A CAMPANHA
PROPOLAR 2011-2012
Novembro de 2011 a Abril de 2012
PROPOLAR 2011-2012
Novembro de 2011 a Abril de 2012
Ontem chegou de Punta Arenas no voo fretado por Portugal o grupo de trabalho do projecto HOLOANTAR. Eu sou Marc Oliva, investigador de pos-doutoramento no Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa e coordinador do projecto. O HOLOANTAR é um projecto internacional e multidisciplinar que se focaliza nas penínsulas de Barton, Weaver e Potter (ilha de King George). Integra cinco investigadores que irão desenvolver duas tarefas principais:
a) Estudo e caracterizaçao dos criosolos antárticos. Esta tarefa será realizada por Felipe Simas e Karol Delpupo (Universidad de Viçosa, Brasil) b) Recolecçao de sedimentos lacustrinos para reconstituçao paleoambiental e paleoclimática na Antártida marítima, tarefa a desenvolver por Dermot Antoniades (Universidade de Montevideo, Uruguay), Joao Agrela e Marc Oliva (Universidade de Lisboa). Entre o 26 de Janeiro e 9 de Fevereiro os membros do HOLOANTAR vão ficar na base coreana de King Sejong, na península de Barton, onde estamos a colaborar com o biólogo Dr. Hong e o seu grupo de trabalho. A base é muito comfortável e oferece uma serie de luxos para estar na latitude 62º sul: buffet, internet, gabinetes amplos, laboratórios completos, etc. O ambiente é muito agradável e a gastronomia coreana é muito boa, condições impossíveis de melhorar para trabalhar e cumprir os objetivos do projecto. Marc Oliva, Ilha King George, 27 Janeiro 2012 Quinta-feira 26 de Janeiro
A bordo dos Hespérides, o navio polar espanhol, que nos está a dar boleia desde a base Frei chilena para a base Arctowski polaca. Duas horas e meia de navegação recolhendo pelo caminho mais um passageiro da base argentina.. Depois de uma viagem entre Lisboa e Punta Arenas sem peripécias, com passagem por S. Paulo e Santiago, chegámos a Punta Arenas a 23 pelas 17:30 hora local e lá ficámos à espera da confirmação do voo, aproveitando para fazer algum trabalho que necessitava acesso à Internet. No hostel Calafate, onde ficámos hospedados, estava à nossa espera a Ana Salomé, que coordena a logística e passa o tempo a correr de uma lado para o outro e a telefonar :). Experimentámos o borrego assado, uma das especialidades locais, nessa noite e nas seguintes fomos testando outras: sopa de marisco, pejerrey, e até o fastfood local que é muito melhor que o MacDonalds, mas que a ASAE não perdoava. Também descobri que uma das minhas velhas botas tinha a sola quase toda descolada e aproveitámos para andar pela cidade. Fomos às lojas francas mais a sul do planeta (no luck!), as lojas de especialidade não tinham botas para o meu "pézinho" e a solução foi cola-tudo. Entretanto, só ontem chegou a nossa carga de material - uff! - retida pela alfândega de Santiago por não saber o que era um carnet ATA - pelo menos essa foi a justificação. Tudo a postos! Pela manhã fomos para o aeroporto no autocarro alugado pelo Instituto Antárctico do Chile (INACH), e após as formalidades, saímos cerca do meio dia num BAE-146 da companhia DAP com uns 30 passageiros chilenos, espanhóis, búlgaros e brasileiros, além dos 3 portugueses. Voo sem peripécias, bom tempo, voando acima das nuvens, e cerca de 2 horas depois descortinámos primeiro alguns icebergs e pequenas ilhas e, rapidamente, após um curto círculo, estávamos a fazer-nos à pista, onde aterrámos pelas 13:41 na Base Eduardo Frei. A primeira impressão é de alguma insegurança devido ao choque térmico e o ambiente envolvente. Estava um pouco de vento e cerca de 0ºC, sentindo-se como se fosse -10ºC. Enquanto esperávamos pela carga, chegaram os passageiros que iam voltar no mesmo avião, entre os quais muitos portugueses do Centro de Estudos Geográficos (Gonçalo Vieira, Carla Mora, ...), a Teresa Firmino e colega fotógrafo do Público que passaram as últimas semanas na zona, o José Xavier e outros. Imeditamente entrámos em contacto com os espanhóis para nos dirigirmos à praia onde zodíacos da Armada Espanhola nos transportaram para o Hespérides. Mas antes de entrar no zodíaco é preciso vestir o fato de sobrevivência para o caso de cairmos à água. E com mais uma viagem de zodíaco fomos desembarcados na praia de Arctowski, onde NÃO éramos esperados ... Adelino Canário & Pedro Guerreiro, Ilha King George, http://www.facebook.com/note.php?note_id=10151213497240384. Os últimos dias do projecto já passaram, escrevo agora já noutra ilha, em King George. Todo o projecto correu bem, graças ao apoio constante dos nossos agora muito amigos búlgaros. No ante-penúltimo dia trabalhámos furiosamente, fomos ao glaciar rochoso de hurd fazer a continuação do registo do seu movimento. Este glaciar apesar de ser rochoso move-se pois tem gelo entre as rochas. Esse gelo através das variações de temperatura vai alterando a sua estrutura o que, com a sempre presente gravidade, faz com que a rocha se mova em direcção ao mar.
A ida ao glaciar envolveu a cooperação entre todas as equipas no local e apesar do mau tempo e ventos fortíssimos foi bem sucedida. Trabalhar debaixo de vento que ronda os 20 e poucos nós nestas latitudes é difícil mas conseguimos. No penúltimo dia trabalhámos ainda um pouco a fazer leituras de DGPS e tratámos de empacotar todo o material que utilizámos nestes dias, sistemas de GPS, hardware, leitores de sensores, imensas coisas. Tivemos de separar com atenção todo o material pois parte dele seguirá com o apoio logístico espanhol para a Ilha Deception. Aí será utilizado pelo nosso colega Miguel Cardoso. No último dia vieram as despedidas. É difícil veicular a força dos laços de amizade que o convívio de 22 pessoas num espaço pequeno na Antárctida promove. As despedidas na praia foram muito sentidas, o capitão da base Christo Pimpirev, famoso membro da expedição búlgara cujo nome é também do glaciar em frente à base, acompanhou-nos e registou a nossa despedida com fotografias e vídeos. Ainda ajudámos na construção da nova capela da base, pelo que os búlgaros estão-nos gratos por termos encontrado tempo para retribuir a sua guarida e alimentação. A experiência de fazer trabalho cientifico em Livingston é insubstituível e creio que todos nos sentimos honrados por ter representado Portugal e ter dado o nosso melhor. Infelizmente as comunicações da base búlgara foram sempre complicadas. Não há Internet na base e e-mails só há na base espanhola. Nos últimos dias descobrimos que subindo 200 metros e aguentando o frio que faz no topo de um monte junto ao mar conseguíamos enviar mails de até 500k via base espanhola, mas escrever ao vento com temperaturas negativas, arriscando-nos a perder os computadores, era sempre uma aventura com consequências potencialmente perigosas. Agora o António Correia e o João Rocha regressam a Portugal, via Punta Arenas. Eu ficarei em King George para auxiliar no que for possível no projecto Holoantar que arranca agora. Regressarei a Portugal no fim de Fevereiro, as saudades já apertam. João Agrela, Ilha King George, 25 Janeiro 2011 Domingo, 22 de Janeiro
Olhão - Um dia de sol e calmaria. Correria para tentar deixar os assuntos correntes prontos, arrumar na mala as roupas e outros acessórios que foram sendo empilhados ao longo das últimas semanas. Verficar que não falta nada, comprimidos para dores, antibíótico, pasta de dentes, sabonetes e outros items de higiene pessoal. Verificar o peso - passa largamente dos 15kg que é suposto levar. Retira peças para ver o que pode ficar. Menos uma roupa interior, umas meias, mas pouco mais pode ficar. São 2 meses e convém algum conforto, não andar diariamente a lavar a roupa. Passa um pouco dos 20kg, o suficiente para não pagar excesso no voo comercial. Em Punta Arenas se verá, vou ter de negociar algum peso com quem leve menos.Uma última volta pela cidade para acertar pormenores de eventos que se vão realizar na minha ausência. Depois, às 16 horas, pouco depois de verificar se o Pedro estava pronto, para o aeroporto onde nos encontrámos para embarcar para Lisboa.Em Lisboa, uma espera até às 23 horas para a saída para S. Paulo. Ainda há tempo para um jantar de despedida no aeroporto com o David e os meus sogros. Para a posteridade - bacalhau e cerveja sagres preta! Adelino Canário,http://www.facebook.com/note.php?note_id=10151192359625384. “Chicos, hemos llegado a Decepción” foi com esta frase que o chefe da base argentina de Decepción nos acordou, do nosso sono ansioso, na manhã de sexta-feira às 6.30, no início do 5º dia de viagem até Decepción. Todo o cansaço acumulado deixou de existir, levantámo-nos rápidamente e entusiasmodos para ir conhecer a nossa casa e local de trabalho durante o próximo mês.
Cinco dias antes, na segunda-feira dia 16 de Janeiro que a nossa viagem até as terras geladas da Antárctida começou. Integrados na Campanha Antárctida Argentina, deixámos a quente cidade de Buenos Aires até ao aeroporto da cidade de Rio Gallegos na Patagónia argentina, que só conseguimos deixar no dia seguinte após uma pequena reparação do avião e de esperar pelas condições atmosféricas favoráveis a uma aterragem segura. O nosso primeiro contacto com o solo antárctico foi na ilha de King George, mais própriamente na base chilena de Frei, onde no curto espaço de tempo que tivemos, fomos calorosamente recebidos pelos investigadores Carla Mora, Pedro Pina e Gonçalo Veira, inseridos também no PROPOLAR com o projecto, SNOWCHANGE, que apesar do frio que se fazia sentir, quiseram marcar presença e dar-nos ânimo para o mês intenso de trabalho que nos espera. Os restantes dias de viagem foram a bordo do navio militar argentino “Canal Beagle” que nos levou ao nosso destino final percorrendo outras ilhas de beleza indiscritivel. Nós somos Gabriel Goyanes, Miguel Cardoso e Antoine Marmy investigadores participantes na campanha de Decepción do projecto PERMANTAR-2, e no próximo mês, para os vários locais pré-definidos ao longo da ilha, temos a nosso cargo as tarefas de monitarização da dinâmica da camada activa, geomorfologia e perfis geofisicos. [Permantar-2 - Livingston] A equipa do Permantar 2 continua a desenvolver o trabalho previsto21/1/2012
A equipa do Permantar 2 continua a desenvolver o trabalho previsto, no âmbito da geofísica e da monitorização de solifluxão e dados de temperatura em furos. O trabalho no âmbito da geofísica está relacionado com a determinação, através de métodos geoeléctricos - Tomografias de Resistividades Eléctricas, do topo do permafrost (que por definição é a camada de rocha que se encontra permanentemente gelada pelo menos durante 2 anos). No âmbito da monitorização da solifluxão o trabalho relaciona-se com a determinação da movimentação dos solos em vertentes por comparação com dados obtidos em campanhas anteriores; os dados de temperatura em furos também serão comparados com valores obtidos anteriormente.
O dia a dia na base decorre dentro da normalidade, que se caracteriza por nunca se viver um dia igual ao anterior. Tudo acontece a um ritmo determinado pelas condições meteorológicas ou pelas prioridades definidas pelo comandante da base. No dia 16-01-2012 deu-se a chegada da restante equipa búlgara com mais 7 elementos (entre eles o comandante Christo Pimpirev que é um dos elementos fundadores desta base), todos ajudámos a desembarcar pessoas e materiais, pois aqui toda a ajuda é necessária nestas tarefas e todos precisamos uns dos outros. No dia 17-01-2012 a visita de uma equipa científica brasileira que desenvolve o seu estudo em sedimentos costeiros trouxe maior movimentação à base pois foi desembarcada na praia por um helicóptero "esquilo" do navio H-41 Maximiano da marinha brasileira, cuja missão é o apoio permanente às missões do programa Antárctico brasileiro (PROANTAR). Viver numa base isolados do mundo estreita o relacionamento entre todos e torna-se fundamental manter a sã camaradagem e os laços que se criam são de franca cordialidade, direi mesmo de amizade. João Rocha, Ilha de Livingston, 21-01-2012 20 Janeiro 2012
Ser biológo na Antártica é um autêntico sonho. Ter um contacto directo com os animais, estar em locais do planeta a fazer coisas que muito poucas pessoas tiveram a oportuniade de fazer (recordámo-nos várias vezes, a subir o Monte Krum, depois de jantar a questionarmos “quantas pessoas na Antártica devem estar a trabalhar com skis e a ver este lindo sol da meia-noite?”), presenciar eventos em directo que só vemos em programas de vida selvagem (Lembro-me do José Seco dizer “Algo que nunca esquecerei, foi na minha primeira vez em Sando Point, ter presenciado um ovo eclodir!”), trabalhar com animais tão interessantes como os pinguins, pétreis gigantes ou focas, partilhar momentos com pessoas que vivem a Antártica tão intensamente como tu (e poder transmitir às nossas gerações mais novas, com as ligações que temos com as nossas escolas/Universidades/Museus em Portugal), perceber que estamos a contribuir para o melhor conhecimento desta região e notar que o que estamos a fazer é realmente importante. O interesse no nosso projecto tem sido grande entre os nossos colegas estrangeiros. E quando se estuda pinguins, tem-se muitas alegrias...apesar de também ser duro. Passamos muito tempo fora (incluindo em alturas especiais para a família como o Natal e a Passagem de Ano), estamos longe das pessoas que nos são queridas, o planeamento de todo o trabalho de campo é complexo, dispendioso e demoroso, e até temos alguns dos nossos amigos aqui das Bases Bulgara e Espanhola a nos dizerem que “hoje cheiram a pinguins!!!” de vez em quando com um sorriso estampado nas suas caras em tom de brincadeira. No nosso projecto, tivemos inúmeros exemplos da complexidade do que é fazer ciência polar aqui em Livinigston Island. Desde planear ao pormenor as tarefas (consoante as condições metereológicas), criar um novo método de apanhar aves, de inovar e desenvolver um meio de pesar as amostras,...fez-se de tudo. Aqui também se cresce muito como pessoa (temos de aprender a ser independentes, ajudar em tudo, desde lavar a loiça, pôr a roupa a lavar...), e ser cientista na Antártica obriga-te a ser multidisciplinar, quer seja na ciência ou no dia a dia nas rotinas da Base.... O nosso grande objectivo era perceber como os pinguins gentoo e chinstrap competem por comida nesta região da Península Antártica. Esta questão tem um grande interesse cientifico pois não só a Peninsula Antártica é uma das regiões que evidência maiores efeitos das alterações climáticas (com as temperaturas a aumentarem a níveis superiores do que em muitas partes do nosso planeta) mas também porque estas 2 espécies de pinguins possuem distribuições maioritariamente diferentes (os gentoos estão mais distribuidos a norte da Antártica e a tendência é para expandir para sul enquanto os chinstraps estão distribuídos mais a sul e a tendência é para a sua distribuição ser cada vez mais reduzida). Pouco se sabe como estes animais lidam com as alterações climáticas. Aqui (Livingston Island, da região da Peninsula Antártica) é o local certo para investigar como estes animais competem por comida num contexto das alterações climáticas, quando ambos se estão a reproduzir ao mesmo tempo (apesar de os gentoos começarem mais cedo) ... será que comem o mesmo? E será assim todo o ano? E isso é importante para a conservação destes pinguins, ou de outros recursos da Antártica? E como isso se pode aplicar a outros animais...de outros oceanos? Os nosso resultados preliminares desta expedição mostram que ambas as espécies se alimentam quase unica e exclusivamente do camarão do Antártico (Krill), Euphausia superba. Supreendente foi também notar que ambas as espécies alimentam-se do mesmo tamanho do camarão, evidenciando que a competição pelo camarão do Antártico é grande. É incrível! Sabendo que a quantidade do camarão do Antártico tem declinado nas últimas décadas nesta região, é bem possível que mais cedo ou mais tarde poderemos ter estas espécies, ou a alimentarem-se de outras coisas ou a sua capacidade de ter filhotes ser diminuida...o que pode afectar as suas populações. Além das amostras da dieta (através das fezes), recolhemos amostras que nos darão informações importantes sobre o nível trófico (confirmar se só se alimentam do camarão do Antárctico) mas também sobre o habitat que exploram, quer quando se estão a reproduzir quer fora desse periodo. Ou seja, em breve poderemos perceber se os pinguins gentoos e chinstraps apanham o camarão nos mesmos locais (junto à costa ou em águas mais profundas) ao longo do ano. Estes dados serão importantes para nos ajudar a prever o que poderá acontecer às diferentes populações de pinguins no futuro mas também nos ajudar a identificar áreas importantes de alimentação deles (o que é importante para a sua conservação) e possivelmente ajudar-nos a perceber como outras espécies lidam com a competição por comida num contexto de alterações climáticas. Por termos o ENORME privilégio e humildade de trabalhar aqui, todo este trabalho só poderia ser possível depois um grande investimento continuado de instituições Portuguesas mas também de vários países como o Reino Unido, Bulgária, Espanha, França, Brasil e os Estados Unidos. Sabendo que a Antártica é um excelente exemplo mundial de colaborações científicas e políticas, é realmente um privilégio Portugal fazer parte desta comunidade científica...e contribuirmos cientificamente para um maior conhecimento desta região do planeta...mesmo quando brincam connosco a dizer que estamos a “cheirar a pinguim!” Até MUITO em breve! José Xavier & José Seco, Ilha Livingston 20 de Janeiro de 2012
Neve, gelo e água líquida; afloramentos, blocos, calhaus e cascalho de rocha; musgos e líquenes; solos. São genericamente estes os tipos de superfícies que encontramos por aqui na península de Fildes no verão austral. Eu ia dizer que eram as superfícies que pisamos, mas nem todas elas podem ser pisadas. O impacto humano na Antártida tem de ser mínimo, os líquenes e os musgos são sempre cuidadosamente evitados, assim como os padrões criados à superfície pela dinâmica sazonal do permafrost como, por exemplo, os círculos de pedras. Apesar da primeira impressão sobre a paisagem ser tão abrangente como redutora, quase como em tudo na vida, somente a avaliação diária e em diferentes locais é que nos tem permitido começar a perceber com pormenor a diversidade de rochas e solos, de neve e de gelo, e das espécies de musgos e líquenes. Esta região, apesar de certamente não ser das mais diversificadas da Terra, bio e geologicamente falando, não deixa de ser variada e muitíssimo interessante. A recolha no local de informação representativa sobre estas classes que ocupam a superfície de Fildes, bem como a determinação da sua localização precisa em alguns pontos com o GPS, é bastante importante para depois as conseguirmos identificar correctamente nas imagens de satélite. Pedro Pina, Ilha King George 20 de Janeiro de 2012
Temos saído para o terreno todos os dias de manhã e começamos a ficar um pouco cansados. O frio e o vento constante cansam bastante e nota-se em todos nós que o cansaço se está a acumular de dia para dia. Levantamo-nos às 7h da manhã, tomamos o pequeno-almoço às 7h30 e, pelas 8h consultamos o email e preparamos o equipamento para sair. Geralmente, pelas 9h já estamos a preparar as moto-4 e pelas 10h iniciamos o trabalho no terreno. O regresso à base faz-se por volta das 16h, momento em que almoçamos. Depois disso, vamos para o laboratório organizar o equipamento do terreno e organizar os dados recolhidos. A essa hora do dia, vamos discutindo os trabalhos e o que iremos fazer no dia seguinte. Isto dura até cerca das 20h, momento em que corremos para o jantar. Pelas 21h estamos de volta ao laboratório. Respondemos a emails e tentamos preparar as actividades do dia seguinte e ir analisando os dados que se vão acumulando. Geralmente, pela meia-noite deitamo-nos e dormimos ferrados até ao dia seguinte. O tempo foge. Todos os dias acabamos por alterar os nossos planos, em função daquilo que fizemos e da informação que fomos recolhendo. A cada visita ao terreno, aprendemos novas coisas. Hoje, uma vez que os neveiros perenes ainda estão enterrados por baixo da neve deste inverno, resolvemos abrir um buraco que chegasse até à neve mais antiga. Encontrámos gelo maciço, logo uns 40 cm abaixo da superfície. Passámos cerca de 1h30 literalmente a picar gelo e furámos até cerca de 70-80 cm de profundidade. Sempre gelo maciço. Estamos curiosos com o que estará por baixo e em saber se iremos encontrar algum horizonte com sedimentos, ou apenas mais gelo maciço. Deixámos o buraco aberto e amanhã voltaremos para ir cavar. Trata-se de um neveiro exposto a sul, orientação em que as vertentes são mais frias e onde a neve permanece durante períodos mais longos. Estamos curiosos, mas quase não sinto os braços de tanto picar. Agora, volto ao trabalho. Vou ver se consigo georeferenciar uma imagem de satélite com pontos que medimos hoje no campo. Gonçalo Vieira, Base Antártica Chilena Prof. Julio Escudero 19 de Janeiro de 2012 Viver numa base na Antártida tem o seu lado de ficção científica - isolados numa zona fria e distante, trabalhando em prol da ciência - mas igualmente uma parte bem real de trabalho físico e bastante duro, onde se enquadra a manutenção de toda a estrutura e o abastecimento de víveres e combustível. E posso garantir-vos que esta última parte não é nada fácil, pois implica grande esforço e sujeição a condições extremas e a horários pouco convencionais. Esta terça-feira chegou então o navio da Armada uruguaia, o Vanguardia, com mantimentos e combustível, que teve de ser descarregado. A tarefa envolveu toda a guarnição da base e eu aproveitei para dar uma ajuda. Como estávamos dependentes das condições marítimas e do vento, só foi possível iniciar os trabalhos a partir das 23h00 e, claro está, a azáfama prolongou-se madrugada fora. Participei entre a 01h00 e as 03h30, mas o frio e o cansaço acabaram por vencer-me. O resto do pessoal da base ficou a trabalhar até às 07h00 (sem, no entanto, terem terminado de descarregar tudo)! Descansaram um pouco e, por volta das 13h00, foram efectuar a transfega de combustível. Ontem ao fim do dia chegou também o Hércules C-130 do Uruguai, com cerca de cinquenta pessoas a bordo (dez investigadores), que ficaram instalados na base. A tranquilidade do início da minha estadia aqui já lá vai, mas tem um lado positivo: como muitos deles vêm para conhecer a ilha, é mais fácil para mim sair da base uma vez que há sempre quem queira passear pelas redondezas! Vanessa Rei |
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