DIÁRIOS DE CAMPANHA
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Teresa Cabrita, Diretora Executiva PROPOLAR Pela 6 ª vez, Portugal contribui para a logística científica na Antártida fretando um avião que transportará cientistas e técnicos entre Punta Arenas no Chile e o aérodromo Teniente Marsh na ilha de Rei Jorge, na Antártida (ida e volta).
A missão decorrerá no dia 19 de Janeiro e será a âncora da campanha antártica portuguesa 2016-17, que decorrerá até ao mês de Março com o apoio de vários países parceiros. Os voos transportarão 122 membros dos programas português, búlgaro, chileno, chinês, espanhol e sul coreano. Uma vez que Portugal não possui infraestruturas permanentes na região antártica, as campanhas antárticas portuguesas são baseadas na forte cooperação internacional, estabelecida pelo PROPOLAR durante a última década, com países como a Argentina, Bulgária, Brasil, Chile, China, Espanha, Estados Unidos da América, Republica da Coreia e Uruguai, e na gestão e partilha de logística com os programas polares parceiros. A Campanha Antártica Portuguesa 2016-17 que se desenrolará até Março 2017 é financiada pelo Programa Polar Português (PROPOLAR), através da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (MCTES). A campanha antártica PROPOLAR 2016-17 integra 7 projetos de investigação, levando 10 cientistas portugueses e 3 investigadores espanhóis, a várias áreas da Península Antártica, nomeadamente na ilha do Rei Jorge, ilha de Decepção e ilha Livingston (Arquipélago das Ilhas Shetland do Sul), na Caleta Cierva (Costa Danco), e na Ilha de Amsler (Arquipélago de Palmer). Os projetos nacionais são coordenados por 6 universidades e centros de investigação públicos, principalmente nas áreas das ciências biológicas, da criosfera, do ambiente e da Terra, alguns visando estudar os efeitos das alterações climáticas. Os projetos são os seguintes: ANTIMUNE - Evolução e constrangimentos da resposta imunitária em peixes nototenioides, Coordenador: Adelino Canário (Centre for Marine Sciences, Universidade do Algarve - CCMAR-UAlg), email: acanario@ualg.pt. Link do projeto: http://www.propolar.org/antimune.html. CIRCLAR - Cartografia e monitorização de círculos de pedras ordenados com imagens de ultra elevada resolução na Antártida Marítima, Coordenador: Pedro Pina (Centro de Recursos Naturais e Ambiente, Instituto Superior Técnico, Universidade de Lisboa - CERENA/IST-ULISBOA, email: ppina@tecnico.ulisboa.pt. Link do projeto: http://www.propolar.org/circlar.html. CRONOBYERS - Deglaciação holocénica das áreas livres de gelo na ilha Livingston (ilhas Shetland do Sul, Antártida), Coordenador: Marc Oliva (Centro de Estudos Geográficos, Instituto de Geografia e Ordenamento do território, Universidade de Lisboa - CEG/IGOT-ULISBOA), email: oliva_marc@yahoo.com. Link do projeto: http://www.propolar.org/cronobyers.html. GEOPERM III - Estudo geológico, geoquímico e do permafrost nas Penínsulas de Fildes e Barton, Ilha King George, Antártida, Coordenador: Pedro Ferreira (Laboratório Nacional de Energia e Geologia – LNEG), email: pedro.ferreira@lneg.pt. Link do projeto: http://www.propolar.org/geoperm-iii.html. Hg-PLANKTARCTIC - Interações entre fito- e zooplâncton e o ciclo do mercúrio, em águas da Ilha de Decepção com fontes vulcânicas de mercúrio, Coordenador: Carla Gameiro (Centro de Ciências do Mar e do Ambiente, Faculdade de Ciências, Universidade de Lisboa – MARE/FC-ULISBOA), email: clgameiro@fc.ul.pt. Link do projeto: http://www.propolar.org/hg-planktarctic.html. PERMANTAR 2016-17 - Permafrost e alterações climáticas no ocidente da Península Antártica, Coordenador: Gonçalo Vieira (Centro de Estudos Geográficos, Instituto de Geografia e Ordenamento do território, Universidade de Lisboa - CEG/IGOT-ULISBOA), email: vieira@campus.ul.pt. Link do projeto: http://www.propolar.org/permantar-2016-17.html. PERMATOMO - Estudo geoeléctrico da evolução do permafrost nos sítios CALM e Papagal junto à Base Antárctica Búlgara (Ilha Livingston) e junto à Base Antárctica Coreana (Ilha King George) Antártida, Coordenador: António Correia (Institute of Earth Sciences, Universidade de Évora ‑ ICT-UEvora), email: correia@uevora.pt. Link do projeto: http://www.propolar.org/permatomo.html. Portugal beneficia assim das excelentes condições das regiões polares como pontos de vantagem para o desenvolvimento da ciência portuguesa, da investigação e de tecnologias de ponta, em áreas e temas científicos que permitem realizar ciência de excelência, num contexto de cooperação e colaboração internacionais.
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Depois de perder uma hora na vida a voar para Madrid, já a estou a recuperar e o saldo, quando aterrar em Santiago do Chile, até será positivo – um bónus de 2 horas nas pouco mais de 438 mil horas já vividas até agora. Isto começa bem!! Entretanto a única coisa interessante a relatar nesta viagem, com o avião completamente apinhado de pessoas, tem a ver com a nova experiência sensorial, com a designação “concertos a bordo”, que a Ibéria Airlines proporciona aos seus clientes nas viagens intercontinentais, de modo a que as longas horas de trânsito não custem tanto a passar. O concerto criteriosamente seleccionado para esta viagem, que durou cerca de 13 horas, teve como título “concerto nocturno sobre o atlântico, de crianças para adultos, em si bemol maior”, interpretado por um fabuloso trio de lindos bebés com um vozeirão único e inalcançável, gerado quando as suas perfeitas e doces boquinhas se escancaravam, acompanhados por um espernear e esbracejar desenfreados e intensos, para que os sons magnificamente gerados, nas correspondentes cordas vocais, se espalhassem por toda a assistência a bordo do airbus A320, que cumpria escrupulosamente o silêncio, que tem de ser de oiro quando se ouve um concerto desta magnitude. Depois do “entusiasmo” inicial ao ouvir a miscelânea conjunta das três vozes, incluídas no intervalo de escalas sonoras que vai do tenor-dramático ao do barítono-lírico, que me deixaram os olhos arregalados e as pupilas dilatadas, procurei nos meus acessórios, cuidadosamente preparados em casa, o equipamento que metaforicamente me atribuía o passaporte para uma calma e apaziguante noite sobre o atlântico: um comprimidinho de Olanzapina Mylan, a venda-para-os-olhos imprescindível e os insubstituíveis tampões-para-os-ouvidos, estrategicamente conjugados com a bela almofadinha e cobertor gentilmente cedidos pela Iberia. E é então que tive o meu primeiro calafrio desta missão – a percepção do esquecimento dos tampões…. As horas passaram, não sei quantas, nem quis saber, lá fechei os olhos para mais tarde os abrir como resultado de uma tremenda sede que tomou conta dos meus sensores cerebrais. Toca de carregar no botãozinho para chamar a assistente de bordo – sem resultado algum!! Depois de várias insistências, sem resposta da tripulação, decidi experimentar as minhas capacidades artísticas de criar um som harmonioso, ao carregar continuamente no botão de chamada das “hospedeiras”, decidido a somente parar até me aparecer uma! La acabou por dar à costa da fila 29 “um” hospedeiro, com cara de caso - com uma grande telha - diria um simples português – perguntando-me, um pouco irritadamente, o que eu queria? Lá lhe respondi, com uma expressão desconsolada, que estava muito desidratado e que necessitava urgentemente de um copinho de água. A sua reacção deixou-me boquiaberto: fez-me olhar para o sinal que indicava a necessidade de estar com os cintos apertados, referindo-me, em tom de complemento, que nesta situação de elevada turbulência aérea a tripulação não estava autorizada a sair dos seus lugares para acudir aos passageiros e satisfazer as suas necessidades mais prementes, virando-me imediatamente as costas e abalando para o seu poiso na cauda do airbus!! Momentaneamente, fiquei baralhadíssimo, pois não se sentia uma única vibração!! O avião atravessava o atlântico calma e serenamente….
La fui buscar a teoria ubiquamente posta em prática na ciência – teoria das múltiplas hipóteses alternativas – para concluir que toda a tripulação tinha assistido entusiasmada e integralmente a este fabuloso concerto nas nuvens, e que agora se regozijavam de um merecido descanso!! A luz dos cinturones de seguridad só se apagou ao fim de uma hora. Finalmente consegui, então, hidratar-me. Acordei, ainda nas nuvens, com a paisagem magnífica dos Andes… Hoje informaram-nos, durante o pequeno-almoço, que o dia ía ser atarefado e que precisavam da nossa ajuda na cozinha da parte da manhã e ao final de tarde, do qual nos disponibilizamos prontamente. A nossa tarefa foi descascar, lavar e cortar legumes que passo a especificar: eu fiquei responsável por uma enorme quantidade de um legume que desconheço o nome mas, não é cebolinho nem alho francês e o Pedro ficou com uma responsabilidade mais diversa começando pelas batatas, couve coração, cogumelos, acabando por me ajudar no legume mistério. É de salientar a grandiosidade da cozinha e respetivos utensílios nomeadamente as facas, no qual fizemos de questão de elucidar-vos com algumas fotografia. A compreensão com o cozinheiro foi meramente ilustrativa pois ele só fala chinês, mas, lá nos conseguimos entender, cumprir as tarefas que nos atribuíram e trabalhar harmoniosamente. Entretanto chegou uma cientista chinesa para nos ajudar e, para nossa satisfação, tem umas noções de inglês o que tornou, a partir desse momento, o diálogo e entendimento mais percetível e acessível. Apesar do cheiro a comida estar impregnado na nossa roupa, esta experiência foi bastante engraçada e prazerosa pois nunca tínhamos vivenciado tal função em tão larga escala. Em sinal de agradecimento, ainda tivemos uma oferenda, por parte do chefe de cozinha, que nos cortou uma laranja, muito doce, para comermos. Modéstia à parte, trabalhámos bem em equipa e fomos rápidos e eficientes, o que agradou o chefe. Para terminar bem o dia, finalmente, colocaram o contentor no cais para que possamos começar a trabalhar!
Em Great Wall, como em todas as bases antárcticas, o calçado utilizado no exterior fica à entrada dos edifícios. Muitas têm mesmo uma antecâmara para o efeito. É que dependendo do tipo de investigação e zonas percorridas, as nossas botas podem vir molhadas, por neve, gelo, água ou água salgada, enlameadas, cheias de lodo, com restos de vegetação, com dejectos de pinguim, ou com misturas avulsas destas várias possibilidades. Assim, cada vez que entramos descalçamos, e cada vez que saímos calçamos! E no interior dos edifícios a rotatividade dos chinelos chega mesmo a ser algo desconcertante, e nem sempre os há para todos, com caixas cheias de peças avulsas a aparecer cada vez que aumenta o número de convivas para o jantar. Aqui em Great Wall a nossa rotina diária leva-nos a quatro edifícios: o dormitório, o refeitório, os banhos e o laboratório. Calçamos de manhã, descalçamos para o banho, calçamos para voltar ao quarto, descalçamos quando chegamos ao dormitório, calçamos para sair para o pequeno-almoço, descalçamos para entrar no refeitório, calçamos para sair, descalçamos quando chegamos ao laboratório, calçamos para ir recolher material ou verificar os peixes, descalçamos para voltar a entrar, calçamos para ir almoçar, descalçamos ao entrar no edifício, calçamos para sair e assim sucessivamente até que descalçamos para ir dormir. Uff...!!! Neste processo trocamos de chinelos dezenas de vezes por dia, que passam pelos dois pés dos vários locatários da base... há muitos pares que não estão juntos, e cada um calça o que está mais à mão... ou ao pé neste caso. E nas horas de ponta a quantidade de pessoas a chegar deixa na antecâmara um alvoroço de pares de botas espalhadas pelo chão... quais são quais à saída? Para complicar, o contingente chinês recebe do seu programa antárctico dois pares de botas distintas, mas idênticas para todos... é de facto interessante que não as confundam. Tanto foi o caos que nos últimos dois dias um dos membros da equipa da base criou uma espécie de parque de estacionamento para sapatos, com fita adesiva a delimitar zonas para deixar as botas... Ora é aqui que entra a saga das botas viajantes: as minhas! As minhas botas não têm nada que ver com as dos chineses e no entanto desapareceram logo no primeiro dia de Antarctica. Explico: dia 8, após o almoço, viemos para o laboratório e as botas ficaram à entrada, como deve ser. E quando quis sair... não estavam. Depois de verificarmos com o pessoal e cientistas da base lembrá-mo-nos que por essa hora fomos visitados por um grupo de turistas... chineses... e que provavelmente alguém trocou as botas. Ora agora perguntam vocês como pode alguém não reconhecer as suas proprias botas. Pois, pergunto eu também. Mas parece que pode acontecer... e assim começa a história. Falámos com Alpha Charlie, AC, o nome de código de Alejo Contreras, responsavel da DAP-Antartic Airlines e cicerone destes turistas, que entretanto haviam já partido no voo de volta a Punta Arenas. Et voilá, com a descrição e fotos das botas, AC conseguiu encontrar o distraído “meliante”, recuperar as botas e fazer com que as colocassem num voo de volta dentro de 2 dias. E pronto, pensam vocês, acabou aí a história, com um par de botas extra, sem dono e perdido algures em Great Wall. Pois era bom mas não foi assim. As botas voltaram a King George num voo que trazia mais alguns chineses e AC deixou-as com o chefe da base chinesa para as trazer... para a base. Este, que entretanto tinha à sua responsabilidade os outros chineses em trânsito para a base brasileira Comandante Ferraz, em reconstrução, não percebeu bem as indicações de AC, e levou o grupo de chineses (e às minhas botas) até à praia para embarcarem no navio brasileiro para a Baía do Almirantado, acessível por helicóptero ou 3 horas de navio. Distribui-lhes o equipamento e sem se aperceber, entregou as minhas a botas a um dos operários chineses que havia recebido apenas dois dos três pares devidos. E assim, estas botas foram fazer mais um percurso sem mim, e sem o meu conhecimento... até que AC voltou a Great Wall para recolher as botas deixadas pelo turista chinês (que neste momento continuam por identificar definitivamente...) e percebemos que as minhas não voltaram... Depois de esclarecermos o que se teria passado, contactamos a comitiva chinesa em Ferraz, o chefe directamente, e eu através do interprete chinês-brasileiro da empresa de construção que conheci o ano passado aqui em Great Wall.
Mais algum trabalho de detective, num twist de princípe da Gata Borralheira, e eis que foram novamente identificadas as botas! Mas agora, como as fazer voltar a Great Wall? Eis que num conjunto de coincidências, um helicóptero fazia hoje, dia 13 Janeiro, o périplo entre algumas bases... e assim, ás 15 horas de hoje, 120 horas depois do seu desaparecimento, com quase 5000 km percorridos, entre avião, navio e helicóptero, e com a intervenção de pessoas na Antárctica, América do Sul e na China, volto a reunir-me com as minhas queridas botas!!! A cooperação internacional juntou-se por uma grande causa! O tempo passa e estamos a ficar algo apreensivos quanto à capacidade de levarmos a cabo todas as actividades planeadas durante a estadia. O chefe da base diz-nos que provavelmente só poderá disponibilizar o contentor a 14 ou 15 de Janeiro, o que nos cria alguma inquietação. De facto o navio deixou a baía e rumou ao estreito de Bransfield para fazer algum trabalho de investigação e recolha de dados e amostras... entretanto os restantes materiais que faltam carregar ficaram no cais e nós só podemos ver e esperar. Na realidade começamos a fazer planos alternativos e a re-calendarizar experiências. A verdade é que a investigação na Antárctica, por melhor planeamento que tenha, requer uma grande dose de flexibilidade e vimos preparados para vários cenários. Vamos ter de aguentar mais uns dias. Entretanto esta manhã aproveitámos o bom tempo para um pequeno passeio pelo intertidal perto do estreito que separa King George Island de Nelson Island. Entre as rochas é possível encotrar várias poças de maré que albergam várias espécies de algas e invertebrados como lapas e anfípodes. Fizemos alguns videos e também procurámos por uma espécie de pequenos peixes antárticos que poderão ser bons modelos para futuras investigações. Estes, da espécie Harpagifer antarcticus, vivem entre as rochas e é necessário vira-las na maré baixa para os encontrar. Pela tarde voltámos a Escudero, desta vez para, com mais tempo, falar com Marcelo Gonzalez, director cientifico do INACh, instituto da Antaractico Chileno, e Luis Vargas, outro conhecido e colaborador, professor na Universidade Austral do Chile, que nos trazia alguns materiais desde Punta Arenas. Discutimos a possibilidade de realizarmos algumas actividades conjuntas nesta época e assistimos à sessão de palestras que ocorrem todas as quintas em Escudero. À noite mais um jantar de cerimónia... agora para dizer adeus aos cientistas que vão embarcar no Xue Long, e com a presença do director geral da campanha Antarctica chinesa... e mais alguns discursos. O navio voltou a meio da manhã e carregou a restante carga. Pode ser um sinal de que podemos finalmente começar a instalar os tanques. Não renegámos o convite para visitar o Xue Long. Este quebra-gelos é enorme, com 167 metros de comprimento e 25 de largura e mais de 8 conveses, funciona como porta-contentores e base de helicóptero, e alberga laboratórios de oceanografia, química marinha, microbiologia, climatologia, entre outros. Realmente um gigante, este dragão das neves, a tradução de Xue Long.
Ontem o vento soprou forte todo o dia e as actividades decorreram dentro de portas. Aproveitámos para desencaixotar e instalar e calibrar algum do equipamento de laboratório que trouxemos. Estivemos também a verificar se todo o material que havíamos deixado cá no ano anterior e estava em bom estado. Tudo parece em ordem – as bombas, as mangueiras e os tanques, e também a parafernália de laboratório e alguns reagentes. Mas não podemos avançar muito mais pois o cais continua ocupado. Outra fonte de frustação é a dificuldade de comunicar com o exterior. A ligação de internet está extremamente lenta e apenas conseguimos esporadicamente enviar e receber mensagens por WhatsApp. O email, skype, ou mesmo a navegação em sites estão completamente inacessíveis. Talvez seja pela grande quandidade de pessoas a tentar conectar, pois nestes dias, tal como nós, a maior parte dos cientistas chineses espera para começar a trabalhar no campo e no laboratório. Para ajudar, o google, o gmail e o facebook estão interditos. Ao final do dia pudemos caminhar um pouco pela orla junto à base e voilá, eis que encontramos o nosso primeiro pinguim da época. Um gentoo, ou pinguim papua. Segue-se grande sessão fotográfica. Estamos no final da época de reprodução e há uma colónia aqui perto, na Ilha Ardley, pelo que é frequente encontrarmos alguns animais isolados nas praias perto das bases. Com certeza iremos ver mais nos próximos dias. À noite temos o jantar de recepção aos recém-chegados, com apresentação melhorada, iguarias várias e direito a discursos emotivos... em chinês e sem legendas! Hoje passámos a manhã a preparar soluções. Falta-nos algum material, como micropipetas, que deverão chegar no navio espanhol Hespérides, já algo atrasado relativamente ao calendário previsto, e temos de improvisar com recursos low-tech e alguma boa vontade dos cientistas chineses. Durante a tarde tivemos oportunidade de visitar a Vila das Estrelas, a zona habitacional da base Frei da força aerea chilena, e base cientifica chilena de Escudero, na Baía Fildes, a cerca de 2 quilómetros de Great Wall. Mas também aí há demasiada confusão. Está a começar a época para a maior parte dos programas antarticos dos vários países, e Escudero serve como plataforma giratória para muitos investigadores em trânsito assim como apoia e aloja vários que fazem o seu trabalho aqui na península Fildes. Marcelo Gonzalez, um velho conhecido e o actual chefe da base não tem mãos a medir com a quantidade de pessoas e bagagens que chegam e circulam entre aviões e navios – já vimos aterrar o avião da DAP-Antarctic Airlines, os Hercules C-130 chileno e brasileiro e na baía estão ancorados os dois navios brasileiros, Ary Rongel e Comandante Maximiano, o navio chileno Viel, e ainda um navio de investigação fretado e outro de turismo. Falamos rapidamente entre canecas de café e deixamos os detalhes de trabalho e colaborações para outro dia. Fazem-se turnos para jantar na sala de comer e nós voltamos a pé para Great Wall. Eram 11.30 do dia 8 de Janeiro quando aterrámos em King George Island. Percorremos a pé o trajecto entre o avião e o edificio do aeródromo. Para Cármen é a primeira vez na Antárctica mas este ano há muito pouca neve e não está muito frio o que a surpreendeu. À nossa espera estava o chefe da base chinesa, Dr. Chen Bo, com vários carros – afinal connosco chegaram também cerca de trinta chineses. Na base Great Wall fomos distribuídos pelos vários quartos e enquanto esperávamos pelas bagagens foram-nos explicadas as regras de segurança, horários para duches, etc. Cada um é alojado num quarto partilhado. Calham-nos dois geólogos tailandeses, eu fico com o Pitsa e a Cármen com a Tuk. Fizemos uma visita rápida aos vários edifícios – o dormitório, a cozinha e refeitório, o edifício dos geradores, caldeiras, com banhos e ginásio, o laboratório e a estufa onde crescem alguns dos vegetais consumidos na base – impressionante o trabalho do Dr Chen – médico de profissão e jardineiro improvisado da equipa anterior.
Na base reina grande azáfama pois ao largo está o Xue Long, o navio antártico chinês, e quase todos estão envolvidos na descarga de contentores carregados com materiais científicos e de manutenção da base, víveres, etc. Por outro lado, da estação para o navio são transportadas toneladas de ferro-velho que restaram da reconstrução da base. É bom perceber que existe uma grande preocupação em minimizar o impacto ambiental da base e percebemos que é uma tarefa necessária e demorada, mas infelizmente vai atrasar o início dos nossos trabalhos pois o cais onde pretendemos colocar o contentor com os tanques está ocupado por ferros, cabos, gruas, maquinaria pesada, rebocador e barcaças. Antimune de compras em Punta Arenas! Finalmente chegados, banhados, dormidos e alimentados, é hora de complementar o nosso equipamento com alguns materiais que nao era pratico ou economico transportar... precisamos de uma bomba submersivel, tubagens, válvulas e extensões eléctricas. Deixamos o hotel Endurance (por aqui sao muitas as referencias à exloração antárctica e daqui saiu o navio que resgatou a tripulação de Shackleton) e o primeiro passo é tomar um "colectivo" ate a zona comercial. Estes taxis sao carros de quatro portas que funcionam como mini bus para ate 5 passageiros que vao entrando e saindo e cada viagem custa 450 pesos independentemente do destino. Na loja começámos a recolher o material... com o cuidado de verificar se tudo é compatível entre si mas também com as instalações e tomadas eléctricas da base onde vamos ficar... é que depois não há trocas nem substitutos... um euro vale cerca de 705 pesos chilenos e tantos zeros nao ajundam a converter rapidamente os preços. Uma ferramenta multifunções 31 euros... mangueira 21 euros... bomba...255 euros... e vemos também que por estas partes o "canario" esta bem valorizado... Um canario... calculem voces. Com isto e mais alguns tubos e acessórios juntámos outro volume e mais 25 kilos à bagagem... felizmente os representantes do voo da Antarctica Airlines (sim... existe), que opera o voo fretado pelo programa antártico da coreia do sul KOPRI, dizem-nos que não há problema. Compras feitas temos um dia livre em Punta Arenas. É sábado e há alguma azáfama no centro. Punta Arenas estende-se por uma grande área em paralelo ao estreito de Magalhães... aliás, dois portugueses estão na genese da cidade e do seu sucesso. Fernão de Magalhães, indirectamente por descobrir o estreito, e José Nogueira, que dinamizou o comércio e o tráfego marítimo que trouxe prosperidade a esta cidade de emigrantes... aqui a miscelanea de apelidos croatas, escoseses, espanhóis, portugueses, alemães, etc é evidente. Nos nomes das ruas, nos clubes, escolas e ginásios, nas lojas e sobretudo num dos ex-libris da cidade... o cemitério... com os ciprestes cuidadosamente podados e onde cada jazigo foi construido para ultrapassar o anterior na epoca aurea do comercio através do estreito. Hoje, o turismo, o comércio associado, o entreposto pecuario e as actividades associadas a exploracao de combustiveis fósseis sao o motor da economia. Ao fim do dia jantamos num dos restaurantes que ilustra a quantidade de nacionalidades que por aqui passam em busca de locais tao impressionantes como o Parque Nacional das Torres del Paine... um dos locais emblematicos da Patagonia. Jantamos bem e de faca e garfo porque a partir de amanhã será de pauzinhos.
Domingo 8, 7am. Aeroporto... 9am Antarctica aqui vamos nós. Após 12h de espera em Londres e mais 14horas de voo, chegámos finalmente ao Chile. Depois de passar pela alfândega e explicar que todas as nossas caixas cheias com instrumentos, materiais de dissecação e tubos são para investigação e que não somos parte de um grupo de traficantes, seguimos para despachar o material.... e voltarmos a explicar o mesmo no controlo de bagagem para o voo até Punta Arenas, local para a partida de avião que nos leva até à Ilha de Rei Jorge, uma das portas de entrada para a Antártida a partir destes lados do globo. Segue-se mais 12 horas de espera no aeroporto.... e assim, num périplo de quase 48 horas, passamos dos 17 graus de Faro, para os 6 graus de Londres, para os 34 graus de Santiago … e esperam-nos 10º em Punta Arenas. Ana David, Equipa PROPOLAR o PROPOLAR apoiou a 8ª Conferência Portuguesa de Ciências Polares, realizada no Instituto de Geografia e Ordenamento do Território da Universidade de Lisboa nos dias 26, 27 e 28 de Outubro de 2016 (ver mais informação em http://cienciapolar.weebly.com/). Aproveitando este encontro da Comunidade Polar Nacional, o Programa Polar Português promoveu, no dia 30 de Outubro, a sua 6ª Reunião de Preparação de Campanha, a qual pretendeu enquadrar o panorama logístico da campanha atual, transmitir outras informações importantes ao desenvolvimento dos projetos e promover o intercâmbio de experiências entre os investigadores. A reunião deu espaço à apresentação dos projetos enquadrados nesta Campanha PROPOLAR 2016-17 e ao curso de Suporte Básico de Vida, ministrado pelo Clube de Reanimação Cárdio Respiratória, com o apoio do Centro de Medicina Desportiva (CMD/IPDJ) de Lisboa. APRESENTAÇÂO DE PROJETOSFORMAÇÃO EM SUPORTE BÁSICO DE VIDA |
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