A CAMPANHA
PROPOLAR 2012-2013
Novembro de 2012 a Março de 2013
PROPOLAR 2012-2013
Novembro de 2012 a Março de 2013
Lourenço bandeira a fazer o levantamento com o DGPS, acompanhado de um moleiro Ontem foi batido o recorde da velocidade instantânea do vento na base de King Sejong desde a sua inauguração em 1988. Durante a tarde foram registados 45 m/s. Eu cheguei a dar uns passeios curtos à volta da base e posso dizer-vos que cada passo tinha que ser pensado. Uma vez que não tinhamos condições para ir para o campo ficámos a processar os dados recolhidos nos últimos dias. Hoje é o último dia que temos o DGPS disponível porque amanhã vai ser tranferido para a equipa do projecto PERMACHANGE B. Por isso tivemos que fazer valer o dia apesar dos ventos fortes. Passámos o dia todo fora a marcar pontos GPS para as novas zonas de voos e como algumas eram demasiado longe dos marcos conhecidos tivemos que transladar a referência três vezes, o que implica carregar com o tripé, assim como o restante equipamento, monte acima e monte abaixo várias vezes. No final do dia, já de regresso à base, o Sol resolveu sair por detrás das nuvens por uns instantes e os sentimentos eram marcados pelo cansaço acumulado, pela satisfação de um trabalho bem feito e pela tristeza de saber que alguém parte. Foi um dia intenso, cansativo mas feliz, que marcou o fim desta campanha a dois. Amanhã o Pedro Pina inicia o regresso a Portugal mas eu fico por mais uma semana. Lourenço Bandeira, 28 de Janeiro de 2013 O final de um longo dia de campo. Pedro Pina na figura da direita e Lourenço Bandeira na da esquerda.
Hoje foi um dia muito activo com a captura de muitos dados. Voámos em quatro sítios diferentes com superfícies distintas, com largos tapetes de musgos, com círculos de pedras ou com blocos de rocha de maiores dimensões na zona mais alta aqui de Barton. Alargarmos substancialmente, em quantidade e em localização espacial, o nosso conjunto de pontos de referência com o GPS. Passámos o dia todo no campo e voltámos a tempo de vir jantar. Só que depois apercebemo-nos que praticamente não havia vento, e dizendo as previsões que os 2 dias seguintes vão ser ventosos… toca a preparar as mochilas e o helicóptero e ir novamente para a rua! Foi muito cansativo, estivemos ao todo perto de 11h na rua. Ao voltarmos à base, quisemos naturalmente ir ainda espreitar os dados que tínhamos obtido. Depois de vermos as excelentes imagens aéreas até pareceu que o cansaço se tinha ido embora. Mas para acabar o dia em beleza, só faltava um pôr de sol verdadeiramente espectacular. Houve uma corrida simultânea de muitos de nós, saindo dos vários módulos da base até à rua, para melhor presenciarmos (e fotografarmos) tal espectáculo. Por melhor que fiquem as fotos, acho que não conseguem reproduzir aquilo que presenciei ao vivo. Mas calma, que ainda não acabou. Ao voltarmos as costas para regressar à base, tínhamos a lua, ainda por cima cheia, à nossa espera. Com tantas emoções, podia ser difícil adormecer, mas não, o cansaço estava mesmo lá (estou a escrever isto na manhã de dia 27, ontem à noite já não houve ‘tempo’ para isso). Entretanto, decidimos alterar os nossos planos e prolongar a estadia de um de nós, porque estivemos praticamente uma semana seguida sem conseguir voar por causa do muito nevoeiro e dos ventos fortes. O Lourenço vai permanecer aqui em King Sejong até ao dia 6 de Fevereiro, para tentar obter bastantes mais imagens aéreas. O KOPRI (Instituto Polar Coreano) e o chefe de base disseram logo que não havia problema em alargar a estadia, e o INACH (Instituto Antártico Chileno) arranjou logo um lugar para o Lourenço noutro voo. Impecáveis! Eu também gostaria de ficar, mas todos os outros assuntos que se estão a acumular em Lisboa não podem esperar muito mais, por isso vou começar a fazer o meu regresso no dia 29 de Janeiro partindo daqui no voo fretado pelo PROPOLAR. Entretanto, por uma questão de precaução, reforçamos o equipamento sobresselente do helicóptero (hélices e motores), com uma compra através da internet a uma empresa nos EUA (foi a única vez que tirei a minha carteira da gaveta! mas no telemóvel ainda nem lhe toquei…) e que nos foi entregue em mão aqui na Antártida cerca de uma semana depois, graças aos esforços da Wendy Rubio do INACH que depois de receber a encomenda no Chile (e de nos pagar os custos de alfândega, que naturalmente lhe reembolsarei no regresso) conseguiu pô-la num voo da Força Aérea do Brasil para vir de Punta Arenas até à ilha de King George e depois de Fildes até aqui em Barton em zodiac! Obrigado INACH, que grande serviço postal!
Pedro Pina, 27 de Janeiro de 2013, Base de King Sejong, Ilha de King George Hoje com Legendas! O trabalho de campo tem-se focado essencialmente na construção da informação de referência com o GPS, pois o relativo mau tempo não nos permite grandes voos. Já começamos a transferir as coordenadas da base do GPS pela montanha acima, para chegarmos até a uma planície que consideramos muito interessante para depois se cobrir remotamente com imagens. Foi também dia de voltar a fazer aquilo que fazemos muitas vezes durante o ano. Os investigadores que aqui estão na base de King Sejong fazem, normalmente depois do jantar, apresentações relativamente formais sobre os seus projectos e as actividades que aqui estão a desenvolver. Hoje foi a nossa vez, e em pouco mais de meia hora penso que consegui fazê-lo decentemente. Digo decentemente, pois não é fácil fazê-lo no meio de intensa e exigente campanha de campo, com muitos dados ainda por processar, muitos mais por captar e, consequentemente, ainda sem praticamente conclusões. A ajuda do Lourenço no processamento de algumas imagens, na organização geográfica da informação e nos aspectos gráficos foi como sempre preciosa. Só não consegui no fim mostrar em tempo real tudo organizadinho a partir do Google Earth como tínhamos programado, pois o meu computador não se conseguia ligar ao projector… e já não houve tempo de transferir esses dados para outra máquina. Mas foi muito interessante fazer a apresentação do HISURF aos nossos amigos coreanos e no fim discutir um pouco com eles alguns dos pontos apresentados. Depois da apresentação, cerca das 21h, fomos dar uma volta aqui pela baía. Apesar do muito frio, estava um espectacular fim de tarde nocturna com o sol a descer muito lentamente no horizonte e a banhar todas as vertentes esbranquiçadas das penínsulas de Barton, Weaver e Fildes e também da vizinha ilha de Nelson. Claro que deu para atulhar com ainda mais fotografias os discos dos nossos computadores. E, tal como suponha, confirmei finalmente que a música que toca de manhã para nos indicar a
hora do pequeno-almoço pertence a um dos concertos para violino do grande mestre (merecia bem ser doutor!) João Sebastião! Aleluia! (essa era de outro mestre também nascido no mesmo ano!) Pedro Pina, 23 de Janeiro de 2013, Base de King Sejong, Ilha de King George Nos últimos quatro dias tem estado um nevoeiro cerrado que nos tem impedido de voar o hexacóptero. Mas nós não somos quem tem os maiores problemas: um colega investigador esteve à espera que os aviões pudessem aterrar para finalmente chegar o seu equipamento; e outro ficou cá preso, sem poder regressar a uma reunião muito importante que tinha na Coreia. Mas mesmo com mau tempo há muito trabalho para fazer e não temos estado parados. Foi feito o levantamento DGPS dos locais de voos anteriores, com o cuidado de registar com precisão as coordenadas GPS de marcos que sejam visíveis nas imagens aéreas (para efectuar a sua ortorectificação), e começámos a fazer a identificação por classes da ocupação da superfície, associada ao levantamento topográfico de uma região mais alargada. Toda esta informação vai permitir ter pontos de referência para avaliar o desempenho das classificações automáticas a partir de imagens de satélite.
Fomos convidados pelo chefe da base para fazer uma apresentação sobre o nosso trabalho. O título será “Ultra high resolution imaging for detailed mapping in ice-free areas of Maritime Antarctica” e dará foco às actividades que temos desenvolvido em Barton. Hoje foi também o dia em que o Pedro se voluntarizou para ajudar na cozinha a lavar a loiça. Somos 2 portugueses entre 57 coreanos, o que entre todos dá muitos pratos, tacinhas, colheres e principalmente muitos pauzinhos (que cá são de metal: metalzinhos?). Amanhã é o meu dia de ser voluntário. Lourenço Bandeira, 22 de Janeiro de 2013, Ilha King George. Quem manda aqui é o tempo que hoje nos obrigou a ficar na base durante todo o dia. Não havia impedimento do chefe da base para sair, mas o vento forte permanente, à volta dos 60 km/h, primeiro ainda com um pouco de sol, mas depois com um nevoeiro que permite uma visibilidade reduzida, tornaram impossível a execução das nossas tarefas na rua. Mas se hoje tivesse sido dia de irmos embora teríamos cá ficado em Barton, pois as zodiacs não puderam operar, e não teria sido possível fazer a travessia da baía até Fildes. Pareceu-nos que a grande maioria dos outros investigadores que aqui estão em King Sejong também não saiu daqui. Foi pois dia de secretária, agarrados ao computador, a continuar a organizar e pré-processar os dados captados nos dias anteriores e que nos vão ser úteis para orientar as tarefas dos próximos dias. Mas dias como este permitem-nos também descansar e recuperar fisicamente. Partilhamos a ampla sala onde estamos instalados com um escritor coreano, convidado do KOPRI-Instituto Polar Coreano, que está aqui a escrever um livro. Não conseguimos perceber de que tipo de livro se trata, pois ele não fala inglês, mesmo nada, e nós não conseguimos ler os caracteres coreanos no ecrã do computador dele...Mas penso que a paisagem e as musas antárticas devem ser uma excelente inspiração para o trabalho dele. Por outro e se por um lado o dia de hoje foi sossegado, existe também alguma inquietude por o trabalho de campo estar parado e não avançar, pois nunca se sabe como vai estar o tempo nos próximos dias e quão tudo se pode atrasar. Mas é preciso manter um optimismo quando pensando que, por estarmos a entrar pelo verão austral adentro, dias melhores virão. Mas entretanto, com o nevoeiro a ficar cada vez mais denso, ainda é capaz de nos aparecer para aí o D. Sebastião.
Pedro Pina, 19 de Janeiro de 2013, Ilha de King George Hoje o dia esteve praticamente sem vento, mas nevava suavemente. Quase toda a electrónica do nosso hexacóptero está protegida para que seja impermeável, mas existem algumas fragilidades, pelo que não podemos arriscar. Assim sendo foi um dia passado a analisar parte dos dados de campo recolhidos no dia anterior; a compor, ainda de uma forma grosseira, alguns mosaicos de imagens e a preparar no topo de um monte a estação base para o levantamento com o DGPS. Entrámos hoje na segunda semana da estadia e percebemos duas coisas: a primeira, é que o reportório do alarme musical das refeições não é nada variado; e a segunda é que por muito boa que seja a comida coreana, já nos apetecia um bacalhau à braz (e sem picante por favor!).
Reportório do alarme musical das refeições em King Sejong Station (identificado por Pedro Pina): Journey – Separate Ways (Worlds Apart) Metallica – Nothing Else Maters Queen – Save Me / Bohemian Rhapsody Adele – Set Fire To The Rain … e música clássica (ainda) desconhecida Lourenço Bandeira, 17 de Janeiro de 2013
Viémos almoçar à base para carregar as baterias, as nossas e do helicóptero, mudámos as nossas tralhas de trabalho para um gabinete espaçoso noutro módulo da base, e voltámos novamente entusiasmados para o campo para mais voos. A qualidade das imagens é excelente e estamos a conseguir obter resoluções milimétricas (o tamanho da superfície que corresponde a cada pixel) com voos controlados a cerca de 10 m de altura, o que permite identificar perfeitamente cada líquene, pequeno musgo ou pequena pedra. Regresso à base para novo carregamento, com a intenção de voltar a sair novamente depois do jantar. Mas afinal não chegou a ser de sol a sol. Primeiro porque o dia aqui nesta altura do ano tem cerca de 20 horas e depois porque o vento se pôs a soprar com alguma intensidade. Ficámos no laboratório a processar a informação dos voos de forma a colar as imagens para compôr um mosaico, usando algoritmos de processamento de imagem próprios para isso. É pois com muito gosto que colocamos hoje e aqui no blog um exemplo do tipo de imagens que estamos a obter (as 2 imagens no canto superior esquerdo são ampliações que mostram o detalhe até onde se consegue ir, neste caso até melhor do que a tampa da garrafa de água) . Mas atenção que as imagens aqui colocadas não são as originais, pois têm de ser degradadas para não ocuparem tanto espaço e não bloquearem os browsers quando visitamos a página do PROPOLAR.
Pedro Pina, 16 de Janeiro de 2013, ilha de King George Nos últimos dois dias praticamente não nevou nem choveu e o vento esteve por vezes um pouco distraído soprando pouco. Foi a altura ideal para pôr o helicóptero a voar, conseguindo-se efectuar o seu controlo quase na perfeição, executando trajectórias correctas sem grandes preocupações. Já sabíamos, mesmo antes de virmos, que as condições ambientais antárcticas extremas, mesmo que mais suaves no verão, seriam um factor condicionante para a execução desta tarefa. Estamos a confirmar agora no terreno que elas tornam impeditiva a sua realização acima de determinado limiar, principalmente a força dos ventos, que não só não permite a captura de imagens de boa qualidade como põe seriamente em risco o próprio equipamento.
Aproveitámos também para fazer trabalho de gabinete e acabar de tratar alguns dos dados que tínhamos captado no campo relativamente aos percursos efectuados nas nossas saídas de reconhecimento nos dias anteriores. É importante georreferenciar correctamente as regiões mais interessantes para efectuar os voos e realizar localmente o reconhecimento pormenorizado de cada tipo de superfície (solos, rochas, musgos, líquenes, água, gelo) e ter a garantia que não caem dentro de zonas protegidas. Essas zonas designam-se por ASPA (Antarctic Specially Protected Area) e, para proteger as suas características ecológicas, científicas e estéticas da intervenção humana, não é permitido que lá se entre. Há naturalmente excepções, por exemplo para quem estuda esses musgos, líquenes ou pinguins, mas requerem uma autorização especial, que nem sempre é concedida. Aqui a Península de Barton tem uma dessas áreas, Narebski Point, por ter extensas manchas de musgos e líquenes, assim como uma das maiores colónias de pinguins (gentios e de barbicha) desta região Antártica. Como não estão delimitadas por tipo algum de vedação ou com qualquer tipo de sinalização, cada um de nós que cá anda tem a obrigação de saber os seus limites, ou seja, tem de antecipadamente saber bem por onde vai andar e acompanhar-se de um bom mapa e/ou gps. Hoje houve uma visita de altas individualidades da Coreia à base de King Sejong, penso que membros da sua Assembleia, mas foi tudo tão discreto que praticamente não demos por ela. Se não nos tivessem informado antes e pedido para almoçarmos um pouco mais tarde acho que não tínhamos sequer dado por isso. Nos próximos dias vamos começar a captar as imagens com o UAV e a construir a informação de referência com o DGPS nas regiões que definimos como prioritárias. Pedro Pina, Ilha King George, Antártida, 15-01-2013 Apesar do vento soprar forte (10 m/s) resolvemos testar até que ponto o nosso hexacópetro conseguia lidar com aquelas condições. Para isso deslocámo-nos para uma pequena zona plana perto da base que sabíamos estar livre de neve. Ficámos bastante contentes quando percebemos que mesmo com ventos constantes daquela magnitude era possível manter as trajectórias. O susto veio mais tarde numa forte rajada de vento! O hexacópetro rodou bruscamente cerca de 30 graus sobre si mesmo e voou sobre mim, despenhando-se uns metros mais à frente. O resultado foram alguns parafusos do corpo central partidos. Como bons engenheiros, e num espírito “macgyverista”, tudo foi rapidamente consertado com um canivete suíço e um rolo de fita cola. Felizmente, o pássaro contínua no ar!
Lourenço Bandeira, 13 de Janeiro de 2013 Hoje nevou praticamente todo o dia e por isso aproveitámos para reconhecer a parte SE da península. O acesso a esta zona seria bem mais fácil se fosse permitido atravessar a área de proteção especial, ASPA (do inglês, Antarctic Specially Protected Areas), que ocupa cerca de um quarto da península e obriga a um desvio pela zona mais interior. Andámos cerca de duas horas montanha acima com neve pelo joelho até que encontrámos um planalto livre de neve de dimensões razoáveis, que achámos bastante propício para o hexacópetro recolher dados. A certa altura o nosso bom senso levou-nos a regressar à base sem chegarmos ao outro lado da baía como tínhamos previsto, pois começou a nevar com muita intensidade, os ventos a ficarem mais fortes e nós a acumularmos também algum cansaço.
Lourenço Bandeira, Ilha do Rei Jorge, 12 de Janeiro de 2013 |
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