A CAMPANHA
PROPOLAR 2011-2012
Novembro de 2011 a Abril de 2012
PROPOLAR 2011-2012
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15 Janeiro 2012 Após cinco dias a bordo do navio Aquiles, cheguei finalmente à Base Uruguaia de Artigas, onde fui muito bem recebida pelo Chefe da Base, Tenente Coronel Calvo e pela sua equipa. São pessoas muito bem dispostas e simpáticas, acolheram-me como se pertencesse “à família”. Como Artigas é uma base permanente, ou seja, funciona todo o ano, tem sempre uma equipa de apoio, neste caso, composta por oito militares e dois civis, dois quais cinco elementos permanecem no terreno durante um ano. Nesta equipa estão integradas duas mulheres - uma meteorologista/psicóloga e uma operadora de rádio. Dos investigadores, fui a primeira a chegar, espera-se que nas próximas semanas a base acolha cerca de cinquenta pessoas, todas uruguaias, entre cientistas e pessoal de apoio. Ou seja, continuarei a ser uma espécie rara por estas paragens! Os primeiros dias na base não poderiam estar mais ligados ao COOPANTAR. No dia em que cheguei, recebemos a visita do Presidente do Uruguai, José Mujica e da Primeira-Dama, a Senadora Lucía Topolansky, que nos acompanharam ao jantar. Foi um serão muito agradável, conversámos sobre variados temas desde a Antártida à História mundial! No dia seguinte, sábado, foi a vez de recebermos na base o Presidente do Chile, Sebastian Piñera e a sua mulher, Cecília Morel, acompanhados por uma comitiva de 33 pessoas, entre staff presidencial, Senadores, Ministros, Chefes dos ramos militares, Direcção do Instituto Antártico Chileno (INACH) e jornalistas. José Mujica foi convidado pelo homólogo chileno a visitar a Antártida (foi a primeira visita do Presidente uruguaio ao “continente branco”) e retribuiu o convite oferecendo um almoço na base Artigas. Foi discutida a cooperação entre os dois países, ainda que entre comensais e de forma muito ligeira, mas foi passada a mensagem de que os laços entre Chile e Uruguai no que respeita à presença na Antártida são importantes e deverão ser reforçados no futuro, com maior intercâmbio de cientistas e apoio logístico. A Primeira-Dama uruguaia ficou instalada na base durante o fim-de-semana, enquanto o Presidente Mujica visitava outras bases chilenas. Foi uma companhia agradável ao pequeno almoço e durante um curto passeio pela base, onde fotografámos um grupo de pinguins muito curiosos (Pygoscelis antarctica), que fizeram pose para as fotos! Vanessa Rei Hoje tivemos uma manhã de sol radioso. Fomos fazer o reconhecimento geomorfológico do sector que ainda nos faltava conhecer na área sul da península Fildes. Trata-se de uma área com relevo mais movimentado, constituída por basaltos e com vários lagos com tonalidades de azul, rodeados por áreas com tons amarelos e castanhos. O contraste é espectacular. Do limite sul da península conseguimos ter uma grande panorâmica sobre glaciar da ilha Nelson. Já quase no fim da caminhada recebemos pelo walkie-talkie uma mensagem enigmática da base que nos
dizia para regressarmos de imediato. Ficámos espantados e pusemo-nos a caminho. Quando chegámos ficámos a saber que havia um alerta de tsunami. Durante a manhã houve 1 sismo com magnitude 6.6 próximo da Ilha elefante e a 10 km de profundidade. Por causa do alerta tivemos que ficar à tarde na base. O tsunami acabou por não acontecer, mas aproveitámos para trabalhar no laboratório e planear o próximo dia de campo. Fildes 15 de Janeiro 2012 Carla Mora 14 de Janeiro de 2012 Hoje de manhã, esteve aqui na Base Escudero o Presidente do Chile, Sebastian Piñera, que está em visita oficial à Antártida, acompanhado de um ministro do governo chileno e de várias patentes militares. Tivemos a oportunidade de o cumprimentar e de assistir logo de seguida a uma apresentação feita pelo presidente do INACH, José Retamales, para a qual fomos convidados, sobre as actividades e interesses científicos do Chile neste continente. Depois, numa breve sessão de esclarecimento, as questões tenderam essencialmente para aspectos geoestratégicos e de reclamações territoriais. O Chile é um dos 8 países que têm pretensões territoriais na Antártida, reclamando uma fatia (literalmente) que apanha toda a península Antártica e parte do continente Antártico até ao Pólo Sul. Foi muitíssimo interessante assistir, de fora, a todos estes aspectos não científicos e à forma como os temas são analisados. O presidente do Uruguai também chegou ontem aqui à ilha de King George em visita oficial, penso que parcialmente coordenada com a do presidente chileno, por isso a ilha tem tido um movimento anormal de pessoas, barcos e helicópteros. Acho que esta não usual manhã nos permitiu descansar um pouco do cansaço acumulado dos últimos dias. Mas Antártida sem saída para o campo, não é Antártida. Depois do almoço, e estando o tempo muito razoável, fomos colocar a base do GPS lá em cima na Meseta Norte, para durante uma boa meia dúzia de horas, recolher a coordenada do ponto que servirá de referência durante os nossos próximos dias de trabalho. E depois do jantar, fizemos finalmente a nossa primeira saída nocturna (ainda que totalmente de dia) para recolhermos o GPS. Aliás, a cerca de 62ºS de latitude e nesta altura do ano do verão austral, a noite dura cerca de 4 horas, mas sendo escura como o breu em cerca de somente um par de horas. Voltámos cedo, nem onze horas eram ainda. Pedro Pina 13 Janeiro 2012
Falta pouco mais de uma semana para iniciar a "migração" para sul. Há que acabar (nunca acaba) o que é essencial pois vamos ficar mais de dois meses fora e não é certo que hajam comunicações decentes. Hoje seguiram os equipamentos, uns 120 kg ocupando mais de 1 m3. Temos de transportar o essencial para montar um laboratório de campo, inlcuindo as canas de pesca ...:). Este fim-de-semana fica pronta a mala com haveres pessoais. Saímos a 22 para Punta Arenas, onde chegamos a 24. A 26, se as condições atmosféricas o permitirem daremos o salto até à ILha do Rei Jorge. Lá chegados ainda há que apanhar uma boleia de barco dos "Nuestros Hermanos" para chegar a Arctowski. Havendo possibilidade, deixaremos aqui notas do que se vai passando. Para seguir os avanços das equipas do Programa Polar Português é ir até www.propolar.org Adelino Canário http://www.facebook.com/note.php?note_id=10151153623580384. A viagem no AP-41 Aquiles começou na segunda-feira, 9 de Janeiro de 2012, pelas 08h00. Já estava alojada no navio desde Domingo à noite, pelo que às 06h15 acordei com um apito estridente, que vim a perceber que era uma forma de comunicação no mar... Tomei o pequeno-almoço (pão com manteiga e chá) e um comprimido anti-enjoo, para garantir que seria uma travessia pacífica!
A travessia do Estreito de Magalhães foi muito tranquila, sempre com uma vista fantástica. De um lado e do outro do navio, as montanhas acompanhavam-nos silenciosamente, certificando-nos que ainda estávamos no Estreito! A seguir ao almoço, outro comprimido e uma bela sesta, apenas quebrada pela voz que no radio dizia: “Aténcion pasageros, vamos a empezar a cruzar El Drake”. Sentiu-se um movimento diferente no navio, mais forte, mas graças aos meus comprimidos maravilha, continuei a dormir!A bordo, embora estivéssemos num navio militar, não pude deixar de pensar no Love Boat e isto porquê? Não é que as pessoas estivessem enamoradas, nada disso, mas pelas origens, destinos e objectivos tão distintos que foi inevitável associar a uma daquelas histórias que animavam as tardes dos idos anos 80. Senão vejamos: - Uma equipa de 30 elementos (militares e civis - Instituto Antártico Equatoriano) que iam preparar a base do Equador para que possa estar em funcionamento todo o ano. A acompanhá-los viajava um escritor equatoriano cuja missão consistia em recolher dados para escrever um livro sobre os 25 anos da presença daquele país no “continente branco” e quatro investigadores venezuelanos. - Duas estudantes de artes que estavam a realizar um filme sobre a Antártida. - Uma nadadora chilena, Julieta Nuñez, que procurava bater um recorde pessoal nadando nas águas geladas de Baía Paraíso. - Jornalistas que acompanham a Armada e que preparavam a chegada a bordo do Presidente chileno, Sebastian Piñera. - Um elemento do Rotary Clube de Santiago, que acompanhava duas crianças numa viagem prémio à Antártida. - Militares chilenos que viajavam para as bases. - Uma professora e uma aluna da Universidade do Chile que viajavam em turismo, visitando as bases. - Uma equipa de investigadores ligados ao INACH, que iam realizar um projecto relacionado com a contaminação ambiental em torno das bases permanentes. A travessia do Drake foi muito tranquila para mim (sempre a dormir, vá) e na quarta-feira, dia 11 de Janeiro, chegámos à Antártida, à ilha de Greenwich, para deixar o grupo de equatorianos. Porém, estava muito vento e o desembarque foi impossível, pelo que tivemos de permanecer ancorados ao largo da ilha durante dois (longos) dias... Na sexta-feira, 13 de Janeiro, cheguei finalmente a Fildes, à Base Artigas, com uma curta passagem pela Base Escudero (chilena), onde pude encontrar a equipa do SNOWCHANGE e falar português! Vanessa Rei Vanessa Rei na partida para a base uruguaia Artigas 13 de Janeiro de 2012 Amanheceu tal como anoiteceu. Nevoeiro denso e frio, mas uma quase ausência de vento. Passámos a manhã atarefados no laboratório a organizar os dados recolhidos ontem e a responder a emails. Aproveitei a manhã para trabalhar num manual detalhado para um grupo de estudantes meus que, inseridos na campanha Argentina, irão para a ilha Deception dentro de alguns dias. Quando estavamos a acabar de almoçar, chegou à base a investigadora portuguesa Vanessa Rei que estava no navio Aquiles na baía desde madrugada. A Vanessa está a fazer o doutoramento sobre cooperação na Antártida e vai também começar a colocar posts no blogue em breve, no quadro do projecto COOPANTAR, também do PROPOLAR. Foi excelente revê-la. Estava radiante e com muitas estórias sobre a estadia no navio chileno Aquiles sobre a travessia da Passagem de Drake. Via-se bem que era a sua primeira vez a pisar terreno Antártico. Esteve conosco cerca de meia hora e saíu no veículo todo-o-terreno da base uruguaia, pois é lá que vai ficar até ao dia 26 de Janeiro. A seguir ao almoço voltámos a atacar a nossa área de trabalho na Meseta Norte. O nevoeiro mantinha-se, mas era urgente verificar os miniloggers que tínhamos instalado para medir a temperatura de neve. Tinham sido enterrados a cerca de 10 cm na neve, mas com as temperaturas positivas, a chuva que tem caído e ainda com o nevoeiro, a neve está a fundir rapidamente. Por isso, corríamos o risco de ficar com os miniloggers expostos à atmosfera, o que não iria resultar em temperaturas da neve correctas. Quase todos os sensores estavam à superfície, pelo que a visita ao local foi muito importante. Voltámos a enterrá-los. A orientação no terreno foi sempre feita à custa do GPS, pois o nevoeiro estava muito cerrado. Quando iniciámos o regresso, começou a nevar fortemente e a viagem de moto-4 para a base foi feita a sentir a força da neve na cara. Estamos agora novamente no laboratório a tratar de organizar uma série de coisas atrasadas. Eu ainda tenho uma enorme quantidade de relatórios dos meus alunos da UL que trouxe no ipad e que tenho corrigido aos poucos nos tempos livres. Prepara-se por aqui a visita de amanhã dos presidentes do Chile e do Uruguai e a azáfama é grande. Contudo, com o nevão que está a cair e com a fraca visibilidade, é provável que o avião não consiga aterrar. Gonçalo Vieira, Base Antártica Prof. Julio Escudero, ilha King George. > IMAGEM AO LADO: Medição dos cristais granulares de neve que ilustram o processo de metamorfismo desta Hoje o dia amanheceu mais calmo. Céu pouco nublado, com boas abertas, que permitiram fazer fotos deslumbrantes. O vento manteve-se moderado de NW, o que permitiu ter um bom dia de campo. Aproveitámos as boas condições meteorológicas e fomos cedo para o campo. Passámos o dia a caracterizar perfis de neve. Observámos diferenças interessantes na estrutura e densidade da neve relacionadas com a exposição, declive e posição topográfica. O dia de trabalho foi intenso e longo porque queríamos ter os neveiros caracterizados e recolher os dados para o cálculo da densidade da neve e do snow water equivalent. Os dados recolhidos vão servir para validar os registos de 5 imagens de satélite que encomendámos para o período da campanha. Tratam-se de imagens de radar do TerraSAR-X e do Envisat que vão permitir identificar a cobertura e as características da neve. A primeira imagem vai ser registada hoje; daí a urgência na recolha dos dados. Usamos imagens de satélite radar porque as características da superfície são registadas mesmo com cobertura nebulosa, que nesta área é praticamente constante. Depois do jantar na base, fomos à base russa ver pequenos filmes e fotos dos colegas búlgaros que lá estão. A base é muito simpática e acolhedora e foi interessante conhecer outros investigadores que lá estão instalados. Carla Mora 11 de Janeiro de 2012 > LEGENDA IMAGEM: Carla e Gonçalo fazendo medições num perfil de um neveiro na Meseta Norte da ilha de King George. O plano para o dia de hoje consistia em resolver de vez as dificuldades de configuração do GPS (parcialmente conseguido) e em ir, assim que o tempo o permitisse, para Meseta Norte fazer a caracterização dos neveiros onde na véspera tínhamos instalado os sensores de temperatura. Mas o tempo voltou a portar-se como sempre lhe apetece aqui, ou seja, de uma forma muito instável. Durante toda a manhã esteve sempre a nevar e o vento a soprar de uma forma muito intensa. Logo após a nossa chegada aqui à ilha de King George, eu diria que nessas condições seria impossível sairmos para se fazer o trabalho de campo. Agora já acho que é somente necessário esperar com calma sem fazermos previsões, até poder haver uma aberta, e não deixar para daqui a um par de horas o que se pode fazer agora mesmo. É que mais tarde o tempo pode estar mesmo pior. Depois de almoço aí estava a aberta, lá fomos nós, e entre as 14 e quase as 20h estivemos no campo. Não nevou nem choveu, mas o vento esteve por vezes desagradável. A ida e vinda de moto-4, em vez de ser a pé, até perto da base uruguaia permite-nos poupar uma preciosa hora e meia. Nos neveiros seleccionados, abrimos perfis com uma pá para, a diferentes profundidades, se medir a temperatura, avaliar o tamanho do grão e pesar sempre o mesmo volume de neve para depois se calcular a sua densidade. Abrir os perfis e depois voltar a fechá-los para se minimizar o impacto na paisagem é, apesar do esforço físico requerido, uma excelente forma de não arrefecermos. Pedro Pina O dia de hoje foi marcado (mais uma vez) pelas constantes mudanças no tempo. A temperatura esteve sempre em torno de 2ºC, mas o vento alternou com a chuva e, finalmente, ao fim do dia, ambos pararam e ficou um excelente fim de tarde. Passámos parte do dia próximo da base a fazer testes com o GPS, que teima em dar problemas e que está a ser complicado de configurar. Andamos enrolados em sistemas de projecção e tudo demora bastante tempo. A trabalhar debaixo de chuva, as tarefas tornam-se ainda mais morosas. Por sorte, ao final do dia o tempo acalmou e aproveitámos para sair entre as 17 e as 21h. Pegámos nas moto-4 e fomos em direcção à base Uruguaia Artigas. A meio do caminho estacionámos as motos e subimos cerca de meia hora a pé até à Meseta Norte, a nossa área de estudo de pormenor. Depois de instalarmos uma referência para os trabalhos com GPS, iniciámos a selecção de neveiros para trabalhar nos dias seguintes. Em cada um deles instalámos um sensor de temperatura da neve que servirá para a calibração das imagens de satélite que pedimos para os próximos dias. Esperamos imagens dos satélites Envisat da ESA e TerraSAR-X da DLR. Ambas são imagens de micro-ondas. Uma das tarefas principais dos próximos dias será mapear os tipos de terreno para depois analisarmos as imagens de satélite e para podermos fazer a validação e calibração dos resultados. Vou-me deitar porque estou exausto! Gonçalo Vieira, Base Escudero, 10 de Janeiro de 2012 Trabalhar no campo hoje foi horrível. Estava muito vento (cerca de 60/70 km/h) com muita chuva. Trabalhámos junto à base uruguaia de Artigas, como o tempo estava muito mau e tínhamos que carregar material fomos de moto-4, que o Pedro e o Gonçalo gostaram muito de conduzir. Pelo caminho encontrámos um espectacular veículo de transporte em glaciar da base Uruguaia.
Carla Mora |
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