Pedro Guerreiro e Bruno Louro Após um pouco mais de uma semana de aclimatação às condições de cativeiro iniciámos há dias o processo de aumento gradual da água nos grupos experimentais. A água do mar aqui tem uma salinidade de 29-31 psu, a temperatura da água do mar tem variado entre 1.2 e 2.0 graus centígrados e o oxigénio dissolvido entre 10 e 11 mg/L, e o esforço tem sido para manter as condições no contentor o mais parecidas a estas. Fazemos várias monitorizações diárias e noturnas destes parâmetros, verificamos o comportamento dos peixes e também se respondem ao alimento como forma avaliar aproximadamente o seu grau de habituação ao novo ambiente. Também é necessário manter o mais frio possível as serpentinas que ajudam a refrigerar os nossos grupos controlo... tarefa quase diária é ir “cavar” neve. Outra tarefa é a substituição de parte da água para manter a temperatura, oxigénio e qualidade de outros parâmetros como os níveis de amónia, um composto que os peixes excretam mas que é bastante tóxico quando a sua concentração no meio aumenta. Com uma bomba elevamos água do cais para o nível do contentor e com mangueiras renovamos a água. Mas é necessário ferrar a bomba o que não é nada agradável quando a temperatura da água é pouco mais de um grau e a do ar por vezes está abaixo de zero! Cerca de metade da água dos tanques é mudada uma a duas vezes ao dia, ou de dois em dois dias, dependendo da temperatura ou da alimentação dos animais, mas apenas nos tanques inferiores, para não criar excessivo distúrbio nos tanques superiores onde estão os peixes. Até agora tudo bem, sem mortalidades a atribuir ao cativeiro e já uma habituação à nossa presença e actividades de manutenção. A aclimatação a temperaturas elevadas visa simular o que se poderia passar num processo de alterações climáticas. Assim vamos manter grupos controlo a 2.0 graus, um grupo em água aquecida a 4.0-5.0 graus, que simula a temperatura máxima no limite norte da distribuição desta espécie e um grupo a 7.0-8.0 graus, que constituirá um valor excessivo para a espécie. A aclimatação é gradual, mas mesmo assim rápida, pois subimos 0.5 graus por dia, e depois estabilizamos num período de cerca de uma semana à temperatura final. Queremos ver como a fisiologia é alterada, nomeadamente a resposta hormonal e o metabolismo de stress, e analisar o conjunto de genes que medeia estas respostas, e assim avaliar a capacidade destes animais de responderem a eventos agudos depois de um efeito mais ou menos crónico. Infelizmente as condições climáticas e a logística dificultam muito as experiencias de longo prazo nestas paragens, e o que temos é apenas uma fotografia da resposta a estes efeitos e não uma indicação clara de como a espécie poderá ser afectada. No entanto, o processo de adaptação é lento e ocorre por muitas gerações, e este grupo de animais, os peixes nototenídeos, evolui neste ambiente estável e frio por mais de vinte e cinco milhões de anos. Dado que os peixes na Antártida têm normalmente um tempo de geração longo, é presumível que este não seja suficiente para seleccionar as melhores características a tempo de, como espécie, responder aos desafios previstos para as alterações climáticas dos próximos cem anos – se as capacidades não existirem agora provavelmente não existirão num prazo tão curto e é isso que tentamos medir – a plasticidade molecular e funcional destes animais, genótipo e fenótipo.
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