A CAMPANHA
PROPOLAR 2011-2012
Novembro de 2011 a Abril de 2012
PROPOLAR 2011-2012
Novembro de 2011 a Abril de 2012
PARTE 1 Desde manhã que esperavamos a chegada do navio americano Lawrence P. Gould, que nos levará numa viagem de três a quatro dias através da Passagem de Drake, até Punta Arenas. O navio ancorou agora frente à estação americana Pieter Lenie, mais conhecida por cá como Copacabana pela sua localização numa longa e bonita praia... de musgo e seixos rolados, e tão frequentada como a sua homónima brasileira, mas por milhares de pinguins. Ao contrário de Arctowski e a malograda Ferraz, Copacabana é uma estação sazonal para monitorização de aves, pinguins, petréis e moleiros e o navio vem fechar a estação, recolher cientistas e equipamento. Depois de finalizadas as tarefas em Copa, o Gould aproximar-se-á do interior da Baía do Almirantado e alguns membros da tripulação virão visitar a estação, e nós vamos aproveitar a boleia. O Gonçalo Vieira vem a bordo, desde a Estação americana de Palmer, e talvez nos possa visitar aqui em Arctowski. Ao contrário do esperado esta espera dá-nos tempo para uma última refeição com o pessoal da 36ª Expedição Antárctica Polaca, o nome algo pomposo que designa aqueles que vão invernar em Arctowski, sete no total este ano, e os restantes habitantes que partirão dentro de duas a três semanas no navio Polar Pioneer, que serve logisticamente Arctowski com equipamento, combustível e pessoal duas vezes por ano. Esse era supostamente o nosso transporte mas uma mudança de rota e escalas, de Mar Del plata na Argentina para Port Stanley nas Falkland, impede-nos de utilizar as ligações aéreas para regressar a Portugal. Assim esta é para nós uma manhã calma mas de alguma expectativa. Nos últimos dias foi necessário arrumar e preparar o equipamento para ser levado de volta à Europa, deixar as instalações em boas condições de trabalho, depois de mais de um mês expostas à água salgada, preparar as amostras congeladas que ainda demorarão mais de dois meses a chegar ao laboratório, depois de 40 dias num contentor/congelador a bordo do Polar Pioneer até Gdynia na Polónia, e, não menos complicado, arrumar a nossa bagagem pessoal. Ontem ao fim da tarde ainda houve tempo para uma última caminhada pelos arredores da base. Saindo de Arctowski pelas colinas a sudoeste, chega-se a uma zona de pequenos lagos, alimentados pela água que drena dos pontos mais altos. Entre colinas e nalgumas encostas, alguns bancos de neve derretem lentamente formando pequenos cursos de água no leito de sedimentos vulcânicos. Esta humidade favorece o aparecimento de várias espécies de musgo e algumas plantas superiores. Ao contrário do que se poderia pensar, os arredores mais próximos de Arctowski são um tapete verde amarelado que se estende por vários hectares, onde nesta altura do ano os leões-marinhos fazem a muda da pelagem e alguns moleiros ainda nidificam. Mais para o interior os declives aumentam e o tipo de solo muda ao subir pelas morenas dos glaciares que outrora cobriram toda esta região. Agoram são montes de pedregulhos de vários tamanhos, desde uma bola de futebol a automóveis, nalguns casos simplesmente empilhados precariamente uns nos outros noutros mantidos instavelmente juntos por uma espécie de argamassa de sedimentos molhados. Estes montes de rochas quebradas pela abrasão do glaciar espalham-se por centenas de metros até à margem actual da massa de gelo do glaciar Ecology, que agora sem neve expõe várias crevassas. Nas morenas encontram-se muitos tipos de rochas, com características e formas pristinas, pouco erodidas, e é comum encontrar rochas de várias composições, cores, etc. Especialmente actractivas são vários tipos de geodos, formações ocas com um núcleo de cristais de quartzo, cujas mais comuns aqui parecem ser ágatas. Pedro Guerreiro e Adelino Canário. PARTE 2 Moreia do Glaciar Ecology, Baia do Almirantado, Ilha do Rei Jorge. Estamos agora a cerca de dois quilometros da praia e a cerca de 200 metros de altitude e os únicos vestígios de vida são os petréis e moleiros que sobrevoam estas encostas e pequenos tufos de liquenes que crescem nalgumas destas rochas... nesta região já foram identificadas mais de 20 espécies diferentes. E surpreendentemente, aqui encontramos um pinguim solitário. Durante a muda as penas dos pinguins perdem a sua capacidade de repelir a água e estas aves não se aventuram no mar, permanecendo abrigadas entre as rochas da praia... este decidiu vir um pouco mais longe. De volta à estação de Arctowski, vamos seguir junto ao mar, descendo pela morena até à frente do glaciar Ecology que segundo os registos sofreu um recuo de mais de 100 metros nos ultimos 30 anos, comprovado por enormes blocos de rocha espalhados, muito diferentes do sedimento circundante. Se a isto adicionarmos a largura da frente do glaciar, de mais de trezentos metros e cerca de vinte a trinta metros de altura, percebemos a dimensão do volume perdido. A enseada formada é o caminho que nos separa de Copacabana, que é transposto com recurso a canoas, estacionadas na praia, uma do lado de cá, para o pessoal de Arctowski, outra do lado de lá, para os americanos. Caminhamos agora pela praia. Na zona onde até há poucos anos estava o glaciar o solo é composto por sedimentos finos, pequenas pedras e uma textura quase lodosa. Na zona exposta há mais tempo acumulam-se calhaus de vários tamanhos moldados pelas ondas e que sobem e descem com a rebentação. Acima destes um amplo e extenso tapete de musgo. Nesta praia encontram-se por vezes algumas focas de Weddel, grupos de pinguins Gentoo, cuja colónia principal é na praia de Copacabana, do outro lado da enseada, alguns piguins Chinstrap, e os sempre presentes moleiros. No ar os petreis gigantes juvenis treinam do voo, partindo da colónia localizada no topo de uma colina próxima. Numa zona mais plana acumulam-se centenas de ossos de baleia... vértebras com o diâmetro de jantes de automóvel e costelas de dois metros ou mais são os mais facilmente reconheciveis. Nos finais do século XIX e inicio do seculo XX esta era uma zona de caça à baleia e vários arraiais estavam localizados na ilha. Infelizmente esta é uma prática ainda corrente agora disfarçada como investigação por alguns países. Pedro Guerreiro e Adelino Canário PARTE 3 Na praia e rochas do ponto Rakusa, perto de Arctowski, são já muito poucos os pinguins de Adelia que ainda se avistam aqui. Quando chegámos, em finais de Janeiro, esta zona albergava a maior colónia desta espécie, mas por esta altura ja todos se fizeram ao mar. Os juvenis, ainda a desenvolver as penas aldultas, e com tufos de penugem castanha e cinzenta esperavam em grupos os progenitores que iam caçar alimento. Depois era a algazarra total, com os pinguins a peseguir os pais para que estes regurgitassem, sobretudo krill. Agora já só vemos no chão uma ou outra carcaça dos que não sobreviveram e serviram de alimento a moleiros ou petréis, e as cores avermelhadas e esverdeadas que toneladas de guno deram ao solo. Felizmente também já se vai dissipando o odor característico que nos dias de vento era transportado para a estação. Quem ainda permanece por cá, embora em menor número, são os elefantes-marinhos. Pequenos grupos de fêmeas e juvenis, normalmente em redor de um macho maior e mais dominante, aconchegam-se entre os rochedos que criam zonas de praia mais protegidas do vento. Quanto o sol está mais forte cobrem-se de areia. Estão também na mudança da pelagem e podem ficar em terra por vários dias. Estes pequenos ajuntamentos criam alguns atritos entre os machos juvenis e é frequente ver algumas disputas mas sem violência, normalmente resolvidas com grunhidos e rugidos. A sua permanência cria charcos pouco atraentes de urina e excrementos, e um cheiro pouco convidativo mas que parecem ser uma fonte de nutrientes para microorganismos, bactérias e microalgas... estas águas passam de castanhas a laranja e depois a verde. De caminho passamos junto ao farol de Arctowski, o farol permanente mais a sul do planeta. Na verdade é um pequeno farolim automático, uma coluna de cerca de dois metros de altura no topo de um rochedo com perto de dez metros, e a sua utilidade é pequena, mas é mesmo assim um marco. Nos rochedos que emergem do mar junto ao farol abriga-se uma colónia de corvos-marinhos. Caçam nas águas da baía e têm uma pelagem diferente dos que vemos frequentemente no Algarve. Estes têm o dorso negro mas o peito e abdomen são brancos, e na época da coorte exibem colorações exuberantes, com um bico fortemente amarelo e olhos azulados. Voltando à estação, era hora de jantar e de um pequeno discurso de agradecimento. Neste momento começa a chegar o pessoal da base para o almoço. Normalmetne é às duas da tarde mas como esperamos o pessoal do navio americano Gould os vários trabalhos terminaram um pouco mais cedo. Os vários membros da equipa da base têm diferentes especialidades, desde náutica, alpinismo, electricidade, carpintaria, mecanica e um paramédico, mas todos são responsáveis pela manutenção do equipamento e infraestruturas e no último mês já vimos os edificios mudar de cor algumas vezes, desde que vão passando por remover a ferrugem, pintura primária e pintura final. Esta base é predominantemente amarela, mas alguns contentores estão agora a ser pintados de vermelho. A maior preocupação do momento são os geradores. A estação tem 5 geradores, 2 novos, independentes e 3 mais antigos, que funcionam num mesmo sistema. Nos últimos dias ambos os novos começaram a ter problemas e foi necessário ligar os velhos, que são mais barulhentos, produzem menos energia, mas sobretudo consomem mais combustível. Este pode ser um problema, pois não está previsto novo abastecimento, e sem outras bases em funcionamento na baía, é necessário ser duplamente cuidadoso com os gastos de energia. Agora que partimos, esperamos que tudo corram bem para estes polacos que nos acolheram de forma muito hospitaleira e que nos ajudaram na nossa investigação, nomeadamente em preparar algumas estruturas e levando-nos para pescar, acabando alguns por pescar também. Obrigado, Dzienkuje! Pedro Guerreiro e Adelino Canário Estação Comandante Ferraz antes do incêndio (foto Pedro Guerreiro) Domingo 27 de Fevereiro de 2012 Arctowski - Faz hoje 35 anos que foi inaugurada esta base Antárctica de Henrik Arctowski. O dia não foi a celebração que se antevia ainda há uns dias atrás. Após os acontecimentos que destruíram a base brasileira Comandante Ferraz, o ambiente é de tristeza, mesmo alguma apreensão, pois durante o inverno Arctowski continuará aberta com 7 pessoas que estarão efectivamente isoladas durante mais de 6 meses. Mas, mesmo assim, ainda se fez um bolo de aniversário e uns pratos polacos - uma espécie de guisado com muita cebola, couve e vinagre, arengue em conserva, carnes fumadas e enchidos, rolos de carne com cebola e pickles de pepino. Além dos locais, estiveram os 4 habitantes da base americana Copacabana, que ficam connosco todos os fins de semana, para os duches e a lavagem de roupa - em Copacabana não há água canalisada. Depois de curtos discursos foi apagar as velas, comer e relaxar conversando e ouvindo música. Segunda-feira - A nossa semana também não se iniciou da melhor maneira. Os peixes que estavam a -2ºC morreram todos. Toca a ir à pesca para tentar apanhar mais alguns. Por sorte o tempo estava bom e foi uma hora de pesca, em condições excelentes. Foi também um dia de tentar progredir com relatórios e papelada em geral. Terça-feira - Três dos microbiologistas e 2 climatologistas voltaram para a Polónia. Daqui foram de zodíaco até à estação de Machu-Pichu (peruana), que fica do outro lado da baía, não muito longe da estação brasileira, para no dia seguinte seguirem de navio até à base de Frei para apanhar um avião Hercules para Punta Arenas. Para nós foi também mudar de habitação para mais perto do «samolot» (avião), o edifício central da estação em forma de T. Isto permitiu fechar os edifícios da zona onde estávamos, para poupar energia. Mais trabalho de secretária - rever artigos para publicação. Quarta-feira - Como estava planeada festa de aniversário para domingo, o chefe da base deu folga. Organizou-se uma excursão de zodíaco para irmos ver uma zona recondita da baía, rodeada de encostas íngrimes e glaciares, com uma ilha com um pico e alto sobressaindo. Quando saímos estava bom tempo, e depois de navegarmos uns 20 minutos, fizemos uma pequena caminhada pela margem. Uns tirando fotografias, outros procurando pedras interessantes e cristais. Nesta zona encontram-se comummente ágatas, cristais de quartzo e, nalguns locais, fósseis de plantas. Ainda tentámos ir a outro local mas levantou-se vento e havia muito gelo compactado a flutuar na água pelo que voltámos para a base. Embora estejamos bem protegidos do frio com fatos de sobrevivência, estas saídas algum esforço físico, pelo que muitos acabaram na sala a ver filmes, outros ainda forma cozinhar. Os colegas polacos ainda estavam retidos em Machu-Pichu. Isto quer dizer que perderam o avião para Buenos Aires onde iam ficar durante uma semana. Má notícia, ao fim do dia, os peixes a baixa temperatura morreram novamente. Talvez seja por os colocarmos muito rapidamente a uma temperatura 4ºC inferior à da baía, mas não deixa de ser lago inesperado. Nada a fazer. Quinta-feira - Um dia geralmente frio (temperaturas negativas quase todo o dia), com muita neve ainda no solo do fim de semana. Esquecendo as alucinações que vêm da universidade, um dia de escrita - mais artigos para rever. Exercício de bicicleta de ginásio ao fim do dia e filme V de Vendeta, um Guy Fawkes (o conspirador inglês católico do século XVI que tentou fazer explodir o parlamento) moderno com estilo Orweliano. Vale a pena ver e há também em livro (uma comédia de Alan Moore). Sexta-feira - um dia morno, sem muito para contar. Mais escrita. Nos últimos dias o tempo tem estado excelente com muito sol e calmaria. Há uma alta pressão localizada próximo que nos tem estado a proteger das frentes que vêm da passagem de Drake. Esta é uma actividade diária, geralmente a seguir ao pequeno almoço. Carregar a previsão o tempo e ver a direcção e velocidade do vento. O vento é de facto o nosso «inimigo». O factor de arrefecimento pode colocar temperaturas positivas a fazer-se sentir como se tivesse uma dezena ou mais de graus centígrados negativos. Muito tempo em frente ao computador - o tempo passa depressa. Sábado - o dia em que todos os diabos se soltaram. Fui acordado pelas 6 horas ao som de um helicóptero. Ocasionalmente o helicóptero da estação de Frei vem até aqui para vir buscar correio, mas tão cedo? Quando me apercebi que ia aterrar resolvi ir dar uma vista de olhos e reparei que estava muito próximo, entre o nosso alojamento e o samolot. Na beira água, a uns 100 metros, um zodíaco e algumas pessoas. Achei estranho mas resolvi voltar para a cama. Minutos mais tarde o Pedro chama-me a dizer que Ferraz estava a arder. O helicóptero tinha vindo buscar um queimado que a equipa de Arctowski tinha trazido de Ferraz por zodíaco. Ao fundo, do outro lado da baía, fumo negro espesso subia lentamente. O alerta tinha sido dado à uma da manhã e pouco depois deixou de haver comunicação por rádio devido à falta de energia. O pessoal de Arctowski foi de imediato para Ferraz com uma cozinha de campanha para permitir preparação de bebidas quentes. Como era noite, o pessoal da estação chilena de Frei não podia utilizar os helicópteros - estes só entraram em acção cerca das 6 horas após o alvorecer. Por isso, também foram ajudar de zodíaco, uma viajem de duas horas! O resto já se sabe, está pela Internet. Há a lamentar duas vidas. Havia fumo e pequenas explosões até por volta do meio-dia de ontem. Nessa altura também começou a levantar-se vento. Hoje, quase dois dias não se vê fumo, mas depois ainda há combustão. Foi isso que nos disse via rádio o navio HMS Protector que ficou de vigia e fez o rescaldo. Da estação só restam os depósitos de combustível e os abrigos que estavam afastados do edifício principal. Foi nos abrigos que as pessoas se refugiaram para evitar hipotermia. A maior parte do material científico, apontamentos, trabalhos para tese, computadores e coisas pessoais foram perdidos pois não houve tempo de os resgatar. Tudo se iniciou com uma explosão na sala dos geradores, com perda de energia os alarmes não funcionaram e foram investigadores que tinham estado a celebrar uma festa de aniversário e foram ver as estrelas (um céu espectacular, diga-se) que viram as chamas. Agora há a limpeza a fazer para evitar contaminação ambiental (só para o ano). Após ter dado a notícia ao Ciência Hoje, jornalistas brasileiros descobriram-me a pedir informações. Nesta altura já o pessoal que estava na estação Ferraz deve estar a chegar a casa e a contar na primeira pessoa o que se passou. Vamos ver o que nos traz a próxima semana, talvez encontre uma pedrinha gira! Adelino Canário & Pedro Guerreiro, http://www.facebook.com/notes/adelino-canario/propolar-miss%C3%A3o-%C3%A0-ant%C3%A1rctica-n%C3%BAmero-sete/10151338926340384; http://www.facebook.com/note.php?note_id=10151334243145384; 25 de Fevereiro de 2012 Soubemos há pouco que houve um incêndio muito grave na base Antártica Brasileira Comandante Ferraz na ilha de Rei Jorge. A base ardeu por completo e há a lamentar duas mortes. Esta é uma situação que nos deixa muitíssimo tristes e aproveitamos para enviar um grande abraço e para dar os nossos muito sinceros sentimentos aos nossos grandes amigos brasileiros. Os nossos pêsames às famílias dos marinheiros que faleceram no incêndio. Esta foi uma perda muito grande para o Brasil e para a ciência antártica. Aproveitamos para esclarecer que não havia portugueses na base Ferraz. A alguns quilómetros, na base polaca Arctowski encontram-se o Adelino Canário e o Pedro Guerreiro, que nos enviaram a notícia do incêndio e que abaixo transcrevemos. Gonçalo Vieira, Base Norte-Americana de Palmer ************** Arctowski, King George Island, Antárctica, 25 de Fevereiro de 2012 Um fogo irrompeu na noite passada, cerca da meia-noite local (menos 3 horas que em Portugal), na unidade de geradores da base Antárctica brasileira Estação Comandante Ferraz, tendo-se progressivamente propagado à sala comunitária de refeitório e convívio e daí aos aposentos e a toda a instalação. Ao início da manhã a estação estava praticamente consumida, com excepção dos tanques de combustível e pequenos abrigos que se encontravam afastados do edifício principal. Do incêndio resultaram 2 feridos com queimaduras, um em estado mais grave e com hipotermia, que foi evacuado de barco zodíaco para a estação polaca de Arctowski, no outro lado da baía de Admiralty, donde um helicóptero o levou para as instalações hospitalares da base chilena Eduardo Frei. Estavam na altura na base brasileira 65 pessoas, entre pessoal técnico e investigadores, que foram também evacuados de helicóptero para Frei e de barco para o navio polar brasileiro Almirante Maximiano, que se encontrava ancorado na baía em frente à base brasileira. A base brasileira era uma das mais modernas da região estando aberta em permanência ao longo do ano. Foi instalada em 1986 tendo recebido a visita do Presidente Lula da Silva em 2008. Tinha capacidade para 106 pessoas, das quais 1/3 cientistas, e era formada por um conjunto de contentores metálicos ligados entre si por uma cobertura contínua. Estava equipada com sistema anti-incêndio, que não funcionou devido à perda de energia motivada pela falha de geradores, não havendo um sistema de fornecimento de energia alternativo. As condições de muito baixa humidade relativa em geral na Antárctica e, nesta zona, nos últimos dias com pressão atmosférica muito elevada, fazem com que o risco de incêndio seja elevado e a sua contenção difícil. Uma equipa de pessoal da estação de Arctowski, onde me encontro, prestou auxílio logístico disponibilizando bebidas quentes através de uma cozinha portátil e no transporte de feridos. Participaram na evacuação helicópteros chilenos e brasileiro. Este será provavelmente um inverno solitário para a equipa polaca de Arctowski, já que não deverão existir condições de habitabilidade em Ferraz. Programa Antárctico Brasileiro- http://www.mar.mil.br/secirm/proantar.htm Adelino Canário, Base Polaca Arctowski, ilha de Rei Jorge Domingo, 19 de Fevereiro de 2012
Arctowski - Um dia de calmaria após um razoável nevão durante a noite e forte ventania que empilhava a neve em locais mais protegidos. Neve fofinha e temperaturas um pouco abaixo de zero que faz com que vá continuar por cá, segundo a previsão, pelo menos até amanhã. É o final de uma semana em que os trabalhos correram de modo positivo. Na segunda-feira, dia 13, terminámos a experiência que vínhamos fazendo em que testámos o efeito de temperaturas entre -2ºC e +6ºC e salinidades entre 32 partes por mil (ppm) e 10 ppm (diluída 2/3 com água doce do glaciar). A amostragem durou desde as 10:00 h até quase às 20:00 com uma pequena interrupção para almoço. Apanhar peixe, tirar sangue e urina para análise de iões e hormonas e tecidos para medição de actividade enzimática e análise da expressão de genes. A primeira decisão foi a atribuição das espécies a este bacalhau da rocha antárctico (com ou sem acordo ortográfico?). Sabíamos que tínhamos mais de uma espécie e chegámos à conclusão que deveriam ser duas. Terá de ser confirmado pela análise de ADN, mas tudo indica que a mais abundante (90% de indivíduos) é a Notothenia rossi. Tivémos na nossa companhia a Joanna Dzido a recolher nemátodes parasitas. Ela fez o doutoramento neste assunto e actualmente monitoriza a passarada e especialmente os mamíferos da zona (tem de contar tudo o que vê num certo local - centenas a milhar durante um dia). Deve ter tido saudades do doutoramento e veio fazer companhia ... No final do dia tínhamos um bom número de indivíduos, cerca de metade do que necessitamos. Na terça-feira, dia 14, de manhã foi dia de preparação e escrita de relatórios. A Internet falha constantemente e é extremamente lenta mas lá se vai funcionando. De tarde, eu e Pedro fomos limpar os tanques e voltar a enchê-los para os preparar para receber mais peixes. O que vale é que já tínhamos engendrado um reservatório para receber a água salgada, a meia distância entre o contentor onde estão os tanques dos peixes e o mar. Bombeia-se água para o reservatório e depois coloca-se nele a bomba eléctrica e bombeia-se para os tanques dos peixes. Ao fim do dia estava tudo pronto para receber o novo lote. Mas infelizmente o disco rígido do computador parou e não voltou a andar. Por sorte tinha o disco portátil que foi utilizado para substituir o fixo do computador. Obrigou a transferir os ficheiros do disco portátil para o computador do Pedro o que levou umas horas. Lá se foram as fotos e mais algum material mas o hábito de fazer cópias diárias dos ficheiros funcionou e a dropbox também ajudou. Na quarta-feira, dia 15, houve temporal, ventos fortes e chuva que impossibilitaram qualquer saída. Enquanto não há computador não há nada que fazer pois os livros de leitura também são electrónicos. A meio da tarde lá apareceu um sistema operativo a funcionar e um office em polaco, cortesia do Jascezc, o homem da electrónica. Agora é voltar a colocar de volta os ficheiros. Por volta das 22:00 estava feito e pronto. A sincronização da dropbox vai levar vários dias e não estará pronta antes do fim-de-semana. Na quinta-feira, dia 15, o tempo está ainda ventoso mas permite tentar a pesca. Fica marcada para a tarde. Colocar o fato de sobrevivência, cântaros de plástico de 20 litros para colocar os peixes, material de pesca, saltar para o zodíaco que está atrelado ao trator que o leva até à água de marcha atrás de modo a que não tenhamos de entrar na água. Tivemos a companhia de mais 2 pescadores para além do homem ao leme. Andámos a ser arrastados pelos ventos e correntes e a dar banho ao isco - bocadinhos de peixe e carne de porco - mas pouca sorte. Ao fim de quase 2 horas apanhámos só 5 peixes. A esperança é o dia seguinte em que a previsão do tempo é melhor. Estava gelado, os pés e as mãos dormentes, e vim a descobrir que levei um fato sem forro por dentro - protegia do vento mas não do frio. Na sexta-feira, dia 16, o entusiasmo era grande. Fomos à pesca de manhã, com o fato certo, com mais voluntários e no local onde normalmente conseguimos apanhar peixes conseguimos cerca de 30 em menos de 2 horas. Prometemos que oferecíamos à cozinha a tal espécie menor, mas com indivíduos maiores, e ofereceram-se para mais pesca à tarde. Foi encher os cântaros e estamos preparados para recomeçar. Dorme-se bem por aqui! No sábado, dia 17, começou com nevão e forte vento. Foi um dia dedicado à escrita, tal como hoje. No sábado confraterniza-se e ontem não fugiu à regra. Curiosidade sobre o fado e o vinho do porto estimulam a conversação, vodca vem para a mesa, conversas sobre ciência, sobre as cidades polacas, as línguas, as colaborações e daí por diante. Aos poucos perdemos a conta do número de vezes que se diz «na zdrowie», sinal que está na hora. Receita de vodca de Arctowski- 600 ml de água do glaciar, 400 ml de etanol a 96%, sementes de pimenta q.b e deixa-se a descansar por uns tempos. Serve-se colocando num copo de shot uma pequena porção de sumo de mirtilo (uns 3 mm), adicionando-se o vodca devagar para não misturar, e termina-se com uma gota de piri-piri (tabasco). Levanta-se o copo, diz-se «na zdrowie» e bebe-se de uma assentada! Adelino Canário e Pedro Guerreiro, Ilha Rei Jorge,http://www.facebook.com/note.php?note_id=10151313901015384. SÁBADO, 11 DE FEVEREIRO Arctowski - Há umas décadas atrás esta zona de rocha nua e sedimento, onde se encontram os edifícios da estação de Henryk Arctowsky, eram um arraial baleeiro. Os restos de esqueletos de baleias encontram-se dispersos pela praia e um pouco mais para o interior. Vértebras que parecem bancos num jardim, crânios que se assemelham a banheiras (ms maiores) e as costelas tão grandes como troncos de árvore dispersos. Na nossa memória estão as imagens (a preto e branco) desses tempos e as descrições de encontros com icebergs, do cheiro (que imaginamos) da queima de óleo de baleia para aquecer os corpos doridos, a luta heróica nas tempestades que rapidamente se formam na Passagem de Drake, a viagem de Ernest Shackleton que andou por próximo para salvar (todos) os seus homens, entretanto retidos na Ilha do Elefante após o Endurance se afundar, esmagado pelos gelos do Mar de Weddel. Henryk Arctowsky foi um dos pioneiros da investigação científica no continente Antárctico. Nascido na partição russa de Varsóvia, hoje Polónia, em 1871, juntou-se à Expedição Antárctica Belga (1897-1899), liderada por Adrian de Gerlache de Gomery onde tomou a posição de subdirector científico. Nesta expedição a bordo do navio Belgica seguia também o jovem Roald Amundsen que há 100 anos, a 14 de Dezembro de 1911, bateria Robert Falcon Scott na corrida para chegar primeiro ao Pólo Sul. Amudsen lideraria também a primeira travessia por barco da mítica Passagem do Noroeste (1918-1920) e o primeiro a chegar ao Pólo Norte de avião (1926) e o primeiro homem a ter estado em ambos os pólos geográficos. Embora o Belgica tenha ficado preso no gelo, o que levou a que fosse a primeira expedição a hibernar na Antárctica, a expedição foi muito bem sucedida tendo resultado quase uma centena de trabalhos científicos publicados nos dois anos seguintes. Arctowski acabou por voltar para a Polónia em 1920, onde lhe foi oferecido o lugar de Ministro da Educação, que recusou, continuando a fazer investigação e a leccionar. Quando a guerra estalou, em 1939, estava nos Estados Unidos no Congresso da União Geofísica Internacional, na qualidade de Presidente da Comissão Internacional de Alterações Climáticas. Não podendo voltar, por lá ficou a trabalhar no Smithsonian Institute, tendo falecido nos Estados Unidos em 1958, nunca tendo voltado à Polónia. Henryk Arctowsky fez várias contribuições importantes no campo da meterologia, oceanografia e geologia. Nesta estação, que recebeu o seu nome, um outro projecto, para além do nosso, que se encontra a decorrer, com 6 cientistas, trata da diversidade microbiana. Fazem recolhas de amostras em vários pontos, especialmente na interface entre o gelo e os solos. A diversidade bacteriana não é muito grande mas existem espécies muito especiais que produzem proteínas de superfície que impede que se forme cristais de gelo que as destruiriam. Por outro lado, estas proteínas fazem com que exista sempre alguma água líquida na interface envolvente que garante a sua sobrevivência. Como não existe forma de manter culturas destas bactérias um dos objectivos do trabalho vai ser sequenciar o seu DNA, não só para perceber quantas espécies existem, mas também para identificar possíveis genes que possam ser interessantes para aplicações práticas. Ao longo da semana a nossa experiência tem estado a decorrer bem. A rotina é mudar a água para manter os pexies em boas condições e ajustar as temperaturas desde -2ºC até 6ºC e desde salinidade de 32 por mil (água salgada) até 10 por mil (água salobra). E estão a adaptar-se a estas condições. Na segunda-feira é dia de amostragem. Entretanto, hoje o Pedro está de faxina - apoio à cozinha e limpezas - e amanhã é a minha vez. O clima na semana tem estado variável, uns dias ventosos e chuvosos, outros calmos e com muito sol. Por vezes temos visitas de companheiros de outras bases aqui à volta - peruanos, brasileiros e argentinos. Amanhã é suposto ser dia de aniversário da estação temporária americana apelidada de Copacabana, mas se estiver a ventania que está agora deve ficar às moscas. Penso eu! E eu? Fico de faxina ou vou p'rá festa? Adelino Canário & Pedro Guerreiro, Ilha King George, http://www.facebook.com/note.php?note_id=10151277418810384. Sexta-feira, 3 de Fevereiro
Arctowski - O tempo passa depressa. Estamos aqui praticamente há uma semana e tem sido um período intenso a preparar o sistema de tanques e a pescar para poder começar as experiências, o que aconteceu a partir de hoje. Na segunda-feira conseguimos convencer o matulão Artur, o comandante da estação a fazer uma saída de zodíaco para experimentar-mos a pesca mais ao largo. O convencer é aos poucos, ele sorri sempre, faz uma pausa e marca uma hora. No final do pequeno almoço combinámos para a seguir ao almoço. A seguir ao almoço é mais rigoroso e diz 16:00 horas. Um pouco antes já estava o zodíaco a ser aparelhado. O barco está em terra em cima de um atrelado, é preciso verificar que o motor arranca, e é preciso que vestamos os fatos de sobrevivência. Saltámos para o barco, que é rebocado pelo trator, conduzido pelo próprio Artur, até à água. O atrelado entra na água de marcha atrás e o motor do zodíaco encarrega-se de o libertar. Vamos para uma zona a umas centenas de metros da praia, desliga-se o motor e é só largar os anzóis. O barco vai derivando com o vento e correntes e temos de voltar a ligar o motor para o trazer de volta. Numa hora apanhámos uma dúzia de peixes e tivémos de parar pois só tínhamos um contentor para manter os peixes vivos. As nototenias, ou bacalhau da rocha, gostam de algas e deve ser em zonas de algas que as apanhamos mais, pois são mais frequentes nalguns locais. O barco foi retirado da água pelo processo inverso, nunca temos de colocar os pés na água, que está a 2ºC. Com os fatos de sobrevivência aguentávamo-nos talvez uns 15 minutos. Na terça-feira, voltamos a fazer pesca à linha na costa e tornámos a perder material. A conclusão é que a pesca no barco é que nos permitiria conseguir o que queríamos. Experimentámos armadilhas, uma espécie de murjonas, e lá se vai apanhando ocasionalmente, 1 peixe na primeira noite, 3 na segunda. É impressionante a quantidade de anfípodes de grandes dimensões, parecem camarões, que cobrem o isco, a digeri-lo nas armadilhas! O Artur ficou semi-entusiasmado e acedeu a mais uma pesca no barco, pela manhã a seguir ao pequeno almoço. Na quarta-feira, mais uma pescaria de barco desta vez com uma equipa reforçada. O Conrad ao leme e mais dois tripulantes, pelo menos um chamado Marjec (há 3 pessoas na base com este nome), além de mim e do Pedro. Só o piloto não pescava. Desta vez levámos 3 bidões para colocar os peixes e no espaço de 2 horas apanhámos mais de 30. Com isto, tínhamos o que precisávamos para já. No final ainda oferecemos 3 dos peixes maiores à cozinha que foram o almoço hoje, na forma de uma espécie de pasta em bolinhos de batata fritos, acompanhados de puré de batata com ervas aromáticas e uma salada de couve e cenoura avinagradas! Durante a tarde substituimos parte da água dos tanques para garantir que a qualidade se mantém. A substituição da água implica colocar uma bomba de imersão eléctrica na praia com um tubo de uns 40 metros e carregar a água para o contentor. De cada vez é preciso carregar com uns 500 litros de água salgada. Daí para cá foi vigiar o sistema, verificar que o aquecimento funciona, e que os peixes estão bem. Ontem foi um dia de temporal. Rajadas de ventos de 100-150 km por hora acompanhadas de chuva e flocos de neve. A temperatura ronda os 0ºc mais ou menos 2º. Foi assim um dia dedicado à escrita e a actividades de escritório. Hoje ainda está ventoso mas muito mais calmo e claro, mas o suficiente para impedir que a Internet funcione.A alimentação é imaginativa mas monótona. Baseia-se muito em porco, nos seus diferentes componentes, lombo, pernil, chispe, paios, chouriços, salame, fritos ou numa espécie de guisados de caçarola, quase sempre com batata cozida frita ou na forma de puré. Por vezes massa - macarrão para os brasileiros - e esta noite, ao que parece, pizza. Os pequenos almoços têm quase sempre ovos. Nada mal no conjunto mas a única fruta são umas maças já enrugadas. Muita tentação de doces e há sempre o sabor do café em pó! Adelino Canário & Pedro Gurreiro, Ilha King George, http://www.facebook.com/note.php?note_id=10151247812435384. Domingo, 29 de Janeiro
Arctowski - Estamos em Arctowski há 2 dias. Não nos esperavam, pensavam que viéssemos lá para fevereiro, mas fomos extremamente bem recebidos. A estação de Henry Arctowski fica na baía de Admiralty, numa zona quase sempre de rocha nua, vulcânica, e próximo de locais de interesse científico especial - turfeiras de musgo e pinguineiras. A estação tem várias unidades habitacionais de madeira, pintadas a amarelo, e com capacidade para umas 60 pessoas. Nesta altura devem estar talvez umas 40 pessoas das quais metade são cientistas. Os outros são pessoal de manutenção, alguns dos quais ficam cá todo o ano.O dia começa às 8 horas com um pequeno almoço a que ninguém pode faltar. É nesta altura que se verifica se estão todos presentes, embora não haja uma chamada. O pequeno almoço polaco é também uma das principais refeições, assim como o almoço que é às 14 horas. O jantar é uma refeição ligeira, por vezes alguns restos das outras refeições e faz-se às 20:00. A comida é muito à base de porco: carne, fumados, enchidos, tripa, acompanhados de massa, batatas, pepinos em conserva, couves em vinagrete e coisas do género. A sala de das refeições funciona como o centro social da base. E uma mesa está permanentemente cheia de chocolates, bolachas e frutos secos. É preciso de ter muito cuidado com a linha... A cozinheira é uma senhora próximo dos 60 cheia de vida. Só fala polaco e consegue ir fazendo alguns milagres à base de comida congelada e desidratada e praticamente sem vegetais. Só vai havendo vegetais quando algum barco de turistas vem visitar e oferece alguns - trouxe vitaminas... A vida selvagem é razoavelmente abundante: pelo menos 3 espécies de pinguins, alguns nidificando, skuas, petréis, foca de Weddel, foca elefante, leão marinho, baleias.Ontem começámos a montar os tanques para as experiências e o sistema pareceu ficar razoavelmente bem. Foi também dia de festa - comida, bebida e dança. Tivémos como visitantes os vizinhos brasileiros da base de Ferraz, os peruanos da base Pichu e os americanos do abrigo Copacabana, que estão a estudar os pinguins. As bases brasileira e peruana, assim como a argentina e chilena, são comandadas pela tropa, ao contrário das restantes são que são civis. Estas últimas reinvidicam o território antárctico como deles, numa linha que vai até ao pólo. Hoje, domingo, é dia de folga. Não se cozinha (é cada um por si) e a maior parte do pessoal dedica-se a actvidades de ar livre (barco, fotografia). O Pedro foi visitar a base brasileira de zodíaco. Comecei a pesca à linha. Perdi vários estralhos nas rochas, o que me preocupa pois a esta velocidade não chegam. Apanhei cinco peixes, o que não foi mau, mas não é suficiente. vamos ver amanhã. Adelino Canário & Pedro Guerreiro, Ilha King George, http://www.facebook.com/note.php?note_id=10151223441220384. Quinta-feira 26 de Janeiro
A bordo dos Hespérides, o navio polar espanhol, que nos está a dar boleia desde a base Frei chilena para a base Arctowski polaca. Duas horas e meia de navegação recolhendo pelo caminho mais um passageiro da base argentina.. Depois de uma viagem entre Lisboa e Punta Arenas sem peripécias, com passagem por S. Paulo e Santiago, chegámos a Punta Arenas a 23 pelas 17:30 hora local e lá ficámos à espera da confirmação do voo, aproveitando para fazer algum trabalho que necessitava acesso à Internet. No hostel Calafate, onde ficámos hospedados, estava à nossa espera a Ana Salomé, que coordena a logística e passa o tempo a correr de uma lado para o outro e a telefonar :). Experimentámos o borrego assado, uma das especialidades locais, nessa noite e nas seguintes fomos testando outras: sopa de marisco, pejerrey, e até o fastfood local que é muito melhor que o MacDonalds, mas que a ASAE não perdoava. Também descobri que uma das minhas velhas botas tinha a sola quase toda descolada e aproveitámos para andar pela cidade. Fomos às lojas francas mais a sul do planeta (no luck!), as lojas de especialidade não tinham botas para o meu "pézinho" e a solução foi cola-tudo. Entretanto, só ontem chegou a nossa carga de material - uff! - retida pela alfândega de Santiago por não saber o que era um carnet ATA - pelo menos essa foi a justificação. Tudo a postos! Pela manhã fomos para o aeroporto no autocarro alugado pelo Instituto Antárctico do Chile (INACH), e após as formalidades, saímos cerca do meio dia num BAE-146 da companhia DAP com uns 30 passageiros chilenos, espanhóis, búlgaros e brasileiros, além dos 3 portugueses. Voo sem peripécias, bom tempo, voando acima das nuvens, e cerca de 2 horas depois descortinámos primeiro alguns icebergs e pequenas ilhas e, rapidamente, após um curto círculo, estávamos a fazer-nos à pista, onde aterrámos pelas 13:41 na Base Eduardo Frei. A primeira impressão é de alguma insegurança devido ao choque térmico e o ambiente envolvente. Estava um pouco de vento e cerca de 0ºC, sentindo-se como se fosse -10ºC. Enquanto esperávamos pela carga, chegaram os passageiros que iam voltar no mesmo avião, entre os quais muitos portugueses do Centro de Estudos Geográficos (Gonçalo Vieira, Carla Mora, ...), a Teresa Firmino e colega fotógrafo do Público que passaram as últimas semanas na zona, o José Xavier e outros. Imeditamente entrámos em contacto com os espanhóis para nos dirigirmos à praia onde zodíacos da Armada Espanhola nos transportaram para o Hespérides. Mas antes de entrar no zodíaco é preciso vestir o fato de sobrevivência para o caso de cairmos à água. E com mais uma viagem de zodíaco fomos desembarcados na praia de Arctowski, onde NÃO éramos esperados ... Adelino Canário & Pedro Guerreiro, Ilha King George, http://www.facebook.com/note.php?note_id=10151213497240384. Domingo, 22 de Janeiro
Olhão - Um dia de sol e calmaria. Correria para tentar deixar os assuntos correntes prontos, arrumar na mala as roupas e outros acessórios que foram sendo empilhados ao longo das últimas semanas. Verficar que não falta nada, comprimidos para dores, antibíótico, pasta de dentes, sabonetes e outros items de higiene pessoal. Verificar o peso - passa largamente dos 15kg que é suposto levar. Retira peças para ver o que pode ficar. Menos uma roupa interior, umas meias, mas pouco mais pode ficar. São 2 meses e convém algum conforto, não andar diariamente a lavar a roupa. Passa um pouco dos 20kg, o suficiente para não pagar excesso no voo comercial. Em Punta Arenas se verá, vou ter de negociar algum peso com quem leve menos.Uma última volta pela cidade para acertar pormenores de eventos que se vão realizar na minha ausência. Depois, às 16 horas, pouco depois de verificar se o Pedro estava pronto, para o aeroporto onde nos encontrámos para embarcar para Lisboa.Em Lisboa, uma espera até às 23 horas para a saída para S. Paulo. Ainda há tempo para um jantar de despedida no aeroporto com o David e os meus sogros. Para a posteridade - bacalhau e cerveja sagres preta! Adelino Canário,http://www.facebook.com/note.php?note_id=10151192359625384. 13 Janeiro 2012
Falta pouco mais de uma semana para iniciar a "migração" para sul. Há que acabar (nunca acaba) o que é essencial pois vamos ficar mais de dois meses fora e não é certo que hajam comunicações decentes. Hoje seguiram os equipamentos, uns 120 kg ocupando mais de 1 m3. Temos de transportar o essencial para montar um laboratório de campo, inlcuindo as canas de pesca ...:). Este fim-de-semana fica pronta a mala com haveres pessoais. Saímos a 22 para Punta Arenas, onde chegamos a 24. A 26, se as condições atmosféricas o permitirem daremos o salto até à ILha do Rei Jorge. Lá chegados ainda há que apanhar uma boleia de barco dos "Nuestros Hermanos" para chegar a Arctowski. Havendo possibilidade, deixaremos aqui notas do que se vai passando. Para seguir os avanços das equipas do Programa Polar Português é ir até www.propolar.org Adelino Canário http://www.facebook.com/note.php?note_id=10151153623580384. |
A CAMPANHA PROPOLAR 2011-12 Arquivo de notícias organizadas por:
» Projeto
Tudo
» Ordem cronológica
Março 2012
|