23.02.2015
Escusado será dizer que as perspectivas da meteorologia para o dia de hoje geravam alguma ansiedade na comunidade de pessoas que em Barton tinham a sua partida programada para hoje. A verdade é que, mais do que a vontade de regresso a casa, que a maior parte de todos quantos aqui estão, naturalmente, acabam por sentir, é a incógnita sobre como se comportará o tempo permitindo, ou não, as operações necessárias: marítimas, para nos levar até à base chilena de Escudero de onde nos transportarão até ao aeródromo e aéreas, de modo ao avião proveniente de Punta Arenas, poder aterrar no aeródromo Teniente Marsh, na ilha King George. Na previsão meteorológica previa-se neve, baixa visibilidade e vento forte para a semana toda, excepto... umas doze horas durante o dia de segunda-feira ou seja, quando estava planeada a nossa partida de King Sejong. Confirmou-se, esta janela de bom tempo em que o sol surgiu a meio da manhã o que constituiu o terceiro dia de tempo soalheiro em vinte e um, sendo que o primeiro foi o dia da chegada. Nada mau, bom tempo à chegada e à partida, com um mar chão que percorremos nos Zodiac em direcção a Escudero. A despedirem-se de nós tínhamos a equipa de dezassete coreanos, entre cientistas e técnicos, que ficarão durante todo o inverno a manter o funcionamento da base. Em Fildes, antes de chegarmos ao aeródromo ainda conversámos rapidamente com a Carla Castelo e o Filipe Nogueira, a equipa da SICANTAR, em que tivemos oportunidade de fazer um breve balanço da contribuição do HISURF 3 para a campanha PROPOLAR 2015. Realizámos treze voos com o drone Suzanne Daveau, cobrindo áreas ainda não cartografadas com alta resolução, algumas delas onde os nossos colegas coreanos desenvolvem estudos sobre a vegetação podendo assim beneficiar de dados recentes de elevada qualidade. Efectuámos um reconhecimento de grande parte da península que permitirá um geomorfologia de pormenor e instalámos os instrumentos que pretendíamos e que, esperamos, continuem solitariamente a recolher dados e a resistir ao longo do duro inverno antárctico. Continuámos também com a aquisição de pontos de DGPS permitindo aumentar a rede de ground truthing do terreno. Olhando para as últimas três semanas parece-nos poder fazer um balanço muito positivo e esperar que próximas campanhas possam continuar neste sentido sempre coligindo mais dados de qualidade e colaborando com os programas científicos dos países presentes na região. Do ponto de vista humano a experiência também é enriquecedora ao permitir fazer ciência em contacto e colaboração com culturas tão diferentes como a coreana. Na última semana pudemos testemunhar a cerimónia de comemoração do Ano Novo Lunar data muito importante para a generalidade dos povos orientais. Punta Arenas é uma cidade ancorada na memória da passagem do navegador português por aquelas paragens e dos que continuaram mais para Sul na direcção da Antárctida. Do quarto de hotel olho pela janela sobre o Estreito de Magalhães adivinhando mais ao longe o continente que acabei de visitar pela primeira vez e já sinto a falta do voo das skuas por cima da minha cabeça. João Branco, Punta Arenas, Chile Os comentários estão fechados.
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