Punta Arenas, 16 a 19 de Fevereiro A chegada a Punta Arenas, a horas diferentes e com “sortes” distintas, marcou o início da nossa aventura por terras descobertas pelo nosso conterrâneo Fernão de Magalhães. Tudo correu bem mas a bagagem da Patrícia não chegou a Punta Arenas. Previa-se que a sua entrega fosse rápida mas veio a revelar-se um verdadeiro desafio que durou a estadia por Terras de Magalhães. A informação do INACH adiando o voo para dia 20 uma vez que já não seria possível o transporte através do avião da Força Aérea Chilena devido a uma avaria técnica amenizou a preocupação relativa ao resgate da bagagem. No entanto sabiamos que havia igualmente uma probabilidade de o voo ser antecipado devido às condições atmosféricas. No dia seguinte recebemos a informação que afinal a bagagem estava no aeroporto de São Paulo, Brasil e fomos informados que no espaço de um dia seria devolvida ao seu destino previsto. A verdade é que os dias foram passando, os prazos de chegada iam sendo ultrapassados, mas a bagagem não chegava ao hotel em que estávamos hospedados. No dia 18 depois de muitos telefonemas e com a ajuda prestada pelos funcionários do hotel, a quem muito agradecemos, foi-nos dito, pelas 16.30, que dentro de uma hora a bagagem seria entrege. No entanto passadas mais de 2 horas tal não se confirmou. Às 18.30 recebe-mos uma mensagem com a informação que voariamos para a Antártida no próximo dia pelas 6.30h. Em doze horas estaríamos de partida para a Ilha de King George era necessário atuar rapidamente. O INACH cedeu gentilmente a 2ª e a 3ª camada de roupa necessária ao clima Antártico, botas, luvas e gorro. Sem desistirmos seguimos diretamente para o Aeroporto decididos a resgatar a bagagem. Felizmente e com algum esforço tudo se resolveu e pelas 21h a bagagem estava de volta. Dez horas depois estávamos de volta ao Aeroporto rumo à Antartida. Patrícia Azinhaga e Pedro Ferreira 18 de Fevereiro de 2015
Ontem foi o 26º aniversário da base Coreana King Sejong. Felizmente o tempo estava péssimo pelo que conseguimos aproveitar as comemorações sem nos sentirmos tão culpados por estarmos a desperdiçar um dia de campo. Começamos com um cocktail com os representantes das bases vizinhas (Argentina, Chile, China, Rússia e Uruguai), alguns cientistas convidados (da Alemanha, Brasil, Portugal, Roménia e USA) e obviamente com os nossos anfitriões (Coreia do Sul), totalizando 11 nacionalidades distintas! Depois dos discursos, tivemos direito a um verdadeiro banquete, com uma variedade inacreditável de sabores – uma verdadeira delícia! Foi um dia de degustações e de descanso, merecido na minha opinião. E hoje, para compensarmos a pausa, artilhamo-nos com o drone às costas e seguimos península fora, para áreas nunca dantes cavalgadas (por nós). A ideia era voar na costa norte da península, perto do glaciar Collins mas, apesar do vento estar fraco, primeiro choveu, depois nevou, e finalmente as nuvens baixaram, afastando qualquer hipótese de voos para este dia. Frustrados e cansados contentámo-nos com o reconhecimento do terreno, novo aos nossos olhos, e com as fotos que tirámos pelo caminho. Lourenço Bandeira Ilha de King George, Península de Barton, Base de King Sejong Ontem o dia foi bastante duro fisicamente pois atravessámos a península em passo acelerado para chegarmos à costa Sul. Descobrimos um planalto perto do monte Hwaseok perfeito para lançarmos o drone e iniciámos os preparativos para esse efeito. Assim que estava tudo pronto, com o motor já em funcionamento, tivemos um aviso de sinal fraco de GPS, o mesmo aviso que umas semanas antes causou uma aterragem de emergência, pelo que abortámos o voo e aguardámos que os deuses dos satélites se voltassem a alinhar. Esperámos cerca de meia hora, parados sob vento moderado, mas depois desta espera congelante conseguimos finalmente lançá-lo. Inicialmente o vento estava moderadamente forte, com cerca de 7.0 m/s, e durante o voo observámos que incrementava a um ritmo constante. Apesar do fabricante assegurar que o drone aguenta ventos até 12.0 m/s, a partir dos 9.0 m/s algumas das imagens ficam tremidas, pelo que não é interessante de um ponto de vista cartográfico. Infelizmente, ao fim de 20 minutos de voo o vento chegou aos 10.3 m/s e resolvemos aterrar. Mesmo assim conseguimos algumas boas imagens desta área, que nunca tinha sido sobrevoada antes. Já atrasados para o jantar, regressámos à base novamente em passo acelerado. Depois do jantar, quentes e reconfortados, caímos redondos nas camas para um descanso merecido.
Lourenço Bandeira 17 de Fevereiro de 2015, Ilha de King George, Península de Barton, Base de King Sejong "Pela quarta vez, há uma Campanha Antártica aberta à comunidade científica nacional. Até ao momento, já participaram 56 investigadores. A expedição não seria possível sem o apoio logístico de países como o Chile, que têm estações científicas na região." Nova Campanha Antártica aberta à comunidade científica nacional Especial SIC Notícias em http://sicnoticias.sapo.pt/especiais/campanhaantartica/.
Sexta-feira o dia esteve incrível, mas como já foi dito, o drone estava em reparações e portanto resolvemos seguir para a localização do primeiro voo feito nesta campanha e registar pontos coordenados com o GPS diferencial, que nos permitirão: ortorectificar as imagens a partir de pontos de controlo conhecidos no campo; avaliar os erros dos modelos digitais de terreno obtidos com as imagens; e avaliar os modelos de classificação automática contra a verdade de campo ("ground-truth"). O trabalho correu bem, e pensamos que esta área já está bem cartografada. Como o grupo dos cientistas Chilenos se ia embora no dia seguinte, reunimos todos os visitantes estrangeiros para uma foto de grupo. Sábado, já com o "drone Suzanne Daveau". totalmente reparado e pronto para voar, acordámos para um dia em que as nuvens tocavam no topo dos módulos da base de King Sejong. Chateados por voltar a não poder voar o drone, resolvemos tentar reconhecer a costa Sul da Península de Barton, apesar do mau tempo. A paisagem compensava o frio e a humidade que se sentia, assim como os encontros breves com alguma da fauna desta região. Conseguimos chegar até ao início da baía de Potter quando tivemos que regressar para lutar contra o vento no caminho para a base. Hoje, domingo, o dia esteve outra vez com nuvens baixas e com vento muito forte, o que nos impediu de voar, e por isso as alternativas eram poucas: ou ficávamos na base e analisávamos os dados obtidos, ou partíamos para o campo e tentávamos registar mais pontos coordenados ou fazer reconhecimento para futuras áreas de voo. No entanto, apesar do mau tempo, a vontade de trabalhar no campo era muita e então optámos pela segunda opção, mas assim que subimos em altitude percebemos que era impossível… a visibilidade era demasiado reduzida e o vento demasiado forte que quase nos atirava ao chão – registámos rajadas com 19.5 m/s (38 kt). Não tivemos outra alternativa senão regressar à base e rendermo-nos à força da natureza. Lourenço Bandeira, 15 de Fevereiro de 2015, Ilha de King George, Península de Barton, Base de King Sejong Gutten morgen!!! Nestes últimos anos, entre expedições à Antártida, tenho feito um esforço em ir aos laboratórios dos melhores colegas de todo o mundo. Para quê? Para aprender! A vida de um cientista consiste numa contínua aprendizagem, e se queres aprender nada melhor do que aprender com os melhores. Assim, nestes últimos anos, estive 1 a 2 meses em França (2 anos), nos USA (2 anos), na Nova Zelândia (2 anos), e agora estou na Alemanha. Pessoalmente é muito exigente (pois estás sempre em viagens) mas profissionalmente é importante. Em relação ao projeto que estou a iniciar este ano, ele foca-se em crustáceos. Porquê? Bem, de modo a compreender a estrutura e funcionamento do Oceano Antártico, é imperativo estudar as relações tróficas entre os organismos que compõem a sua cadeia alimentar. Os crustáceos têm um papel importante na cadeia alimentar do Oceano Antártico, fazendo parte da dieta de numerosos predadores, incluindo pinguins, focas, albatrozes e baleias. Aliás, um dos crustáceos, o krill do Antártico Euphausia superba é o elemento chave da cadeia alimentar. No entanto, não existe qualquer guia de identificação de crustáceos do Oceano Antártico especialmente redigidos a apoiar investigadores que estudam relações tróficas neste Oceano, algo já pedido durante o Ano Polar Internacional e nos "expert groups" da "Scientific Committee on Antarctic Reseach (SCAR)". Com a necessidade de avaliar ao detalhe as cadeias alimentares para o desenvolvimento de métodos aplicados à modelação das cadeias alimentares, este tema é de extrema importância. Neste projeto, pretende-se analisar amostras de crustáceos das coleções do "Alfred Wegener Institute", Universidade de Hamburgo e da "British Antarctic Survey", para criar um guia de crustáceos na dieta de uns dos maiores predadores de crustáceos, que exigirá passar 2 meses na Alemanha (Bremenhaven, Bremen e Hamburgo) e Reino Unido em 2015. Cientificamente, este trabalho será uma contribuição importante para esta área de investigação, complementando o livro anterior de cefalópodes enquanto colmata uma das necessidades prementes nesta área de investigação. Além da ciência, actividades de educação e comunicação de ciência serão conduzidas em colaboração com a "Association of Polar Early Career Scientists (APECS)" e "Polar Educators International (PEI)", associado ao Programa Polar Português (PROPOLAR). As primeiras impressões da Alemanha para breve... José Xavier Gutten morgen! O nosso estado de espírito varia de acordo com a qualidade dos voos e do tempo. Tal como o Lourenço contou, ontem da parte da manhã, fizemos três voos, da parte da tarde, depois do update de software propusemo-nos a cobrir mais uma área com fotografia aérea. Como estava a ficar com nuvens baixas para o lado do monte Sejong, procurámos um local mais próximo daqui.
Escolhemos um local alto mais aplanado com um tapete de líquenes e musgos como área de aterragem. No final do voo, quando o ebee vinha para aterrar vimos e eBee desaparecer abaixo da área onde nós estávamos e como se diz em aviação borregámos imediatamente. Na segunda aproximação o comportamento foi o mesmo e tornámos a borregar por precaução. Acontece que a área da aproximação final incluía uma vertente sobre um vale, que tinha alguma neve, o que confunde um pouco os sensores do eBee na medição da aproximação ao solo. Nos próximos voos ainda teremos que ser mais criteriosos na escolha do local de aterragem. A opção para aterrar foi desviar a zona de aterragem para uns vinte metros ao lado e dessa vez lá conseguiu aterrar direito. Essa área não tinha vegetação mas sim, calhaus centimétricos, que vimos, depois, serem de arestas mais vivas. O drone aterrou bem, mas fez uma mossa o que implicou mais um dia de “hangar” para reparações. Bendita cola! É pena, porque hoje estava um dia perfeito para voar, sem vento e com uma visibilidade e tecto de nuvens raro na Antárctida marítima, além de uns balsâmicos 4ºC. Amanhã, permita o tempo, esperamos voar; hoje vamos para o campo para mais levantamentos DGPS. João Branco, Base King Sejong, Península de Barton, Ilhas Shetland do Sul, Antárctida Depois de uns penosos dias de incerteza se o drone voltaria aos céus antárticos, hoje tivemos uma manhã espetacular com três voos bem sucedidos sobre a ponta oeste da Península de Barton. Tanto a minha disposição, como a do João melhoraram significativamente depois deste feito, devolvendo o ânimo leve e feliz do início da campanha. Ao regressarmos à base para carregar as baterias (no sentido literal), apercebemo-nos que tinha sido lançada uma nova atualização para o software de controlo do drone e perdemos algumas horas a fazer o download da mesma. Estas atualizações são de extrema importância pois corrigem defeitos que foram detetados no software. Apesar de estarmos conscientes da importância desta atualização, é inevitável sentir alguma frustração quando a vontade de ir para o campo é tão forte. Esperemos que os dias de pouco vento e boa visibilidade não nos abandonem. Lourenço Bandeira, 12 de Fevereiro de 2015, Ilha de King George, Península de Barton, Base de King Sejong COSMOANTAR: A campanha de trabalho de campo do projecto COSMOANTAR na Antárctida acabou hoje.12/2/2015
A rotina em King Sejong depende inteiramente do tempo. Em dias de pouco vento, em que existe a mínima possibilidade de voar o drone, arrumamos as mochilas e seguimos em passo rápido para as zonas escolhidas para os voos. Muitas vezes nada acontece, ou porque o vento aumenta, ou porque as nuvens estão demasiado baixas para captar imagens com a qualidade necessária – estes são os dias mais frustrantes por razões óbvias. Em dias moderadamente feios, com ventos mais fortes, chuva ou neve, a ida ao campo continua a ser necessária, ou para reconhecer novas zonas de voo, ou para registar pontos de controlo com elevada precisão com o GPS diferencial – estes são os dias fisicamente mais duros, porque estamos constantemente a lutar contra o desconforto do frio. A base do D-GPS tem que ser colocada em zonas altas, onde o seu alcance é maior, e onde quase sempre o vento é mais forte.
Ontem o dia foi um dia clássico na pesquisa Antárctica. Digo um dia clássico porque tem momentos de felicidade pura e momentos de profundo desespero e tristeza. Ontem conseguimos finalmente voar o drone. O vento estava dentro dos limites razoáveis, e o céu encoberto, mas com nuvens suficientemente altas. Primeiro voo: tudo perfeito; segundo e terceiro: igual; quarto voo: inicia com normalidade até que o drone começa a indicar sinal fraco de GPS e a fugir da rota predestinada. Com medo que se seguisse um erro fatal com a perda total do sinal GPS, ordenámos o regresso ao ponto de partida para a aterragem. O drone respondeu com normalidade, até à fase da aterragem, pois aterrou fora da área prevista medindo mal a altitude, levando-o a que aterrasse com o motor em funcionamento. Isto causou a hélice a soltar-se e o motor a descolar-se da fuselagem. Em contacto com o fabricante, tornámos a colar o motor e a colocar a hélice nas posições corretas e temos estado a proceder a testes para ver se voltamos a voar o mais rapidamente possível. Com estes voos conseguimos imagens óptimas mas que sabem a pouco… Lourenço Bandeira, 10 de Fevereiro de 2015 Ilha de King George, Península de Barton, Base de King Sejong |
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