A CAMPANHA
PROPOLAR 2012-2013
Novembro de 2012 a Março de 2013
PROPOLAR 2012-2013
Novembro de 2012 a Março de 2013
Adeus Antártica. Eis-nos finalmente em Punta Arenas. Mais uma vez o clima mostrou quem manda e que os melhores planos devem obedecer aos seus caprichos. O avião que nos devia recolher em Fildes a 26, um Hercules C-130 da Força Aérea Brasileira, esteve lá, mas o tecto de nuvens baixas impediu que pudesse aterrar em segurança e teve de voltar a Punta Arenas. Assim acabámos por ter de passar a noite no Ary Rongel, que apesar de lotado com os militares, técnicos e cientistas que estiveram nos últimos meses em Ferraz, ainda nos permitiu a todos uma noite confortável após um corropio de reajustamento da ocupação dos camarotes. No dia seguinte o céu abriu e a aterragem do Hércules pode finalmente acontecer. Aí foram as condicionantes humanas a impedir a viagem imediata. No voo viajou uma comitiva de altas patentes da marinha que tinha por destino uma “cimeira” em Ferraz e que deveria voltar no mesmo avião. Por isso a partida esteve sempre em aberto. Às 11, depois de um almoço antecipado a bordo, o Cmdt. Seabra decidiu levar carga e passageiros para terra. Em Frei, a base da força aérea chilena que dá apoio ao aerodromo, encontrámos os passageiros que estavam no navio Almirante Maximiliano, o outro navio oceanográfico do Brasil que faz investigação na Antartica. Todos à espera de partir, todos sem certezas do que iria acontecer. Finalmente foi-nos dito que o voo seria para depois das 16. Este intervalo de tempo permitiu que esticássemos as pernas num passeio pelas áreas das bases Escudero, chilena, e Bellinghausen, russa, com a sua igreja ortodoxa. O nevoeiro intensificou-se mas partir das 15 começaram lentamente os movimentos em direcção ao avião, onde a refeição de voo foi servida... em terra! Mais algum tempo de espera até que a confirmação chegou: os helicópteros não conseguem trazer a comitiva e o aeródromo fecha dentro de uma hora. Vamos partir e são 19.00. A bordo, cada um utiliza o seu proprio sistema de entretenimento. O portatil, o tablet ou o smartphone, mas também para os menos tecnológicos, os livros de passatempos ou a conversa com o parceiro do lado, dificultada pelo ruido dentro do avião. Todos estão cansados e alguns dormem. O Hércules não é propriamente luxuoso, praticamente sem janelas, com quatro filas de bancos dispostas longitudinalmente, alguns sem almofada, e com carga pelo meio, mas com excepção do frio, a viagem foi tranquila e confortavel, e às 21.40 aterrámos suavemente em Punta Arenas e agradecemos ao Programa Antártico Brasileiro. Tínhamos sido recolhidos em Arctowski ao meio-dia de 26. Ao fim de dois meses, em que partilhamos todas as refeições, muitos serões e algumas preocupações, já aprendemos a conhecer e a gostar dos membros da base. A responsabilidade do cozinheiro nos quilitos extra, as fãs do trash metal e nossas interlocutoras previlegiadas, o viciado em Nutela e super animador social, as conversas de sabado à noite em polaco com veterano de vinte e cinco anos de Antartica, os “Kurwa!!!” do chefe quando algo corria menos bem, as neuras do mecanico e a falta de tabaco, etc, etc. Por isso as despedidas são difíceis, sobretudo quando sabemos que a probabilidade de os voltarmos a ver é remota. Para eles, a nossa partida marca também o fim da época de investigação, e não esperam mais “hóspedes” até à sua rendição em finais de Outubro. Dentro de dias serão apenas sete e isto aumenta a carga emocional. Após o último pequeno almoço e uma foto de “família” agradecemos a todos a hospitalidade e colaboração. Os membros da 37ª expedição polaca foram excepcionais conosco e fizeram-nos sentir parte da equipa. Dzienkuje Bardzo!! Muito obrigado Agata, Ewa, Jacek, Kazik, Marek, Piotr and Piotr, Radek, Sylwia, Waldek and Wlodek. Amanhã ainda tentaremos encontrar alguns dos membros da equipa de Copacabana que fazem uma curta escala em Punta Arenas e à tarde saímos para Santiago. Depois São Paulo. A seguir Lisboa e finalmente Faro, onde se não houver imprevistos terminaremos a “expedição” FISHWARM 2013 às 10.30 do dia 31. Domingo de Páscoa. Preparem as amêndoas, os folares e os chocolates.
Último dia em Arctowski. Esperamos a qualquer momento, de malas a postos, a confirmação de quando seremos recolhidos pelo Ary Rongel, o navio de investigação antártica do Brasil que tem estado todo o verão na Baía, em apoio à reconstrução da estação Comandante Ferraz. Dependendo do estado do tempo, que continua muito ventoso e variável, a saída poderá ser esta tarde, noite ou mesmo apenas amanhã de madrugada. Vamos com eles de boleia até à pista de aviação e depois para Punta Arenas num Hercules C-130 da Força Aérea do Brasil. Também a chegada e partida deste voo é incerta devido ao vento e nuvens baixas sobre a peninsula de Fildes. Ontem terminámos a última experiência e voltámos a encaixotar todo o material. O que segue connosco e o que vai no Polar Pioneer, o navio que presta apoio à estação polaca. Nele seguem elementos da equipa polaca que estavam cá desde finais de Outubro. Alguns saem em Ushuaia mas outros continuam até à Polónia numa viagem de mais de quarenta dias atravessando o Atlântico de sul a norte. Na estação ficam os sete invernantes, este ano com alguma companhia dos militares brasileiros que vão também invernar nos módulos provisórios de Ferraz. Em antecipação, tivemos um rancho melhorado no sábado, com direito a bolo de despedida e regado com algum vodka. O fim do verão levou também alguma da animação das redondezas e os “intercâmbios sociais” com outras bases cessaram, e quase temos saudades dos chamamentos constantes do rádio no canal 16. O último evento fora de portas foi um passeio de barco e caminhada pela baía de Ezcura há quase duas semanas, umas vistas fantásticas, e desde então temos estado confinados à zona da base. Os dias anteriores passaram-se entre experiências de aclimatação, canulações e amostragens. No total pudemos fazer seis experiências diferentes, e temos material para muitas horas de laboratório. Hoje acondicionamos e preparamos também as nossas amostras para o transporte no Polar Pioneer. São mais de 2000 tubos com plasma, urina e diferentes tecidos para avaliar electrólitos, expressão génica, actividade enzimática, morfologia e tipo celular.
E por agora terminamos aqui... se tudo correr como planeado as próximas noticias saírão de outras paragens. Arctowski over and out. Back to one six. Pedro M Guerreiro e Bruno Louro Ilha do Rei Jorge, 25 Março 2013 Ao fim de onze dias calha-nos outro dia de faxina. Queríamos sair a pescar mas entre os afazeres domésticos, o tempo frio e queda de neve, e o facto de todo o pessoal da base estar ocupado na instalação de uma nova antena de telecomunicações, hoje parece que ficamos em terra. É aborrecido porque poderíamos estar já a começar a última ronda de ensaios planeada para esta campanha.
Desde o dia 6, em que terminámos a amostragem da experiência anterior, só podémos ir pescar uma vez. O fim do verão aproxima-se e parece que os animais tentam obter toda a energia que podem. Na última vez que pescamos conseguíamos por vezes ver os peixes a seguir o isco quase até ao barco, e mesmo os pinguins não resitiram a vir dar umas bicadas nos peixes presos no anzol. Infelizmente, nesse dia, apesar das boas condições, não foi possível obter o número de peixes, e com o tamanho certo, necessário. Entretanto no congelador as amostras acumulam-se e o material que trouxemos para as recolher começa a escassear. Arrumamos tudo. Começamos a rotular os tubos e a contabilizar soluções. Vai ser à justa mas chega. Já os fármacos necessitam de uma bem estudada ginástica para que as quantidades existentes permitam tratar os animais com doses efectivas. É que os peixes têm em média meio quilo, e conseguir obter um número grande de individuos mais pequenos implica demasiado tempo de pesca e em locais mais distantes da base. No sábado o tempo não ajudou, com neve e um vento fraco mas gelado. Ontem esteve estável todo o dia, só que quando quisemos aproveitar a maré-cheia das 7 da manhã um problema com a bomba impediu que pudessemos renovar a água dos tanques para colocar os novos peixes. Após toda a manhã a tentar repará-la, foi com uma mega-bomba emprestada pelo chefe da base que finalmente às 16.00 pudemos deixar tudo pronto para pescar... Enquanto isto uns pinguins bricalhões faziam de um mini-iceberg o seu parque aquático privado, saltando, subindo, escorregando, mergulhando e voltando a subir. Voltámos a preparar canas, linhas e anzóis, oleámos carretos, cortámos o isco. E amanhã, a não ser que o vento seja demasiado forte, teremos de ir! Mesmo depois do Bruno passar uma noite em branco de sentinela ao gerador! Pedro M Guerreiro e Bruno Louro, Arctowski 11/03/2013. Ontem, sexta-feira, dia 8, fomos numa comitiva polaca até à base sul-coreana King Sejong. Às 17.00 fomos recolhidos em Arctoweski por dois semi-rígidos da base argentina Carlini... os zodiacos de Arctowski não estão equipados para mar aberto e a distancia ainda é alguma, mas os 300 cavalos das lanchas fizeram com que lá chegássemos numa hora, não sem os dedos quase congelados apesar das luvas e o nariz e bochechas martirizados pelo granizo. Havia já vários anos que não existia qualquer intercâmbio entre Arctowski e as bases da zona oeste da Ilha do Rei Jorge, e fomos recebidos efusivamente, e com a famosa hospitalidade asiática.
Mas antes de por pé em terra firme, houve que transpor um obstáculo comum nestas paragens. Chegar com o barco ao pequeno porto da base foi uma demonstração de perícia e capacidade tecnológica. É que num raio de cerca de cem metros em redor da base o mar estava coberto de blocos de gelo. Aí coube ao piloto e marinheiros argentinos conseguir ziguezaguear entre aqueles para nos fazer chegar o mais perto possível até que a 20 metros de distancia o gelo quase compacto parecia impedir o acesso à base... foi então que os coreanos trouxeram uma enorme escavadora que com o braço articulado e balde removeu o gelo mais próximo e criou uma corrente e uma passagem que nos permitiu chegar finalmente a King Sejong, e cumprimentar Mink Yu Park e Donnie Young, o primeiro e segundo comandantes da 27ª expedição sul-coreana. A base é das maiores e mais modernas da Ilha, e como ficou claro, cheia de maquinaria pesada. O barbecue que preparam teve lugar num hangar monstruoso, onde normalmente guardam camiões e gruas. Parrillada argentina, churrasco e sopa coreana, vinho chileno e vodka polaco. Infelizmente não temos nada portugues para partilhar, a não ser boa disposição, e isso é suficiente para um alegre convivio entre nacionalidades, seguido de uma animada sessão de karaoke... os coreanos dominam e os argentinos desafinam... e nós... enfim... é melhor nem contar. Ficamos a dormir na base. Neste momento já todos os cientistas partiram e restam apenas os dezoito membros da equipa invernante, pelo que os cerca de trinta quartos duplos das camaratas estão diponíveis. E hoje, pelas 7 da manhã saímos. Mais uma travessia do gelo, uma primeira paragem em Carlini para deixar os argentinos e mais uma hora no Estreito de Bransfield. No meio de algum nevoeiro vemos grupos de leões-marinhos e alguns icebergs “habitados” por pinguins. A lancha não pode aportar em Arctowski e o transbordo é feito com o zodíaco. Às 9 e 30 da manhã estamos de volta, molhados, ensonados mas contentes. Pedro M Guerreiro e Bruno Louro, Arctowski 09/03/2013. Hoje iniciámos uma nova experiencia destinada a verificar o papel do eixo endócrino de resposta ao stress na aclimatação à subida de temperatura. Para isso injectámos os peixes a serem submetidos a temperaturas elevadas com substancias que inibem a libertação de hormonas como o cortisol, ou bloqueam a sua acção nos receptores dos tecidos alvo. A ideia é perceber se este eixo hormonal medeia as respostas que vimos em peixes não tratados.
Como veículo destes compostos pouco insoluveis utilizamos uma mistura caseira de etanol, óleo de cozinha e margarina vegetal. Esta receita solidifica no interior do peixe e permite uma libertação lenta e a um efeito mais prolongado do tratamento... mas requer ser aquecida para poder ser injectada... nada que um banho maria improvisado não resolva. Enquanto trabalhavamos no laboratório, em estilo estufa de vidro, o vento tornou-se cada vez mais forte e a meio da tarde soprava com rajadas que ultrapassavam os 80 nós, qualquer coisa como 150 km/k, que atiravam com pequenos seixos da praia contra os vidros e criavam mini-trombas de água no mar em frente. Saímos para verificar que todos os equipamentos que mantemos no exterior estavam bem presos e quase éramos nós a ser levantados do chão. Mas como depois da tempestade vem a bonança, S.Pedro brindou-nos com um arco-iris sobre Artowski. Estragos a declarar - as bandeiras polaca e portuguesa que ficaram no mastro ficaram feitas em farrapos, alguns materiais ficaram espalhados pela área da estação, as parabólicas tremeram e a comunicação com o exterior levou algum tempo a ser restabelecida. Afinal está tudo bem. Pedro M Guerreiro e Bruno Louro, Arctowski 03/03/2013. Hoje algum frio e vento, muito vento... mas ontem tivemos o melhor dia desde que chegámos. Um dia sem vento, sem nuvens, muito sol e até calor... quase 5ºC. Dedicámos todo o dia à pesca, pois o verão antárctico é instável e nunca sabemos quando teremos nova oportunidade. De manhã andamos na enseada junto à base...onde temos o nosso “hot spot”. Não correu mal, e juntámos aos nosso stock mais alguns exemplares de Notothenia rossii, mas as grandes cabeçudas, Notothenia coriiceps, que pescámos partiram linhas e anzóis e até a ponta de uma das cana não resistiu. À tarde fomos experimentar pescar nas águas mais salobras à frente do glaciar de Baranovski, onde o Matt viu um leão-marinho comer uma Notothenia sp. Este é um aspecto interessante para o nosso trabalho, perceber se estes peixes podem viver em zonas de escorrência de água doce como as lagoas dos glaciares. E, como forma de retribuirmos as lições de trabalho de campo, de caminho passámos por Copa para levar os americanos à pesca... e não se saíram mal... ajudaram-nos a juntar mais cerca de vinte indivíduos, o suficiente para a nova ronda de ensaios. Curiosamente apanhámos algumas cabeçudas juvenis que ainda não tínhamos visto junto a Arctowski. A base de Copacabana fecha na próxima semana e assim quando os deixámos de volta encheram-nos o barco com caixas e sacos de comida... carne e legumes congelados, batatas fritas, etc, etc... Chegámos a Arctowski como se tivéssemos ido ao supermercado. Ainda bem, porque o Piotr, o cozinheiro, continua a engordar-nos.
Pedro M Guerreiro e Bruno Louro O senhor Henryk Arctowski todos os dias nos vê tomar o pequeno-almoço. O retrato deste famoso explorador polar polaco, um dos primeiros a invernar na Antárctida ocupa lugar de destaque na sala de refeições e já viu passar muitas equipas do pessoal da base. Esta é 37ª expedição desde a abertura da base em Fevereiro de 1977. Os preparativos da festa de aniversário já começaram e foram enviados convites às bases e navios fundeados nas redondezas. Terminámos a segunda ronda de experiencias, em que testámos a resposta a alterações abruptas de salinidade, e que complementam os dados do ano anterior. Comecamos a ficar com um grande conjunto de amostras, o congelador quase cheio e os dedos doídos de rotular tubos. Entretanto limpamos os circuitos, voltamos a bombear água e a repor as condições originais. Hoje é novamente dia de faxina. Calha-nos ajudar o cozinheiro, pôr e levantar a mesa, lavar a loica, aspirar e limpar as zonas comuns. E logo no dia em que toda a gente decidiu visitar a base. Ontem ao final do dia chegaram 5 investigadores chilenos que estudam a flora antartica e vêm monitorizar as mini-estufas que instalaram há cerca de seis semanas... não vão ter uma boa supresa pois o vento destruiu algumas nas zonas mais altas. E hoje de manhã chegaram 4 investigadores do Centro de Astrobiologia de Madrid, 3 espanhóis e uma argentina, acompanhados por uma grande comitiva do navio oceanográfico argentino que os trouxe, o Puerto Deseado. Para completar, dois botes com pessoal peruano da base Machu Pichu e do navio oceanográfico Humbolt também chegaram à praia. Até o helicóptero da Força Aérea Chilena passou por cá. Casa cheia e uma amostra do que poderá ser a festa de aniversário. Cinco bandeiras hasteadas no mastro. E para nós, muitos copos para lavar, voltar a aspirar e limpar... A base agora está com lotação esgotada. Partilhamos o laboratório com os chilenos e espanhóis, mas parece que por pouco tempo. Rapidamente estarão de abalada - os chilenos vão sair no Domingo e os espanhóis na Terça-feira, ficando somente outra vez a bandeira Portuguesa hasteada ao lado da bandeira Polaca.
Bruno Louro e Pedro M Guerreiro Para quebrar a rotina de bombear água entre pinguins e elefantes marinhos e da limpeza e manutenção dos tanques, ontem fomos visitar os vizinhos da base americana Pieter J. Lenie, a.k.a. Copacabana. A desculpa oficial foi a comemoração dos 28 anos da instalação daquela pequena base sazonal. Na realidade fomos captados, juntamente com a Sylwia, o Radek e a Agata, aqui de Arctowski, para os ajudar na marcação de crias de pinguins gentoo com anilhas nas asas/barbatanas. Estas juntam-se em creches e rodea-las com uma rede não é complicado. Já apanhá-las quando decidem correr na lama e guano é outra conversa. A nossa tarefa foi recolhe-los e pesá-los enquanto que colocar a anilha ficou para os especialistas Wayne, Kathleen, Matt, Brette e Ana. Outra diferente actividade desenvolvida em Copa foi a monitorização de moleiros, ou skuas. Acompanhá-mo-los também a capturar os membros de alguns casais com crias para recolher os aparelhos de GPS anteriormente colocados, que lhes vão permitir saber por onde se deslocam para recolher alimento para as crias. Infelizmente, tal como no ano anterior, esta época de reprodução não foi das melhores. Todas estas actividades terminaram com um belo "barbecue" Antárctico (mas nada de espécies locais!!!!) e uns gulosos brownies...
Ao contrário do sol radioso e calmaria de ontem, o dia hoje amanheceu frio, ventoso, com nevoeiro e bastante neve, que ainda não parou de cair. Felizmente os planos do dia eram pouco ambiciosos. Como ontem à noite terminámos a amostragem da primeira experência desta campanha de 2013, hoje tomamos notas, organizamos amostras, preparamos os próximos dias e respodemos ao e-mail. Ontem durante o dia aproveitámos o bom tempo para sair à pesca. Não fora a temperatura da água e do ar, e os pequenos icebergs ao redor do zodíaco e poderiamos estar numa qualquer praia tropical vestidos com ridíiculos fatos de sobrevivência. A pesca correu bem e conseguimos juntar mais cerca de 30 peixes ao stock. Assim hoje apenas teríamos de proceder a renovações de água e afinar os tanques para a próxima experiência, enquanto os peixes se ajustam ao cativeiro.Mas tarefa relativamente simples de bombear água do mar foi dificultada pelo mau tempo mas sobretudo pelas focas-elefante! Já há alguns dias que estes gigantes pachorrentos andam aqui mas hoje decidiram utilizar exactamente o corredor onde passa o tubo e os cabos da bomba para os seus banhos de sol (se o houvesse) e mar ... e não podemos arriscar que as suas centenas de quilos e falta de jeito para “caminhar” em terra esmaguem o equipamento ... assim nada feito... há que utilizar a água salgada que haviamos armazenado anteriormente, apesar da temperatura não ser a ideal.
Entretanto na base para além da rotina habitual espera-se a chegada do navio oceanográfico Humbolt da marinha do Peru, que deverá trazer o Presidente daquele país de visita à base de Machu Pichu, também aqui na Baía do Almirantado, e dar boleia a quatro chilenos que ficaram retidos em Arctowski. Estes planos também têm sido adiados pelas instáveis condições climáticas. Eis os acontecimentos mais dignos de nota dos últimos dias... na quinta-feira uma visita-relâmpago do helicóptero da força aérea chilena que veio recolher o correio... desculpem, mas ainda não tínhamos escrito os postais!... na sexta-feira a visita de um navio de cruzeiros repleto de turistas séniores alemães, ao qual fomos recolher uma caixa de frutas frescas (é que há que combater o escorbuto!!)... no sábado o aniversário do Bruno, com direito a bolo, mesa farta e a costumeira festa, ao som do hit Chica Bomb de Dan Balan, desta vez sem os colegas da base americana de Copa, que não conseguiram deslocar-se devido ao vento... e no domingo o desastroso desaparecimento de um dos kayaks dos chilenos que faziam turismo-aventura, talvez levado durante a noite pelos ventos fortes e maré alta... tudo aqui tem de ser continuamente protegido dos elementos. Toda uma semana de emoções fortes!! Pedro M Guerreiro e Bruno Louro Estamos a trabalhar na Antárctida dentro de uma câmara frigorífica! Assim o exige o controlo da temperatura que é fundamental para as experiências: arrefecemos o ar para manter uma temperatura externa estavél, para voltar a aquecer a água dos tanques individualmente e de forma controlada. Após o período de aclimatização dos peixes à sua nova casa, estamos prestes a começar as experiências. Estas consistem em replicar os efeitos das rápidas alterações climáticas, tais como as variações de temperatura e salinidade das aguas das zonas costeiras deste habitat único, e verificar a capacidade da resposta fisiológica destes animais que aqui evoluiram durante cerca de 25 milhões de anos. Com isto queremos tentar perceber como reagem os peixes as estas variações do habitat e com que mecanismos moleculares e fisiológicos. Terão a plasticidade suficiente para a adaptação?
Após vários dias a bombear água sob o olhar preguiçoso de um grupo de focas elefante que decidiu fazer da “nossa” praia a “sua” praia, o meu dia de aniversário começou com uma noite em branco a fazer a vigia à sala dos geradores e caldeiras. Esta vigilância de 24h sobre 24h serve para tentar evitar tragédias como a que ocorreu à quase um ano do outro lado da baía, quando o grande incêndio que destruiu aa base antártica brasileira começou nas salas dos geradores. Morreram duas pessoas e houve vários feridos graves e há que deixar aqui a devida homenagem às vidas perdidas, mas a melhor homenagem aos seus compatriotas é a que os brasileiros estão a fazer, com uma reconstrução rápida da base, mostram com perseverança que as suas mortes não foram em vão! Para terminar com uma nota de humor, ontem fomos à pesca de ofiurídeos ... não encontrando nada na maré baixa, tivemos de recorrer a todos os recursos possíveis e imaginários, até mesmo à antiga tecnologia militar soviética herdada pelos polacos! Um tanque anfibio!! Bruno Louro e Pedro M Guerreiro |
Consulta de posts por projeto
Tudo
Consulta de posts por ordem cronológica
Julho 2013
|