A CAMPANHA
PROPOLAR 2012-2013
Novembro de 2012 a Março de 2013
PROPOLAR 2012-2013
Novembro de 2012 a Março de 2013
Apesar de o trabalho de campo estar todo feito, temos ainda que tratar algumas amostras antes de fechar a mala e, por isso, aproveitámos a manha para peneirar algumas amostras de sedimento. Depois de almoço saímos da base para visitar a igreja Ortodoxa Russa, localizada no cimo de uma colina do lado da base Bellinsgausen. Uma vitrine informava que as madeiras da Sibéria que compõem a igreja foram transportadas de barco desde a Russia até King George, onde, em Fevereiro de 2004, ocorreu a cerimonia de abertura. Regressámos à base pois tínhamos uma tarefa da maior importância: fazer as sobremesas para o dia seguinte. O desafio da feijoada à portuguesa ficou marcado para domingo, por isso, decidimos adiantar trabalho na cozinha hoje. O João decidiu fazer uma mousse de ananás e eu, uma de chocolate. Só quando acabámos a tarefa é que me apercebi que deveria ter juntado o dobro da quantidade de ovos ao chocolate derretido. De qualquer maneira as mousses estão lindas! A ver vamos. 26/01/2013 Hoje era o grande dia em que a cozinha portuguesa ia ser posta à prova. A expectativa era grande e a nossa responsabilidade também. De Portugal vinham emails de um amigo do João, cozinheiro profissional, cheios de dicas. No entanto, era complicado fazer feijoada à portuguesa sem aqueles ingredientes portugueses. E em relação aos ingredientes chilenos, deixam alguma coisa a desejar. Por exemplo, não havia alho. Deitamos a mão à massa com o todo o vigor. O João passou uma eternidade a cortar pedaços de tarde enquanto o André tratava do resto. E assim se passou uma animada manhã na cozinha. Toda a gente lá ia espreitar e o peso da responsabilidade caía cada vez mais sobre nós. Mas pronto, modéstia à parte, foi um SUCESSO. Tal como no ano passado em Gabriel de Castilla, até nós ficamos surpreendidos. Estava excelente. Depois seguiram-se os aplausos, os parabéns e os pedidos de receita. Estávamos orgulhosíssimos.Parece que quando cozinhamos na Antártida é sempre um sucesso. A mousse de ananás estava muito boa também e a mousse de chocolate saborosíssima embora com a consistência das pastilhas gorila. E assim foi o domingo. Como ainda tivemos de lavar a loiça e arrumar a cozinha estávamos de rastos e não fizemos mais nada. 27/01/2013 E assim chegou o penúltimo dia de campanha. O tempo passou num ápice. Depois de peneirar as ultimas amostras de sedimento, empacotámos todas as restantes amostras e fechámos a mala juntamente com todo o nosso material de trabalho. Apesar das dificuldades surgidas pelo mau tempo, conseguimos alcançar os objectivos e levamos para Portugal cerca de 170 amostras cuja análise será feita nos próximos meses. Ao fim do dia, fomos dar um passeio pela praia da baía de Fildes, fizemos as últimas despedidas da ilha de King George e aproveitámos para tirar mais umas fotos dos pinguins que descansavam na praia. 28/01/2013 O mau tempo tem estado insistente e a baía de Fildes acordou cercada por um nevoeiro. Este é um factor impeditivo de trabalho de campo porque diminui a visibilidade e, consequentemente, aumenta as probabilidades de desorientação que, neste território isolado, pode ser fatal. Casos de barcos semi-rigidos desorientados por vezes acontecem por aqui e servem de lição. Além disso, devido às reduzidas temperaturas, as baterias descarregam-se mais rapidamente. Por exemplo o nosso GPS só durou 2 dias. Felizmente que o tempo durante a tarde foi melhorando e partimos de zodiac para norte, até ao glaciar Collins. À medida que nos aproximávamos, o glaciar ia revelando as suas dimensões abissais, muito subestimadas visto de longe, da janela da sala de estar de Escudero. Saímos numa pequena praia de seixos, na mesma onde se encontra um pequeno refúgio chileno com o mais elementar: uns colchões, um fogão de campismo duas prateleiras e umas bolachas a roçarem o final do prazo de validade. O cenário era assustador. As paredes de gelo eram enormes e pareciam muito muito frágeis porque, para além de serem a pique, estavam completamente esquartejadas. Além disso, ouviam-se ruídos poderosos semelhantes a trovões que resultavam da quebra de secções gigantes de gelo. Apesar de não termos visto nenhum bloco de glaciar a cair na água, este ruído recordava-nos da fragilidade e perigosidade daquelas paredes azuis. O trabalho correu bem e conseguimos amostrar sedimento, musgos e instalámos um dispositivo DGT em cada uma das pontas da praia. Estas amostras servirão de controlo, e serão as mais afastadas de qualquer impacte humano.
À vinda para a base, completamente deslumbrados por aquele cenário natural, fomos brindados pela visita de uma baleia de bossas. Uma autêntica cereja no topo do bolo antártico. Equipa Contantarc 2, 22 Janeiro 2013, Ilha King George, Antártica. Mais um dia de neblina e como tal mais um dia que se esperava não sair da base. Como já nem havia rio para amostrar, o dia prometia ser aborrecido, o que veio a acontecer. No entanto, na Antártida o tempo muda numa questão de horas e foi isso que aconteceu. A meio da tarde surgiu uma aberta e saímos um pouco. Entretanto, numa conversa com investigadores da Universidade Mayor no Chile que se encontravam aqui em Escudero definimos uma pequena colaboração com vista a estudar contaminantes no plâncton. Este é o trabalho que eles desenvolvem embora mais nas variáveis oceanográficas que possam explicar a diversidade e a abundância destes seres microscópicos.
A partir de hoje iríamos ter amostras de plâncton para analisar. Equipa Contantarc 2, 21 Janeiro 2013, Ilha King George, Antártica Dia em grande. De manhã e como a maré estava mais baixa fomos tentar ver se achávamos o DGT F1 na Baía de Fildes. O resultado foi positivo e chegamos logo à conclusão que o dia prometia. De regresso à base passamos pelos locais onde recolhemos o musgo para recolher também algum solo adjancente que podesse ajudar a explicar os resultados que poderíamos obter no musgo. Da parte da tarde teríamos de ir à costa norte, Baía dos elefantes para aí realizar amostragem. No mapa o caminho parecia longo mas veio a revelar-se muito perto. Na verdade as distâncias não são como aparentam. O piso é que era muito enlameado o que dificultava a marcha. Chegados lá deparamo-nos com uma paisagem de suster a respiração. A baía dos Elefantes é uma praia semi fechada aberta ao Drake embora o mar esteja muito mais calmo aparentemente devido a uns recifes que protegem a baía. Nesta praia estavam dezenas de focas a dormitar ao sol e mais alguns leões marinhos que aproveitavam a tarde. Neste local, colocamos dois DGTs, recolhemos sedimento e ainda realizamos determinações de parâmetros físico-químicos.
A cereja no topo do bolo foi o termos avistado uma cria de leão marinho que deveria estar à espera da mãe. Passado dois dias teríamos de regressar a este local. Equipa Contantarc 2, 23 Janeiro 2013, Ilha King George, Antártica Este foi o segundo domingo passado na base. Este é o dia oficial para o staff recuperar forças e descansar, já que, ao contrário dos investigadores, estes permanecem na base desde a sua abertura em inicio de Janeiro até ao encerramento, em meados de Março. São 3 meses num ambiente hostil sem ver família e amigos e, por isso, há que fazer uma manutenção mental e restabelecer energias. Inclusivamente os cozinheiros ficaram de descanso, e o almoço e jantar foi feito por investigadores. Comemos mais, porque sobrou imensa comida por falta de experiência nas proporções, mas também comemos comida mais requintada, isto porque a pressão de agradar é grande. Durante o almoço, o convite foi lançado: no próximo domingo teremos para almoço feijoada antártica à portuguesa, cozinhada pela equipa CONTANTAC2. Já que somos investigadores, investigámos se havia aqui em Escudero bacalhau para preparar o já famoso bacalhau à brás antártico, cozinhado por nós o ano passado na base espanhola de Gabriel de Castilla na ilha de Deception. Não há bacalhau. Feijoada será, e a expectativa é alta. O nevoeiro cerrado não deu tréguas e por questões de segurança não pudemos adiantar mais trabalho para além da amostragem do rio. Este foi o último dia de 8 dias consecutivos de amostragens num curso de água que nasce no lago Kitiesh, a cerca de 800 metros da base chilena Escudeiro, onde nos encontramos. Para além do lago, o rio é alimentado pelas bancadas de neve adjacente, forma um outro pequeno lago perto da base Russa que serve atualmente para abastecimento e, finalmente, desagua na baía de Fildes. Neste dia recolhemos também sedimento e neve nas 4 estações de amostragem. Os resultados destas amostras, integrados com as amostras de água recolhida diariamente e das amostras de sedimento e dos dispositivos DGT instalados na baía de Fildes, além de permitirem caracterizar alguns contaminantes importantes, vão indicar quais os mecanismos de transporte nestes compartimentos ambientais. Estamos muito curiosos para saber os resultados das análises, que serão feitas em Portugal.
Equipa Contantarc 2, 20 Janeiro 2013, Ilha King George, Antártica Caiu um nevoeiro cerrado sobre a Baía de Fildes que impossibilitou saídas por questões de segurança. Tínhamos planeado ir resgatar uns DGT’s mas como era relativamente longe da Base o chefe não autorizou. Fomos apenas amostrar o rio que é relativamente perto e seguro. Mesmo assim foi uma tarefa árdua pois o vento cortante gelava até aos ossos apesar de irmos preparados para o efeito.
Chegados ao laboratório, tratar as amostras e só isso. Foi um dia “perdido”, mas que deu para retemperar forças. Equipa Contantarc 2, 19 Janeiro 2013, Ilha King George, Antártica Aproveitámos a manhã para adiantar trabalho de laboratório e peneirámos algumas amostras de sedimento. Entretanto o wifi, que já era muito debilitado, deixou de funcionar de todo. O único meio de comunicação com o resto do mundo é feita a partir de dois antigos computadores de secretária que estão no laboratório de microbiologia. Têm ligação por cabo e felizmente funcionam, ainda que a velocidade de ligação relembra os anos 90. Depois de fazer login na conta de email sobra perfeitamente tempo para ir fazer chá, para bebe-lo e para devolver a caneca na cozinha antes que a conta de email abra finalmente. Tal como mais vale tarde que nunca, neste caso, mais vale pouca internet que nenhuma. À tarde fomos amostrar o rio novamente e logo de seguida fomos em direcção à baía de Fildes para retirar os dispositivos DGT que foram colocados 2 dias antes. Graças ao INACH que nos emprestou umas botas de borracha, ou melhor, umas jardineiras de borracha (são botas até à barriga presas com suspensórios), conseguimos entrar na água e retirar os dispositivos facilmente. Contudo, não conseguimos localizar um dos dispositivos que colocámos porque surgiram dois obstáculos que nos dificultaram a missão: a maré baixa está 30cm mais alta que há 2 dias atrás, e as pilhas do GPS pifaram e não sabemos a localização exata dos locais de amostragem. Será escusado dizer que, apesar do aparato de bases aqui em Fildes, não há uma loja de conveniência. Aparentemente, aqui na base existem pilhas recarregáveis, mas o chefe de base já nos tirou o cavalinho da chuva porque o carregador das ditas cujas ficou em Punta Arenas a modos que, a partir de agora, a localização será feita à antiga: olhar para o mapa em papel, procurar pontos de referência no terreno e anotar mais tarde. O velho ditado em Inglês diz que, por vezes, the old way is the best way. Este foi também o mote de inspiração do novo filme de 007 Skyfall, que entretanto foi visto aqui na base num projetor. Bond faz a barba com navalha e sabão, anda num carro dos anos 70, combate os bad guys com a velha caçadeira do pai, e tem como gadget mortífero um transmissor rádio. Aqui na antártida, os velhos computadores com ligação por cabo e os mapas em papel estão a fazer as delicias da casa.
Equipa Contantarc 2, 18 Janeiro 2013, Ilha King George, Antártica A rotina de ir amostrar o rio que corre junto às estações Russa e chilenas foi cumprida de manhã. Quando chegámos à base tratámos as amostras e preparámo-nos para ir à ilha de Ardley. Esta ilha, situa-se muito próxima da península de Fildes, e contém uma curiosidade interessante: durante a maré baixa, o mar deixa a descoberto uma língua de sedimento marinho que permite passagens por terra entre a península de Fildes e a “ilha” de Ardley. Assim, partimos logo a seguir ao almoço a fazer pontaria com a maré baixa. Ao chegar ao local de passagem entre as duas ilhas, acontece que a passadeira de areia até Ardley não deu todo o ar da sua graça (ver foto). Isto porque as marés baixas durante esta semana, afinal, não são assim tão baixas. São, digamos, marés médias. Estivemos por isso de voltar para a base e tentar ir de zodiac. Havia duas opções a escolher: ir pela estrada, um caminho mais longo, mas mais seguro e definido; ou fazer corta mato, neste caso corta neve, através da costa e atravessando os desfiladeiros do cabo da baía de Fildes. A opção escolhida foi a segunda (íamos com outros investigadores), o que permitiu, sem dúvida, as melhores fotos. Quando regressámos à base, partimos de imediato de Zodiac (barco semi-rígido) para a ilha de Ardley. Fomos recebidos por colónias de pinguins a perder de vista. Uns andavam pela ilha, outros estavam no ninho a aconchegar as crias com a barriga, outros estavam simplesmente nas rochas a curtir o ar fresco da Antártida. Era um cenário deslumbrante, e sentimo-nos uns felizardos por podermos observar, ainda que por momentos, a vida daquelas aves fascinantes. Equipa Contantarc 2, 17 Janeiro 2013, Ilha King George, Antártica De manhã cumprimos a nossa rotina diária de recolha de amostras no rio perto das bases chilenas e russa. Por volta da hora do almoço, pela primeira vez no projecto CONTANTARC, vimos o sol na Antártida. Era o mesmo sol que se vê em Portugal ou no Chile, mas desta vez, a sua luz e calor foram recebidos com um carinho especial por todo o pessoal na base. De repente, tornou-se um dia esplendoroso e o timing não podia ser melhor porque durante a tarde tivemos muito trabalho para fazer. Instalámos 4 dispositivos DGT nas águas da baía de Fildes e logo de seguida caminhámos até à baía Grande Muralha, perto da base Chinesa, para retirar os dispositivos DGT instalados nesse local 2 dias atrás. Infelizmente não encontramos um dos dispositivos, e teremos que voltar a este local mais tarde. De qualquer forma, a tarde solarenga revelou-se muito produtiva.
Antes de jantar e como era quarta-feira tivemos quatro apresentações científicas. Duas por chilenos e duas por chineses. Ficámos com a certeza que, senão a totalidade, a maioria dos investigadores aqui em Fildes são biólogos. Equipa Contantarc 2, Ilha King George, 16-01-2013 Hoje chegaram à base quase 30 investigadores. Muitos deles ficam apenas um ou dois dias, e estarão brevemente de partida para outras bases espalhadas pelo arquipélago das ilhas Shetland do Sul. A base Escudero está numa azafama, já que o número de investigadores durante estes próximos dois dias será o dobro da sua capacidade “oficial” e muitos terão mesmo que dormir na “piscina”. Por a península de Fildes ser o centro logístico da ilha de King George e de outras ilhas aqui em redor, esta base está preparada para estas ocasiões e, por isso, tem uma sala de trabalho que serve também de dormitório temporário para investigadores de passagem. Acontece que essa sala está coberta de azulejos azuis e parece realmente que estamos dentro de uma piscina.
Como não podemos adiantar trabalho de manhã, apenas tivemos tempo para ir ao rio fazer a recolha diária de água. Amanhã será um dia de trabalhinho redobrado! Equipa Contantarc 2, Ilha King George, 15-01-2013. |
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