A CAMPANHA
PROPOLAR 2012-2013
Novembro de 2012 a Março de 2013
PROPOLAR 2012-2013
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3 de Março de 2013, Lisboa Depois de 1 semana de viagem desde que saímos da ilha Deception, chegámos hoje de manhã, finalmente, a Lisboa. Viagem longa e cansativa, com os sucessivos percalços e atrasos do costume numa campanha antártica. Este ano, optámos para as contribuições para o blogue da nossa equipa do Permachange, serem feitas pela Ana Salomé David. Foi a sua primeira campanha de investigação e quem vê as coisas pela primeira vez, conta-as de uma maneira especial. Foi uma campanha muito intensiva, com trabalho de campo quase diário e quase sem momentos de descanso. Foi possível levar a cabo com sucesso quase todas as atividades a que nos propusemos, tendo apenas sido na ilha Deception, que não conseguimos fazer tudo o previsto. Isso deveu-se a um atraso no transporte desde Livingston, que nos reduziu a nossa curta estadia em 3 dias, com implicações na campanha de prospeção geofísica e na cartografia geomorfológica de pormenor. Mas fazendo um balanço global, foi uma campanha muito bem sucedida, com mais de 90% das tarefas concluídas! Tocou-me fazer o balanço final da campanha, mas como estou ainda muito cansado, optei por escolher algumas fotografias, para as quais criei breves legendas. Contam, num curto espaço, a história da nossa mais recente campanha de estudo do permafrost, realizada entre 26 de Janeiro e 3 de Março de 2013. Um abraço! Gonçalo Vieira ************************* A Campanha dia-a-dia 26/01 - Saída de Lisboa pelas 16:30 rumo a Madrid 27/01 - Voo Madrid - Santiago do Chile - Punta Arenas. Chegada a Punta Arenas pelas 17h locais 28/01 - Reunião na DAP para acerto de detalhes relativos ao voo português do dia seguinte. Compra de coisas de última hora para levar para a campanha. Essencialmente artigos pessoais e barras de cereais... 29/01 - Dia de espera devido a más condições meteorológicas na Antártida. Voo para a Antártida ao fim da tarde. Embarque no navio espanhol Hespérides 30/01 - Chegada à Base Antártica Búlgara St Kliment Ohridski ao início da noite. 31/01 - Recolha de data loggers. Tempestade de neve e vento durante toda a tarde e noite obrigou-nos a ficar na base. 01/02 - Amanhece dia de sol. Recolha de dados dos data loggers e da máquina fotográfica automática. Preparação da geofísica no Alto do Papagal. 02/02 - Monitorização da deformação do terreno no observatório CALM, slope, Punta Hespérides. Geofísica em Papagal. 03/02 - Glaciar rochoso de Hurd, na Baía Falsa. Monitorização de deformação, cartografia da vegetação e prospeção geofísica. 04/02 - Verificação e análise dos dados recolhidos. Instalação do equipamento de geofísica. 05/02 - Levantamento GPS em Papagal. Manutenção data loggers. 06/02 - Levantamento GPS da vegetação em Salisbury Point. Manutenção de loggers. 07/02 - Programação de loggers. Instalação de loggers em furos e termometros para o ar. Geofísica. 08/02 - Conclusão da instalação de sensores nos furos. Loggers de solo e ar. Manutenção da estação meteorológica. Testes com a máquina fotográfica automática. Geofísica. 09/02 - Organização de dados. Instalação dos nivometros. Testes com a máquina fotográfica automática. 10/02 - Organização dos dados dos dias anteriores. Almoço-festa na base espanhola. 11/02 - Papagal - Cartografia geomorfológica de pormenor e levantamento da cobertura de Usnea antartica. Geofísica. 12/02 - Viagem a Hannah Point. Geofísica Papagal. 13/02 - Monitorização da deformação no Monte Reina Sofia. Instalação da máquina fotográfica automática no novo local. Arrumação do material para levar para Deception. 14/02 - Conclusão da programação da máquina fotográfica. Organização dos dados. 15/02 - Espera pelo navio que nos irá levar à ilha Deception. Esta seria a data prevista para nos recolherem. 16/02 - Continua a espera. Navio atrasado 1 semana. Ao final do dia, foi conseguido novo navio para nos transportar, mas só no dia 17. Trabalhamos na preparação de artigos e análise de dados. 17/02 - A espera continua, com mau tempo. O navio chega ao fim da manhã. Tempo péssimo, com muito vento. As ondas tornam impossível que nos recolham de zodiac na praia da base búlgara. Depois de vários contactos com a base espanhol e com o risco de não podermos vir a ser transportados para Deception, decidimos que iremos pelo glaciar de moto de neve até à base espanhola. Deixamos para trás metade do equipamento, pois é impossível de carregar às costas entre o sítio onde as motos de neve ficam e a base espanhola. O tempo mantem-se mau. Muito vento e impossível largar as zodiacs. Ficamos na base espanhola à espera. Se o tempo melhorar, sairemos no dia seguinte pelas 6h da manhã. O barco não pode esperar muito mais ao largo. A espera continua... 18/02 - Navio ao largo. Tempo melhor e às 9h30, acabamos por embarcar. Chegamos a Deception a meio da tarde. Passamos o resto do dia a organizar o equipamento e a planear os dias, contando que perdemos 3 dias com os atrasos. 19/02 - Saímos de zodiac para o setor das crateras de 1970 para fazer tomografias elétricas. Todo o dia no campo. Tempo excepcional. 20/02 - Mais um dia completo nas crateras de 1970 a fazer geofísica. Tempo fantástico. 21/02 - Último dia a fazer geofísica nas crateras de 1970. Meteorologia começa a piorar. 22/02 - Gonçalo fica todo o dia de serviço de limpeza na base. António e Ana aproveitam para organizar dados, descansar e dar uma ajuda. A festa de encerramento da base junta 39 pessoas na base, incluindo convidados da vizinha base argentina. À 1h da manhã, Gonçalo ainda lavava pratos na cozinha. Catástrofe! 23/02 - Manutenção de dataloggers na vizinhança da base argentina. Tudo corre mal no download dos dados. Vamos ter que verificar todos os loggers e voltar no último dia, para instalar novos. Ao final da tarde, download de dados do resistivímetro de Crater Lake. Chegamos ao fim do dia exaustos. 24/02 - Último dia antes do encerramento da base. António e Ana ficam de serviço de limpeza. Gonçalo reprograma os loggers do dia anterior. De manhã, num intervalo das limpezas, Gonçalo e Ana voltam à vizinhança da base argentina, para instalar os loggers e encerrar a campanha. Resto do dia passado na base nas limpezas e a ajudar nas tarefas de encerramento. 25/02 - Tarefas de encerramento da base da parte da manhã. Espera. Embarque no navio Hespérides às 17h. 26/02 - Hespérides em Livingston. Encerra-se a base bulgara. O embarque dos búlgaros e do material foi épico. Uma zodiac inundada e furada, outra zodiac com motor danificado e teve que sair um barco de apoio especial. Depois de 3h, bulgaros chegam ensopados, mesmo com os fatos secos. O mesmo se passou com o equipamento. Felizmente o equipamento mais sensível não ficou debaixo de água. Passamos a manhã a secar material no navio. À tarde, empacotamos de novo o equipamento que virá no Hespérides para Cartagena (Espanha) e que deverá chegar a Lisboa em Maio. 27/02 - Voo previsto para esta manhã em Frei, ilha de Rei Jorge. Voo atrasado para a tarde devido ao mau tempo. O Hesperides não pode esperar. desembarcamos na base uruguaia Artigas, onde vamos esperar juntamente com cerca de 20 colegas espanhois. Voo possível no dia seguinte às 6h da manhã, se o tempo melhorar. 28/02 - Contínua o nevoeiro. Vou atrasado, em princípio para as 18h. Finalmente, pelas 19h, o voo levanta de Rei Jorge. Chegamos a Punta Arenas às 21h00. 01/03 - Dia de descanso em Punta Arenas. 02/03 - Voo Punta Arenas - Santiago do Chile às 5h20 da manhã! 03/03 - Chegamos a Lisboa às 9h00 da manhã. Ufff!!! ![]() António e Ana, lá em baixo, junto à perfuração de Papagal, na ilha Livingston. Esta é uma das nossas áreas de estudo de pormenor, usada para compreender como se distribui o permafrost num setor em que se passa do solo congelado descontínuo, para o contínuo, à medida que a altitude aumenta. Aqui fizemos vários perfis de tomografias elétrica do solo, bem como mantemos vários furos onde monitorizamos continuamente as temperaturas do solo, já desde há 4 anos. A Ana está a usar esta área, como área amostra para o estudo da distribuição espacial da Usnea antartica, um liquen que usamos como bioindicador. ![]() Na base búlgara não tínhamos acesso ao email. Para resolver o problema, andávamos cerca de 30 minutos até um monte próximo, de onde, por vezes, conseguiamos captar a rede wifi da vizinha base espanhola Juan Carlos I. Com uma ligação lentíssima, temperaturas em torno a 0ºC e vento, depois de cerca de 1 hora de espera, quase sempre conseguiamos enviar 1 email para a família :) A saída de Livingston estava complicada pois por questões técnicas o barco que era suposto vir-nos apanhar já não o poderia fazer e ficamos todos muito apreensivos.
Entre emails e imensos contactos de articulação com a base JCI (Juan Carlos I), lá foi possível conseguir uma transporte para o dia 17, com o navio oceanográfico da armada argentina Puerto Deseado. Dia 17 amanheceu muito intempestivo e a inviabilizar qualquer possibilidade de subirmos a bordo do navio. Foi por isso com imensa alegria que, ao fim do dia, já na base espanhola JCI, recebemos a notícia de que iriam esperar por nós até à manhã do dia seguinte. Estamos imensamente gratos pelo grande apoio. Dia 18 de Janeiro, por volta das 8h00 da manhã, já estávamos a bordo, que alívio! Fomos muito bem recebidos e durante a curta viagem de cerca de 4h até à ilha Deception tivemos as nossas forças reforçadas com um ligeiro pequeno almoço, recebemos uma visita guiada pelo navio, incluindo uma explicação das várias actividades científicas levadas a cabo a bordo do barco, saboreamos um simpático almoço, e assistimos ainda ao resultado de um trabalho de arraste do fundo marinho com um grupo de investigadores biólogos. A ilha Livingston é impressionante e a ilha Deception é maravilhosa, mas ambas verdadeiramente mágicas. Rapidamente desembarcámos na base espanhola Gabriel de Castilla (GdC) que fica no interior do anel vulcânico que estrutura a ilha. Tem por vizinha a base argentina de Deception, onde ficaram hospedados os nossos colegas do grupo PERMACHANGE A, Alice Pena e Gabriel Goyanes. Estava previsto trabalharmos todos juntos estes últimos dias mas as alterações inesperadas na agenda logística obrigou-os a aproveitar o navio em que chegámos para sair de Deception. Tivemos por isso apenas cerca de 15 minutos para trocar algumas ideias e nos despedirmos. Estávamos todos muito cansados mas ainda era necessário articular as nossas actividades com a logística da base GdC. Os próximos 3 dias previam-se de bastante intensidade de trabalho, saída para o campo dia 19 de Janeiro às 9h30 da manhã, ponto de encontro na praia, junto da zodiac, e já devidamente vestidos com os fatos de sobrevivência! Ana Salomé, Ilha Livingston, Arquipélago das Ilhas Shetaland do Sul, Antártida, 18-01-2013 Aproveitámos o convite dos vizinhos espanhóis para ir visitar Hanna Point, um local de nidificação de colónias de pinguins barbichos e gentoos (os pinguins polícia, como lhes chama a Gueri), de petréis e também de repouso de grupos de gigantes elefantes marinhos. Consegui ainda fotografar um jovem lobo-marinho, uma doçura de criatura! Apesar de sermos todos muito conscienciosos, confesso que me incomoda o facto de estarmos a impor a nossa presença num espaço que não nos pertence, mesmo que por breves instantes. E nota-se que estes animais já estão de alguma forma habituados à presença humana, pois este é um local visitado anualmente por imensos turistas. Retirando a parte da imprescindível viagem de Zodiac, o nosso primeiro dia de descanso foi mágico! Nessa tarde de dia 12, preparámos um bacalhau à brás ligeiramente improvisado pois tivemos de substituir a ausência de salsa por outras ervas mas ficou delicioso, e o chefe Jordan até rapou aquele torradinho do fundo do tacho, também a minha parte preferida. O Gonçalo preparou uma animação com os 9 protagonistas que neste momento ocupam a base búlgara de
St. Kliment Ohridski, e foi assim um serão muito divertido. Dia 13 começamos a preparar-nos para mudança para a ilha Deception, onde iremos continuar os trabalhos de campo. Está previsto virem-nos buscar por volta do dia 15 mas nestas circunstâncias temos de estar sempre preparados para eventuais adiantamentos ou atrasos de datas. Dia 14 estávamos a postos para qualquer situação e comecei a preparar a nossa despedida com uns pastelinhos de bacalhau, com a mesma mistura de ervas improvisada para o bacalhau à brás, mas até que ficaram bastante apetitosos! Por ordem médica do Ivan, fiquei de castigo, pois a minha vesícula começa já a acusar os abusos acumulados pelas deliciosas comidas com que me tenho literalmente "alarvado". Shame on me! A meio da tarde, tivemos notícias de que afinal a mudança só se dará possivelmente dia 17, esperemos que sim ou então a nossa campanha de Deception fica comprometida! Ana Salomé, Ilha Livingston, Arquipélago das Ilhas Shetaland do Sul, Antártida, 15-02-2013 Consegui ontem concluir praticamente o meu trabalho de campo, UFA!!!. Ainda tenho alguma margem de manobra em termos de tempo caso necessite de fazer mais alguns ajustamentos. Estou bastante satisfeita! Dia 10 fomos todos convidados para um banquete na base espanhola vizinha de Juan Carlos I. A expetativa era tanta que não havia viagem de Zodiac que nos demovesse. Foram momentos muito bem passados, obrigada a todos. O isolamento destes locais, sem rádio, sem televisão, e escasso contacto com o resto do mundo, aproxima-nos imenso uns dos outros e todos os pretextos são excelentes oportunidades para um bom convívio, uma boa conversa, uma boa partida de xadrez, etc. São assim alguns dos nossos serões, quando o trabalho o permite.
Imaginem o que é não conseguir repartir com a família e amigos mais chegados a beleza e imponência da paisagem que os nossos sentidos vivenciam a cada instante! Quando chegar a casa, não encontrarei de certo vocabulário suficiente para traduzir toda esta magia. Obrigada ao Programa Polar Português por ter acolhido generosamente a minha candidatura, obrigada à Caixa Geral de Depósitos pelo imprescindível apoio financeiro, obrigada à Base Búlgara e seus anfitriões pela alegria, carinho e pronta disposição, e um especial obrigada ao Gonçalo sobretudo pela paciência e confiança. Está quase a chegar ao fim a nossa estadia aqui na Ilha Livingston e já começo a sentir alguma nostalgia no aproximar da despedida da Baía Sur! Ana Salomé, Ilha Livingston, Arquipélago das Ilhas Shetaland do Sul, Antártida, 12-02-2013 Parecíamos 3 "baratas tontas" na cozinha, mas garanto-vos que não deixamos ficar mal a imagem da boa culinária portuguesa! Desde a sopa juliana que o António correia preparou, às "costeletas à pai" do Gonçalo Vieira e eu ajudei na confeção destes pratos e preparei os acompanhamentos, puré e arroz de cenoura. No final da refeição, brindámos um "nazdrave" com vinho do Porto (que me desculpem as restantes regiões demarcadas) e eu aventurei-me a cantar um fado da Amália "Com que voz". Ontem, dia 8, voltei à carga para continuar o levantamento topográfico da zona do Papagal. Carregámos os dados e conseguimos ver os primeiros resultados e já dá para perceber que teremos de levantar mais alguns pontos para aperfeiçoar o modelo. Depois é começar a fazer a delimitação de áreas de vegetação. Falando assim até parece fácil, não é? Mas garanto-vos que em meia dúzia de horas de trabalho numa área com declives acentuados, neve, rochas e cascalho de variadas dimensões, fica-se completamente arrebentado além dos frequentes sustos com quedas e derrapagens! De um dia para o outro, basta uma alteração de temperatura e a neve fofa que nos obriga a gigantes movimentos de pernas pode-se tornar num autêntico ring de patinagem. Aqui são agora 9h30 da manhã, 12h30 em Portugal Continental, por isso um "Dobro Utro"
para vocês (que é o mesmo que dizer bom dia em búlgaro) Ana Salomé, Ilha Livingston, Arquipélago das Ilhas Shetland do Sul, Antártida, 09-02- 2013 A cada dia que passa a noção de “aventura” torna-se mais intensa. Ontem, foi o ponto alto destes primeiros dias de campanha. Todos os passos do desembarque do navio da armada espanhola Hespérides, que nos transportou desde a ilha King George até à ilha Livingston, até à chegada à base búlgara St. Kliment Ohridski, onde vamos ficar alojados nas próximas 2 semanas, foi uma emoção. Os equipamentos completos de segurança que somos obrigados a vestir cada vez que temos de embarcar/desembarcar em Zodiac (barcos semi-rígidos), limitam-nos grandemente os movimentos, e dão-nos um ar muito desajeitado e patusco – por isso são alcunhados de “Tele-Tubies”. Mas nem diria quando os vi pela primeira vez vestidos na tripulação do navio espanhol, movendo-se com relativa ligeireza. O vestir e despir destes fatos é revestido de toda uma técnica que ainda não domino e que ao mesmo tempo que me desgasta fisicamente também me diverte. Como devem imaginar, mover-me com este equipamento vestido é outra “tortura”. Mas tudo pela nossa máxima segurança! A praia da base búlgara é lindíssima, mas cheia de grandes rochas, que dificultam o acesso das Zodiac. O desembarque deu-se por isso dentro de água, com os homens a segurar no semi-rígido e próximo da zona de rebentação. Eu, que tinha ficado dentro do bote, já não sei porquê achei que deveria fazer contrapeso na outra ponta na tentativa de ajudar a estabilizar o bote: Ao que um dos “gigantes” búlgaros, o Vasco, que vinha connosco e estava dentro de água a segurar o bote me diz no seu arranhado espanhol “no mi amor, tienes que saltar para aqui”, e eu saltei, mas o “para aqui” era para dentro de água e eu apanhei um valente susto pois enquanto ao Vasco a água lhe dava pela barriga, a mim quase me chegava ao pescoço e é claro que só larguei a Zodiac quando a maré recuou e eu me “mandei” literalmente para os calhaus na margem da praia. Depois foi descarregar rapidamente os equipamentos enquanto uns dentro de água seguravam na Zodiac. Construímos um cordão para tirar as coisas rapidamente mas mesmo assim os sacos molharam-se e todos receávamos pelos equipamentos electrónicos, principalmente os computadores. A adrenalina deste desembarque nem deixou saborear a maravilhosa paisagem desta praia, nem cumprimentar os pinguins de barbicha que recebiam tão amistosamente a nossa chegada. Depois de descarregadas as bagagens para a praia, e de terem conseguido devolver ao mar a Zodiac com os dois tripulantes do navio espanhol (que também foi uma aventura com a ondulação), começamos a transportar rapidamente os sacos já bastante molhados para a base. Eu receava não ter roupa para vestir pois no desembarque a minha mala mergulhou totalmente
dentro de água. Apesar de não ser completamente estanque o malão azul lá conseguiu aguentar a coisa, felizmente! Claro que ficamos todos exaustos e o Gonçalo Vieira todo ensopado. Ana Salomé, Ilha Livingston, Arquipélago das Ilhas Shetaland do Sul, Antártida, 30-01-2013 Estamos na base búlgara desde dia 30 de Janeiro. Os dias têm sido de trabalho intenso e não temos tido tempo para publicar posts no blogue. Além disso, aqui não temos email. Só ontem, depois de muitas tentativas, conseguimos, subindo a um monte próximo, até ao qual vamos de moto de neve, aceder à rede wi-fi da Base Antártica Espanhola, que fica a alguns quilómetros. É dificílimo conseguir captação da rede e perde-se mais de 1 hora para aceder ao email. Além disso, a ligação é muito lenta e não tem capacidade para o envio de fotografias, pelo que até 15 de Fevereiro, apenas enviaremos texto, que depois atualizaremos com fotos. Aproveito para apresentar brevemente a nossa equipa de investigação e os objetivos da campanha. Durante este mês na Antártida, estarei com a Ana Salomé David, estudante de mestrado do CEG/IGOT-UL e o António Correia, Professor e investigador do Centro de Geofísica da Universidade de Èvora.
Os primeiros 15 dias serão passados na ilha Livingston e depois, iremos para a ilha Deception, onde nos encontraremos com dois estudantes de doutoramento, a Alice Ferreira (CEG/IGOT-UL) e Gabriel Goyanes (Universidade de Buenos Aires), que são a equipa A do projeto PERMACHANGE. As nossas atividades enquadram-se num programa de longo prazo, que iniciámos aqui em Livingston em 2000, mas que atualmente já inclui vários outros locais da Península Antártica, numa colaboração com a Argentina, Bulgária, Espanha, E.U.A. e Rússia. Os nossos trabalhos visam compreender de que modo o solo permanentemente gelado da região da Península Antártida, se está a comportar face às mudanças climáticas. Para isso, desenvolvemos uma série de atividades interdisciplinares, com o objetivo de diagnosticar o estado atual do permafrost na região, permitindo também compreender a sua sensibilidade face a diferentes cenários climáticos. Para isso, temos instalado ao longo da última década, várias perfurações e estações meteorológicas, onde registamos dados das temperaturas do solo e dados meteorológicos. Estamos também a efetuar trabalhos de geofísica, através de perfis de resistividade elétrica, que permitem conhecer a distribuição do solo gelado em profundidade. Esta é a tarefa principal do António Correia. Por outro lado, desde há 4 anos, que vimos monitorizando a deformação do terreno em vários locais, através da utilização de GPS diferencial e, mais recentemente, também usando imagens de satélite. Os trabalhos de manutenção do equipamento meteorológico e das perfurações, bem como o DGPS, são as minhas tarefas principais. A Ana Salomé, além de nos vir ajudar, está também a recolher dados sobre vegetação para a sua tese de mestrado que se foca sobre o uso de biondicadores, como indicadores da cobertura de neve. Vou dedicar os meus próximos posts, a explicar um pouco melhor cada um destes temas. Agora, vou voltar ao trabalho, porque tenho a mesa cheia de data loggers para reprogramar. Um abraço desde a Antártida! Gonçalo Vieira Estamos a bordo do navio oceanográfico espanhol Hespérides, na Baía do
Almirantado, ilha do Rei Jorge, já na Antártida. O Pedro e o Bruno do projeto Fishwarm acabaram de desembarcar para a base Arctowski debaixo de um nevão. A temperatura do ar é de -4.8ºC, valor um pouco baixo para esta época do ano, em que costumam estar valores entre -1 e 1ºC. Na Antártida Marítima, é assim o Verão. Curto, fresco e com amplitudes térmicas relativamente pequenas, sempre com temperaturas próximas de 0ºC. O voo DAP Punta Arenas - Aeródromo de Frei realizou-se ontem e correu muito bem. Depois de um atraso de cerca de 10 horas, devido ao mau tempo na Antártida, por volta das 17h30, saímos finalmente de Punta Arenas. A viagem é rápida. Em cerca de 2 horas, saltamos para o outro lado da mítica Passagem de Drake, o pior mar da Terra. De barco, a mesma viagem dura cerca de 3 a 4 dias e as ondas, como me aconteceu na minha primeira viagem à Antártida, em 2000, chegam a 12-14 metros. Pelo ar é muito mais confortável. O único problema são mesmo os frequente atrasos que a meteorologia frequentemente causa. Esperas de 3 a 4 dias, infelizmente, não são raras por estes lado. Por isso, tivemos muita sorte. No aeródromo de Frei encontrámos os portugueses que regressavam no mesmo voo: Pedro Pina do projeto HiSurf, João Canário e André Mão-de-Ferro, do projeto Contantarc-2. Foi bom reencontrá-los mais uma vez na pista de Frei à nossa espera. Mas praticamente não houve tempo para conversas, porque era preciso retirar a carga do avião e organizar tudo, para rapidamente embarcarmos no Hespérides que já estava à nossa espera na baía Maxwell. Este ano, com o voo português, o PROPOLAR transportou 109 cientistas e técnicos entre o Chile e a Antártida. Beneficiaram diretamente deste apoiom, os programas antárticos do Brasil, Bulgária, Chile, Espanha e Republica da Coreia, mas na verdade, as nacionalidades dos investigadores que voaram, foram ainda mais diversificadas, alargando-se a norte- americanos e neozelandeses. O navio começa de novo a abanar... estamos a sair da baía do Almirantado. Segue-se a largada de uma investigadora na base ecuatoriana na ilha Greenwich e, em princípio, ao final do dia, seremos nós na base búlgara na ilha Livingston. Gonçalo Vieira |
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