A CAMPANHA
PROPOLAR 2011-2012
Novembro de 2011 a Abril de 2012
PROPOLAR 2011-2012
Novembro de 2011 a Abril de 2012
08-01-2012
Os nossos primeiros dias em Livingston foram bem preenchidos. Subimos várias vezes às nossas áreas de trabalho nas encostas de Livingston para recolher sensores que estão instalados em várias estruturas. Alguns estão pendurados em fios a várias alturas e esses fios estão dentro de perfurações de alguns metros feitas noutras campanhas. Os dados desses sensores vão dar-nos uma boa visão da variação térmica em profundidade nestas paragens e de como se faz a transmissão de calor. Outros sensores estão instalados à superfície ao longo de estacas de madeira, a alturas variadas. Através desses conjuntos de sensores conseguimos (após correr um algoritmo matemático sobre os dados brutos) descobrir quando é que houve cobertura de neve nestas áreas, quanto tempo durou e conseguimos verificar o efeito de isolamento da cobertura nivosa. Há ainda sensores de temperatura do ar instalados a alguma altura do solo, sensores de temperatura de solo, máquinas fotográficas pré-programadas para tirar um dado número de fotografias de uma área ao longo do ano e uma estação meteorológica completa. Durante estes últimos 3 dias estivemos sempre de volta dos sensores e a adaptar aos rigores e ritmos de trabalhar neste tipo de campo. Já temos boas séries de dados para levar para casa e analisar. Mas o maravilhoso disto tudo é mesmo chegar à base e termos alguns pinguins à nossa espera, podermos descansar, aquecer e secar a roupa por vezes coberta de neve e quase sempre encharcada. 08 de Janeiro de 2012 Tínhamos planeado que o dia de hoje seria passado na íntegra na base, a preparar e calibrar o equipamento que vamos levar para o campo e a ajudar no que fosse necessário nas limpezas, uma vez que aos domingos tal nos poderá ser solicitado pela Edith Flores, chefe da base. No entanto, logo de manhã, antes do pequeno-almoço, pergunta-nos ela se queremos acompanhar dois grupos de biólogos chilenos ao glaciar Collins durante cerca de 3 horas onde iriam fazer diversas amostragens. Só havia uma resposta possível. Bem equipados, por causa do frio, do vento e dos quase certos salpicões (de salpicos…), saímos numa zodiac da baía de Fildes em direcção ao glaciar. Neste percurso marítimo, que durou cerca de meia hora, bateu-nos mais uma vez a sorte à porta, “há baleias na baía”, anuncia-nos o condutor da zodiac! Depois de ver a olho nu a primeira à superfície, passei a ter a máquina fotográfica sempre apontada, sabe-se lá para onde, na expectativa de agora registar mais alguma eventual aparição. E as baleias não se fizeram goradas nem nos defraudaram as expectativas, elas foram-nos aparecendo e presenteando várias vezes com os seus graciosos movimentos. As minhas fotos não ficaram grande coisa, mas o que vê na água a meio da imagem que acompanha este post é mesmo uma baleia. Depois de desembarcarmos fizemos um pequeno reconhecimento na parte livre de gelo, onde deparámos com grande tapetes de musgos e uma grande densidade de líquenes, obrigando-nos, a saltar de pedra em pedra para não os pisar. A visão muito próxima da frente do glaciar foi também verdadeiramente espectacular! Voltámos ainda a tempo de almoçar na base, onde nos foi servida uma excelente cazuela, prato típico chileno parecido com o nosso cozido. Depois de almoço, decidimos que a primeira região onde iremos trabalhar com detalhe será na Meseta Norte da ilha, e dedicámo-nos também às tarefas preparatórias do equipamento, tais como testar nas redondezas da base o novo GPS diferencial, comprado antes de virmos, e iniciá-lo com os pontos coordenados aqui em King George e calibrar também todos os sensores de medição das temperaturas na neve. Estamos já preparados para amanhã começarmos a intensa (e extensa) fase de aquisição de dados. Pedro Pina 7 de Janeiro de 2012
Hoje fizémos o reconhecimento da parte norte da Península Fildes: a Meseta Norte. Saímos pelas 9h00 e regressámos por volta das 15h00, tendo tido desde um forte nevão que durou (felizmente) apenas uns 10-15 minutos, a um céu nublado mas com excelentes abertas. O vento, esse esteve sempre moderado a forte, fazendo baixar bastante a sensação térmica. A temperatura do ar foi quase sempre de cerca de +1ºC, a temperatura típica neste sector da Antártida Marítima durante o Verão austral. O objectivo dos reconhecimentos que temos vindo a fazer é decidir quais os locais que vamos estudar de forma mais detalhada durante a missão. Apesar de eu já ter estado em Fildes há 2 anos, estive apenas de passagem, durante cerca de 3 dias, mas quase sempre fechado na base russa, porque estava um nevoeiro muito denso. Por isso, apenas conhecíamos Fildes das imagens de satélite detalhadas, o que é manifestamente insuficiente para escolhermos, a priori, quais as áreas mais interessantes para estudar. A Meseta Norte e o norte da Península Fildes foram uma agradável surpresa. Há vastas áreas planas, com neveiros muito interessantes e uma enorme quantidade de processos geomorfológicos de grande interesse, em especial no âmbito dos solos ordenados, com círculos de pedras muito perfeitos. Estamos claramente no domínio periglaciário, ambiente caracterizado pela forte acção do frio no solo, em especial pelos processos de congelação-fusão sazonais. Além disso, na maior parte desta região, abaixo da camada superficial do solo, com cerca de 1 a 2m que funde e congela sazonalmente (a camada activa), encontra-se o solo permanentemente gelado, ou permafrost. A dinâmica criogénica é tão importante que os calhaus deslocam-se do interior do solo em direcção à superfície, dando origem a formas extraordinárias ligados a estes processos convectivos. Da parte tarde, aproveitamos para trabalhar no laboratório da base. Pomos o email em dia e organizamos a informação recolhida, de modo a começarmos a estruturar o trabalho dos próximos dias. Gonçalo Vieira 07/01/2012 O meu nome é Vanessa Rei e sou a única investigadora na área das ciências sociais integrada na Campanha Antártica Portuguesa 2011-2012. Estou a desenvolver o Projecto COOPANTAR - Dinâmicas de Cooperação na Antártida, no âmbito do doutoramento em História, Defesa e Relações Internacionais (ISCTE-IUL e Academia Militar), projecto esse que pretende analisar a história da presença científica no continente, os programas polares de diferentes nacionalidades, a cooperação internacional no quadro da investigação científica e a vivência no terreno dos cientistas. Em Portugal, a Antártida, na vertente das ciências sociais, tem sido pouco estudada, sendo a literatura sobre cooperação e desenvolvimento de missões científicas praticamente inexistente, pelo que o COOPANTAR terá igualmente como objectivo dar a conhecer o que de melhor se faz no âmbito dos programas polares e da cooperação. A primeira fase do COOPANTAR teve início ontem, 06 de Janeiro de 2012, com uma visita ao INACH - Instituto Antártico Chileno, em Punta Arenas, que me permitiu conhecer um pouco do Programa Polar chileno. Porém, a parte mais interessante do projecto está quase a começar, com uma viagem de navio rumo à ilha de King George, onde ficarei instalada na base de Artigas, do Programa Polar uruguaio. Desde já, um agradecimento especial ao Programa Polar Português por todo o apoio que me têm dado e por tornarem esta aventura possível, ao INACH e ao Programa Polar Uruguaio, pelo apoio logístico e estadia. Muito obrigada! Vanessa Rei O dia na base começou às 7h. Dormi num quarto para duas pessoas, mas por enquanto não tenho companheira de quarto. Tomámos todos juntos o pequeno-almoço às 8h no salão principal da base. _Eu sou a Carla Mora, faço parte da equipa do projecto SNOWCHANGE e sou investigadora do CEG/IGOT da Universidade de Lisboa. Os meus interesses de investigação centram-se nos climas de montanha, detecção remota da neve e no estudo dos efeitos das alterações climáticas sobre o permafrost.
O pequeno-almoço na base consistiu em pão com manteiga ou doce e café ou chá, e depois foi necessário reunir com a chefe de base (Edite Flores) para dar-mos conta do que íamos fazer durante o dia. O Gonçalo que é o investigador principal, responsável pelo nosso projecto, teve uma reunião com a chefe e depois saímos para o campo. O céu estava encoberto e o vento soprava a 20km/h. Estávamos interessados em sair rapidamente porque antecipava-se o agravamento das condições meteorológicas. Quando saímos da base encontrámos dois pinguins gentoo no caminho. Muito giros e patuscos. Parámos, demos-lhes passagem e eles lá foram. Hoje fomos fazer o reconhecimento do sector sul da Península de Fildes. O substrato são basaltos e tufos vulcânicos e ao longo do nosso percurso encontramos vários geódes. Uma incrível quantidade deles. Tirámos fotos, mas não guardámos nenhum, porque da Antártida só se podem levar fotos ou amostras devidamente autorizadas. Ao longo do nosso trajecto estivemos a observar a distribuição dos neveiros, para depois seleccionarmos os que vamos estudar. Enquanto andávamos nas nossas explorações, numa baía na costa oeste vimos vários elefantes marinhos. Alguns andavam à luta e faziam ruídos que ao longe pareciam tractores. O enquadramento natural da baía era espectacular e no mar avistavam-se vários icebergs. O dia de campo terminou repentinamente, pois as condições meteorológicas mudaram. O vento começou a soprar com mais intensidade, começou a nevar e as nuvens ficaram progressivamente mais baixas. Tivemos que regressar rapidamente à base. Neste primeiro dia ficámos com a sensação de que, como dizia o nosso colega Julio Martin, estávamos num livro de Julio Verne. Principalmente pela estranheza do ambiente natural e pela presença da fauna pouco familiar. 05/JAN/2012
Chegámos à ilha de King George por volta do meio-dia local (menos 3 horas do que em Portugal) depois de um calmo voo de aproximadamente 2 horas desde Punta Arenas. A equipa do projecto SNOWCHANGE viajou num voo fretado pelo INACH em conjunto com investigadores polares de outras nacionalidades e programas polares. Assim que saímos do avião, e neste meu primeiro contacto antárctico, deu logo para perceber como é o tempo por aqui: céu permanente nebulado, temperaturas baixas, bastante ventoso. Os nossos amigos chilenos trouxeram-nos da pista de terra batida onde aterrámos na Península de Fildes até à base chilena Presidente Escudero (são os módulos do meio de tecto azul lá atrás na foto junto à neve) onde ficaremos instalados nas próximas 3 semanas. Indicaram-nos os nossos aposentos, pequenos mas cómodos quartos partilhados por 2 investigadores. A arrumação dos quartos é da responsabilidade dos seus utilizadores mas, ao contrário do que se passa noutras bases, não é necessário fazer de ’maria’, ou seja, ter de limpar e arrumar toda a base durante um dia pré-determinado. As refeições são também preparadas por dois cozinheiros, o que nos liberta tempo para as actividades científicas. Passámos o resto da tarde a conhecer a base, constituída por vários módulos, a desempacotar o equipamento científico que trouxemos e a preparar e instalar o nosso laboratório informático onde analisaremos e trabalharemos os dados que formos colhendo no campo durante a nossa campanha. Demos ainda um pequeno passeio até à praia onde a sorte de principiante nos esperava: o primeiro pinguim que vimos e fotografámos foi logo um pinguim-rei que parece não ser dos mais comuns por estas paragens. A este primeiro calmo, e anormal, dia antárctico, seguir-se-ão já amanhã as primeiras saídas de campo de reconhecimento, para a zona sul da península de Fildes. Eu, Pedro Pina, participo pela primeira vez numa campanha polar no hemisfério sul. O meu interesse principal em realizar estudos nestas regiões é de os poder utilizar como referência em estudos de análogos planetários, ou seja, de poder melhor conhecer determinadas estruturas estudadas remotamente nas superfícies planetárias do sistema solar e quais os processos associados à sua formação e evolução, com o estudo de estruturas análogas que ocorrem na Terra, com deslocações aos próprios locais. Pedro Pina Punta Arenas, 5 de Janeiro de 2012 Está finalmente a iniciar-se a campanha do projecto Snowchange. Depois de alguns dias a preparar o equipamento científico e a fazer compras que tinham ficado pendentes, estamos prontos para sair para a Antártida. São 8h30 da manhã e estamos no aeroporto de Punta Arenas, no extremo sul do Chile, para uma viagem de avião que nos levará à ilha de King George. Será na Base Antártica Chilena Prof. Julio Escudero que iremos passar as próximas 3 semanas. Eu e a Carla Mora somos geógrafos físicos no CEG-IGOT/UL, o Pedro Pina é Eng. de Minas do CERENA-IST e o Julio Martin é Eng. Electrotécnico na Universidade de Vigo. O nosso tema de investigação centra-se no solo permanentemente gelado (permafrost) e no modo como este reage às alterações climáticas. No projecto Snowchange estudaremos a neve, factor determinante para o permafrost, e o modo como esta se distribui no terreno e influencia a dinâmica geomorfológica. Interessa-nos também a diversidade espacial dos processos geomorfológicos e sua relação com os climas locais e microclimas, bem como com a vegetação. As interacções entre estas variáveis são essenciais para a dinâmica dos ecossistemas das áreas não glaciadas da Antártida. Ao longo das próximas semanas iremos contar, neste blogue, o nosso dia-a-dia, explicando as nossas actividades científicas e o modo como vão decorrendo. Iremos publicando de modo alternado textos de todos nós, de modo a melhor ilustrar as diferentes perspectivas e actividades de cada um. Para já, termino esta minha primeira entrada com uma breve apresentação. Sou o Gonçalo Vieira e os meus interesses de investigação centram-se na criosfera e nas alterações climáticas, em especial na Antártida. Esta será a minha 5a campanha antártica, mas a primeira em que colaborarei com o Instituto Antártico Chileno (INACH). Tenho também trabalhado no Ártico, nas ilhas Svalbard a 78N mas desta vez o blogue vai andar longe dos ursos polares. Este ano é especialmente importante para mim, pois pela primeira vez Portugal está a desenvolver uma campanha antártica coordenada, com vários grupos de investigação e com um contributo logístico para a investigação internacional. Trata-se do projecto PROPOLAR - Programa Polar Português, que contribui com os voos Punta Arenas - Antártida (ilha King George) - Punta Arenas, que se realizarão no dia 26 de Janeiro. Participarão no voo investigadores portugueses e de outros países parceiros, que integrarão diferentes campanhas, todas elas na região da Península Antártica. É uma grande honra e um enorme prazer poder coordenar projectos como este. Gonçalo Vieira 4 Janeiro 2012 Sando é uma pessoa que contagia com a sua felicidade, é a alma da base! Pela alegria, atitude diária de companheirismo e um sorriso sempre pronto para todos, ele é uma antêntica fonte de inspiração para todos. Numa das saídas a Hannah Point, percebemos que era preciso encontrar uma colónia de pinguins chinstrap (ou barbicha) e questionou-se onde a poderíamos encontrar. Com os nossos barcos (a.k.a. zodiacs) andámos em redor da Base Espanhola (Calleta Argentina) mas sem sucesso... até que falámos com o Sando. “Estão à procura desses pinguins? Eu sei onde os podem encontrar!!!” disse Sando todo sorridente. E lá nos explicou como num pequeno local rochoso, numa ponta perto de Miers Bluff, havia uma colónia de chinstraps. Depois de esperar 2 dias para podermos ir averiguar o local que o Sando nos tinha dito, metemos o zodiac na água e a 20 minutos da nossa Base, encontramos uma colónia de chinstraps lindíssima.... eram milhares! e claro, desde aí, o local passou-se a chamar Sando Point!!!! Ele ficou super contente com a ideia... mas nós é que agradecemos ;) O dia 4 de Janeiro foi possivelmente o mais intensivo de toda a expedição ao nível emotivo. Toda a estrutura da Base Bulgara mudou pois o Daddy, Sando, Galia, Zezo, Demo e Misho deixaram-nos... Antes disso, o dia começou com o nosso acordar às 7 da manhã com um veleiro turístico françês que atracou à frente da Base. Acordámos com o som do seu pequeno zodiac a chegar à base. Estranhámos pois era ainda muito cedo e não vimos ninguém da nossa Base os ir receber. Minutos depois, vimos o Daddy e o Misho a porem-se nos skidoos e a dirigirem-se à praia. Os franceses queriam apenas aceder à praia e fazer crossing ski para o outro lado da ilha...nunca mais os vimos. Quando o Daddy e o Misho regressaram da praia, informou-nos sobre tudo o que se tinha passado e que dali a uma hora o navio Las Palmas (o navio Oceanográfico Espanhol que nos trouxe a Livingston Island; ver artigo sobre a nossa chegada à Antártica) estaria disponível para trocar material com a nossa Base. Ou seja, ele precisava de ajuda para pôr nosso zodiac na água já! “Ayde”!!!! Trabalhámos umas 2 horas a ajudar o zodiac e quando estavamos a regressar à base, o navio Argentino Canal Beagle estava a chegar para também trocar material (particularmente a nova igreja para a nossa Base Bulgara) mas também para levar os nossos queridos amigos. O Daddy disse-nos que talvez em 3 horas teriam de embarcar (nós julgávamos que só seria no dia seguinte). Essas 3 horas foram super intensas. Os que se iam embora estavam a arrumar as suas coisas, nós estavamos na praia a ajudar a transportar coisas e a fazer de cicerone (ora para os comandantes e tripulantes dos navios Espanhol e Argentino). Foi muito duro vê-los partir pois eles eram uma parte muito importante da dinâmica da Base. Viu-se inúmeras lágrimas de todos a nos despedirmos na praia. Cantámos uma das canções clássicas de Nat King Cole (em espanhol) que o Sando cantava sempre que havia despedidas (tal como quando iámos à Base Espanhola) ...foram momentos que ficaram connosco para sempre! No meio desta confusão de sentimentos, Coco (o novo comandante da Base), chegou e com ele os Portugueses António Correia, João Rocha e João Agrela a Livingston Island.... mas já falamos sobre eles;) José Xavier e José Seco 04-01-2012
Chegámos a Livingston pelas 24h na passagem de 3 para 4 de Janeiro. A ilha é bastante maior do que eu e o João prevíamos. E consideravelmente mais branca e bastante azul, quando a vimos pela manhã. Pelo caminho ficou o Drake e entre nós não fez vítimas graves. Deu-nos uma sova considerável e conseguiu fazer-nos agarrar aos beliches para não cairmos deles abaixo nas vagas (5 metros, coisa pouca para o Drake). Os comprimidos para o enjoo foram nossos valiosos aliados. De manhã aguardamos em frente à base espanhola Juan Carlos I, onde o Las Palmas tinha ancorado para “pernoitar” e pouco tempo depois chegou um Zodiac com dois alegres Búlgaros dentro. Eram eles o Roman, responsável pelas embarcações e coordenador de operações por mar, e o Bojo, assistente de campo. Embarcamos no Zodiac, e despedimo-nos da tripulação do Las Palmas e colegas cientistas. Todos nos receberam muito melhor do que esperávamos e foi um prazer a viagem (antes e depois do Drake). Ao desembarcar em frente à base Búlgara fomos recebidos por todos os membros da base e por dois Portugueses, colegas do projecto Penguin que já estavam na base desde 14 de Dezembro. Todos pareciam uma família e fomos recebidos por essa família de braços abertos. Disseram imediatamente para dispormos de toda a base e para não hesitarmos em pedir ajuda. A Antárctida obriga a que os níveis de voluntarismo e de simpatia para com o outro disparem, pois aqui não há espaço para brigas. O comandante da base que estaria responsável por nós afinal veio connosco o tempo todo no Las Palmas, seria mesmo o nosso cozinheiro, Koko. Após desembarcarmos mostraram-nos as nossas instalações. Modestas, mas muito aprazíveis e infinitamente mais confortáveis que o beliche abordo do Las Palmas. Ficaríamos na Casa Espanhola, passamos de búlgaros no barco espanhol para espanhóis na base búlgara. De seguida a pousarmos as mochilas e malas fomos ajudar no desembarque de comida e do nosso cozinheiro/chefe de base. De seguida houve despedidas de parte do efectivo da base búlgara, que iria regressar a casa. Neste momento os laços de companheirismo polar manifestaram-se e tanto búlgaros como portugueses se despediram com abraços sentidos pelo tempo passado em campanha, sofrendo juntos no frio e rindo juntos no quente ao fim do dia. Após as despedidas tivemos ainda tempo de ajudar no desembarque da nova igreja para a base. Esta base possuí a igreja mais a sul do planeta e os búlgaros fazem esforços por a manter para a prática religiosa e como tributo ao passado da base. Esta tarefa foi difícil, pois a igreja veio literalmente em peças numa lancha de desembarque argentina que não conseguia chegar perto da praia por causa dos escolhos. Tivemos de vestir fatos viking (fatos de corpo inteiro impermeáveis, selados e extremamente resistentes ao frio) e fomos para dentro do mar, fazendo uma ponte humana com os búlgaros por onde desfilavam as peças (algumas bem pesadas) da igreja. Finalmente, e após todos estes desembarques e ajudas e lições fortes de companheirismo, fomos fazer um reconhecimento das nossas áreas de trabalho. No fim do dia, jantámos pela primeira vez com os colegas búlgaros e descansámos. 1 Janeiro 2012 Foi a primeira passagem de ano passada longe da família! Logo tinhámos de suavizar o impacto das saudades ao integrarmos ao máximo no ambiente Antárctico com todas as pessoas com quem estávamos. O primeiro passo foi conseguir um dia na semana de Natal para cozinharmos para toda a gente na nossa Base... eram apenas 12 pessoas!!!!! Uma tarefa aparentemente intimidante, mas com boa música portuguesa a acompanhar-nos (Deolinda, Xutos e Pontapés, Ace,...), lá cozinhámos um clássico bitoque! Porquê bitoque? Porque não? Colocámos a mesa tipicamente Portuguesa, com pão, azeite e azeitonas. O aperitivo escolhido foi pequenas espetadas (feitas com palitos) com pequenos quadrados de pão, queijo, pimento verde, presunto e azeitonas. Fizemos uns bons bifes na frigideira com Azeite Português, um arrozinho branco com cenoura e ervilhas (sim, havia por cá) e batatas fritas a acompanhar. Houve boa conversa sobre Portugal e os nossos costumes, ao apresentar tal prato que existe em qualquer casa de pasto Português. A sobremesa foi a nossa arma secreta, com uns bolinhos feitos em Portugal (prenda de Natal da família!), que os como desde que me lembro do Natal, de noz e amêndoa que fizeram a delícia de todos. Até a Galia (a nossa querida cozinheira) pediu a receita ;). Depois de andarmos bastante atarefados com mais trabalho de campo em Sando Point (ver o próximo artigo) e no laboratório (sim tivemos de trabalhar nos 2 dias, dias 31 e 1), o dia da passagem de ano chegou. E que dia... de manhã fomos à Base Espanhola com o Bobby para resolver questões informáticas, e ao fim da tarde foi-nos dado a notícia que iríamos celebrar 4 Anos Novos!!! Não percebemos... Às 6 da tarde (9 da noite em Portugal), a Base Bulgara entra numa actividade nunca vista. Havia que celebrar o Ano Novo na Bulgária às 7 da tarde... e como tradição aqui há que ir para o Monte Krum (5 a 7 min de skidoo (45 minutos a pé!); ir também ao google caso não tenham a certeza do que é). E assim foi. A vista do Monte Krum é lindissima, com glaciares, a Base, a Baia Sul à frente, o monte de gelo Friesland (com picos de mais de 1500 metros de altura) e o Monte Bowles (que apresenta fissuras muito interessantes).... Com champagne e palavras do membro mais velho da Base (Roman), lá se celebrou o Ano Bulgaro. Descemos à pressa para a Base pois a RDP Antena 1 tinha-nos contatado para falar connosco em directo para as celebrações do Ano Novo em Portugal (com Edgar Canelas, Cristina Condinho e amigos). Foi muito bom ouvi-los e partilhar um pouco a nossa experiência, a importância do nosso trabalho cientifico e falar um pouco de Português. Ficámos com um sorriso gigante! Pouco depois era tempo de celebrar o Ano Novo na Polónia (o Sando vive lá!) e às 9 da noite fomos nós com todos os Portugueses;)))) e finalmente à meia noite local (3 da manhã em Portugal), celebrámos o Ano Novo de Livingston Island. Foi uma noite muito divertida com todos em bons espíritos, que muito nos fez reduzir todas as saudades quando estamos longe! BOM ANO 2012!!!! José Xavier e José Seco |
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