Ana Salomé David
Ilha Livingston, Antártida Aproveitamos uma oportunidade no dia 20 de Janeiro de manhã para ir ao monte Reina Sofia, um dos locais de monitorização do permafrost (solo permanentemente gelado), desenvolvido pelo grupo de investigação do CEG/IGOT - Universidade de Lisboa, em colaboração com colegas espanhóis da Universidade de Alcalá de Henares. O veterano geólogo Búlgaro Kamen e os três jovens estudantes de Geologia, Stefan, Paleontologia, Dotcho, e Química Ambiental, Deni, iriam fazer um reconhecimento da baía Johnsons e recolher algumas amostras de solo e rochas. O monte Reina Sofia situa-se por trás da Base Espanhola Juan Carlos I (JCI), a qual se localiza já na denominada Enseada Espanhola dentro da Baía Sul. Localizadas ao longo da mesma costa, dentro da referida baía Sul, a base espanhola e a base Búlgara de St Kliment Ohridsky são vizinhas, distando entre elas cerca de 2 km. A separá-las, está a pequena e recortada baía Johnsons contornada pelas grandes paredes rochosas de origem metassedimentar à qual acresce a espessa e compacta parede glaciária, realçando no topo das suas bordas as intimidantes crevasses. O acesso entre as bases só é possível fazer-se por mar utilizando botes insufláveis com revestimento rígido no casco, os chamados Zodiac, ou por cima do glaciar, utilizando motos de neve. A baía Sul estava cravejada de brash, inúmeros e relativamente pequenos blocos de gelo flutuantes, provenientes da desagregação da espessa frente glaciária que contorna toda a baía e se estende sobre o mar. A baía ficou com o aspeto de uma gigante caipirinha mas esta desprendida movimentação de blocos não é de todo inofensiva aos pequenos botes de borracha. É preciso ter cuidado com as suas extremidades afiadas e, com o auxílio dos remos de madeira, fomos afastando os volumes mais intrusivos de forma a não constituírem ameaça à espessa borracha dos botes ou mesmo à hélice do motor. Foi por isso, com muita precaução, que fizemos a travessia. Junto à praia da enseada espanhola, aguardava-nos o chefe da Base JCI, Jordi, dado que já havíamos anunciado via rádio a nossa visita. Despimos os “astronáuticos” fatos de segurança, para dar início à nossa caminhada até ao cimo do monte Reina Sofia. Custou-nos imenso a subida a pé, mesmo com auxílio de raquetes de neve - a paisagem estava inundada de branco, como eu antes não tinha visto e, ironicamente, a base estava momentaneamente sem motos de neve disponíveis para nos levar a quase 300 m de altitude. Assim que chegámos ao topo, levantou-se subitamente um temporal que mal nos deixou realizar as tarefas que tínhamos planeado - debaixo de uma mistura de chuva e de neve, não conseguimos recolher imagens fotográficas com as câmaras pessoais que trazíamos, mas conseguimos fazer a leitura do sensor de humidade do solo instalado no ano passado pela Alice e a Ana Rita, e ainda trocar o cartão de memória do equipamento que faz o registo fotográfico diário da área e envolvência. Teremos de voltar o mais brevemente possível a este local, assim que fizer bom tempo, para tentar reparar o mastro que sustenta o painel solar que alimenta a sonda de humidade, o qual se encontra partido. A subida levou-nos mais de uma hora mas a apressada descida demorou-nos menos de meia hora. Contudo chegámos secos graças ao fantástico equipamento de proteção exterior disponibilizado pelo Programa Polar Português (PROPOLAR). À nossa espera, a cozinheira da base JCI tinha uns maravilhosos canelones que comemos a correr pois já a equipa búlgara nos esperava na praia para regresso de Zodiac à base búlgara. Apesar de cheios, não fizemos a desfeita e comemos mais um pouco do almoço tão generosamente preparado e respeitosamente aguardado por todos na base St Kliment. Os comentários estão fechados.
|
BLOGS DAS CAMPANHAS
|