A CAMPANHA
PROPOLAR 2011-2012
Novembro de 2011 a Abril de 2012
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11 de Janeiro de 2012 > LEGENDA IMAGEM: Carla e Gonçalo fazendo medições num perfil de um neveiro na Meseta Norte da ilha de King George. O plano para o dia de hoje consistia em resolver de vez as dificuldades de configuração do GPS (parcialmente conseguido) e em ir, assim que o tempo o permitisse, para Meseta Norte fazer a caracterização dos neveiros onde na véspera tínhamos instalado os sensores de temperatura. Mas o tempo voltou a portar-se como sempre lhe apetece aqui, ou seja, de uma forma muito instável. Durante toda a manhã esteve sempre a nevar e o vento a soprar de uma forma muito intensa. Logo após a nossa chegada aqui à ilha de King George, eu diria que nessas condições seria impossível sairmos para se fazer o trabalho de campo. Agora já acho que é somente necessário esperar com calma sem fazermos previsões, até poder haver uma aberta, e não deixar para daqui a um par de horas o que se pode fazer agora mesmo. É que mais tarde o tempo pode estar mesmo pior. Depois de almoço aí estava a aberta, lá fomos nós, e entre as 14 e quase as 20h estivemos no campo. Não nevou nem choveu, mas o vento esteve por vezes desagradável. A ida e vinda de moto-4, em vez de ser a pé, até perto da base uruguaia permite-nos poupar uma preciosa hora e meia. Nos neveiros seleccionados, abrimos perfis com uma pá para, a diferentes profundidades, se medir a temperatura, avaliar o tamanho do grão e pesar sempre o mesmo volume de neve para depois se calcular a sua densidade. Abrir os perfis e depois voltar a fechá-los para se minimizar o impacto na paisagem é, apesar do esforço físico requerido, uma excelente forma de não arrefecermos. Pedro Pina O dia de hoje foi marcado (mais uma vez) pelas constantes mudanças no tempo. A temperatura esteve sempre em torno de 2ºC, mas o vento alternou com a chuva e, finalmente, ao fim do dia, ambos pararam e ficou um excelente fim de tarde. Passámos parte do dia próximo da base a fazer testes com o GPS, que teima em dar problemas e que está a ser complicado de configurar. Andamos enrolados em sistemas de projecção e tudo demora bastante tempo. A trabalhar debaixo de chuva, as tarefas tornam-se ainda mais morosas. Por sorte, ao final do dia o tempo acalmou e aproveitámos para sair entre as 17 e as 21h. Pegámos nas moto-4 e fomos em direcção à base Uruguaia Artigas. A meio do caminho estacionámos as motos e subimos cerca de meia hora a pé até à Meseta Norte, a nossa área de estudo de pormenor. Depois de instalarmos uma referência para os trabalhos com GPS, iniciámos a selecção de neveiros para trabalhar nos dias seguintes. Em cada um deles instalámos um sensor de temperatura da neve que servirá para a calibração das imagens de satélite que pedimos para os próximos dias. Esperamos imagens dos satélites Envisat da ESA e TerraSAR-X da DLR. Ambas são imagens de micro-ondas. Uma das tarefas principais dos próximos dias será mapear os tipos de terreno para depois analisarmos as imagens de satélite e para podermos fazer a validação e calibração dos resultados. Vou-me deitar porque estou exausto! Gonçalo Vieira, Base Escudero, 10 de Janeiro de 2012 Trabalhar no campo hoje foi horrível. Estava muito vento (cerca de 60/70 km/h) com muita chuva. Trabalhámos junto à base uruguaia de Artigas, como o tempo estava muito mau e tínhamos que carregar material fomos de moto-4, que o Pedro e o Gonçalo gostaram muito de conduzir. Pelo caminho encontrámos um espectacular veículo de transporte em glaciar da base Uruguaia.
Carla Mora 08 de Janeiro de 2012 Tínhamos planeado que o dia de hoje seria passado na íntegra na base, a preparar e calibrar o equipamento que vamos levar para o campo e a ajudar no que fosse necessário nas limpezas, uma vez que aos domingos tal nos poderá ser solicitado pela Edith Flores, chefe da base. No entanto, logo de manhã, antes do pequeno-almoço, pergunta-nos ela se queremos acompanhar dois grupos de biólogos chilenos ao glaciar Collins durante cerca de 3 horas onde iriam fazer diversas amostragens. Só havia uma resposta possível. Bem equipados, por causa do frio, do vento e dos quase certos salpicões (de salpicos…), saímos numa zodiac da baía de Fildes em direcção ao glaciar. Neste percurso marítimo, que durou cerca de meia hora, bateu-nos mais uma vez a sorte à porta, “há baleias na baía”, anuncia-nos o condutor da zodiac! Depois de ver a olho nu a primeira à superfície, passei a ter a máquina fotográfica sempre apontada, sabe-se lá para onde, na expectativa de agora registar mais alguma eventual aparição. E as baleias não se fizeram goradas nem nos defraudaram as expectativas, elas foram-nos aparecendo e presenteando várias vezes com os seus graciosos movimentos. As minhas fotos não ficaram grande coisa, mas o que vê na água a meio da imagem que acompanha este post é mesmo uma baleia. Depois de desembarcarmos fizemos um pequeno reconhecimento na parte livre de gelo, onde deparámos com grande tapetes de musgos e uma grande densidade de líquenes, obrigando-nos, a saltar de pedra em pedra para não os pisar. A visão muito próxima da frente do glaciar foi também verdadeiramente espectacular! Voltámos ainda a tempo de almoçar na base, onde nos foi servida uma excelente cazuela, prato típico chileno parecido com o nosso cozido. Depois de almoço, decidimos que a primeira região onde iremos trabalhar com detalhe será na Meseta Norte da ilha, e dedicámo-nos também às tarefas preparatórias do equipamento, tais como testar nas redondezas da base o novo GPS diferencial, comprado antes de virmos, e iniciá-lo com os pontos coordenados aqui em King George e calibrar também todos os sensores de medição das temperaturas na neve. Estamos já preparados para amanhã começarmos a intensa (e extensa) fase de aquisição de dados. Pedro Pina 7 de Janeiro de 2012
Hoje fizémos o reconhecimento da parte norte da Península Fildes: a Meseta Norte. Saímos pelas 9h00 e regressámos por volta das 15h00, tendo tido desde um forte nevão que durou (felizmente) apenas uns 10-15 minutos, a um céu nublado mas com excelentes abertas. O vento, esse esteve sempre moderado a forte, fazendo baixar bastante a sensação térmica. A temperatura do ar foi quase sempre de cerca de +1ºC, a temperatura típica neste sector da Antártida Marítima durante o Verão austral. O objectivo dos reconhecimentos que temos vindo a fazer é decidir quais os locais que vamos estudar de forma mais detalhada durante a missão. Apesar de eu já ter estado em Fildes há 2 anos, estive apenas de passagem, durante cerca de 3 dias, mas quase sempre fechado na base russa, porque estava um nevoeiro muito denso. Por isso, apenas conhecíamos Fildes das imagens de satélite detalhadas, o que é manifestamente insuficiente para escolhermos, a priori, quais as áreas mais interessantes para estudar. A Meseta Norte e o norte da Península Fildes foram uma agradável surpresa. Há vastas áreas planas, com neveiros muito interessantes e uma enorme quantidade de processos geomorfológicos de grande interesse, em especial no âmbito dos solos ordenados, com círculos de pedras muito perfeitos. Estamos claramente no domínio periglaciário, ambiente caracterizado pela forte acção do frio no solo, em especial pelos processos de congelação-fusão sazonais. Além disso, na maior parte desta região, abaixo da camada superficial do solo, com cerca de 1 a 2m que funde e congela sazonalmente (a camada activa), encontra-se o solo permanentemente gelado, ou permafrost. A dinâmica criogénica é tão importante que os calhaus deslocam-se do interior do solo em direcção à superfície, dando origem a formas extraordinárias ligados a estes processos convectivos. Da parte tarde, aproveitamos para trabalhar no laboratório da base. Pomos o email em dia e organizamos a informação recolhida, de modo a começarmos a estruturar o trabalho dos próximos dias. Gonçalo Vieira O dia na base começou às 7h. Dormi num quarto para duas pessoas, mas por enquanto não tenho companheira de quarto. Tomámos todos juntos o pequeno-almoço às 8h no salão principal da base. _Eu sou a Carla Mora, faço parte da equipa do projecto SNOWCHANGE e sou investigadora do CEG/IGOT da Universidade de Lisboa. Os meus interesses de investigação centram-se nos climas de montanha, detecção remota da neve e no estudo dos efeitos das alterações climáticas sobre o permafrost.
O pequeno-almoço na base consistiu em pão com manteiga ou doce e café ou chá, e depois foi necessário reunir com a chefe de base (Edite Flores) para dar-mos conta do que íamos fazer durante o dia. O Gonçalo que é o investigador principal, responsável pelo nosso projecto, teve uma reunião com a chefe e depois saímos para o campo. O céu estava encoberto e o vento soprava a 20km/h. Estávamos interessados em sair rapidamente porque antecipava-se o agravamento das condições meteorológicas. Quando saímos da base encontrámos dois pinguins gentoo no caminho. Muito giros e patuscos. Parámos, demos-lhes passagem e eles lá foram. Hoje fomos fazer o reconhecimento do sector sul da Península de Fildes. O substrato são basaltos e tufos vulcânicos e ao longo do nosso percurso encontramos vários geódes. Uma incrível quantidade deles. Tirámos fotos, mas não guardámos nenhum, porque da Antártida só se podem levar fotos ou amostras devidamente autorizadas. Ao longo do nosso trajecto estivemos a observar a distribuição dos neveiros, para depois seleccionarmos os que vamos estudar. Enquanto andávamos nas nossas explorações, numa baía na costa oeste vimos vários elefantes marinhos. Alguns andavam à luta e faziam ruídos que ao longe pareciam tractores. O enquadramento natural da baía era espectacular e no mar avistavam-se vários icebergs. O dia de campo terminou repentinamente, pois as condições meteorológicas mudaram. O vento começou a soprar com mais intensidade, começou a nevar e as nuvens ficaram progressivamente mais baixas. Tivemos que regressar rapidamente à base. Neste primeiro dia ficámos com a sensação de que, como dizia o nosso colega Julio Martin, estávamos num livro de Julio Verne. Principalmente pela estranheza do ambiente natural e pela presença da fauna pouco familiar. 05/JAN/2012
Chegámos à ilha de King George por volta do meio-dia local (menos 3 horas do que em Portugal) depois de um calmo voo de aproximadamente 2 horas desde Punta Arenas. A equipa do projecto SNOWCHANGE viajou num voo fretado pelo INACH em conjunto com investigadores polares de outras nacionalidades e programas polares. Assim que saímos do avião, e neste meu primeiro contacto antárctico, deu logo para perceber como é o tempo por aqui: céu permanente nebulado, temperaturas baixas, bastante ventoso. Os nossos amigos chilenos trouxeram-nos da pista de terra batida onde aterrámos na Península de Fildes até à base chilena Presidente Escudero (são os módulos do meio de tecto azul lá atrás na foto junto à neve) onde ficaremos instalados nas próximas 3 semanas. Indicaram-nos os nossos aposentos, pequenos mas cómodos quartos partilhados por 2 investigadores. A arrumação dos quartos é da responsabilidade dos seus utilizadores mas, ao contrário do que se passa noutras bases, não é necessário fazer de ’maria’, ou seja, ter de limpar e arrumar toda a base durante um dia pré-determinado. As refeições são também preparadas por dois cozinheiros, o que nos liberta tempo para as actividades científicas. Passámos o resto da tarde a conhecer a base, constituída por vários módulos, a desempacotar o equipamento científico que trouxemos e a preparar e instalar o nosso laboratório informático onde analisaremos e trabalharemos os dados que formos colhendo no campo durante a nossa campanha. Demos ainda um pequeno passeio até à praia onde a sorte de principiante nos esperava: o primeiro pinguim que vimos e fotografámos foi logo um pinguim-rei que parece não ser dos mais comuns por estas paragens. A este primeiro calmo, e anormal, dia antárctico, seguir-se-ão já amanhã as primeiras saídas de campo de reconhecimento, para a zona sul da península de Fildes. Eu, Pedro Pina, participo pela primeira vez numa campanha polar no hemisfério sul. O meu interesse principal em realizar estudos nestas regiões é de os poder utilizar como referência em estudos de análogos planetários, ou seja, de poder melhor conhecer determinadas estruturas estudadas remotamente nas superfícies planetárias do sistema solar e quais os processos associados à sua formação e evolução, com o estudo de estruturas análogas que ocorrem na Terra, com deslocações aos próprios locais. Pedro Pina Punta Arenas, 5 de Janeiro de 2012 Está finalmente a iniciar-se a campanha do projecto Snowchange. Depois de alguns dias a preparar o equipamento científico e a fazer compras que tinham ficado pendentes, estamos prontos para sair para a Antártida. São 8h30 da manhã e estamos no aeroporto de Punta Arenas, no extremo sul do Chile, para uma viagem de avião que nos levará à ilha de King George. Será na Base Antártica Chilena Prof. Julio Escudero que iremos passar as próximas 3 semanas. Eu e a Carla Mora somos geógrafos físicos no CEG-IGOT/UL, o Pedro Pina é Eng. de Minas do CERENA-IST e o Julio Martin é Eng. Electrotécnico na Universidade de Vigo. O nosso tema de investigação centra-se no solo permanentemente gelado (permafrost) e no modo como este reage às alterações climáticas. No projecto Snowchange estudaremos a neve, factor determinante para o permafrost, e o modo como esta se distribui no terreno e influencia a dinâmica geomorfológica. Interessa-nos também a diversidade espacial dos processos geomorfológicos e sua relação com os climas locais e microclimas, bem como com a vegetação. As interacções entre estas variáveis são essenciais para a dinâmica dos ecossistemas das áreas não glaciadas da Antártida. Ao longo das próximas semanas iremos contar, neste blogue, o nosso dia-a-dia, explicando as nossas actividades científicas e o modo como vão decorrendo. Iremos publicando de modo alternado textos de todos nós, de modo a melhor ilustrar as diferentes perspectivas e actividades de cada um. Para já, termino esta minha primeira entrada com uma breve apresentação. Sou o Gonçalo Vieira e os meus interesses de investigação centram-se na criosfera e nas alterações climáticas, em especial na Antártida. Esta será a minha 5a campanha antártica, mas a primeira em que colaborarei com o Instituto Antártico Chileno (INACH). Tenho também trabalhado no Ártico, nas ilhas Svalbard a 78N mas desta vez o blogue vai andar longe dos ursos polares. Este ano é especialmente importante para mim, pois pela primeira vez Portugal está a desenvolver uma campanha antártica coordenada, com vários grupos de investigação e com um contributo logístico para a investigação internacional. Trata-se do projecto PROPOLAR - Programa Polar Português, que contribui com os voos Punta Arenas - Antártida (ilha King George) - Punta Arenas, que se realizarão no dia 26 de Janeiro. Participarão no voo investigadores portugueses e de outros países parceiros, que integrarão diferentes campanhas, todas elas na região da Península Antártica. É uma grande honra e um enorme prazer poder coordenar projectos como este. Gonçalo Vieira |
A CAMPANHA PROPOLAR 2011-12 Arquivo de notícias organizadas por:
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