A CAMPANHA
PROPOLAR 2011-2012
Novembro de 2011 a Abril de 2012
PROPOLAR 2011-2012
Novembro de 2011 a Abril de 2012
_Dia 17 Dezembro 2012
A previsão era de que naquela manhã o vento continuaria muito forte, e assim foi. No dia anterior terminámos a reunião com o chefe de base dizendo "Amanhã teremos de esperar para ver o que é possível fazer, vamos ver, vamos ver...". Sair da base com um temporal daqueles estava fora de hipótese e a prevenção é a palavra de ordem na Antárctica, uma vez que o apoio médico é bastante condicionado. A manhã foi preciosa para actualizar as entradas no computador, e os diários de campanha. Ao meu lado, uns contemplavam a paisagem ou liam o email, outros ensaiavam uns passos de dança. A música e aquele ambiente familiar de partilha e amizade faziam um contraste abismal com a agressividade do clima em Deception. Depois do almoço o chefe de base reuniu-se com os militares junto à janela e tomaram a decisão. O vento estava mais calmo e apontou-se a saída de 1 Zodiac para as 16h, o destino era a praia coberta de ossos de baleia, Colatinas, para ir retirar os DGT's que foram instalados três dias antes. Hoje o dia seria muito longo, e depois de chegar à base tinha ainda de retirar os 5 DGT's junto à baia. Connosco vinham mais 4 militares que tinham chegado a Gabriel de Castilha durante essa semana. A viagem até Colatina foi feita com muito cuidado, as águas da baía de Deception continuavam muito agitadas e o Zodiac balanceava com dificuldade pelas ondas. Os DGT's estavam em bom estado, e enquanto trabalhava um dos militares filmava-me com uma câmara profissional "Serás muy famoso en España" dizia-me na brincadeira. Ao embarcar Ravi perguntou-me se conhecia a baía dos baleeiros. Mal esperou pela minha resposta e disse-me "Entonces vamos!" Paciência pensei, teria de adiar trabalho. A baía de baleeiros era realmente um ponto de paragem obrigatória na ilha. Da praia a vista era desconsertaste. Mesmo em frente erguiam-se enormes contentores de armazenamento de gordura e maquinaria parcialmente enterrados na areia negra de piroclasto. Os anos de exposição a este clima impiedoso desfizeram e corroeram todo aquele complexo industrial fantasmagórico agora devorado pela natureza. Aqui e ali havia aquilo que restava das casas e barracões de madeira onde os trabalhadores dormiam e faziam a sua vida diária. Aproximámo-nos devagar para lermos o letreiro informativo pregado à velha e desgastada parede de madeira. Explicava que Deception Island tem uma história de ocupação humana desde 1911 desde a instalação daquela baleeira por uma empresa Norueguesa. Mais tarde em 1931 o complexo foi abandonado e em 1944 parte dos edifícios foram adaptados para a instalação de uma base britânica. As erupções de 1967 e de 1969 provocaram destruição e deslocamentos de terra que forçaram o encerramento da base até aos dias de hoje. Aquele enorme casarão de madeira abandonado dava arrepios na espinha. A luz do sol entrava pelas janelas partidas e iluminava camas, secretárias, armários, objectos pessoais e maquinaria, e as paredes e telhados estavam completamente contorcidos pelas alterações do terreno impostas pelo vulcão. Imaginar a vida de uma equipa de homens há precisamente 100 anos atrás, lutarem contra este tempo e trabalharem em condições tão adversas enchia-nos de espanto e admiração por este lugar. A 100 metros desta casa havia duas sepulturas que inocentemente impunham um ambiente catastrófico a todo aquele cenário surreal. Os contentores de armazenamento tinham cerca de 20 metros de altura, havia muitos outros invisíveis completamente enterrados e a capacidade de armazenamento dava-nos uma ideia da dimensão da matança. Ravi dizia que mesmo assim por vezes os contentores não chegavam e que teriam mesmo de interromper a caçada. Olhou para mim e suspirou " La barbarie humana..." Na praia ao lado, a areia estava coberta de focas de Weddell e de pinguins gentoo. Disseram-me mais tarde que aquela zona está sempre quente e por isso é uma das paragens obrigatórias para as focas que anseiam por uma sesta. Descansavam relaxadamente ao lado de enormes ossos de baleia e faziam o contraste perfeito entre vida e morte em Deception. Dia 17 seria marcante também pela festa de sábado à noite. Desta vez tínhamos uma temática: "Baile de mascaras!", em que todos nos mascarámos num personagem à escolha. Houve piratas, palhaços, assaltante de bancos, batmans, dorminhocos e até anjinhos. O nível de diversão batia no vermelho! Festas destas só acontecem na Antárctica... Isto garantiram-me os veteranos Antárcticos. Lamento mas os pormenores não podem ser revelados por este meio. Ficarão novamente à mercê da vossa i m a g i n a ç ã o. Os comentários estão fechados.
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