João Branco Palmer Station A meio da manhã de ontem embarcámos no navio da Armada Chilena, Lautaro, que nos trouxe até à base científica de Palmer, pertencente ao Programa Polar dos Estados Unidos da América, onde ficaremos com o objectivo de proceder à manutenção de perfurações de monitorização de permafrost existentes na pequena vizinha ilha de Amsler. Navegar a bordo de um navio militar, ainda por cima na Antárctida, não é algo que seja familiar à maioria das pessoas e, no meu caso não era. O navio em causa serve a Patrulha Antárctica Mista, operada conjuntamente por navios chilenos e argentinos e que tem como atribuições, não só, apoiar a logística dos programas antárcticos destes dois países mas também garantir as operações de busca salvamento nesta área da Antárctida. Apesar de remotas, nestas águas navegam frequentemente barcos de recreio, muitas vezes pequenos veleiros, além das embarcações envolvidas nas actividades de investigação polar, pelo que, estes navios são polivalentes, estando o Lautaro equipado com uma plataforma de operação de helicópteros e podendo até de funcionar como rebocador em mar alto. A vida a bordo de um navio militar é plena de regras e rituais e como tal, embora a duração da viagem pouco passasse de 24 horas, também os passageiros receberam à chegada a bordo, do 2º comandante do navio, as informações principais. Foram-nos indicadas as áreas do convés até onde poderíamos circular pois, sendo o Lautaro um navio de popa aberta, por questões de segurança não podíamos passar para lá de meio navio; comeríamos na messe de oficiais, descansaríamos num local designado e, o mais interessante, era-nos dado o acesso à ponte de comando. Claro que pouco descansámos com tanto que ver durante a viagem. Zarpando de King George a viagem para Palmer segue uma rota para sul ao longo da Península Antárctica sendo possível ver do lado direito, ou utilizando a terminologia de bordo – estibordo, as principais ilhas das Shetland do Sul, Livingston e Deception, onde o CEG/IGOT conduz há vários anos projectos de monitorização do permafrost. À medida que o navio avança para sul e que nos aproximamos da das montanhas da Cordilheira Transantárctica apercebemo-nos da sua dimensão e extensão, individualizamos os topos altamente glaciados, as vertentes íngremes dissecadas por corredores de avalanches constituindo uma paisagem de grande beleza. A primeira baleia avistada coincide com a entrada no Canal de Gerlache que separa o Arquipélago de Palmer da Península e que é duma beleza extraordinária com a nossa rota a cruzar com inúmeros icebergs, muito deles com pinguins ou focas no gelo. Quando atingimos a extremidade sul da Ilha de Wiencke o Lautaro corrigiu o rumo norte de modo a entrar na baía onde se encontra a base chilena de Yelcho, na Ilha Doumer e onde deixámos colegas investigadores chilenos, que esperamos rever dentro de poucos dias quando regressarmos de Palmer. A Base de Palmer na Ilha de Anvers fica a cerca de 25 km de Yelcho mas esta última parte da viagem ainda teve que se conte pois, entre os icebergs, o pack ice (gelo marinho) aumentava cobrindo grande superfície da água e como o Lautaro não é um navio quebra-gelos as manobra nestas condições é altamente complexa de modo a evitar gelo de maiores dimensões. A ponte do navio encheu-se de oficiais e marinheiros, com tarefas específicas, uns em observação do gelo dos dois lados do navio outros do radar, onde uma miríade de pontos correspondentes a blocos de gelo, surge no ecrã e que levam a constantes alterações de rota.
Demorámos 3 horas a percorrer tão pequena distância e quando finalmente avistámos a base americana verificámos que não era possível atingir de zodiac o cais da base devido ao gelo à sua volta. A opção foi desembarcarmos, o Gonçalo e eu numa pequena península rochosa situada em frente da base mas que implicaria não só transportar à mão os nossos cerca de 80 kg de bagagem e equipamento, além de que dali, para alcançar a base de Palmer teríamos que retroceder na direcção do glaciar existente a montante da base subindo-o, primeiro, descendo, depois, rodeando a enseada coberta de gelo. Nestes preparativos e depois de termos carregado toda a bagagem para o lado oposto da península vimos sinais do navio quebra-gelos americano Laurence M. Gould que estava ancorado em Palmer, que nos indicavam que um barco iria tentar recolher-nos daquele local o que veio a acontecer com grande mestria do piloto do barco semi-rígido com fundo metálico que o usou para ir partindo as placas de gelo onde não se encontrava uma fenda que permitisse passar. Longo dia que, com o acolhimento na base americana, estava a chegar ao fim comemorado com uma cerveja após um duche e um jantar reconfortante. Os comentários estão fechados.
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