA, na ilha King George, onde vamos recolher 4 investigadores norte-americanos, e ainda o Adelino Canário e o Pedro Guerreiro, do projecto FISHWARM, que estiveram na base polaca Arctowski. Até Punta Arenas ainda demoraremos cerca de 4 dias e então, daremos por concluída a campanha. A equipa que fica na Base Primavera regressará no início de Abril, certamente com boas notícias. Até lá, estarão apenas contactáveis por um telefone iridium, que usarão diariamente para contactar com a base Palmer para o Daily Check, bem como para contactar a família. Vou também estar em contacto regular com o Alexandre, para saber os desenvolvimentos dos trabalhos. Contudo, não poderemos ter actualizações regulares do blogue até ao final de Março, altura em que eles voltarão a ter acesso à Internet. Entretanto, vou dando notícias. Gonçalo Vieira. [Permantar 2. Palmer] Começando a arrumar a tralha e a preparar a partida para a base Primavera3/3/2012
3 de Março de 2012 Base Palmer A perfuração de Palmer está terminada. Finalmente! Ontem estivemos no topo do Monte Amsler a acabar de organizar os cores de rocha e a arrumar todo o material. Selámos a sondagem e instalámos definitivamente os sensores de temperatura que irão ficar a monitorizar as temperaturas do solo durante um período, que esperamos, seja de várias décadas. Mais um ponto na Global Terrestrial Network for Permafrost, cobrindo um grande espaço vazio entre a base britânica de Rothera e a ilha Livingston. Estamos muito curiosos em saber quais os resultados provisórios, pois não sabemos qual o estado térmico do permafrost nesta área, nem temos a certeza se o permafrost ainda aqui ocorre.
Os últimos dias foram muito difíceis: vento, neve e chuva. Foi-se a semana de bom tempo. Conseguimos furar até ao 15,5 metros de profundidade, mas tínhamos cerca de 3,2 metros de rocha que teimava em não sair. Ontem ainda conseguimos retirar 1,5 metros, e hoje mais 40 cm. Este processo significa retirar várias vezes os tubos de dentro da sondagem e estamos a falar de cerca de 120kg de tubo, mais o peso da rocha e a fricção, chegando ao fim do dia exaustos e com bastantes dores musculares. Estes factores mais o tempo estar a escassear, conduziram à decisão de terminar a perfuração por hoje.
Colocamos então um tubo de polipropileno no interior da sondagem e posteriormente uma cadeia de sensores, em que o mais fundo está a 14 metros. Estamos todos muito cansados mas extremamente felizes por este objectivo alcançado. Os nossos colegas da base dão nos os parabéns pelo trabalho que fizemos, sendo também um reconhecimento do valor da nossa equipa e da importância do nosso trabalho na monitorização do Permafrost nesta região da Península Antárctica. Os próximos dias passarão por terminar de montar alguns dos sensores de monitorização da temperatura do ar e da superfície do solo e da espessura da neve, preparar o material para o trabalho em Cierva Point (base Argentina de Primavera) onde estaremos cerca de 3 semanas e por fim tentar visitar algumas das pequenas ilhas aqui perto de Palmer. Alexandre - Base norte-americana de Palmer "Palmer Station, Palmer Station - Drillers... leaving Palmer station heading to Lovers Lane"..."Drillers - Palmer Station, heading to Lovers Lane at 09:11". Assim começam os nossos dias de manhã, ao entrarmos na zodiac, com a comunicação entre o Stian e o operador de rádio da base. Lovers Lane é o romântico nome da baía onde costumamos deixar a zodiac, próximo da jovem ilha Amsler, que se formou há poucos anos devido ao retrocesso de um glaciar.
Ontem foi mais um dia de perfurações no Monte Amsler. No sábado tinhamos avançado apenas 1 metro, pois tinhamos tido alguns problemas com a coroa diamantada, que decidimos substituir já no final do dia. Mas no domingo, o dia correu bem melhor e furámos mais 2 metros, pelo que estamos agora a 12 metros de profundidade. Chegou a altura de tirar um dia para descanso na base e pôr o email e trabalho pendente em dia. Rever relatórios, acabar de lançar algumas notas ainda pendentes e, claro, descansar um pouco. Tivemos mais de uma semana non-stop a trabalhar nas perfurações e o cansaço acumulado sente-se. Hoje o amanhecer trouxe-nos uma paisagem coberta de neve e está a saber descansar um pouco, para amanhã voltarmos ao terreno. Gonçalo Vieira, Base Palmer - ilha Anvers. [Permantar 2. Palmer] Incêndio na Estação de Pesquisa Brasileira na Antárctica Comandante Ferraz26/2/2012
25 de Fevereiro de 2012 Ao voltarmos de mais um dia de trabalho de campo, recebemos uma noticia que nos deixou em choque. O incêndio na estação Brasileira e a morte de dois militares. Os meus profundos sentimentos às famílias dos militares falecidos. Também quero deixar uma mensagem de força ao grupo-base e aos cientistas que se encontravam na base. A primeira vez que vi a base brasileira foi em 2006 na minha primeira campanha à Antárctida, apesar de não ter visitado a base, foi das primeiras que vi e recordo-me de a ter achado espectacular. O ano passado tive o privilegio de ficar instalado na base e de partilhar momentos inesqueciveis com todas as equipas que constituem esta base. É um momento difícil e deixo que estas fotos da base falem por mim.... Alexandre - Base Norte-Americana de Palmer A perfuração está a avançar bastante bem. Hoje chegámos a 9 metros de profundidade e estamos bastante animados. O apoio que nos foi dado pelo Patrick e Michel Blètry, tanto na formação que com eles tivemos na Suiça em Junho, como agora por email, tem sido excelente. Por outro lado, as dicas que o António Barbosa da Soporfuso, a empresa que nos vendeu parte do equipamento, têm sido excelentes. Em particular, a dica de picarmos de vez em quando, com uma lima os dentes da coroa diamantada, tem tido um efeito monumental na capacidade de perfuração. Deixamos algumas fotos dedicadas ao Patrick, Michel e António no post de hoje. Infelizmente, da parte mais complicada da perfuração, o momento em que temos que sacar os 9 metros de tubo, ainda não temos fotos...temos estado todos ocupadíssimos e não tem havido mãos livres...é fundamental não deixar cair o core, nem os tubos no buraco, senão estamos fritos. O tempo excelente mantem-se. As temperaturas estão próximas de 0ºC, mas não temos tido qualquer vento, situação que para nós, que estamos acostumados a trabalhar nas Shetlands do Sul, nos tem surpreendido muito. Trabalhar nestas condições tem sido fantástico! Amanhã de manhã, voltamos a sair pelas 8h30 e vamos ver como corre o dia. Gonçalo Vieira, Base Palmer, ilha Anvers. 23 de Fevereiro de 2012
Depois de um inicio complicado, os nossos dias na perfuração têm sido melhores. De momento estamos a 7 metros de profundidade e estamos a furar cerca de 2 metros por dia em rocha muito dura. O tempo tem sido nosso amigo, com sol e pouco vento, que facilita muito o trabalho. Os nossos dias estão a ficar uma rotina. Acordamos pelas 7h da manha e depois do pequeno almoço, viajamos de Zodiac até à ilha Amsler. A caminhada até ao local da perfuração demora cerca de 20 minutos, onde subimos sempre com as mochilas carregadas de roupa extra e os nosso almoços. Antes de iniciar a perfuração temos que preparar o sistema de abastecimento de agua que arrefece o motor e a coroa diamantada, aquecer o gerador e colocar as ferramentas que auxiliam a enroscar/desenroscar os tubos. O Gonçalo e eu vamos alternando no manuseamento da perfuradora, e somos auxiliados por mais uma pessoa, principalmente na parte em que temos que retirar os tubos da sondagem, que confesso, estão a ficar cada vez mais pesados. O cansaço também vai acumulando, mas apenas iremos descansar quando a perfuração estiver terminada. No final do dia o Gonçalo regista e descreves os testemunhos de rocha que retiramos da perfuração, e distribuímos pelas nossas mochilas, voltando ainda mais carregados para o Zodiac. Esperamos manter este ritmo e que não ocorram mais problemas. Se assim acontecer e o tempo continuar a ajudar, possivelmente terminaremos na segunda ou terça-feira. Vamos torcer por isso. Alexandre, Base Norte-Americana de Palmer . 21 de Fevereiro de 2012
2ª feira iniciámos os trabalhos para a perfuração na ilha Amsler. Vamos passar lá em cima os próximos dias, com o objectivo de instalar um nova sondagem para a rede mundial de monitorização do permafrost, a Global Terrestrial Network for Permafrost (GTN-P). Estamos a perfurar em rocha muito resistente, um andesito de grão fino, que nos está a dar cabo da cabeça e das costas. A tarefa está a demorar, pela dureza da rocha, mais ainda do que pensávamos. O 1º dia não correu muito bem. Tivemos problemas no alinhamento da perfuradora e depois de furar 1m, tivemos que a relocalizar. Furámos mais 1m e acabámos por ter problemas com o sistema de dupla camisa e perdemos em poucos minutos uma coroa diamantada. Ficámos um bocado desanimados e voltámos cansados para a base. Discutimos as várias soluções possíveis e consultámos o nosso amigo Patrick Blètry de Aarau na Suíça e que faz perfurações profissionalmente, tendo-nos feito as perfurações em 2008 em Livingston. Chegámos à conclusão que iriamos passar a usar apenas o corer exterior e que iriamos assim avançando até onde fosse possível. Hoje, 3ª feira, os trabalhos correram bastante melhor. Não tivemos qualquer problema técnico, mas o furo continua a avançar muito lentamente. A rocha é muito dura e apenas conseguimos avançar cerca de 2m. Estamos agora a 2.8m de profundidade e de rastos com dores nas costas. Passamos o dia a furar, transportar baldes de água usada para arrefecer a máquina e a broca, organizar os carotes de rocha e a perfurar...está claro que além disso, ainda acartamos mais água, organizamos carotes de rocha e perfuramos... De qualquer modo, chegámos ao final do dia muito mais animados. A perfuração segue lenta, mas o dia correu bem. Contudo, cada novo dia pode trazer novos problemas, pois há medida que vamos perfurando mais, todo o processo se torna mais complicado. Gonçalo Vieira, Base Norte-Americana de Palmer 19 de Fevereiro
Ontem ao entrar no barco de noite, observei o quadro branco e vejo a convocatoria de quase todo o pessoal da tripulação do barco para auxiliar o nosso grupo. Pensei logo... assim será muito mais fácil...mas mesmo assim será duro. De manhã logo após o pequeno-almoço tivemos uma reunião para discutir a logística: dois Zodiac’s com várias centenas de kilogramas de material e 15 pessoas. O dia esteve do nosso lado com um sol fantástico e pouco vento. Na viagem de barco fomos ouvindo musica, que de acordo com o Chance (um dos membros da tripulação), é para tornar o trabalho mais divertido. Ele tem razão!!! A viagem é curta até à ilha Amsler (nosso local de estudo), demorando cerca de 10-15 minutos. Ao chegar, descarregamos imediatamente os barcos, e carregamos o material todo até à base da vertente que tínhamos que subir. Utilizamos um sistema de cordas instalado pelo Stian (o nosso camp manager), que permitiu puxar o material em 3 trenós pela vertente que estava com neve. Posteriormente transportamos o material à mão até ao destino final, o local da perfuração, por um barranco cheio de blocos afiados que vão cortando as nossa botas. Todos este trabalho demorou menos tempo que eu imaginei. Demoramos 4 horas com isto tudo. Confesso que a ajuda da tripulação do barco foi absolutamente fantástica, sendo eles incansaveis e sempre, sempre bem dispostos. Thanks to the entire RPSC Marine from the LM Gould. You one of the best group’s I’ve had the pleasure and honor to work with. No final do dia, instalamos a coluna de suporte da perfuradora e amanhã iremos começar o trabalho... Alexandre 18 de Fevereiro de 2012
Hoje de manhã, ao abrir o email, recebi uma notícia que me deixou bastante abalado. O David Gilichinsky, colega e amigo da Academia Russa das Ciências e um dos maiores especialistas mundiais em permafrost, com quem trabalhámos em 2009 na ilha Deception, faleceu de ataque cardiaco. Gostava muito do David. Era um cientista fantástico e um tipo incrível para colaborar no terreno. Estivemos cerca de 2-3 semanas juntos em Deception a trabalhar em perfurações em permafrost, juntamente com colegas e estudantes portugueses e espanhois, bem como com dois estudantes do David. Foram dias muito interessantes e bastante divertidos. O David deixou-nos aos 64 anos, depois de uma vida inteira dedicada ao estudo do permafrost, em especial na área da microbiologia. Interessava-se também muito pela astrobiologia, ciência que estuda as possibilidades de sobrevivência de micro-organismos no espaço. Ainda jovem, o David passava muito tempo a perfurar no permafrost da Sibéria, andando sozinho de um lado para o outro com a sua perfuradora. Lembro-me bem dos dias da ilha Deception e da sua perfuradora ferrugenta e fumarenta, bem como das perfurações que efectuámos. Ficámos então de escrever um paper em conjunto, que acabámos por não terminar e que me sinto na obrigação de o fazer agora, com mais velocidade. Acho que conheci pessoalmente o David em Madison-Wisconsin, numa reunião importantíssima em 2004, que marcou o meu rumo na pesquisa antártica e no permafrost. Lembro-me de o ver também em programas na televisão a falar sobre mamutes congelados encontrados no permafrost da Sibéria. Foi um previlégio e uma grande honra ter podido trabalhar e aprender com ele. Hoje é, por isso um dia triste para a comunidade internacional que estuda o permafrost, pois perdeu-se um grande cientista e uma pessoa fantástica. Achei que com este texto no diário de campanha, bem como com algumas fotografias da campanha de 2009, lhe poderiamos prestar uma pequena homenagem. Quanto ao que fizemos no dia de hoje, fica para amanhã contar em mais detalhe. No essencial, encontrámos o sítio para fazer uma nova perfuração; uma perfuração que esperamos que venha a contribuir para completar a rede de monitorização num gradiente latitudinal ao longo da fachada oeste da Península Antártica, para a qual os trabalhos do David, em muito contribuiram. Acho que ele ia gostar de saber o que fizemos hoje. Obrigado David. Gonçalo Vieira Base Palmer, ilha Anvers |
A CAMPANHA PROPOLAR 2011-12 Arquivo de notícias organizadas por:
» Projeto
Tudo
» Ordem cronológica
Março 2012
|