O dia começa com uma noite mal dormida. Talvez o corpo não tenha sido convenientemente apresentado ao colchão, ou a chegada a conta-gotas dos restantes companheiros de camarata (somos seis no total) tenha despertado a mente que já se preparava para desligar ou, simplesmente, corpo e mente são demasiado exigentes! Mas pronto!! Não há-de ser nada!
Os seis camaradas de quarto, ocupam 3 beliches emparelhados, cabendo-me o privilégio de ocupar um dos de cume. A técnica de escalada tem de ser quase perfeita de modo a evitar pontapear o camarada do rés-do-chão e ao mesmo tempo evitar um traumatismo craniano através do embate da cabeça no tecto, com o impulso meticulosamente controlado da perna esquerda, ao mesmo tempo que a direita já se encontra a 90º e ao nível do destino final, esperando a subida do restante corpo. Aliás, e como observação marginal, refira-se que este tipo de movimento ascendente foi a mente imaginativa buscar à famosa e pouco ortodoxa “técnica Filandesa” do salto em altura, em que o atleta enfrenta a barra de peito, como que querendo mostrar a sua coragem ao obstáculo a ser superado. Mas enfim, refreemos a imaginação e refira-se somente o conselho sapiente do corpo à mente para não abusar de líquidos ao jantar, se não quer andar a subir e a descer do beliche toda a noite e assim aumentar o risco de accionamento do seguro da Propolar como necessidade de repatriamento, deste corpo e desta mente, para o nosso querido Portugal, com um membro partido. Mas enfim, a noite já lá vai e antes de me dirigir para a cantina - onde me espera uma chávena de leite em pó Molico (há quanto anos não via eu este produto!! pelo menos desde a altura em que a minha mãe o comprava como plano alternativo à ausência da leiteira, que todos os dias trazia leite fresquinho!!), misturado com um delicioso e revigorante achocolatado Milo (este também é antigo, mas tenho continuado a bebê-lo) acompanhado de pão torrado, manteiga, queijo, fiambre e sumo de laranja - ainda tenho um desafio grande para enfrentar: a casa de banho! No módulo onde estamos, somos 18 criaturas que têm todos a mesma fisgada matinal e que são as imprescindíveis abluções matinais a que se juntam as necessárias, e por vezes prementes, necessidades fisiológicas. Como as casinhas de banho são duas…. Há que dar tempo ao tempo e rezar para que a premência se contenha. Agora sim! Já desperto, abluído e de papinho cheio, a mente sente-se entusiasmada e o corpo expectante com o que o dia lhes vai trazer. Mas primeiro, como estamos na “Manhattan da Antartida”, não na outra que todos conhecem, há que preparar o corpo àquilo que o espera lá fora, coisa pouca: temperaturas de 0ºC, humidade relativa de 95%, ventos na ordem dos 60 km/h (não quero que me interpretem mal, apelidando-me de exagerado, pois não é sempre assim; há dias piores!!), chuva e/ou neve! Portanto, vamos lá fazer a listinha para que não falte nada: botas impermeáveis, 2 pares de meias (umas finas e outras mais grossitas), umas calças térmicas, umas de trabalho e finalmente as impermeáveis por fora, envoltas inferiormente numas polainas impermeáveis, uma camisola interior térmica, um (ou dois, ou três) polar, um casaco de penas e um casaco impermeável exterior, luvas (camada 1), mais luvas (camada 2), pescoceira e um gorro. Como se vai fazer geologia de campo, mais umas coisitas temos de juntar à lista: martelo, suporte de martelo e cinto, lupa, bussola, gps (mais pilhas sobressalentes), prancheta, mapas, plásticos e micas para os mapas, canetas de acetato, sacos de plástico, atilhos e etiquetas para as amostras a recolher e mais alguns acessórios como os óculos de sol, batom de cieiro e protector solar. A tudo isto se junta a merenda e água. “Mistura-se” tudo e verte-se para a mochila de 30 litros, coberta com uma capa impermeável. (continua… pois vou agora para mais um exercício de escalada!!!) Pedro Ferreira, Ilha de King George Os comentários estão fechados.
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