A CAMPANHA
PROPOLAR 2011-2012
Novembro de 2011 a Abril de 2012
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A chegada a Livingston Island foi feita num dia com potencial...nublado com abertas e com um vento a baixar, as ondas estavam boas para o surf mas péssimas para desembarcar. O Santiago (do navio Las Palmas) questionou-nos se preferíamos ir já para a Base Búlgara S. Kliment Ohridski, onde iríamos fazer o nosso trabalho de campo, ou para a Base Espanhola Juan Carlos I onde teria de conversar com o Comandante da Base Jordi sobre questões logísticas. Decidimos que era melhor ficar já na Base Búlgara para acelerarmos logo com os preparativos do trabalho de campo.
A chegada à Base Búlgara é feita pela praia por barco (zodiac), entre mini iceberges e umas ondas de meio metro quebra coco (ou seja a quebrar na areia) que dificultavam tudo. Fomos muito bem recebidos pelo comandante da Base Daddy e por colegas da Bulgária, Japão e Mongólia, todos super sorridentes e atenciosos, tal como vários pinguins que estavam na praia. Ficámos muito bem instalados numa casa triangular, que muito me fez lembrar as dos Alpes Suiços. A Base fica praticamente na praia e com uma vista deslumbrante para o glaciar Pimpirev. Percebi logo o porquê do sorriso que todos tinham... As primeiras 24 horas passaram a voar. O Comandante mostrou-nos a base, muito acolhedora, revestida com símbolos religiosos da religião Cristã Ortodoxa (aliás, a Base Bulgara é uma das poucas bases cientificas na Antártica que possui uma igreja), e com um orgulho muito grande da sua história. Fez-nos sentir em casa quando tivemos de beber Rakia, a versão Búlgara de água ardente, que só os Búlgaros a conseguem beber como se fosse água... As questões de segurança são sempre levadas a sério, e elas estavam em Búlgaro e em Inglês, escritas minuciosamente à mão. De momento, somos 21 pessoas: O Comandante Daddy, os BBB - Bobby, Bojo (assistentes de campo), Boico (Geólogo), Misho,Vasko, Emo – Dedo e Sasho / Sando (assistentes técnicos), os 4 Japoneses cientistas (que possuem 2 aviões fabulosos para estudos de geomagnetismo), o Prof. Dugre da Mongólia (Geólogo), Galia (a nossa querida cozinheira), Milena (Geófisica), Krisi (Representante de uma empresa eólica que esperam montar um aparelho aqui nos próximos anos), Jana (fotógrafa), Roman (coordenador de operações por mar), e o médico Zezo. É incrível como todos somos capazes de nos sentar na mesma mesa. As ementas são diversificadas mas existe um padrão: o pequeno almoço são torradas com manteiga e chá/café, o almoço é geralmente uma salada e sopa (comi shembe, que não é nada mais nada menos do que a nossa dobrada sem feijão e só com o estômago do porco), e o jantar começa sempre com uma salada (tomate, cebola, pimento, oregãos), seguido por um prato de carne com batatas cozidas...e muito pão bem acabado de fazer com manteiga.... Antes de jantarmos, nós fomos quase todos passear ao longo da costa, já a pensar nos pinguins que podemos estudar e adiantar logo trabalho. A praia é caracterizada por calhaus de vários tamanhos (uma parte com um pouco de areia preta), que termina num glaciar (que não nos permite avançar mais), zonas de muita neve e uma parte onde existe neve com cinza vulcânica vinda da Ilha Deception ao lado (que regularmente erupte) As 24 horas não podiam ter sido mais bem vindas.....Blargodaria (o que significa, em Búlgaro, Obrigado!!!!) José Xavier & José Seco Dia 15 Dezembro 2011 Fernando, Capitão perito em transmissões juntou-se à caminhada. Ao chegar ao lago reparamos que água tinha pura e simplesmente desaparecido. Ao se infiltrar neste solo formado por piroclastos porosos, deixou uma aureola perfeita à volta do centro. Por sorte os sedimentos e o gelo ainda estavam no mesmo sitio, e uma pequena parte foi directamente para os sacos e os tubos de ensaios das amostras. Subimos até ao monte Irízar. O interesse era recolher amostras nas nascentes que alimentam os cursos mais a montante do rio Mecon. Comparar as várias amostras de água recolhidas em diferentes locais do Mecon irá ajudar-nos a entender o fluxo de contaminastes nesta bacia hidrográfica e o modo como se deslocam no ecossistema. Enquanto subíamos pelas encostas reparávamos nas nascentes escavadas no gelo e no piroclasto. Como o solo é poroso, algumas delas apenas sobreviviam poucos metros antes de serem engolidas pela terra. A vista para Norte era incrível. A base Gabriel de Castilla e o Las Palmas tinham ficados reduzidos a dois pontos vermelhos e os montes a Este formavam ondas até perder de vista de branco da neve, e de preto do piroclasto. Quando voltámos fui preparar a mala para colocar 5 DGT's espalhados pela baia, nas imediações da base. Tive o cuidado de colocar um mesmo em frente à base, para tentar-mos perceber a nossa contribuição de contaminantes para a água da baía. O método era simples mas cansativo. Chegar ao local, encher um saca de areia, atar a bóia e a saca com uma corda e preparar o fio de nylon que liga o DGT à saca. Com o Viking vestido entrava na água a deixava o saco debaixo de água, com uma luva de latex atava o DGT ao fio de nylon e registava as coordenadas, pH, temperatura e salinidade. Arrumava a tralha e depois era mais do mesmo noutro local da baía. Enquanto caminhava deparei-me com 3 focas, aves predadoras, pinguins e ossos enormes de baleia. André Mão de Ferro & João Canário Eu já sabia que esta seria a parte mais desejada por uns e odiada por outros...desejada pois queremos chegar à Antárctica e odiada pois chegar à Antárctica pode ter custos físicos...e exige andar de navio na passagem de Drake, o que não é pêra Doce. Vejamos...
A passagem de Drake é conhecida por ter algumas das maiores tempestades dos Oeanos, é onde as correntes são mais fortes e as suas velocidades são maiores. Em Ushuaia, deu para perceber que a tarefa não se avizinhava nada fácil...o navio que iríamos tem 42 metros de comprimento (o navio Espanhol Las Palmas) e segundo a minha experiência em navios de 100 metros de comprimento (o James Clark Ross, da British Antarctic Survey), deu para me aperceber que o navio iria abanar bastante. E quando o José Seco se pôs a comparar o Las Palmas com os barcos atrás dele (infelizmente eram cargueiros, navios gigantes para turistas), deu para perceber que podiamos estar numa carga de trabalhos...muito mais pois o José Seco nunca esteve num navio em alto mar. O pessoal do navio Las Palmas foram 5 estrelas (muito obrigado Santiago, David Atienza e colegas!) e a nossa habituação ao navio foi rápido. Santiago Garcia (2º comandante) disse-nos logo que iríamos nessa noite (Sabado, dia 10 de Dezembro) pois a previsão dizia que tínhamos uma tempestade a chegar num periodo de horas...saímos do porto de Ushuaia às 0 horas de Domingo. Foi-nos logo atribuida uma cama, o simpático Comandante Enrique Valdez Garaizabal deu-nos as boas vindas, Sr. José deu-nos informações gerais de como o navio funcionava, o Médico Manuel Prego informou-nos o que tomar em caso de enjoo (e como o prevenir) e o resto viria com o tempo...e veio! Com a minha experiência prévia, o truque é tomar comprimidos para o enjoo 2 horas antes de sair do porto e passar todo o tempo deitado, a ler ou a dormir...as primeiras 24 horas são sempre críticas... que o diga o José Seco: “Saimos do porto, a viagem ia tranquila, para previnir tomamos 2 comprimidos! Um dos efeitos secundarios dos comprimidos é dar sonolência! Quando fomos para a cama ainda o mar estava flat, tudo tranquilo! A meio da noite acordo com uma grande vontade de ir à casa de banho só que por esta altura já estavamos a atravessar o Drake! O mar tinha-se transformado, o barco abanava por todo o lado! Parecia que a minha cama estava assente numa mola, como aqueles brinquedos nos parques infantis, que me fazia oscilar em todas as direcções. Agora entra o dilema, aguentar e sobreviver ou arriscar a ir à casa de banho, e possivelmente ficar mal disposto. Infelizmente o Drake ganhou 6 a 0! Ao fim da segunda noite o Médico veio ter comigo e deu-me uma vacina para equilibrar as contas! A partir dai tudo foi mais tranquilo! Nada fácil isto de chegar à Antárctica!” No meio disto tudo ainda deu para ter as primeiras sensações de chegar ao ares gelados da Antárctica. Eles veêm em poucos pormenores...o ar mais frio, o José Seco viu o seu primeiro iceberg e os primeiros pinguins a mergulhar na água.... Após 2 dias e meio de viagem chegámos a King George Island, à base Argentina Jubany, para deixar material e recolher 2 colegas alemães da AWI. O vento estava forte e só recebemos os 2 colegas alemães a bordo. Eles ilustravam bem como fazer ciência polar é dificil...tudo lhes correu mal, ou lhes faltou bom tempo, ou houve um problema com os aparelhos, e em 6 semanas tiveram 5 dias bons de trabalho. Fustante, disseram eles com um sorriso estampado na cara... “isto da Antárctica é assim! Fazemos o nosso melhor, desejamos sorte com o tempo mas desta vez não foi nada fácil!”... Deixamos estes 2 colegas Alemães na Base Chilena Frei perto do Aeroporto. 24 horas depois estavamos em Livingston Island.... José Xavier & José Seco Dia 14 Dezembro 2011
De manhã recebi outro pedido de entrevista, desta vez a RTP queria tentar fazer uma entrevista em directo para o telejornal da tarde através do Skype. Também queriam celebrar o centenário da conquista da Antárctica pela expedição de Amundsen, e claro falar com um português neste continente. Dei-lhe a mesma resposta: "Vamos a isso então!" O chefe de base ficou bastante entusiasmado com a ideia, bem mais do que eu como devem calcular. Teríamos que escolher o local para a transmissão. Não havia um sitio ideal, havia vários. Por isso decidi fazer a entrevista enquanto fazia uma visita guiada pela sala de estar, sala comandos, sala de transmissões, e claro para a vista excepcional que temos da baía e das bandeiras. Correu tudo bem, o chefe adorou a publicidade a Gabriel de Castilla e os papás o protagonismo do filhote. Ainda antes de almoço havia muito trabalho pela frente. À tarde ia colocar 3 DGT's em colatina e era preciso preparar as bóias, as cordas e os sacos de areia. No Zodiac vinha também Ravi e Aitor. Depois de 15 minutos de viagem chegamos à baia de Colatinas. Ao instalar o 3º DGT mais a Este, encontrei um osso de baleia, e depois outro e mais outro. Só aí então me apercebi do que eram feitas as tantas e invulgares pedras brancas ao longo da praia. À vinda para cá o Aitor explicava-me que no tempo em que era permitido a caça à baleia, esquartejavam-nas nesta praia e traziam-nas em pedaços para o outro lado da baía para extrair o óleo. Fazer estas operações em praias diferentes era a única maneira de resolver o problema das quantidades enormes de ossos que restavam da matança. Quando chegámos à base fui preparar a mala para retirar amostras de permafrost em cerro de la cruz, um monte junto da base argentina. A vista do topo era de cortar a respiração e o cabelo devido aos fortes ventos. Foi um dia longo e depois de jantar ainda havia trabalho de laboratório para fazer. As tarefas só terminaram às 23:30. Estava muito cansado mas a satisfação pelos objectivos cumpridos deram-me forças para ainda preparar o trabalho do dia seguinte. André Mão de Ferro & João Canário Dia 13 Dezembro 2011
Hoje estou de maria novamente, no inicio da campanha Mariano fez de maria por mim e estou agora a fazer a vez dele. Depois do pequeno almoço limpámos as mesas e o chão da sala. Fui espreitar a caixa do correio e pelos vistos havia um jornalista da TSF interessado em fazer uma entrevista para celebrar os 100 anos da conquista da Antárctica. "Vamos a isso então", e combinámos o telefonema via satélite pela hora de almoço. Depois do almoço os DGT's em Moreture deixados há dois dias atrás esperavam que os fossem buscar. Aproveitei para tirar amostras de água para medir os níveis de carbono, de sedimentos e de gelo que cobria parte da ravina. Fomos embora e olhei para trás para uma última despedida. Ao regressar de Zodiac um bando de Cormoran subantártico seguiu-nos metade do caminho. Claro que nesse dia me esqueci da máquina e o momento Kodac foi por água abaixo. Depois de tratar as amostras no laboratório, ainda havia a reunião com o chefe de base antes do jantar. Depois aproveitei o serão para actualizar os dados no portátil, e claro, escrever os diários para poder partilhar as vivências com vosotros. Tinha um cansaço acumulado enorme dos últimos 3 dias, quando terminei fui directo para o vale dos lençóis. Ouça a entrevista com a TSF: "Expedição científica portuguesa na Antártida cem anos após a chegada de Amundsen" André Mão de Ferro e João Canário Dia 12 Dezembro 2011 Partimos de manha em direcção ao monte Irízar, fica a sul do mecon e é onde se encontram as primeiras nascentes do rio. Havia dois objectivos a cumprir: Encontrar o equipamento de monitorização que o projecto do Gonçalo Vieira teria deixado uns anos atrás, e apanhar amostras de permafrost.
Nessa manhã a neve que caía mudou a paisagem do vale do mecon de preto para branco em poucas horas. Depois destes objectivos serem cumpridos, descemos em direcção à base. Faltava só mais uma coisa: Apanhar neve fresca. Um dos objectivos que à partida não sabíamos se seriam cumpridos por estarmos dependente do tempo. Ao analisarmos neve fresca podemos conseguir perceber qual o input de contaminantes transportados pelo vento vindos de outras partes do globo, e perceber melhor o contributo que o vulcão tem no input de metais pesados na ilha de Deception. Hoje era o último dia de recolhas diárias de amostras do Mecon. A neve que tinha caído de manhã rebolava pelas encostas e cá em baixo formava uma espécie de jardim de rosas brancas pintadas de piroclasto. O Mecon hoje estava muito tímido e a água era escassa. À vinda para a base trouxemos as estacas que serviam de marco para as recolhas e fiz a última despedida. André Mão de Ferro & João Canário Dia 11 Dezembro 2011 Como era domingo levantámo-nos uma hora mais tarde. A fiesta partiu a louça, ficámos de rastos e o chefe de base deu ordem para atrasar a alvorada. Desculpem mas os pormenores da festa ficam no segredo dos deuses da Antárctida. De manhã o destino era um pequeno lago um pouco mais a sul do rio Mecon, Ravi juntou-se à caminhada. Ravi é capitão de infantaria, e meu companheiro de camarata. De todos os militares ele é capaz de ser o que melhor conhece a ilha e por isso é tão requisitado quando os cientistas precisam de se deslocar a pé para outros locais da ilha. Este percurso era canja para ele, e aproveitava para tirar fotos enquanto eu trabalhava na recolha das amostras de gelo, água e sedimentos. A sobremesa do almoço desse dia foi memorável. O cozinheiro fez um bolo de anos delicioso de chocolate para comemorar o meu dia de anos. Beatriz, 1º sargenta especialista em transmissões fez um boneco de mim mesmo para decorar o topo do bolo e ainda tive direito a um regalo oficial. Um relógio com o símbolo da base. Serviram champanhe e fizemos um brinde. Que momento! Chema e Alex, militares especialistas em motores ajudaram-me com as bóias e as poitas para voltar a instalar 3 dispositivos no mar de Murature. Estes dispositivos chamam-se DGT's têm uma membrana gelatinosa que absorvem os metais dissolvidos no mar. Depois de estarem em contacto com água da baía por 2 dias, são levados para Lisboa e permitem-nos medir a concentração e especiação dos metais dissolvidos na água da baia de Deception Island. Desta vez iria bem apetrechado com sacas de areia, cordas e boias do exército para evitar novamente imprevistos. Chema e Alex estavam bem dispostos com o almoço e escreveram em cada bóia "João" e "André 25", o número do meu aniversário. Depois de tudo pronto partimos para Murature e depois de instalar os DGT's fomos de Zodiac espreitar uma praia ao lado. "Mira el arbor de navidad". Chema estava-se a referir à rocha mais famosa por estas bandas, tem uma forma incrível extremamente parecida com uma árvore de natal. O mar estava calmo e o sol por vezes espreitava, a disposição festiva do almoço ainda reinava e fartámo-nos de tirar todas aquelas fotos tipo "olhó turista" enquanto caíam flocos de neve. Depois de voltar, ainda fui ao Mecon retirar as amostras diárias de água. O leito do rio estava quase seco provavelmente devido às baixas temperaturas desse dia, as mudanças no vale do Mecon continuam fascinantes. André Mão de Ferro Dia 10 Dezembro 2011. Pela manhã vestimos os Vikings (fatos de sobrevivência) e subimos para os Zódiacs (semi-rigidos). Estava um dia típico de Deception Island, muito vento, e muita humidade. O Zodiac tinha como destino vários pontos da baia e os cientistas saiam e entravam em cada paragem. Eu sairia em Murature para recolher os dispositivos que tínhamos deixado no mar junto às praias. 2 deles desapareceram... Foram levados pelas correntes e pela subida da maré.
Teríamos de voltar a instalar novos dispositivos, e tentar arranjar poitas e bóias mais eficientes. Depois de recolher o único dispositivo que sobreviveu à intempérie Antárctida, o semi-rigido regressou à minha estação e continuámos o roteiro. A próxima paragem era o refugio chileno, que funcionava como guarida quando a base chilena estava operacional. Teresa e Pepe, que ajudaram a remendar a bandeira de Portugal há dias atrás, desembarcaram e levaram baterias carregadas para as estações sismológicas. Ao sair do Zodiac, uma foca de Weddell esperava por nós em cima de uma placa de gelo. Estava numa ronha de fazer inveja, só gastava energias para se espreguiçar, bocejar e abrir de vez em quando um olho para nos tirar a pinta. Entramos no Zodiac e partimos todos em direcção à antiga base chilena. Luismi, um jovem cientista precisaria de instalar uma estação GPS junto a um inclinómetro e sensor sísmico. Naquela praia abundavam fumarolas, fazendo daquela parte da baía um cenário perfeito para um filme de terror: fumo rasteiro por todo o lado, e atrás os escombros da antiga base. Em 1969 o vulcão de Deception acordou e bombardeou a base chilena de piroclastos até ficar praticamente toda soterrada, teríamos por isso de andar com muito cuidado e atrás uns dos outros. Debaixo dos nossos pés havia espaços ocos do tamanho de salas que poderiam abater a qualquer momento. Ao regressar à base fazia os planos para a colheita de amostras no rio Mecon quando reparei numa placa de gelo do tamanho de uma foca dentro do Zodiac. Perguntei ao DOC (militar médico) para que serviria. "Para la fiesta de esta noche! Hoy es sabado!" Claro, para que é que havia de ser, eles não perdoam. Os pormenores da festa não os poderei contar, ficam à vossa i m a g i n a ç ã o . André Mão de Ferro & João Canário Dia 9 Dezembro 2011 Aqui na base, estar de maria significa desempenhar todas as funções domésticas para que o nível de conforto na base se mantenha constante, ou seja óptimo. Este cargo é rotativo entre todos, e por dia há sempre um par de marias, uma maria militar, e uma maria cientista. Um costume engraçado por aqui é os marias terem sempre um pequeno toque personalizado e organizarem pequenas surpresas, teatros ou brindes. Decidi por isso fazer panquecas para o pequeno almoço, estavam boas, mas o bacalhau estava melhor. Acumularam-se 22 panquecas numa pilha enorme, e amoleceram um pouco. Formei parelha de maria com o Aitor, um militar veterinário extremamente eficaz e hiperactivo neste serviço. Depois de arrumar e lavar a loiça do pequeno almoço, esfregámos o chão e limpamos os WC's. O João aproveitava para fazer futuros planos de trabalho e claro tirar umas fotos! É uma experiência muito interessante e fortalece os laços de entre ajuda e camaradagem entre todos. No final do dia o cansaço era enorme. Assim que acabamos de esfregar o chão da cozinha e as mesas do jantar, entregamos os aventais de maria aos marias do dia seguinte e fui dormir. Amanhã era dia de muito trabalho! André Mão de Ferro e João Canário [CONTANTARC] Trabalho de campo em Moreture, na zona mais a Norte da baia de Deception Island8/12/2011
Dia 8 Dezembro 2011 Partimos de manhã nos barcos semi-rígidos em direcção a Moreture. Fica numa zona mais a Norte da baia de Deception Island. Uaaau que bonito, uma praia com ravinas salientes e rochas enormes mergulhadas na areia. Por toda a costa se vêm estratificações fascinantes e criou-se um cenário muito misterioso principalmente depois de o barco se ter ido embora e termos ficado isolados a trabalhar nessas praias. A maré estava baixa mas mesmo assim tínhamos de passar para a praia seguinte por um túnel de rocha natural. Visto daquela perspectiva era realmente notório as semelhanças com as praias algarvias, nomeadamente a praia da Rocha.
Havia algumas aves no cimo das ravinas e a água da baia borbulhava devido à lava do vulcão que se encontra debaixo dos nossos pés apenas a 1,5 km de profundidade. Isto explicou-me a vulcanologa Teresa que coseu a bandeira portuguesa no outro dia. Entrámos para a baia com os vikings (fatos de sobrevivência obrigatórios para quem se desloca de semi-rigidos) até termos água até aos joelhos para instalar um dispositivo (DGT) e aproveitei para filmar uma coluna de borbulhas de gás que saía da areia quando, de repente, dois pinguins apareceram a nadar ao pé de nós. Apareceram à nossa direita na margem e com toda a calma vinham à tona de água e mergulhavam novamente, depois reapareciam um pouco mais afastados da costa e um pouco mais á esquerda para nos verem de outro ângulo. Estavam nitidamente muito curiosos com o aparato todo nesta terra de eterna pasmaceira. Claro que os filmei! Foi um timing perfeito! =) À tarde fomos novamente ao Mecon retirar amostras. Uma parte do leito estava completamente rasgado pelos diversos cursos de água e criava múltiplas formas. Desta vez tínhamos a companhia de Craig, o americano microbiologista perito em filogenética que conhecemos em Ushuaia antes de embarcar no Las Palmas. Enquanto recolhíamos amostras falávamos das experiências do João no Artico e das aventuras de Craig no monte Erebus, um vulcão activo perto de Ross Island, Antárctica. André Mão de Ferro e João Canário |
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