Pedro Guerreiro e Bruno Louro De manhã temos uma reunião com o responsável pela integração dos cientistas estrangeiros na base, na qual explicamos o que queremos fazer e que apoio será necessário. Para além de saírmos para pescar, vamos necessitar de manter peixes vivos, à temperatura da água do mar, que neste momento, medida no cais da base, varia entre 1.6 e 2 graus centígrados. Infelizmente a camara frigorífica da base está avariada e precisamos de alguma imaginação. Fazemos uma visita a vários pontos e fica acordado que as várias opções possíveis serão estudadas. Alguns cientistas chineses também utilizam peixes como modelos experimentais, mas para os seus estudos não precisam de animais vivos o que facilita a logística. Quase todos os peixes que conseguimos encontrar nesta região são genericamente chamados bacalhau Antártico, apesar de nada terem que ver com bacalhaus. Um dos dois tailandeses que aqui estão, os únicos não chineses para além de nós, também usa peixes, que obtém pescando entre as rochas na maré baixa. Mas estes são sobretudo Notothenia coriiceps, o Bullhead rockcod, uma espécie que os brasileiros chamam de cabeçuda, em contraste com o peixe que nós queremos, a Notothenia rossii, ou Marbled rockcod, mais elegante mas também mais difícil de capturar a partir de terra, pelo que iremos necessitar de sair em barco. Após o almoço, e a luta para utilizar os pauzinhos de forma mais ou menos (mais menos) correcta, saímos para verificar a zona de costa circundante, onde foram capturados os peixes. Rapidamente percebemos que sem acesso para veículos é praticamente impossível transportar os animais vivos até aos tanques, mesmo que os pudéssemos pescar naqueles pontos a cerca de 500 metros da base – confirma-se que o barco é sem dúvida a melhor opção, como já ocorrera em Arctowski. Ao contrário do que acontecia nas costas da Baia do Almirantado, não encontramos qualquer mamífero na praia – nada de elefantes-marinhos ou leões-marinhos, e apenas alguns pinguins de barbicha isolados que nos cumprimentam. Aparentemente as colónias de pinguins nesta zona localizam-se todas na Ilha Ardley, aqui relativamente perto, mas zona de acesso restrito. Na costa vemos gaivotas, algo nada comum em Arctowski, e um pouco mais para o interior encontramos vários casais de skuas em nidificação nas colinas cobertas de líquenes. Ao longe já podemos avistar a Ilha Nelson, e também alguns Petréis-gigantes que voam em redor dos ilhotes de Half Three Point, outra zona protegida na ponta sul da Baía de Fildes. Aqui no interior ainda há bastante neve – tem sido especialmente abundante este ano, segundo dizem, mas a vista para a baía é espectacular, com o mar coberto de icebergs de todos os tamanhos e formas. De volta a Great Wall decidimos dar uso ao material de pesca. Com um pouco de carne de porco cedida pelo cozinheiro fazemos algumas tentativas lançando os anzóis para o mais longe possível da costa. Ao fim de algum tempo, e já prestes a desistir, decidimos pescar mesmo junto ao cais, e voilá – uma cabeçuda de mais de meio quilo, que depois de devidamente documentada fotograficamente é devolvida à água. Ainda sem tanques não se justifica mantê-la, mas mesmo assim fazemos sucesso à hora do jantar.
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