PROJETO ANTUAV 2015-16: falhada a primeira tentativa de trabalho no Glaciar Rochoso de Hurd25/1/2016
Ana Salomé David
Ilha Livingston, Antártida Dia 24, logo pela manhã, caía um enorme nevão, e lá se foram por água abaixo as nossas expetativas de ir ao glaciar rochoso nesta semana. O glaciar rochoso (GR) que se situa na vertente sudeste da Península Hurd, voltado para a baía Falsa, é uma grande acumulação de sedimentos em forma de língua, com permafrost no seu interior, que se deforma lentamente por ação a gravidade. O objetivo nesta área de estudo é estudar a deformação do GR mediante a monitorização das mudanças acumuladas na sua superfície. Esta preocupação com a ida ou não ao GR deve-se a este ser um dos locais prioritários no nosso trabalho de levantamento de campo, e que já conta com vários anos de monitorização, pelo que falhar a série de medições anuais seria um problema importante. Transportamos também connosco um equipamento UAV que utilizamos para cartografia dos locais de estudo e de monitorização do permafrost. Este modelo tem características distintas do UAV Suzanne Daveau (Sensefly ebee) que está de momento a ser utilizado pelo grupo do projeto PERMANTAR, Gonçalo Vieira e João Branco, em trabalho de campo na Ilha King George. Temos também urgência para testar se o nosso drone se irá comportar bem nos levantamentos de imagens para modelação topográfica, pois caso contrário, teremos que pedir aos permantar’ianos que nos façam chegar o seu drone antes de se irem embora (dia 26 de Janeiro). Aqui quem manda é o tempo, e nós ajustamo-nos aos seus desígnios, pois lutar contra eles, separados quase 2000 km da cidade mais próxima, é imponderável e irresponsável. Paciência e esperança requerem-se por estas bandas, e claro que acompanhadas sempre por uma generosa dose de flexibilidade e motivação. E perguntarão os leitores, o porquê desta apreensão toda, sendo que solução logicamente mais segura seria a de ficar com os dois drones. Bem, a resposta é que tratam-se de equipamentos muito caros, sensíveis no acondicionamento e transporte, e que devem viajar connosco como bagagem de mão, o que se iria acumular à já enorme quantidade de equipamento que transportamos, além dos constrangimentos das inspeções nas fronteiras, que normalmente nos pedem sempre imensa papelada para acompanhar todo o tipo de equipamentos científicos que trazemos. NAAAA!!!!!! Não é um cenário nada motivante, depois de uma longa e intensa campanha, de onde deveremos regressar completamente exaustos, para não variar, claro. A nossa “sorte neste mal-encarado dia de domingo” é que estávamos escalados para ficar de apoio à cozinha na Base Búlgara de St.Kliment Ohridsky, o que acabou por não influenciar as nossas atividades de campo, adiando apenas as nossas atividades de laboratório. As tarefas de apoio à base consistem em manter a cozinha limpa e organizada, participar na confeção dos alimentos, por a mesa, servir as refeições, … tarefas normais de uma casa, mas desta vez para um total de 22 pessoas. Estar nesta base não poderia ser mais aconchegante. Sinto que cheguei a casa, rodeada por uma data de irmãos, primos, tios, sempre com muito para conversar e discutir sobre situações práticas, ou histórias e aventuras dos próprios ou outros que por aqui passaram. O único problema é que não percebo nada de Búlgaro mas, o entusiasmo é tanto e tão expressivo, que dou muitas vezes por mim a rir como se estivesse perfeitamente dentro da conversação. Se não tivermos ao pé um dos nossos “tradutores oficiais” - normalmente o Sacho ou a Isabel – continuamos completamente às escuras no tema. No meio de 20 Búlgaros, sendo nós 2 portugueses, verificam-se por vezes algumas falhas de comunicação pois há sempre quem julgue que já houve uma alma caridosa a prestar-nos o serviço de tradução. Estas grandes reuniões ocorrem normalmente à hora do almoço (14h aqui na base, 17h em Portugal, 19h na Bulgária) e mais prolongadamente à hora do jantar (21h aqui na base, meia noite em Portugal, 2h da manhã na Bulgária). Mesmo com as tarefas de serviço na base, conseguimos terminar durante a tarde o teste e reprogramação dos sensores e estávamos mesmo entusiasmados com a ideia de os irmos instalar no local. Ainda não eram 19h00 (22h00 em Portugal) pelo que ainda teríamos cerca uma hora para instalar os sensores e voltar a tempo de ajudar nas tarefas da cozinha. Preparámo-nos para sair, cheklist de todos os materiais que iríamos necessitar, e preparávamo-nos já para comunicar ao chefe de base Yordan da nossa saída, quando alguém nos “recorda” da necessidade de estarmos todos presentes na reunião geral de carácter obrigatório agendada para as 20h. Esta informação havia sido comunicada durante o almoço mas ninguém se lembrou de nos “traduzir”. A frustração estava de certo patente na minha cara pois o chefe de base mostrou de imediato flexibilidade para que faltássemos à reunião. Obviamente que por respeito a todos, e especialmente ao chefe Yordan, não acedemos e ficámos – tratavam-se de comunicados muito importantes e urgentes dos quais teríamos de estar a par. A temperatura por estas bandas ronda geralmente 0 ºC, com algumas oscilações mas não ultrapassando normalmente os 4 ºC, nem descendo abaixo de cerca de -4 ºC durante o verão. Nos primeiros dois dias o corpo ressentiu-se, mas agora já estou mais adaptada. O forte vento é que cria uma desconfortável sensação térmica. Acordo dia 25 com a notícia de que o navio espanhol BIO-Hespérides viria buscar parte do pessoal das bases no dia 26. Lá ficarei eu sem qualquer companhia feminina (Deni, Isabel e Helena). À faceta infantil da minha mente, veio a ideia de esconder a Deni em algum lado, mas era impossível não darem por ela. Bolas! Foi dia de sessão fotográfica, apoiar nos preparativos para a saída do grupo de 9 pessoas no dia seguinte, e voltar a reprogramar todos sensores.
zuca
5/2/2016 18:21:49
Muito trabalho mas certamente uma grande aventura. Para quem nada sabe fica a perceber um pouquinho do funcionamento da base e de como o tempo é quem manda. gostava de ter visto algumas fotos. Os comentários estão fechados.
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