Lourenço Bandeira
Península Hurd, ilha de Livingston, Base St. Kliment Ohridski Nestes últimos dias, o tempo tem estado muito mau, com ventos fortes e muita chuva, por isso temos sidos obrigados a refugiarmo-nos na base e deixarmos passar o temporal. A boa notícia é que com a chuva, a neve que cobre grande parte da paisagem derrete bastante rapidamente; óptimo para os nossos objectivos científicos pois dependem da nossa capacidade de ver o solo. Com muita neve é-nos impossível cartografar com o drone, grande parte das nossas áreas de estudo, assim como muitas das estacas que monitorizamos com o D-GPS encontram-se tapadas. A vida na base segue com naturalidade, com o horário fixo das refeições a ditar o ritmo do dia, e grande parte do tempo passado no laboratório, a compor mosaicos das imagens captadas pelo drone, a tratar os dados do D-GPS ou a descodificar a informação recolhida pelos inúmeros sensores de temperatura que temos lido. A previsão do tempo indica a possibilidade de uma janela para os próximos dias e discute-se a hipótese de ir amanhã de manhã ao glaciar rochoso, situado do lado oposto da Península de Hurd, na Baía Falsa, a cerca de 40 minutos de bote da Base Búlgara. Pedro Guerreiro e Bruno Louro Artigas é uma base de poucos edifícios numa grande área descoberta. Percebe-se que tem alguns anos e menos investimento que as restantes. No entanto, apesar de modesta, parece muito bem organizada, e o principal edifico de habitação tem uma pintura curiosa, com as cores do país. Ao entrarmos no ”comedor”, o edifício que é ao mesmo tempo cozinha, sala de refeições, sala de estar, sala de jogos e bar somos espetacularmente bem recebidos. A sala é relativamente ampla, mas o revestimento de madeira cria um ambiente acolhedor. À mesa... Prato! Talheres! Depois de duas semanas a comer de pauzinhos numa tijela foi um bom exercício. Carne com legumes, sopa e sobresema, e sumo de laranja recem-espremido- um luxo por estas paragens! Depois, dois dedos de conversa com o mais velho membro da expedição, que está na sua 32ª época seguida!!!! Perto de Artigas vamos até junto do Glaciar Collins. Ao invés do que acontece na Baía do Almirantado aqui em Fildes não há propriamente glaciares e é uma rara oportunidade vir até aqui e ver estas grandes paredes de gelo a debruçarem-se sobre o mar. Um grupo de pinguins de barbicha descansa sobre o galciar. Quando nos veem ficam em alerta e começam a movimentar-se. Curiosamente parecem ser comandados por um pinguim papua, um pouco maior, já que o seguem para todo o lado. O tempo urge e há que voltar. Até Great Wall são pelo menos uma hora e três quartos a caminhar. O tempo começa a fechar e ainda queremos parar em Escudero para visitar a base e tentar encontrar o Pedro Ferreira e o João Mata, que iam fazer um corte no Sul mas deveriam estar por volta a meio da tarde. De caminho paramos na igreja ortodoxa russa e espreitamos. Lá dentro vários ícones num painel dourado. Muito interessante algo assim neste canto do mundo. Juntam-se a nós um inglês, um neo-zelandês e uma francesa, membros da tripulação do Australis, um veleiro que faz cruzeiros para turistas entre Ushuaia e a Peninsula Antartica, e que está hoje fundeado na Baía de Maxwell junto a Fildes. Chegados a Escudero conhecemos Jorge Gallardo, o responsável pela base neste turno, que nos convida a visitar a base. Entretanto chegam o Pedro e o João e sentamo-nos para um café, bolachas e uma amena conversa na sala de estar de Escudero – e uma foto com a bandeira nacional – é sempre óptimo encontrar colegas portugueses e fala-se muito em pouco tempo. Eles partem amanhã e estiveram a fazer as últimas explorações... nós ainda temos um mês por cá. Estamos em Great Wall à hora do jantar... de Fildes aqui gastámos 40 minutos mas ganhámos uma hora... já que passámos a barreira virtual do fuso horário imposto por Pequim. Connosco jantam militares do aeroporto Teniente Marsh, responsáveis pelo controlo do vôo que amanhã levará pelo menos vários chineses, dois tailandeses e dois portugueses.
Depois do jantar... algumas bebidas, blurred karaoke e... enfim... what happens in Antarctica stays in Antarctica! Pedro Guerreiro e Bruno Louro São seis e meia da manhã e já temos tudo “orientado” no contentor – verificámos níveis de oxigénio e temperaturas e renovámos a água nos tanques. Hoje a base será visitada por um grande grupo de turistas que viajam a bordo de um cruzeiro e queremos ter o mínimo de interferências. Às sete e meia é o pequeno almoço é às oito começa o desembarque. Nós aproveitamos para fazer um dia de folga, caminhando desde Great Wall a Fildes e daí a Artigas, a base Uruguaia que fica no sopé do glaciar Collins, que limita a norte a zona livre de gelo da Península de Fildes, a sul da Ilha do Rei Jorge. Pelo estradão aberto nos seixos que cobrem as zonas costeiras da ilha ainda encontramos alguns dos turistas do navio, mas poucos. Junto à estrada há várias extensões sem neve e a água do degelo corre para o mar deixando pequenos lagos rodeados de musgo em tons de verde e laranja. Depois de cerca de 40 minutos chegamos à base Frei. Aqui, na Vila das Estrelas existem as casas dos oficiais da Força Aérea Chilena e suas famílias, mas sobressaem também a capitania do porto de Fildes, que na realidade é, por enquanto, apenas uma praia, e que é da responsabilidade da Armada, e ainda a Base Cientifica de Escudero, do INACh, o Instituto Antártico Chileno. Mais a norte, Belinghausen, a base russa famosa pela sua Igreja Ortodoxa no topo de uma colina. Nesta zona a sensação de isolamento é muito menor. Aliás, toda esta parte da ilha tem muito mais movimento que aquele que conhecíamos em Arctowski, na Baía do Almirantado. Em Frei há vários militares em tarefas de manutenção, assim como acontece com os russos de Helinghausen, a reparar uma antena de comunicações. Na praia são vários os Zodiacs que chegam e partem, com turistas que chegam de um cruzeiro para tomar o avião da DAP de volta a Punta Arenas. É o próprio avião, que nos sobrevoa no processo de aterragem. Seguimos para norte, e começamos a subir a meseta. Entre duas colinas, perto de uma enseada, vários depósitos gigantes de combustível , que aqui parecem completamente fora de sítio e dão uma atmosfera de alguma decadência, isolamento e abandono. Para norte e para cima a estrada passa a estar coberta de neve e gelo e entre estes muita água e lama... é facil ficarmos presos quase até ao joelho se não escolhermos bem onde pomos os pés. Por outro lado sair da estrada pode ser razão para sermos atacados por skuas em vôo rasante e de patas em riste, que aqui têm os seus territórios de nidificação entre rochas e líquenes e que não gostam de ser incomodados. Mas a vista que do topo se tem de Fildes é espetacular e compensa o esforço da caminhada: navios, icebergues e pequenas ilhas, e ao longe, para o sul, Great Wall e mais além o glaciar que cobre quase toda a ilha Nelson. É neste caminho que encontramos o chefe da base Artigas, ou é ele que nos encontra, vindo de Frei na sua Moto4, e convida-nos muito simpaticamente para almoçar – a base é já ali depois do lago Uruguai, diz-nos com um sorriso. Até já!
José Xavier e José Seco Para vir à Antártida é preciso estar em forma! Isto é realmente muito importante pois neste ambiente agreste todas as atividades exigem mais do nosso corpo. Temos de trabalhar ciclos de horas muito intensivos, de carregar equipamentos, de subir e descer escadas, correr literalmente de um lado para o outro. Assim, aqui no navio James Clark Ross, um dos oficiais organiza os “circuitos” de exercício, ou seja, grupo de exercícios que se tem de repetir em estações. Por exemplo, temos uma estação onde se faz levantamento de pesos, outra de flexões, outra de abdominais...e fazemos um ciclo de 3 minutos em cada estação. Depois fazemos tudo de novo para 2 minutos e 1 minuto, sempre a aumentar a intensidade! No fim, estamos cansados mas com um sorriso na cara. Depois do treino tomamos um duche e voltamos para o trabalho! To come to the Antarctic, i tis truly important to be in shape! Yes, it does matter. We have to work long hours, carry heavy equipment, go up and down the stairs endless times, literally runnig everywhere while we are on our shift. Therefore, being healthy does help to maximize your ability to work and enjoy more. Here, at the James Clark Ross, one of the officers organizes “circuits” 3 times a week. “Circuits” is a group of exercises that you have to repeat in stations. For example, in one station you have to do squats, another burpess and starman exercises... we stay initially 3 minutes in each station, moving from one to aonther, until completing all stations. Then do everything again, for 2 minutes, and then for 1 minute. At the end, we are pretty tired but with a big smile in our faces. Nestes últimos 2 dias temos estado a fazer uma sondagem da abundância do camarão do Antártico num canhão (similar ao canhão marinho da Nazaré), onde a profundidade aumenta muito rapidamente (na perspectiva de quem olha de terra), o que torna estes locais em habitats perfeitos para muitos organismos marinhos. Estes dados têm sido recolhidos por sondas com várias frequências (como as frequências das estações dos nossos rádios) para detetar cardumes dos vários organismos. Está região tem sido também visitada pelos predadores que estamos a estudar (otárias do Antártico, pinguins de barbicha e pinguins Gentoo). Hoje colocámos uma MOORING (aparelhos estáticos que ficam na coluna de água, ancorados ao fundo do mar, virado para a superfície para registar todos os organismos que por lá passam, assim ficamos a saber a sua abundância) que deverá ficar a operar por vários meses/anos. Todos estes aparelhos foram verificados e calibrados. In the last two days, we have been carrying out abundance surveys in a certain marine canyon, a region in which depth increases rapidly (from the perspective from whom is viewing it from land)and it known to aggregate a lot of marine organisms, both including Antarctic krill but also top predators that we have been tracking. Today we deployed a MOORING (a static equipment that is attached to the bottom, to detect organisms in the water column) that will be operating for months/years. All these equipments were tested and calibrated previously to make sure we collect good information. A calibração das sondas foram feitas este ano na Baia de Scotia (Ilha de Laurie, que pertence às Ilhas Orcadas). Nesta Baia fica a Base Argentina Orcadas, que tivemos o privilégio de visitar. Aliás, esta Base é a primeira Base científica na Antártida, que recolhe dados metereológicos continuamente desde 1904 (aquando da expedição Escocesa nestas ilhas). The calibration of these devices were carried out this year at Scotia Bay (Laurie Island, South Orkneys), in front of the Orcadas Research Base of Argentina. We happily went for a quick visit to see the oldest part of the Base, that is the first in the Antarctic. It has been recording metereological data since 1904, initially collected during the frist Scottish Antarctic Expedition. Próximos passos: usar redes científicas de pesca RMT25 (Arrasto pelágico rectangular de 25 m2) para apanhar peixes, lulas e crustáceos. É a maior rede a bordo!!!!
O que será que vamos encontrar? Next steps: Deploy RMT25 nets (the biggest we have onboard) to catch fish, squid and crustaceans. What shall we find? Getting excited!!! |
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