A CAMPANHA
PROPOLAR 2012-2013
Novembro de 2012 a Março de 2013
PROPOLAR 2012-2013
Novembro de 2012 a Março de 2013
Apesar do vento soprar forte (10 m/s) resolvemos testar até que ponto o nosso hexacópetro conseguia lidar com aquelas condições. Para isso deslocámo-nos para uma pequena zona plana perto da base que sabíamos estar livre de neve. Ficámos bastante contentes quando percebemos que mesmo com ventos constantes daquela magnitude era possível manter as trajectórias. O susto veio mais tarde numa forte rajada de vento! O hexacópetro rodou bruscamente cerca de 30 graus sobre si mesmo e voou sobre mim, despenhando-se uns metros mais à frente. O resultado foram alguns parafusos do corpo central partidos. Como bons engenheiros, e num espírito “macgyverista”, tudo foi rapidamente consertado com um canivete suíço e um rolo de fita cola. Felizmente, o pássaro contínua no ar!
Lourenço Bandeira, 13 de Janeiro de 2013 Hoje a base andou a meio gás. Aqui os domingos são para cumprir dentro do possível para descanso do pessoal da logística. Como na Antártida aproveita-se todo o tempo disponível para trabalhar, decidimos investigar um rio que passa entre as bases Chilenas de Frei e Escudero e a base Russa Bellingshausen. Segundo as informações que temos, até ao final dos anos 80 esta zona de Fildes teve muita atividade e a gestão de resíduos recorreu durante muito tempo em deposição e aterro de lixo, práticas entretanto extintas e proibidas à luz do Tratado da Antártida. Felizmente, hoje em dia existe maior sensibilidade relativamente a estas questões ambientais e os resíduos são levados das estações científicas para o país de origem. Apesar das práticas ambientais terem melhorado, ainda permanece uma quantidade considerável de focos de poluição em Fildes e em particular ao longo deste curso de água. Escolhemos 4 pontos de amostragem neste curso de água desde o local mais a montante, no lago Kitiesh até a um ponto a jusante mais perto da foz. A partir de hoje vamos amostrar todos os dias amostras de água, sedimento (de 4 em 4 dias) e musgos que se encontram ao longo vale, para tentar perceber se existem gradientes espaciais e temporais de alguns contaminantes, entre eles o cádmio, o chumbo e o mercúrio.
Equipa Contantarc 2, Ilha King George, 13-01-2013 Hoje nevou praticamente todo o dia e por isso aproveitámos para reconhecer a parte SE da península. O acesso a esta zona seria bem mais fácil se fosse permitido atravessar a área de proteção especial, ASPA (do inglês, Antarctic Specially Protected Areas), que ocupa cerca de um quarto da península e obriga a um desvio pela zona mais interior. Andámos cerca de duas horas montanha acima com neve pelo joelho até que encontrámos um planalto livre de neve de dimensões razoáveis, que achámos bastante propício para o hexacópetro recolher dados. A certa altura o nosso bom senso levou-nos a regressar à base sem chegarmos ao outro lado da baía como tínhamos previsto, pois começou a nevar com muita intensidade, os ventos a ficarem mais fortes e nós a acumularmos também algum cansaço.
Lourenço Bandeira, Ilha do Rei Jorge, 12 de Janeiro de 2013
Passados quatro dias desde a nossa chegada ainda andamos a apalpar caminhos.
Hoje o nosso objectivo era amostrar na Baia da Grande Muralha onde fica a base chinesa. Foi-nos indicado que teríamos acesso pela praia em maré baixa pelo que saímos logo a seguir ao almoço (baixa-mar prevista para cerca das 13h30m). Foi um passeio agradável mas sem sucesso pois não conseguimos passar para além da "punta" Comandante Camus. Conseguimos no entanto amostrar a 13ª amostra de sedimento da baía de Fildes e no laboratório terminar o branco de DGT. O problema deste tipo de trabalho é que quando não conhecemos o terreno estamos sempre sujeitos a contratempos destes. Equipa Contantarc 2, Ilha King George, 12-01-2013 Depois de 2:30h de voo no avião Hercules C130 da força aérea Chilena aterrámos na pista de terra batida da Península de Fildes. A primeira impressão que tivemos foi a surpresa de ver a quantidade de neve junto à pista e nos montes em redor. Nalguns locais a parede de neve chegava a ter 5 metros de altura. Nesse dia, e depois de um reconfortante almoço, montámos a nossa bancada de laboratório e preparámos material para as saídas de campo e tratamento das amostras.
No dia seguinte fomos fazer o primeiro reconhecimento pela baía de Maxwell. Havia alguns pinguins junto à água que se mostravam muito curiosos com a nossa presença. Ficamos também impressionados com a dimensão da presença humana nesta península, e em particular na baía de Maxwell, onde nos encontramos. A Península de Fildes é o centro logístico da ilha de King George, tem um aeroporto, e uma grande densidade de estações e pequenos módulos de abrigo espalhados pelo campo. Por isso a quantidade de resíduos nesta zona é igualmente grande. À noite fomos à estação russa, onde existe um modulo com cientistas alemães. Encontrámo-nos com Dr. Peter Hans e alguns estudantes seus da Universidade de Jena, Alemanha. O Peter é o autor principal de relatórios de análise do impacto ambiental devido à presença humana na península de fildes, em que é feita uma avaliação e levantamento dos locais contaminados de deposição de lixo, derrame de combustível e aterros. Fomos muito bem recebidos, houve uma pequena troca de regalos e eles mostraram-se muito interessados no nosso trabalho de química ambiental, porque muito embora conheçam melhor que ninguém o impacte ambiental a que esta península está sujeita a análise de elementos contaminantes está fora do seu âmbito de estudo. Com base nos seus relatos decidimos começar a focar na recolha de amostras diárias durante 8 dias num pequeno rio que passa entre as bases Chilenas (Frei e Escudero) e Russa. No dia 11 recolhemos as primeiras 13 amostras de sedimento em Maxwell que já estão a ser secas em estufa. Entretanto estivemos sem ligação internet durante 2 dias, e que tanta falta faz. Por esta razão vai ser complicado enviar um post diário, assim como enviar algumas fotos porque mesmo quando temos ligação, a velocidade é extramamente baixa. Faremos o possível! Para já ficam apenas com uma imagem por extenso: Tem estado a nevar com alguma intensidade desde ontem à tarde. As imediações da base estão cobertas de branco, no horizonte junto ao outro lado da ilha avista-se Iceberg azul enorme (supõe-se ter-se desprendido do Glaciar de Collins) e junto à costa uns pinguins aproveitam para nadar. André Mão de Ferro, Ilha do Rei Jorge, Antártida, 11 Janeiro 2013
Para termos uma maior visão do terreno tentámos subir ao monte Sejong (um dos mais elevados da península, atingindo mais de 200 metros). No entanto a subida foi bastante difícil pois ou as vertentes eram demasiado íngremes, compostas de rochas soltas, ou havia demasiada neve. Conseguímos chegar a cerca de dois terços onde encontrámos um vale abrigado onde pensamos ser possível captar imagens com o hexacópetro. A certa altura começou a chover o que nos deixou muito esperançosos que a neve derretesse e expusesse a flora que cobre estes solos, mas passado pouco tempo a chuva transformou-se em neve...
Lourenço Bandeira, 11 de Janeiro de 2013 Ontem o dia começou com o Freddie Mercury a cantar "Save me" nos altifalantes dos dormitórios nº 2 da base Coreana de King Sejong. O costume nesta base é assinalar os horários das refeições com música, para que toda a gente possa vir pontualmente em direcção ao refeitório. O pequeno-almoço foi bastante diferente do que estamos habituados: arroz, alguns pratos de algas e legumes, ovos estrelados e uma sopa, que eu acidentalmente temperei com malaguetas verdes.
Estava previsto o embarque de um primeiro subgrupo a 7 de Janeiro que não foi concretizado por terem surgido alguns problemas técnicos num dos aviões C130 que transporta os cientistas para McMurdo. Sendo assim os planos iniciais foram alterados e a partida está agendada para amanhã às 6:00, desta vez partiremos todos juntos. Eu não me tinha apercebido mas é relativamente normal haver alterações nos voos, a maior parte das vezes causadas pelo mau tempo. É frequente o avião partir de CHC e a meio do caminho (após 4 horas de voo) dar a volta por razões de mau tempo e voltar a aterrar em CHC…é como embarcar num boomerang!! Espero que não nos aconteça a nós!!
Ao chegarmos ao hostal depois de jantar tínhamos uma mensagem para estarmos de madrugada à porta do INACH para finalmente irmos até King George. E assim foi, embarcamos num C130 das FACH no aeroporto militar de Puntas Arenas para, cerca de 2h30 depois, aterrarmos no aeródromo Frei em King George. Tivemos sorte com o tempo e com a viagem, não se atrasou e foi bastante tranquila. Não deu infelizmente para espreitar lá para fora, as poucas janelas de tão robusto avião são pouco acessíveis, e por isso só ao sairmos para a rua antárctica é que nos apercebemos de quão branco tudo estava, ‘pintado’ pela neve bem espalhada por toda a superfície e pelo grande capacete de névoa relativamente cerrado. Por um lado, foi interessante verificar que a paisagem que tão bem conheci em 2012 nesta mesma altura do ano tinha um aspecto bem diferente, mas por outro, foi um pouco inquietante, pois sem solo praticamente à vista, as imagens remotas que queremos captar não mostrarão toda a diversidade que esta região tem no verão. O INACH trouxe-nos até à sua base Escudero, onde esperámos (com direito a almoço) que chegasse a lancha do KOPRI-Instituto Polar Coreano para nos levar até ao outro lado da baía de Maxwell.
Só ao darmos uma pequena volta nocturna (mas ainda de dia) em torno da base é que ficámos convencidos que afinal estávamos mesmo na Antárctida: temperatura negativa, bastante vento, céu nublado, neve por todo o lado, pedaços de gelo espalhados pela baía e, talvez a prova final, a existência de bastantes pinguins.
Pedro Pina, 09 de Janeiro de 2013, Base King Sejong |
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