A CAMPANHA
PROPOLAR 2011-2012
Novembro de 2011 a Abril de 2012
PROPOLAR 2011-2012
Novembro de 2011 a Abril de 2012
20 Janeiro 2012
Ser biológo na Antártica é um autêntico sonho. Ter um contacto directo com os animais, estar em locais do planeta a fazer coisas que muito poucas pessoas tiveram a oportuniade de fazer (recordámo-nos várias vezes, a subir o Monte Krum, depois de jantar a questionarmos “quantas pessoas na Antártica devem estar a trabalhar com skis e a ver este lindo sol da meia-noite?”), presenciar eventos em directo que só vemos em programas de vida selvagem (Lembro-me do José Seco dizer “Algo que nunca esquecerei, foi na minha primeira vez em Sando Point, ter presenciado um ovo eclodir!”), trabalhar com animais tão interessantes como os pinguins, pétreis gigantes ou focas, partilhar momentos com pessoas que vivem a Antártica tão intensamente como tu (e poder transmitir às nossas gerações mais novas, com as ligações que temos com as nossas escolas/Universidades/Museus em Portugal), perceber que estamos a contribuir para o melhor conhecimento desta região e notar que o que estamos a fazer é realmente importante. O interesse no nosso projecto tem sido grande entre os nossos colegas estrangeiros. E quando se estuda pinguins, tem-se muitas alegrias...apesar de também ser duro. Passamos muito tempo fora (incluindo em alturas especiais para a família como o Natal e a Passagem de Ano), estamos longe das pessoas que nos são queridas, o planeamento de todo o trabalho de campo é complexo, dispendioso e demoroso, e até temos alguns dos nossos amigos aqui das Bases Bulgara e Espanhola a nos dizerem que “hoje cheiram a pinguins!!!” de vez em quando com um sorriso estampado nas suas caras em tom de brincadeira. No nosso projecto, tivemos inúmeros exemplos da complexidade do que é fazer ciência polar aqui em Livinigston Island. Desde planear ao pormenor as tarefas (consoante as condições metereológicas), criar um novo método de apanhar aves, de inovar e desenvolver um meio de pesar as amostras,...fez-se de tudo. Aqui também se cresce muito como pessoa (temos de aprender a ser independentes, ajudar em tudo, desde lavar a loiça, pôr a roupa a lavar...), e ser cientista na Antártica obriga-te a ser multidisciplinar, quer seja na ciência ou no dia a dia nas rotinas da Base.... O nosso grande objectivo era perceber como os pinguins gentoo e chinstrap competem por comida nesta região da Península Antártica. Esta questão tem um grande interesse cientifico pois não só a Peninsula Antártica é uma das regiões que evidência maiores efeitos das alterações climáticas (com as temperaturas a aumentarem a níveis superiores do que em muitas partes do nosso planeta) mas também porque estas 2 espécies de pinguins possuem distribuições maioritariamente diferentes (os gentoos estão mais distribuidos a norte da Antártica e a tendência é para expandir para sul enquanto os chinstraps estão distribuídos mais a sul e a tendência é para a sua distribuição ser cada vez mais reduzida). Pouco se sabe como estes animais lidam com as alterações climáticas. Aqui (Livingston Island, da região da Peninsula Antártica) é o local certo para investigar como estes animais competem por comida num contexto das alterações climáticas, quando ambos se estão a reproduzir ao mesmo tempo (apesar de os gentoos começarem mais cedo) ... será que comem o mesmo? E será assim todo o ano? E isso é importante para a conservação destes pinguins, ou de outros recursos da Antártica? E como isso se pode aplicar a outros animais...de outros oceanos? Os nosso resultados preliminares desta expedição mostram que ambas as espécies se alimentam quase unica e exclusivamente do camarão do Antártico (Krill), Euphausia superba. Supreendente foi também notar que ambas as espécies alimentam-se do mesmo tamanho do camarão, evidenciando que a competição pelo camarão do Antártico é grande. É incrível! Sabendo que a quantidade do camarão do Antártico tem declinado nas últimas décadas nesta região, é bem possível que mais cedo ou mais tarde poderemos ter estas espécies, ou a alimentarem-se de outras coisas ou a sua capacidade de ter filhotes ser diminuida...o que pode afectar as suas populações. Além das amostras da dieta (através das fezes), recolhemos amostras que nos darão informações importantes sobre o nível trófico (confirmar se só se alimentam do camarão do Antárctico) mas também sobre o habitat que exploram, quer quando se estão a reproduzir quer fora desse periodo. Ou seja, em breve poderemos perceber se os pinguins gentoos e chinstraps apanham o camarão nos mesmos locais (junto à costa ou em águas mais profundas) ao longo do ano. Estes dados serão importantes para nos ajudar a prever o que poderá acontecer às diferentes populações de pinguins no futuro mas também nos ajudar a identificar áreas importantes de alimentação deles (o que é importante para a sua conservação) e possivelmente ajudar-nos a perceber como outras espécies lidam com a competição por comida num contexto de alterações climáticas. Por termos o ENORME privilégio e humildade de trabalhar aqui, todo este trabalho só poderia ser possível depois um grande investimento continuado de instituições Portuguesas mas também de vários países como o Reino Unido, Bulgária, Espanha, França, Brasil e os Estados Unidos. Sabendo que a Antártica é um excelente exemplo mundial de colaborações científicas e políticas, é realmente um privilégio Portugal fazer parte desta comunidade científica...e contribuirmos cientificamente para um maior conhecimento desta região do planeta...mesmo quando brincam connosco a dizer que estamos a “cheirar a pinguim!” Até MUITO em breve! José Xavier & José Seco, Ilha Livingston 15 Janeiro 2012
Enquanto esperávamos por uma aberta das condições atmosféricas para ir novamente a Sando Point, foi-nos possível perceber algo muito interessante em relação às focas leopardo... elas ADORAM a baia onde nós moramos (Baia Sul de Livingston Island) e julgamos que, no mundo delas, esta zona deverá ser um Hotel 5 estrelas. Basta que parte de glaciares quebre e é vê-las a tentar subir, ou já esticadas como num spa, em muitos dos pequenos icebergues recentemente formados, todas felizes! Parece que “fazem fila” junto aos glaciares à espera da sua boleia. No dia anterior a muitos dos nossos amigos da Base irem embora, fomos ver alguns desses glaciares e as focas leopardo um pouco mais de perto... estes animais têm mais de 3 metros de comprimento, uma cabeça enorme, intimidantes dentro de água e aparentemente frágeis fora dela...são realmente uns animais estraordinários. E quando se fala de icebergs, não é possível parar de sorrir! São fascinantes por si só....e esta semana, isso foi comprovado novamente. Após termos estado uns dias nos arredores da Base a trabalhar com os pinguins gentoo (estes são possívelmente pinguins não reprodutores, o que será excelente comparar com aqueles que se estão a reproduzir em Hannah Point: será que se alimentam também do krill?), concluimos que precisávamos de ir uma última vez a Hannah Point e a Sando Point para obter as amostras finais das dietas de pinguins gentoo e chinstrap que se estão a reproduzir. Com os dias a continuarem nublados, com neve/chuva e ondas grandes, já estávamos a ficar um pouco preocupados pois estávamos a poucos dias de ir embora. O Federico (o responsável pelo zodiac Espanhol) disse-nos que a última oportunidade seria na próxima Segunda-feira...No dia, acordámos cedinho e fomos ter com o nosso responsável do zodiac Bulgaro, Roman – O capitão!, para saber de sua opinião. Para nós o mar mal mexia, tal era o nosso entusiasmo para ir, mas o Roman sugeriu esperar até ao meio dia para ver se o vento diminuia...”tudo por questões de segurança” disse confiante. Às 10.30 não havia vento, estava sol e o mar estava perfeito. Conseguimos convencer o nosso capitão e o Christo Pimpirev (o Pai da ciência Polar Bulgara e o novo ponto de ligação entre as Bases Bulgara e Espanhola) a contatar os Espanhóis para irmos mais cedo (pois era preciso o seu zodiac para ir connosco por questões de segurança). Partimos às 13 horas!!!!!! O dia não podia ter sido melhor...o plano da viagem consistia em ir primeiro a Hannah Point, depois a Sando Point, e regressar a casa. Com alguns dos novos membros da Base virem connosco (dos novos membros – Christo, Vikitor, Nikola, Rumiana...- vieram o Dimo, Laslo e Kamen, além de nós e o capitão Roman), a viagem até Hannah Point foi muito agradável. Trabalhámos eficientemente de modo a no final parar uns poucos minutos para tentar absorver a sensação de “estar rodeado de pinguins”. Mas foram mesmo poucos minutos....como ainda tinhámos de ir para Sando Point (com uma agenda mais preenchida de trabalho), só passámos 2 horas em Hannah Point. Foi dificil dizer ADEUS a tantos pinguins gentoo, às gigantes elefantes marinhos e até aos pétreis gigantes que nos fizeram companhia nestes 2 meses. N verdade passámos o Natal e a passagem de ano juntos! A caminho de Sando Point, tivemos a grande alegria de termos pela frente um iceberg GIGANTE. É incrível a beleza deles...as cores (nunca pensámos que os azuis podiam ser tão variados), a imponência, o tamanho....após uns breves minutos, continuámos em viagem. Em Sando Point, os chinstrap penguins receberam-nos com a barulheira do costume, que muito me faz lembrar a correria das cidades, mas com todos a cantar, a cuidar dos seus filhotes, pinguins a chegarem e a partirem da colónia, na autêntica azáfama da época de reprodução. Recolhemos as últimas amostras, e conseguimos fazer algumas filmagens para as nossas queridas escolas, de modo a tentar captar um pouco da doçura e do carinho que estes pinguins têm pelos seus filhotes, e o seu bonito modo de vida (apesar de nos ter dado uma valentes bicadas quando trabalhávamos com eles...nós vos adoramos na mesma!). O regresso à Base foi, por um lado, muito bom pois tínhamos o sentido do dever cumprido, após meses de planeamento desta expedição. Por outro, fica-se com a sensação de que deixámos para trás muitos amigos pinguins e havia nostalgia no ar. Os 2 dias seguintes foram passados no laboratório atarefados a analisar estas amostras recolhidas e a tentar adiantar o máximo de trabalho, pois teríamos de ajudar a construir a nova igreja! Assim que soubemos que se iria construir uma nova igreja na Base Búlgara, ficámos logo todos entusiasmos pois não só estaríamos a ter o privilégio de sermos nós a ajudar os nossos amigos Búlgaros nesta tarefa mas também porque estaríamos a fazer história! Só existem 4 igrejas na Antártica (a actual aqui mais antiga, uma católica e Russa em King George Island, e outra na Base americana em McMurdo) e Portugal estará sempre ligado à construção desta igreja....brilhante! Assim, todos os dias, ajudámos a construir a Igreja St. Ioqn Rilski (em honra ao Monge que expandiu a religião na zona dos Balkans). O trabalho em equipa é engraçado de se ver, todos a quererem ajudar e apesar de não percebermos muito das conversas em Búlgaro, nunca hesitámos em lhes ajudar em pôr cimento nas fundações, ajudar a erguer parte da estrutura, e até dar sugestões de como construir uma determinada parte da igreja. Ver, passo a passo, a igreja a erguer-se é algo muito gratificante, e a ver o brilho dos olhos de todos quando a cruz foi posta, é algo que não esqueceremos! Ayde!!!! José Xavier e José Seco, Ilha Livingston 4 Janeiro 2012 Sando é uma pessoa que contagia com a sua felicidade, é a alma da base! Pela alegria, atitude diária de companheirismo e um sorriso sempre pronto para todos, ele é uma antêntica fonte de inspiração para todos. Numa das saídas a Hannah Point, percebemos que era preciso encontrar uma colónia de pinguins chinstrap (ou barbicha) e questionou-se onde a poderíamos encontrar. Com os nossos barcos (a.k.a. zodiacs) andámos em redor da Base Espanhola (Calleta Argentina) mas sem sucesso... até que falámos com o Sando. “Estão à procura desses pinguins? Eu sei onde os podem encontrar!!!” disse Sando todo sorridente. E lá nos explicou como num pequeno local rochoso, numa ponta perto de Miers Bluff, havia uma colónia de chinstraps. Depois de esperar 2 dias para podermos ir averiguar o local que o Sando nos tinha dito, metemos o zodiac na água e a 20 minutos da nossa Base, encontramos uma colónia de chinstraps lindíssima.... eram milhares! e claro, desde aí, o local passou-se a chamar Sando Point!!!! Ele ficou super contente com a ideia... mas nós é que agradecemos ;) O dia 4 de Janeiro foi possivelmente o mais intensivo de toda a expedição ao nível emotivo. Toda a estrutura da Base Bulgara mudou pois o Daddy, Sando, Galia, Zezo, Demo e Misho deixaram-nos... Antes disso, o dia começou com o nosso acordar às 7 da manhã com um veleiro turístico françês que atracou à frente da Base. Acordámos com o som do seu pequeno zodiac a chegar à base. Estranhámos pois era ainda muito cedo e não vimos ninguém da nossa Base os ir receber. Minutos depois, vimos o Daddy e o Misho a porem-se nos skidoos e a dirigirem-se à praia. Os franceses queriam apenas aceder à praia e fazer crossing ski para o outro lado da ilha...nunca mais os vimos. Quando o Daddy e o Misho regressaram da praia, informou-nos sobre tudo o que se tinha passado e que dali a uma hora o navio Las Palmas (o navio Oceanográfico Espanhol que nos trouxe a Livingston Island; ver artigo sobre a nossa chegada à Antártica) estaria disponível para trocar material com a nossa Base. Ou seja, ele precisava de ajuda para pôr nosso zodiac na água já! “Ayde”!!!! Trabalhámos umas 2 horas a ajudar o zodiac e quando estavamos a regressar à base, o navio Argentino Canal Beagle estava a chegar para também trocar material (particularmente a nova igreja para a nossa Base Bulgara) mas também para levar os nossos queridos amigos. O Daddy disse-nos que talvez em 3 horas teriam de embarcar (nós julgávamos que só seria no dia seguinte). Essas 3 horas foram super intensas. Os que se iam embora estavam a arrumar as suas coisas, nós estavamos na praia a ajudar a transportar coisas e a fazer de cicerone (ora para os comandantes e tripulantes dos navios Espanhol e Argentino). Foi muito duro vê-los partir pois eles eram uma parte muito importante da dinâmica da Base. Viu-se inúmeras lágrimas de todos a nos despedirmos na praia. Cantámos uma das canções clássicas de Nat King Cole (em espanhol) que o Sando cantava sempre que havia despedidas (tal como quando iámos à Base Espanhola) ...foram momentos que ficaram connosco para sempre! No meio desta confusão de sentimentos, Coco (o novo comandante da Base), chegou e com ele os Portugueses António Correia, João Rocha e João Agrela a Livingston Island.... mas já falamos sobre eles;) José Xavier e José Seco 1 Janeiro 2012 Foi a primeira passagem de ano passada longe da família! Logo tinhámos de suavizar o impacto das saudades ao integrarmos ao máximo no ambiente Antárctico com todas as pessoas com quem estávamos. O primeiro passo foi conseguir um dia na semana de Natal para cozinharmos para toda a gente na nossa Base... eram apenas 12 pessoas!!!!! Uma tarefa aparentemente intimidante, mas com boa música portuguesa a acompanhar-nos (Deolinda, Xutos e Pontapés, Ace,...), lá cozinhámos um clássico bitoque! Porquê bitoque? Porque não? Colocámos a mesa tipicamente Portuguesa, com pão, azeite e azeitonas. O aperitivo escolhido foi pequenas espetadas (feitas com palitos) com pequenos quadrados de pão, queijo, pimento verde, presunto e azeitonas. Fizemos uns bons bifes na frigideira com Azeite Português, um arrozinho branco com cenoura e ervilhas (sim, havia por cá) e batatas fritas a acompanhar. Houve boa conversa sobre Portugal e os nossos costumes, ao apresentar tal prato que existe em qualquer casa de pasto Português. A sobremesa foi a nossa arma secreta, com uns bolinhos feitos em Portugal (prenda de Natal da família!), que os como desde que me lembro do Natal, de noz e amêndoa que fizeram a delícia de todos. Até a Galia (a nossa querida cozinheira) pediu a receita ;). Depois de andarmos bastante atarefados com mais trabalho de campo em Sando Point (ver o próximo artigo) e no laboratório (sim tivemos de trabalhar nos 2 dias, dias 31 e 1), o dia da passagem de ano chegou. E que dia... de manhã fomos à Base Espanhola com o Bobby para resolver questões informáticas, e ao fim da tarde foi-nos dado a notícia que iríamos celebrar 4 Anos Novos!!! Não percebemos... Às 6 da tarde (9 da noite em Portugal), a Base Bulgara entra numa actividade nunca vista. Havia que celebrar o Ano Novo na Bulgária às 7 da tarde... e como tradição aqui há que ir para o Monte Krum (5 a 7 min de skidoo (45 minutos a pé!); ir também ao google caso não tenham a certeza do que é). E assim foi. A vista do Monte Krum é lindissima, com glaciares, a Base, a Baia Sul à frente, o monte de gelo Friesland (com picos de mais de 1500 metros de altura) e o Monte Bowles (que apresenta fissuras muito interessantes).... Com champagne e palavras do membro mais velho da Base (Roman), lá se celebrou o Ano Bulgaro. Descemos à pressa para a Base pois a RDP Antena 1 tinha-nos contatado para falar connosco em directo para as celebrações do Ano Novo em Portugal (com Edgar Canelas, Cristina Condinho e amigos). Foi muito bom ouvi-los e partilhar um pouco a nossa experiência, a importância do nosso trabalho cientifico e falar um pouco de Português. Ficámos com um sorriso gigante! Pouco depois era tempo de celebrar o Ano Novo na Polónia (o Sando vive lá!) e às 9 da noite fomos nós com todos os Portugueses;)))) e finalmente à meia noite local (3 da manhã em Portugal), celebrámos o Ano Novo de Livingston Island. Foi uma noite muito divertida com todos em bons espíritos, que muito nos fez reduzir todas as saudades quando estamos longe! BOM ANO 2012!!!! José Xavier e José Seco 28 Dezembro 2011 Não há qualquer dúvida que um dos factores principais que deveremos ter em conta quando se faz uma expedicão cientifica à Antártica é o tempo. Sim, as condições atmosféricas! Pode-se planear tudo ao pormenor, ao minuto até, equacionar os imprevistos em que só depende de nós para que as coisas corram bem... e depois há que ter em conta com o tempo!!! No nosso projecto PENGUIN, que envolve estudar pinguins na Antártica, as condições com que podemos trabalhar com eles são importantes. Para trabalhar com eles, idealmente é necessário um dia bom de tempo. Caso estejamos longe da colónia, e seja necessário aceder por mar por pequenos barcos (chamados zodiacs; procurar no google caso não saibam ;)) ou por terra com skiis ou simplesmente a pé, não é possivel o fazer caso haja uma grande ondulação/má visibilidade/muitos icebergues na água/ventos fortes/forte queda de neve, tudo que ponha em causa a nossa segurança. E claro, há que pensar nos animais que estamos a estudar. Chover não é nada bom pois agarrar nos pinguins é muito desconfortável para eles.... Por isso, reunimo-nos todos os dias a ver as previsões do tempo para os dias seguintes, analisar quais os melhores dias para ir às colónias... e caso haja bom tempo para o dia seguinte, será mesmo? As condições de tempo em Livingston Island, tal como em muitas partes da Antártica e arredores (tal como nas Ilhas Falkland/Malvinas), mudam literalmente de hora a hora. Para ilustrar isto mesmo, foi a nossa primeira ida a Hannah Point. Previsão de boas condições para o dia. Excelente, pensámos... de manhã as condições pareciam ideais com mar calmo, boa visibilidade. Na nossa viagem, que demora cerca de 1 hora, apanhámos uma chuva torrencial, muita nublosidade, nevoeiro, ondulação e só quando pusemos pé em Hannah Point, parece que o céu deu-nos tréguas. Parou de chover e as temperaturas aumentaram... já no regresso gelo/icebergues pequenos na água apareceu e quantidades apreciáveis (devido a estarmos perto de glaciares que regularmente libertam-nos) e o vento era muito forte! Sair à rua na Antárctica, é mesmo necessário trazer roupa para as 4 estações do ano... caso não sejam pinguins claro ;) José Xavier 28 Dezembro 2011
Se és um estudante de Biologia e estás a ler este blog, imagina que daqui a umas semanas alguém te faz um convite para vires fazer trabalho de campo a Antárctida, como reagias? É uma pergunta no minimo estranha, mas foi o que me aconteceu!! Estava no meu último ano de licenciatura, a fase complicada em que tinha que decidir a área a seguir no mestrado... que acabou por recair em ecologia na Universidade de Coimbra. Fui então falar com diferentes professores para perceber os projectos de investigação em que me poderia integrar. Uns dos que mais me cativaram foram os do grupo do Investigador José Xavier, do Instituto do Mar (IMAR-CMA) da Universidade de Coimbra, sobre Ecologia Marinha na Antártica. Para além do óbvio interesse em pinguins, por serem animais tão carismáticos, as interacções predador-presa sempre foi algo que me despertava interesse. Optei por um projecto que iria estudar a ecologia trófica de vários predadores, incluindo albatrozes, o Bacalhau do Antárctico e pinguins, focando particularmente na importância dos cefalópodes (lulas e polvos) no Oceano Antárctico. Ingressei assim este fantástico grupo de trabalho em Abril de 2011. Semanas depois, já tinha realizado algum trabalho no laboratório, e ajudei outros colegas nos seus projectos de Mestrado mais adiantados (mostrando dedicação e o gosto que tenho pela ciência), tive uma nova reunião com o meu orientador de mestrado, para falar sobre o ponto de situação de todo o projecto. Uma reunião perfeitamente normal, até que no final o José me perguntou “Há uma possibilidade muito remota de no próximo ano (ou seja agora!!!) haver uma expedição à Antártica. Se eu te perguntasse se querias participar, qual seria a tua disponibilidade?”, como é obvio a minha resposta foi um “Claro que sim!” quase instantâneo! Sai do gabinete com um enorme sorriso na cara, não é todos os dias que nos fazem propostas destas, mas estava com os pés bem assentes na terra, tendo perfeita noção que ainda era um possibilidade muito remota. A confirmação que eu tanto ansiava veio em Agosto! O convite foi oficializado! Se antes já passava algum do meu tempo a sonhar com esta viagem de sonho, a partir desta reunião não houve dia em que o continente branco não tenha passado umas boas horas no meu pensamento! O tempo até a semana do embarque passou a voar, com os preparativos e uma reunião com todas as equipas da 1 campanhã Polar Portuguesa! Quando dei por mim estava a menos de 5 dias, mas foram 5 dias em que parecia que o relógio tinha parado... A viagem fez-se bastante bem, até a chegada da Passagem de Drake (que fica entre a América do Sul e a Antártica)! Mas este episodio já foi falado anteriormente no blog ;). Assim que vi o meu primeiro pinguim a menos de 2 metros de mim, era um pinguim de barbicha que estava na praia da base búlgara, todas as dificuldades da viagem de barco desapareceram! Devo ter feito mais de 100 fotos dele! São, sem dúvida, os animais mais engraçados que alguma vez vi! Mas não são só os pinguins que fascinam, aqui tudo é espetacular! O azul do glaciar, o branco da neve, o brilho do sol, parece que são diferentes aqui! Há um sentimento de paz e calma a pairar no ar! Todos os dias são dias de árduo trabalho mas ao estar aqui , os dias têm um brilho especial e diferente. Os melhores são aqueles em que o tempo nos permite ir até às colónias, são locais indescrítiveis que transbordam vida! A Antártida é, para mim, o melhor local de trabalho de todo o mundo, mas como tudo o que é bom, não é fácil! Como temos um período para o trabalho de trabalho limitado (só estaremos aqui cerca de 40 dias), é tudo muito intensivo, não nos podemos dar ao luxo de tirar dias de folga, não há fins de semana e trabalha-se com temperaturas muito negativas, com vento e neve à mistura! É duro, mas tudo vale a pena quando vemos um pequeno pinguim a sair das nossas mãos a andar e a seguir a sua vida como se nada se tivesse passado! A experiência que ganhei no último mês vai mudar muitos aspectos da minha vida quando voltar à “terra-mãe” tanto a nível profissional, porque adquiri técnicas e métodos muito importantes, como a nível pessoal. Aqui, aprendemos a relativizar as coisas (não morro se não beber coca-cola todos os dias!) com uma vida sem acesso à internet, sem TV, sem cinema, sem telefone, sem sms gratuitos, sem outros dos muitos facilitismos da aldeia globlal. Mas tudo é perfeitamente funcional e até mais saudável... não há outra opção, estamos literalmente no fim do mundo!!!! José Seco Acordámos ao som da neve a bater na janela...estava a nevar, uma vez mais! O dia não podia ter começado de melhor maneira, já que nos dias anteriores as temperaturas tinham subido um pouco e chovia. E o Natal na Antárctica tinha de ser Branco...muita Branco!!!! A noite anterior, de dia 24 de Dezembro, já tinha sido um autêntico banquete, à moda da casa pois claro. Todos nós, os 12 membros da Base, julgávamos preparados para o que ai vinha, mas puro engano. Na tradição Bulgara tem-se 7 pratos diferentes, todos vegetarianos: pão tipico, salada de pepino verde com alho, arroz dentro de pepinos vermelhos e de folhas de couve, feijão branco, sobremesa...e uma bebida de fruta sem alcool, que fez uma boa alternativa à Rakia. Depois do jantar, e para tentar digerir um pouco, alguém pôs a música um pouco mais alta e foi ver os membros mais clássicos da base (o Sando, que estava estava a perder fortemente o combate contra o sono, foi o exemplo primário) a dar um autêntico reportório de como bem dançar e que muito nos fez rir numa noite longe de todos. Claro que muitos dos nossos pensamentos estavam com todos os que nos são queridos em Portugal...e sabendo que o sabor do nosso Bacalhau não seria saboreado por nós, foram as suas vozes que nos dão aquela força para continuar a aproveitar tudo ao máximo;) Depois de um breve chá na manhã do dia de Natal, pois o pé de dança nem de perto nem de longe deu para digerir tudo o que tínhamos comido na noite anterior, já o comandante da Base Daddy nos despachava para nos pormos nos skidoos para irmos para a Base Espanhola Juan Carlos I, para continuarmos com o banquete Natalício, mas agora na versão Espanhola. Antes disso, fomos à igreja para por uma vela por todos os que nos são queridos e para desejar votos de um Bom Natal a todos. O Dedo e o Misho ficaram na base por questões de segurança e saúde (o Misho estava com uma dor nas costas após um passo de dança mais afoito), e lá fomos nós de skidoo...para conseguirmos ir todos, o Bobby, o Bojo, o Doctor Zezo e o Roman foram de skiis rebocados pelos skidoos. Super divertido! Subimos até um ponto mais elevado em que num dia limpo dava para ver que ficava entre montanhas, atravessámoos um glaciar e finalmente, depois de chegarmos a um refúgio Espanhol, foi descer a pé mais 15 minutos até à Base Espanhola. Fomos recebidos por um “Feliz Navidade”, com um grande sorriso e um abraço do comandante da Base Espanhola, Jordi. Depois de cumprimentarmos todos os 11 Espanhóis, lá nos sentámos novamente ao almoço e...com uma entrada de Ananás com camarões, com um prato principal de cordeiro assado, solha no forno, uma enormidade de doces e boa conversa, mal podíamos respirar;) Depois foi subir novamente o monte para regressar à Base...para que no dia seguinte fosse a vez dos Espanhóis visitarem a Base Bulgara. À chegada questionou-se se daqui a 2 dias seria possível ir a Hannah Point recolher mais amostras, e para não arriscar, passámos as últimas horas do Natal, e a manhã do dia 26, a analisar amostras dos pinguins para que estivessemos preparados para a próxima ida. Conseguimos acabar todas já depois do almoço com os Espanhóis no dia 26 de Dezembro. A recepção Bulgara foi excelente e mais um almoço, que desta vez terminou no Bar. O Bar, é simplesmente a Base original Bulgara onde viviam 6-7 cientistas Bulgaros, e que é um Museu, correio, hotel...e Bar! Nunca pensei que fosse possível ver 16 pessoas num espaço tão pequeno mas é! O dia terminou com os Espanhóis a regressarem com um grande sorriso à Base Espanhola, a cantarem “Feliz Navidad” do Zodiac... Feliz Natal para todos !!!! José Xavier & José Seco Assim que falámos em Hannah Point os olhos do Espanhol Federico brilharam! Ainda estávamos a bordo do navio oceanográfico Espanhol Las Palmas, quando ele se apresentou como o responsável pelo zodiac (barco de transporte de pequenas dimensões, optimo para pequenas viagens e transporte de mercadoria de pequeno porte) Espanhol e que seria ele que nos levaria a Hannah Point. Já lá tinha estado várias vezes e disse-nos, sem hesitar, que era o local mais belo de toda a ilha! Todos lá querem ir! Pois transborda de vida, com todo o tipo de animais, elefantes marinhos, petreis gigantes, moleiros do Antártico e claro MUITOS pinguins!
Depois de estarmos bem acomodados na Base Bulgara de St. Kliment Ohridski, há quase uma semana, depois de várias reuniões com os comandantes das bases Bulgara e Espanhola, e com muitas consultas ao mapa das previsões atmosféricas, lá se conseguiu concluir que a primeira ida a Hannah Point seria na Terça-feira (20 de Dezembro). A preparação de todo o equipamento a levar começou dias antes, e estavamos anciosos de conhecer tal famoso local de Livingston Island. No dia, a confirmação veio da Base Espanhola por rádio a dizer que o tempo estaria aparentemente bom e que seria uma boa aposta irmos. Assim, tivemos de preparar os 2 zodiacs, Bulgaro e Espanhol, com uma equipa de 10 pessoas. A viagem demorou cerca de uma hora, com uma paragem de 10 minutos a caminho para deixar equipamento Espanhol para casos de emergência. Quando saímos da nossa Base, não havia vento, o mar apresentava-se calmo e parecia que iriamos ver sol. No entanto, a Antárctica mostrou-nos que não é bem assim, e que aqui, as condições atmosféricas podem mudar radicalmente em minutos ou horas. Quando nos juntámos ao zodiac Espanhol, 15 minutos depois, o vento já se estava a levantar e em breve, estava a chover. Nessa altura, pensámos o pior. A chover não nos seria possível obter amostras dos pinguins, pois o manuseamento deles nessas condições se torna muito dificil...e na verdade queremos sempre o bem deles. E continuou a chover por largos minutos até que os nossos amigos Bulgaros disseram a palavra mágica... “Ayde! “. Vamos, como quem a pedir a Deus e ao St. Kliment para nos ajudar! E as nossas preces foram ouvidas... Como por magia, e quando Hannah Point comecava-se a desenhar no horizonte, parou de chover e o vento baixou...Atracamos na praia mesmo ao lado de um harem de elefantes marinhos. A partir daí o nosso tempo voou pois tínhamos muitas coisas para fazer com os pinguins...inicialmente demos a volta a Hannah point para saber quais as espécies que se estavam a reproduzir lá, a sua abundância, e que perspectivas tínhamos de recolher as amostras a que nos tínhamos proposto obter. Deu logo para perceber que não havia pinguins de barbicha e de Adelia, e que teríamos de pensar mais um pouco onde obter amostras deles. Para estudar os pingins gentoo, que estavam por todo o lado, recolhémos amostras (penas, sangue e fezes; as penas para saber onde, e o que, comeram no último ano, o sangue na última semana e as fezes, nos últimos dias) o que nos vai dar informação importante sobre o que se estão a alimentar e como podem competir por comida com as outras espécies de pinguins. O dia foi fascinante mas muito intensivo pois pegar em pinguins não é pera doce, que o diga o José Seco: “Apesar de terem um ar muito amistoso e de animal muito querido, quando se sentem agarrados, lutam com todas as suas forças para se libertarem!! Pelo menos durante uns segundos, até voltarem a acalmar no nosso colo.. Entretanto essa altura já tinha 3 ou 4 nodoas negras graças as bicadas e os dedos dormente, como se tivesse voltado a levar reguadas da minha professora da primária! Mas vale tudo a pena quando os libertamos e os vemos a caminhar com se nada fosse e com o seu andar tão típico!” Não parámos excepto para saborear a magnifica sandes que a querida Galia nos tinha preparado nessa manhã (e não havia Hotel de 5 estrelas que nos podia proporcionar a vista)!!! Regressámos à Base com um sorriso gigante nesse dia...o nosso primeiro dia de trabalho de campo em Hannah Point... Ayde!!! José Xavier & José Seco A chegada a Livingston Island foi feita num dia com potencial...nublado com abertas e com um vento a baixar, as ondas estavam boas para o surf mas péssimas para desembarcar. O Santiago (do navio Las Palmas) questionou-nos se preferíamos ir já para a Base Búlgara S. Kliment Ohridski, onde iríamos fazer o nosso trabalho de campo, ou para a Base Espanhola Juan Carlos I onde teria de conversar com o Comandante da Base Jordi sobre questões logísticas. Decidimos que era melhor ficar já na Base Búlgara para acelerarmos logo com os preparativos do trabalho de campo.
A chegada à Base Búlgara é feita pela praia por barco (zodiac), entre mini iceberges e umas ondas de meio metro quebra coco (ou seja a quebrar na areia) que dificultavam tudo. Fomos muito bem recebidos pelo comandante da Base Daddy e por colegas da Bulgária, Japão e Mongólia, todos super sorridentes e atenciosos, tal como vários pinguins que estavam na praia. Ficámos muito bem instalados numa casa triangular, que muito me fez lembrar as dos Alpes Suiços. A Base fica praticamente na praia e com uma vista deslumbrante para o glaciar Pimpirev. Percebi logo o porquê do sorriso que todos tinham... As primeiras 24 horas passaram a voar. O Comandante mostrou-nos a base, muito acolhedora, revestida com símbolos religiosos da religião Cristã Ortodoxa (aliás, a Base Bulgara é uma das poucas bases cientificas na Antártica que possui uma igreja), e com um orgulho muito grande da sua história. Fez-nos sentir em casa quando tivemos de beber Rakia, a versão Búlgara de água ardente, que só os Búlgaros a conseguem beber como se fosse água... As questões de segurança são sempre levadas a sério, e elas estavam em Búlgaro e em Inglês, escritas minuciosamente à mão. De momento, somos 21 pessoas: O Comandante Daddy, os BBB - Bobby, Bojo (assistentes de campo), Boico (Geólogo), Misho,Vasko, Emo – Dedo e Sasho / Sando (assistentes técnicos), os 4 Japoneses cientistas (que possuem 2 aviões fabulosos para estudos de geomagnetismo), o Prof. Dugre da Mongólia (Geólogo), Galia (a nossa querida cozinheira), Milena (Geófisica), Krisi (Representante de uma empresa eólica que esperam montar um aparelho aqui nos próximos anos), Jana (fotógrafa), Roman (coordenador de operações por mar), e o médico Zezo. É incrível como todos somos capazes de nos sentar na mesma mesa. As ementas são diversificadas mas existe um padrão: o pequeno almoço são torradas com manteiga e chá/café, o almoço é geralmente uma salada e sopa (comi shembe, que não é nada mais nada menos do que a nossa dobrada sem feijão e só com o estômago do porco), e o jantar começa sempre com uma salada (tomate, cebola, pimento, oregãos), seguido por um prato de carne com batatas cozidas...e muito pão bem acabado de fazer com manteiga.... Antes de jantarmos, nós fomos quase todos passear ao longo da costa, já a pensar nos pinguins que podemos estudar e adiantar logo trabalho. A praia é caracterizada por calhaus de vários tamanhos (uma parte com um pouco de areia preta), que termina num glaciar (que não nos permite avançar mais), zonas de muita neve e uma parte onde existe neve com cinza vulcânica vinda da Ilha Deception ao lado (que regularmente erupte) As 24 horas não podiam ter sido mais bem vindas.....Blargodaria (o que significa, em Búlgaro, Obrigado!!!!) José Xavier & José Seco Eu já sabia que esta seria a parte mais desejada por uns e odiada por outros...desejada pois queremos chegar à Antárctica e odiada pois chegar à Antárctica pode ter custos físicos...e exige andar de navio na passagem de Drake, o que não é pêra Doce. Vejamos...
A passagem de Drake é conhecida por ter algumas das maiores tempestades dos Oeanos, é onde as correntes são mais fortes e as suas velocidades são maiores. Em Ushuaia, deu para perceber que a tarefa não se avizinhava nada fácil...o navio que iríamos tem 42 metros de comprimento (o navio Espanhol Las Palmas) e segundo a minha experiência em navios de 100 metros de comprimento (o James Clark Ross, da British Antarctic Survey), deu para me aperceber que o navio iria abanar bastante. E quando o José Seco se pôs a comparar o Las Palmas com os barcos atrás dele (infelizmente eram cargueiros, navios gigantes para turistas), deu para perceber que podiamos estar numa carga de trabalhos...muito mais pois o José Seco nunca esteve num navio em alto mar. O pessoal do navio Las Palmas foram 5 estrelas (muito obrigado Santiago, David Atienza e colegas!) e a nossa habituação ao navio foi rápido. Santiago Garcia (2º comandante) disse-nos logo que iríamos nessa noite (Sabado, dia 10 de Dezembro) pois a previsão dizia que tínhamos uma tempestade a chegar num periodo de horas...saímos do porto de Ushuaia às 0 horas de Domingo. Foi-nos logo atribuida uma cama, o simpático Comandante Enrique Valdez Garaizabal deu-nos as boas vindas, Sr. José deu-nos informações gerais de como o navio funcionava, o Médico Manuel Prego informou-nos o que tomar em caso de enjoo (e como o prevenir) e o resto viria com o tempo...e veio! Com a minha experiência prévia, o truque é tomar comprimidos para o enjoo 2 horas antes de sair do porto e passar todo o tempo deitado, a ler ou a dormir...as primeiras 24 horas são sempre críticas... que o diga o José Seco: “Saimos do porto, a viagem ia tranquila, para previnir tomamos 2 comprimidos! Um dos efeitos secundarios dos comprimidos é dar sonolência! Quando fomos para a cama ainda o mar estava flat, tudo tranquilo! A meio da noite acordo com uma grande vontade de ir à casa de banho só que por esta altura já estavamos a atravessar o Drake! O mar tinha-se transformado, o barco abanava por todo o lado! Parecia que a minha cama estava assente numa mola, como aqueles brinquedos nos parques infantis, que me fazia oscilar em todas as direcções. Agora entra o dilema, aguentar e sobreviver ou arriscar a ir à casa de banho, e possivelmente ficar mal disposto. Infelizmente o Drake ganhou 6 a 0! Ao fim da segunda noite o Médico veio ter comigo e deu-me uma vacina para equilibrar as contas! A partir dai tudo foi mais tranquilo! Nada fácil isto de chegar à Antárctica!” No meio disto tudo ainda deu para ter as primeiras sensações de chegar ao ares gelados da Antárctica. Eles veêm em poucos pormenores...o ar mais frio, o José Seco viu o seu primeiro iceberg e os primeiros pinguins a mergulhar na água.... Após 2 dias e meio de viagem chegámos a King George Island, à base Argentina Jubany, para deixar material e recolher 2 colegas alemães da AWI. O vento estava forte e só recebemos os 2 colegas alemães a bordo. Eles ilustravam bem como fazer ciência polar é dificil...tudo lhes correu mal, ou lhes faltou bom tempo, ou houve um problema com os aparelhos, e em 6 semanas tiveram 5 dias bons de trabalho. Fustante, disseram eles com um sorriso estampado na cara... “isto da Antárctica é assim! Fazemos o nosso melhor, desejamos sorte com o tempo mas desta vez não foi nada fácil!”... Deixamos estes 2 colegas Alemães na Base Chilena Frei perto do Aeroporto. 24 horas depois estavamos em Livingston Island.... José Xavier & José Seco |
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