Cheguei à Base Coreana King Sejong no dia 23 de Fevereiro para me juntar com o Pedro Pina e Lourenço Bandeira do projeto HISURF-2. Juntos vamos levar a cabo as atividades previstas neste projeto, bem como as do novo projeto 3DAntártida, com o qual conseguimos obter através de crowdfunding, o financiamento necessário para adquirir um UAV que esperamos voar aqui na Península Barton.
Esta é a minha primeira vez na base coreana e é sempre interessante ver o modo com a vida nas bases varia consoante o país que as gere. Vou dando conta disso à medida que for fazendo posts no blogue. Naturalmente, a maior diferença é a alimentação, sempre tipicamente coreana e comida com "pauzinhos" metálicos. Há 3 refeições por dia, sempre do mesmo estilo, mas muito variadas, condimentadas e ricas em vegetais. Até agora não tenho dito problemas com o pequeno-almoço com comida picante e arroz, embora ainda não tenha provado a sopa picante, logo pelas 7h30 da manhã. Do ponto de vista científico, até agora, os trabalhos têm estado restringidos ao laboratório da base, onde temos estado constantemente a trabalhar na preparação dos dois drones (um hexacoptero do HiSURF-2 e o UAV do 3D Antártida), no processamento de imagens já adquiridas pelo Pedro e Lourenço nesta campanha, e a planear em detalhe as atividades dos próximos dias. O tempo tem estado mau. Algum frio (cerca de 1ºC), mas bastante vento e nuvens muito baixas, o que impede voarmos com qualquer dos drones. Ainda só fizemos pequenos passeios em torno da base para que eu veja o tipo de terreno e para que possamos melhor desenvolver os voos quando o tempo melhorar. Infelizmente, na Antártida Marítima, o mais frequente é o tempo estar como está, o que é terrível para este tipo de campanhas. Penso que nunca tinha estado mais de dois dias limitado pelo mau tempo, até porque para as campanhas em que tenho participado, este não é um tipo de tempo impeditivo de ir para o campo. Normalmente, noutras campanhas, faço a instalação e manutenção de sensores, perfurações, monitorização com DGPS, geofísica ou cartografia geomorfológica tradicional, e o vento e as nuvens não são um fator muito limitante. Dito isto, a verdade é que estou cheio de vontade de ir lançar o drone e só espero que a previsão meteorológica para amanhã (mais vento), esteja errada. Numa das poucas incursões fora da base, saímos hoje com colegas biólogos coreanos para discutir um setor com várias espécies de líquens, em particular as formações de Usnea spp. que muito nos têm interessado nos últimos anos. Estes líquens têm-se revelado bons indicadores da ausência de neve no solo e a sua cartografia permite desenvolver mapas genéricos das áreas com mais e menos neve na estação fria. São dados que têm implicações geo-ecológicas importantes e que, para nós, são especialmente relevantes para o estudo das trocas de calor na superfície do solo e suas relações com a distribuição espacial do solo gelado (permafrost). Isso é especialmente significativo (e complicado), porque as áreas com menos neve no inverno, são aquelas cujo solo mais arrefece, ao passo que as áreas com menos neve no verão, são aquelas que mais aquecem. Gonçalo Vieira, Base Coreana King Sejong, Península Barton
Mais uma vez recorremos a um voo DAP com um BAE-146, que fez a ligação entre a América do Sul e a Antártida em cerca de 2 horas. O avião saíu de Punta Arenas às 10h00 da manhã, tendo aterrado pelas 12h00. Permaneceu cerca de 2 horas na Antártida, tendo descolado pelas 14h00 e chegado pouco depois das 16h00 a Punta Arenas.
Esta forma de colaboração na logística internacional, ajuda os investigadores de projetos nacionais a ter acesso a estações de investigação na Antártida sem custos suplementares. Em 2013-14 o PROPOLAR tem ativos 6 projetos de investigação antárticos, 4 deles com trabalhos no terreno na região da Península Antártica. Ontem foi um dia muito cansativo mas extremamente satisfatório. Passámos o dia todo a caminhar por entre montes e vales, muitas vezes cobertos de neve, para visitar as zonas de estudo mais importantes para os nossos colegas coreanos, acompanhados pelo Soon-gyu Hong, um biólogo cuja especialidade é exactamente esta área, e a sua equipa. O dia começou frio, e a nevar, mas terminou com o céu azul e nuvens bem altas e rarefeitas. A caminhada levou-nos até ao outro extremo da península onde as paisagens são de cortar a respiração, tanto pelas subidas ingremes, como pela beleza. Determinámos dois locais prioritários para captarmos imagens com o drone.
Hoje o dia começou mais cedo do que o normal para darmos uma entrevista para a Antena 1. A conversa com o realizador José Candeias girou à volta dos objectivos da nossa campanha Antártica no âmbito do projecto HISURF2. Se tiverem curiosidade, e forem madrugadores, podem sintonizar os vossos rádios na Antena 1 e ouvir-nos na próxima segunda-feira, algures entre as 05:00 e as 07:00 da manhã. A primeira boa notícia de hoje foi que conseguimos fazer os primeiros testes de voo com o nosso hexacóptero. O vento caiu para valores aceitáveis e aproveitámos para revisitar uma das nossas zonas de estudo preferenciais e avaliar o comportamento deste pequeno drone face às alterações que o sujeitámos desde a última campanha. Primeira impressão: tudo óptimo! Infelizmente não tivemos tempo para muito mais do que as primeiras impressões, pois o vento começou a soprar mais forte, com rajadas perto dos 20 km/h, e deixámos de poder voar com segurança. A segunda (óptima!) notícia é que o nosso novo drone, comprado graças à ajuda de muitas pessoas que, generosamente, contribuiram para o nosso crowdfunding “3D Antártida” está quase a chegar! Neste momento, o último membro da equipa, Gonçalo Vieira, encontra-se em viagem com o drone, a caminho de King Sejong onde se vai reunir connosco. Esperemos muito brevemente poder colocar aqui imagens captadas por este novo equipamento. Lourenço Bandeira Ilha de King George, Península de Barton, Base de King Sejong O calendário aqui não manda quase nada, isso cabe a outro tempo. Não há voos ainda, não houve ainda lugar para o tempo o permitir. Chuva e muito vento, céu bem nebulado e nevoeiro baixo. Tudo isto se consegue num sopro numa única tarde. Pelo menos não tem nevado e a cobertura branca tem começado a desaparecer com os pingos de chuva e a temperatura ligeiramente positiva.
Mas nem por isso os dias aqui deixam de ser bem preenchidos. Temos andado a reprocessar todas as imagens da campanha do passado. Apesar de estarmos no laboratório na base, o andar aplica-se mesmo literalmente, pois sempre que necessário vamos ao campo verificar determinados ‘objectos’ e a sua posição geográfica para validar o resultado do processamento das imagens que estamos a fazer. Podermos fazer isso numa região de difícil acesso como é a Antártida é uma vantagem enorme para a qualidade do nosso trabalho. Hoje tivemos aqui em King Sejong a visita do João Canário e do Eduardo Amaro que vieram do lado de lá de Fildes com París Lavín e outros chilenos da base de Escudero para uma muito proveitosa reunião de trabalho com os coreanos para preparar futuras colaborações e campanhas antárticas entre os programas polares de todos estes países. A visita teve de ser mais curta do que o previsto pois a rápida alteração das condições de navegabilidade do mar estava a pôr em risco o regresso deste grupo a Fildes. Depois, eu e o Lourenço acabámos por gravar entrevistas para um projecto do INACH liderado por um antropólogo que está a avaliar a forma como as poucas pessoas que regularmente têm acesso à Antártida se relacionam com esta região inóspita e de difícil e restringido acesso, mas também como perspectivam o seu relacionamento e o modo de acesso para as próximas décadas. Pedro Pina, base de King Sejong Nestes últimos dias temos estado pacientemente à espera que a espessa camada de neve que cobre toda a península funda, e que finalmente toda a variedade de solos e vegetação que existe nesta região seja revelada. Afinal de contas, foi exactamente para captar imagens dessas superfícies que até aqui nos deslocámos. As boas notícias é que a neve tem derretido a bom ritmo, e hoje já ao final do dia, choveu – o que é perfeito para limpar a neve.
Temos passado os dias no laboratório a certificarmo-nos que tudo estará pronto para voar assim que o tempo permitir: a calibrar o equipamento e a fazer pequenos voos de teste (à porta da base). Entretanto, e já com alguma impaciência de quem quer ir para o campo trabalhar (e sentir o ar puro), decidímos rever as zonas de estudo do ano anterior, e ver até que ponto seria possível registar algumas imagens a partir do UAV. Numa caminhada que demorou grande parte do dia, passámos por cinco das seis áreas em que voámos em 2013. Infelizmente, tal como se previa, apenas uma delas começou a estar parcialmente exposta. No entanto, preve-se que nos próximos dias a temperatura aumente, o que nos deixa com boas possibilidades de realizarmos trabalho de campo em breve. Lourenço Bandeira, Ilha de King George, Península de Barton, Base de King Sejong Our days seem to be run by weather, not the calendar. Every bit of a snow free day is used thoroughly, our rucksacks are packed and ready to go at any moment, all we need is reasonably low wind, evenly distributed cloud cover or just visibility more than 50m.
Today is Thursday the 13th, the pressure dropped from 1004 to 994 hPa during the morning coffee so we were expecting the change in weather. Nevertheless, we have decided to go for a quick reconnaissance and a cheeky snowpack sampling trip, combined with calibration measurements for our spectrometer and the chlorophyll sensors. However, our trip ended just after few hundred meters away from the base when we were distracted by a couple of feeding whales and a heavy snowfall accompanied by strong winds. As winter approaches snow and winds more frequently manage our itineraries so today is another day in the lab.. Who knows, maybe we will force ourselves to finally do that laundry, before the water freezes again in the pipes.. Aga Nowak, University of Sheffield Since the high air pressure decided to stay with us for another day we have decided to drop all the house chores (like laundry or shower) that in recent days became extremely necessary, ignore katabatic down-glacier winds and head for previously established snow sampling sites to collect the data on microbial activity within the snowpack. Equipped with syringes for CO2 measurements, a spectrometer for measuring light penetration and a black bin bag to put over our heads to protect the computer while doing the measurements, we headed towards our glacial sites first. There is nothing more satisfactory than seeing your hard work and effort bringing good results. Freezing fingers, watering eyes, cheeks red from wind and sun were all forgotten when we’ve sat down in our temporary lab back at the station and analyzed the spectra. The truly exciting part will be to combine them with our measurements of chlorophyll concentrations that we’ve taken few days ago and the analyses of cell types that we will carry out back home at the University of Sheffield. Another successful day came to an end. One starts to wonder how many days like that we have left..?
Aga Nowak, University of Sheffield O nosso equipamento começa a estar todo pronto para ser utilizado no campo, só que não pára de nevar desde que chegámos aqui a Barton no dia 6 de Fevereiro. Durante toda a noite de 7 para 8, caiu um forte nevão, a neve chegou nalgumas partes a ter mais de 50 cm de altura, e com ventos a rondar os 60-70 km/h, uma verdadeira tempestade mesmo. Não é pois possível sair para a rua nem fazer o trabalho de campo planeado nestas condições. E mesmo depois de parar de nevar será preciso esperar mais algum tempo para que a neve comece a fundir e a mostrar os solos e a vegetação que queremos analisar e captar remotamente em imagens.
No domingo dia 9, à tarde, decidimos fazer a primeira saída de campo. Estava a nevar, mas sem vento, e as previsões apontavam para bom tempo. E em bom tempo o fizemos, sempre junto à costa, com a neve a chegar até à beirinha do mar fizemos o reconhecimento parcial do caminho que pretendemos fazer nos próximos dias para se chegar às regiões da península de Barton com maior biodiversidade e onde iremos fazer os primeiros voos com o hexacóptero, e que não visitámos na campanha do ano passado. Não chegámos ao fim porque a neve acumulada nalgumas vertentes a meio do percurso era tanta que não permitia a sua passagem em condições de segurança. Mas foi excelente sairmos para a rua e aproveitarmos também as fantásticas paisagens desta península que, por causa dos fortes nevões dos últimos dias, estão praticamente todas brancas. E no regresso à base o sol deu um ar de sua graça e, pela primeira vez desde de que aqui chegámos, não ficou escondido atrás das nuvens, ficando as vistas ainda mais fantásticas e os cartões das máquinas fotográficas ainda mais cheios. Pedro Pina, Base de King Sejong, Península de Barton Finally, after being cooped up in a snowed-in house with no water the weather decided to improve, allowing us to do all those necessary minor and major improvements in our personal and scientific lives.
The rise in air pressure from 962 to 1005 hPa was indeed the boost everybody needed and craved for. While our Bulgarian hosts started working hard on restoring the water supply, we decided to proceed with a big push in our science. Ana and Alice had to install a DGPS reference unit on a rock glacier in the False Bay, so Andy and I took the opportunity and tag along with them. The goal was to explore new areas of Livingston Island in a search of subglacial and groundwater discharge. The task seemed to be simple enough, however, the melt season this year is heading fast towards the end: temperatures are dropping and the sun is becoming less welcoming, therefore finding healthy discharge anywhere is a real challenge. Nevertheless, long hours of exploration give us the opportunity to enjoy the Nature on the island, which seems to spoil us incredibly. Humpback whales feeding just few meters away, Leopard seals leisurely resting on ice floes, fur and crabeater seals sleeping on rocky shores, are only a prelude to what the Island has to offer. Gentoo and Chin strap penguin colonies are also a wonderful distraction from the harshness of the environment and the work that needs to be done. Finally, after hours of searching and taking hundreds of photographs we have found what we were looking for! A big sample of subglacial discharge was packed in our rucksacks along with the measurements of conductivity, oxygen saturation and water temperature. A day can come to an end. Aga Nowak, University of Sheffield |
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