Pedro Guerreiro e Bruno Louro A campanha do projecto FISHWARM III chega finalmente à Antarctica depois de alguns meses de preparação e atribulação com a grande quantidade de bagagens. Graças à Ana Salomé David e à Teresa Cabrita, foi possível trazermos todo o equipamento connosco. Obrigado! A 17 de Janeiro, cerca da uma da tarde, hora chilena, o voo DAP do Programa Polar Português aterra na pista de gravilha do aeródromo Teniente Marsh na Ilha do Rei Jorge. Nele vinham oito cientistas portugueses, mas também chilenos, brasileiros, búlgaros, italianos e espanhóis. À chegada trocam-se cumprimentos e tiram-se as fotografias da praxe enquanto as bagagens são descarregadas. Aqui tal como em qualquer low cost - que não é - caminha-se até ao edifício do aeródromo e enquanto alguns não vêem a hora de chegar, outros, como a nossa Miss Propolar, aproveitam para trazer as novidades da moda Antártica a estas paragens, calmamente desfilando pela passerelle que às vezes faz de pista, roubando as atenções ao Hercules C-130 da Força Aérea brasileira que está a ser desmantelado após um acidente na aterragem num dia de tempestade. À nossa espera estão vários membros da 32ª CHINARE, a Expedição de Investigação Antarctica Chinesa, incluindo o chefe da base Great Wall, onde iremos ficar alojados nos próximos cerca de 45 dias, enquanto prosseguimos as nossas experiências na fisiologia dos peixes antárcticos, na continuação das campanhas FISHWARM I e FISHWARM II, realizadas em 2012 e 2013 na estação Henryk Arctowski, noutra zona da Ilha. As bagagens são descarregadas na praia onde membros da tripulação do navio oceanográfico espanhol Hesperides esperam para levar a bordo os cientistas que se deslocam para as outras ilhas do arquipélago das Shetland do Sul. A baía está cheia de icebergs, alguns tão grandes que poderiam ocupar facilmente vários quarteirões numa cidade e fazem com que os navios, alguns com cerca de 50 metros de comprido pareçam apenas pequenos pontos. Nós ficamos aqui perto, e carregamos tudo em três veículos para seguirmos para Great Wall, a 2.5Km de distância do aeródromo, na zona sueste da Península de Fildes. A base Chinesa foi inaugurada em 1985 numa pequena área perto do mar, mas desde então já sofreu uma grande remodelação, com mais construção e expansão para zonas mais elevadas, e os edifícios principais, como o refeitório e zona de lazer, os dormitórios, o gerador e sobretudo os laboratórios são novos, espaçosos, confortáveis e bem equipados. Hoje é, a par da base da Coreia do Sul, uma das mais bem apetrechadas da ilha. Eu e o Bruno partilhamos um quarto no edifício habitacional. No entanto os chuveiros para os duches encontram-se noutro edifício, o que torna a rotina matinal um pouco mais complicada. Connosco são 41 os habitantes da base, de ambos os sexos, e por isso existem regras e horários para o uso das zonas comuns. Também as refeições, às 7.30, 12 e 18 horas, hora chinesa – sim, porque em Great Wall é uma hora menos que nas restantes bases da ilha e assim 12 horas menos que Pequim – obedecem a alguns preceitos: os lugares à mesa são marcados, os utensílios também são sempre os mesmos e mantidos limpos sobre a mesa. As senhoras têm a sua própria mesa. Já quanto a fumar as regras são bem mais difusas… e parece ser permitido em todas as áreas comuns. Infelizmente poucos falam inglês e a tradução nem sempre é fácil. Mesmo aqui na Antárctica, o choque de culturas pode ser grande.
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